quinta-feira, 5 de outubro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Conversas Com Escritores

Inês Fonseca Santos
Capa: Inês Sena
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, Abril de 2017

A primeira vez que entre em casa de Manuel António Pina, um dos escritores portugueses que mais vezes entrevistei e visitei, e apesar de já ter então lido e relido toda a sua obra, fiquei a conhecer não apenas o poeta mas também o homem: o amante de gatos, o acumulador de papéis, o fumador de cigarrilhas, o leitor que preferia poesia e ensaio a ficção.
Ciente de tudo isto, Manuel António Pina tinha um plano secreto: reunir, num jantar os leitores de poesia. Todos os leitores portugueses de poesia. Achava que facilmente encontraria um restaurante onde coubessem 200 ou 300 pessoas. Num país com cerca de dez milhões de habitantes, num país que se diz de poetas, as tiragens dos livros de poesia oscilam entre os 100 e os 1000 exemplares. Proliferam as pequenas editoras, é certo, mas essas não publicam seguindo a lógica do mercado, publicam, sim, para satisfazer a vontade de ler desses 200 ou 300 portugueses que se interessam por poesia. E, no entanto, como bem nota Luís Quintais, «a literatura é uma província da poesia».

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