terça-feira, 16 de dezembro de 2025

TRUMPALHADAS


Donald Trump é um tipo que, em tudo o que diz e mexe,  não deixa de, abominavelmente, surpreender, um perfeito desastre.

Perante a morte de Rob Reiner, descreveu-o  como alguém “talentoso, mas atormentado e em dificuldades”, atribuindo a sua morte ao que descreveu como “a raiva que provocou nos outros”, alegadamente causada por uma “aflição grave, inflexível e incurável”, a que chamou "Trump Derangement Syndrome" ("Síndrome de Transtorno de Trump").

"Era conhecido por levar as pessoas à loucura devido à sua obsessão intensa pelo Presidente Donald J. Trump, com uma paranoia evidente que atingia novos patamares à medida que a Administração Trump superava todas as metas e expectativas de grandeza, e com a chamada "Era de Ouro da América" sobre nós, talvez como nunca antes."

As declarações, feitas em tom crítico, geraram polémica nas redes sociais e em ambos os lados do espectro político norte-americano. No próprio Partido Republicano, algumas figuras criticaram os comentários de Donald Trump.

Entre elas, a republicana do estado da Geórgia Marjorie Taylor Greene afirmou na rede X que “isto é uma tragédia familiar, não sobre política ou inimigos políticos” e acrescentou que deveria ser “recebido com empatia”. O republicano do Kentucky Thomas Massie, crítico frequente de Donald Trump, considerou que a publicação do Presidente norte-americano foi “inadequada e desrespeitosa”.

REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL

 

espero que me calhe aquela fava

que é costume meter no bolo-rei:

quer dizer que o comi, que o partilhei

no natal com quem mais o partilhava

 

numa ordem das coisas cuja lei

de afectos e memória em nós se grava

nalgum lugar da alma e que destrava

tanta coisa sumida que, bem sei,

 

pela sua presença cristaliza

saudade e alegria em sons e brilhos,

sabores, cores, luzes, estribilhos...

e até por quem nos falta então se irisa

 

na mais pobre semente a intensa dança

de tempo adulto e tempo de criança.

 

Vasco Graça Moura

 

Poema retirado de Natal… Natais

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Deixas-te surpreender pelo nevoeiro e por uma vista nova quando o nevoeiro se dissipa.

SusanaMoreira Marques

ROB REINER (1947-2025)


A morte trágica de Rob Reiner deixou um vazio para o qual não tenho palavras.

Era um realizador de que gostava muito.

Lembro-me de há uns tempos ler uma afirmação do seu pai, que ele amiúde repetia: todas as manhãs o pai lia a secção de obituários do jornal. Se não estivesse lá o seu nome, ia de imediato tomar o pequeno-almoço.

SUBLINHADOS SARAMGUIANOS


Ao passar os olhos pela Loja Frenesi, vi que a 2ª edição

de Levantado do Chão de José Saramago está à venda.

Paulo da Costa Domingos, há longo tempo, proprietário da Frenesi, adianta:

LEVANTADO DO CHÃO

JOSÉ SARAMAGO
capa e arranjo gráfico de José Araújo
Lisboa, 1983
Editorial Caminho
4.ª edição
210 mm x 137 mm
368 págs.
exemplar estimado; miolo limpo
VALORIZADO PELA DEDICATÓRIA MANUSCRITA DO AUTOR
95,00 eur (IVA e portes incluídos)

«É o livro charneira na obra do escritor. Antes, independentemente das suas qualidades reconhecidas entre pares na arte, era um escritor encurralado por um crónico reduzido número de vendas; o vertente romance projectá-lo-á entre os leitores vulgares de Lineu, trazendo-lhe uma justa admiração crescente. A controvérsia que sempre os seus romances causaram – a pontos de um ministro de Estado passar a ser conhecido pela triste figura de ignorante que fez ao vetar a candidatura de Saramago a um prémio literário – radica apenas no preconceito ideológico contra as vozes de um partido político. No geral os seus adversários nunca o leram, porque a maior homenagem a um escritor é ser lido.
Do vertente livro disse a professora universitária Maria Lúcia Lepecki:
«[...] Construído numa dignidade de linguagem de todo invulgar, numa beleza conteudística e formal quase dolorosa, espelho do modo afectivo e inteligente como José Saramago está no mundo enquanto homem político e intelectual, Levantado do Chão é, mais que envolvente, avassalador. Uma força da natureza, se tal é lícito chamar a um produto cultural.»
Esta 4.ª edição ainda apresenta impresso na portada um núcleo de dedicatórias, encimado por «À Isabel [da Nóbrega], sempre», que o escritor fará desaparecer em posteriores reedições.»

 

Este pormenor das dedicatórias que José Saramago retirou, a partir de um certo tempo, retirando o nome de Isabel da Nóbrega para passar a colocar Pilar del Rio, tem servido a muito boa gente para desmerecer o nome de José Saramago.

Saramago pronunciou-se por várias vezes sobre o assunto, garantindo que as dedicatórias fizeram sentido na altura em que essas edições foram publicadas. E essas edições, já esgotadas, permanecem em sintonia com as inclinações amorosas da altura, o tempo em que os livros foram escritos.

No Cais, aqui e aqui, tratámos o assunto.

Em 19 de Setembro de 2021, na sua crónica no Ipsilon, do jornal Público,António Guerreiro citava uma observação, a propósito das dedicatórias, feita por Joana Mourão Carvalho:

Saramaguiano que sou, tento alhear-me destas miudezas, porque sabe-se que as paixões são o que são, e o importante está na obra de José Saramago. 

NOTÍCIAS DO CIRCO

Ministra do Trabalho recusa “voltar à estaca zero” no pacote laboral.

Rosário Palma Ramalho, ministra do trabalho, desafia a UGT a reagir às alterações que o Governo já aceitou fazer no anteprojecto. E diz que a aproximação tem de ser dos dois lados.

Rosário Palma Ramalho recusa que o governo volte à estaca zero e desafia a UGT a reagir às alterações que o Governo já aceitou fazer no anteprojecto. A aproximação tem de ser dos dois lados.

Também ameaça:

«O Governo, obviamente, não está disponível para voltar à estaca zero porque apresentou este anteprojecto, legitimado pelo programa eleitoral, pelo programa de Governo e até pelo acordo tripartido que celebrou no ano passado na Concertação Social, incluindo com a UGT, previa que nós fôssemos rever a legislação laboral».

MÚSICA PELA MANHÃ


Uma lindíssima canção.

De Natal ou não, pouco importa.

Importante seria que o mundo que Louis Armstrong nos canta, fosse o mundo de todos os nossos dias.

Colaboração de Aida Santos.

OUTRA VEZ, REVISITANDO POEMAS DE NATAL


S. MATEUS, POR EXEMPLO


fica tranquila, direi o que quero

 daí neste natal, tranquiliza-te,

um saco de plástico purificado

cheio de mar, um copo de vinho,

 um cesto de lapas, um pouco

de tabaco, um postal ilustrado

 

neste natal, direi o que quero

 um chá quente em barro da lagoa

 um copo de vinho, dois copos

 de vinho de cheiro, umas favas

de molho, uma vaca a abanar o rabo

em pasto verde, o céu cinzento

38° de humidade relativa

que me façam vomitar cinco anos

de angústia

 

fica tranquila, neste natal

vais enviar-nos a ilha ou

S. Mateus, por exemplo

 

Ivone Chinita em Natal… Natais

domingo, 14 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros e o outro dos outros era eu.

Clarice Lispector

Legenda: Clarice Lispector

CONVERSANDO

A memória dele não vai tão longe, coisas da idade presente, e não consegue lembrar se leu, os se copiou este textinho de Marguerite Duras de alguma lado, também sem se lembrar de onde:

«Um dia Marguerite Duras disse que tinha conhecido uma criança que perguntava à mãe o que era o calor. E a mãe respondeu: “É quando a gente estende a mão e se queima.” E a criança voltou a perguntar: “E o que é o calor quando não há ninguém?” Duras acrescentava que os seus livros eram escritos do mesmo modo: “E o que é o amor quando não há ninguém?”»

CANTARAM JUNTOS OU PARA SI MESMOS

«O mar estava calmo, o sol descia no horizonte, estendendo-se em raios amarelos, laranja, vermelhos. Ela colocou as sandálias no muro e sentou-se quase enconstada a ele, usava um perfume da mãe, um aroma a flores, que lembrava a primavera. E então ele deu-lhe o estojo de veludo com a pulseira, ajudou a fechá-la, ficaram em silêncio muito tempo, olhando para o brilho mutante das safiras. Ele disse que as safiras eram pedras do céu e ela disse que também queria esmeraldas, as pedras do inferno. Como se tivesse love escrito numa mão e hate na outra, como Robert Mitchum no filme que tinham visto juntos tantas vezes como o pregador no livro de Davis Grubb que ele encontrara nas profundezas da biblioteca, durante semanas, cantaram juntos ou para si mesmos, Leaning, leaning, safe and secure from all alarms/ Leaning, leaning, leaning on the everlasting arms.»

 Ana Teresa Pereira em A Linguagem dos Pássaros

MÚSICA PELA MANHÃ

Também se pode dançar o rock à volta da árvore de Natal

É a Brenda Lee que o diz, e eu concordo.

Colaboração de Aida Santos.

sábado, 13 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


É tão difícil guardar um rio, sobretudo quando ele corre

dentro de nós.

Jorge de Sousa Braga

DISTO, DAQUILO E DAQUELOUTRO


 «A opinião pública europeia foi enganada durante três anos e meio sobre as causas da guerra da Ucrânia e a situação no campo de batalha. Perante a impossibilidade de sanções secundárias contra a Rússia, pressionado pela sua base eleitoral, a quem prometeu acabar depressa com o conflito (mas também pela escassez de munições), Donald Trump mudou subitamente a estratégia americana e decidiu fazer um acordo com Moscovo. Os países europeus estão em pânico, mas ajudaram a escavar o buraco onde agora se encontram presos. A Europa podia ter negociado com o Kremlin muito antes, mas insistiu em prolongar uma guerra que a Ucrânia não podia vencer. Zelensky é uma figura trágica, não tem cartas na mão, será responsabilizado pela maior calamidade sofrida pelo povo ucraniano nos últimos setenta anos; terá de aceitar a neutralidade, perdas territoriais e garantias frágeis. A alternativa a um mau acordo é a saída dos EUA do conflito, inaceitável para todos. Os europeus sabem que não podem continuar sem os americanos e terão de aceitar um entendimento com a Rússia. A realidade tem este péssimo hábito de destruir as melhores ilusões: a guerra acaba, a Rússia sai vencedora, a Ucrânia será um Estado-tampão e os líderes europeus terão de começar a explicar o que fizeram.»

Luís Naves

1.

Não temos o hábito, deveria ser uma obrigação, de conhecer a história do país, a antiga, a de tempos recentes

É necessário ler o que nos possa chegar às mãos.

Em tempos ditadura, com a morte de Salazar, sucedeu Marcelo Caetana e alguém inventou a frase «primavera marcelista»

Uma falácia, como tantas outras.

A Loja Frenesi, pelo preço de 50 euros, tem à venda «Conversas Com Marcelo Caetano» da autoria de António Alçada Baptista.

Paulo da Costa Domingos, o dono da Loja, explica:

 

«Este livro, engendrado já no declínio, senão no estertor, do regime fascista, assume o estilo de um ex-aluno «respeitador» e «admirado» em amena troca de impressões gerais com o seu antigo professor. Mas tais generalidades passam um pouco ao largo da governação de um país a ferro e fogo policial, que é o que acontece quando o poder sente o chão a fugir-lhe de debaixo dos pés. Pode dizer-se que, apesar da dissimulada ambição, Alçada Baptista – que fôra, dez anos antes, o fundador da revista O Tempo e o Modo – nunca possuiu o fulgor atrevido de um António Ferro em diálogo com Salazar, que é o que acontece quando os consensos de uma época empurram a passos desordenados para o fim.

A título de exemplo, uma passagem:

Sinto que, para Marcello Caetano, a política é muito mais uma “arte” do que uma “ciência”: uma estratégia de conter o real que resulta das concretas motivações dos homens num determinado tempo da história, no pressuposto inabalável de que eles, neste domínio, quase nunca se movem segundo as “rectas intenções”. Daí que, desgraçadamente, o fenómeno político reflicta, afinal, o denominador comum da nossa humana banalidade. Donde, a consequência duma dualidade inevitável: de um lado, um universo pessoal povoado de valores tradicionais que se reflectem num comportamento pessoal à base das “antigas virtudes”: trabalho, exigência interior, vida espiritual, honestidade pessoal, austeridade; do outro, um universo social cujas virtudes são as “virtudes” da guerra, perante um inimigo que, no seu entender, está disposto a tudo, e a quem não podemos oferecer a vantagem dos nossos princípios pessoais. E que seriam esses prin­cípios, de que o homem completamente se desinteressou, que, a serem colectivamente vividos, poderiam modificar um dia as regras dum jogo que, ainda no seu entender, os outros quiseram assim. [...]» – Alçada Baptista, há que sublinhá-lo, está a referir-se ao segundo Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, organização para-militar émula da “juventude hitleriana...»

2.

«O Ministério da Saúde promoveu uma conferência de imprensa para falar da prevenção e tratamento, pedindo a quem não se vacinou para se vacinar e para se usar máscara em espaços fechados. Senão, o aumento de casos às urgências e respetivos internamentos levarão “à interrupção das cirurgias menos urgentes”. Xavier Barreto e Carlos Cortes criticam Governo por que isto é o que acontece todos os anos e “estamos exatamente na mesma situação”».

3.

Hoje, em Portugal, 1,9 milhões de pessoas, cerca de 18,6% da população , estão em «risco de pobreza e exclusão social», de acordo com o INE.

4.

«Número de pensionistas a trabalhar está a subir e já é de 10%
O número de pensionistas que decidiram adiar a reforma para além da idade legal, ou continuar a trabalhar depois de se reformarem, aumentou, nos últimos sete anos, de forma significativa em Portugal. Um fenómeno que mostra não só o impacto das medidas de incentivo ao prolongamento da vida activa, como também a forma como, num cenário de desemprego baixo, se assiste actualmente a um reforço da procura por trabalhadores com idades mais avançadas.

Os dados fazem parte do retrato publicado esta sexta-feira pelo Banco de Portugal sobre “os pensionistas de velhice em Portugal”, que revela, na análise realizada desde 2018, para além da manutenção de tendências de passado como a existência de uma forte desigualdade entre os homens e as mulheres no valor das pensões recebidas, a concretização, igualmente, de mudança significativas em diversas áreas.»


Ségio Aníbal no Público

5.

Nos primeiros dez meses do ano a PSP detectou em média 26 condutores por dia a conduzir com excesso de álcool no sangue.

MÚSICA PELA MANHÃ


Sammy sempre se revelou um maluquinho de músicas e canções de Natal, ao ponto de ter por aqui, no blogue, canções de que ele gosta e que diz que também são Canções de Natal.

Esta dos Bee-Gees é uma dessas canções.

Colaboração de Aida Santos

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


O essencial não é a escrita, é a visão.

Marguerite Yourcenar

Legenda: pormenor do desenho de Antoine de Saint-Exupéry para a capa de O Principezinho.

DIÁRIO DA GREVE GERAL


 A Greve Geral existiu.

Coloquemos de lado os números indicados pelo Governo, pelas centrais sindicais.

Mas se bem que não haja estatística, teremos que citar os trabalhadores dos privados que ouviram os patrões, os empresários, dizer-lhes: «se aderires à greve, terás problemas…»

Numa reportagem publicada pelo Público, Luca, trabalhador precário, disse: «Não tenho hipótese de fazer greve. Se pudesse fazia».

A Greve Geral cancelou 66% dos voos previstos em Lisboa, 49% no Porto e 95,4% em Faro.

Adesão muito significativa nos hospitais, nos transportes, nas escolas.

A Auto-Europa cumpriu a Greve Geral dos trabalhadores.

E agora?

O governo terá compreendido o buraco em que se enfiou, e nesse seguimento, a ministra do trabalho convocou a UGT para uma reunião, na próxima terça-feira, tendo em vista continuar as negociações sobre o anteprojecto do governo de reforma da legislação laboral.

Todo este processo correu mal para o governo porque Luís Montenegro andou afastado da discussão, deixando-a ao cuidado da ministra que é uma mera académica e não uma figura política, piorou quando o 1º ministro, o ministro da presidência, outos ministros, tiveram uma atitude arrogante, soberba aparvalhada, completamente desnecessária, desvalorizando a luta e a razão dos trabalhadores.

LÍDIA JORGE VENCEDORA DO PRÉMIO PESSOA 2025


Lídia Jorge é a sétima mulher a vencer o Prémio Pessoa.

«A sua escrita criativa e diversificada tem sido capaz de revelar o poder da literatura para nos ajudar a compreender os grandes desafios do mundo contemporâneo e a sua intervenção cívica corajosa tem contribuído decisivamente para enriquecer o debate democrático na sociedade portuguesa», destacou o Júri do Prémio Pessoa 2025.»

À LUPA

Para onde nos querem enviar… ainda mais?...

Mark Rutte, secretário-geral da NATO, incondicional admirador de Donald Trump, acaba de exortar os europeus a intensificarem os esforços de defesa para impedir uma guerra com a Rússia.

Disse o trumpista secretário, numa conferência de imprensa em Berlim:

«Somos o próximo alvo da Rússia. Receio que muitos estejam silenciosamente complacentes. Muitos não sentem a urgência. E muitos acreditam que o tempo está do nosso lado. Não está. A hora de agir é agora».

Posso estar distraído, a idade não perdoa, mas não vi, nem ouvi, o ministro da defesa Melo, nem o ministro dos negócios estrangeiros Rangel, falar de estar à porta um conflito com a Rússia.

E estaremos preparados?

QUANDO, SENHORA QUIS AMOR QUE AMASSE

Quando, Senhora, quis Amor que amasse
essa grã perfeição e gentileza,
logo deu por sentença que a crueza
em vosso peito amor acrescentasse.

Determinou que nada me apartasse:
nem desfavor cruel, nem aspereza;
mas que em minha raríssima firmeza
vossa isenção cruel se executasse.

E pois tendes aqui oferecida
esta alma vossa a vosso sacrifício,
acabai de fartar vossa vontade.

Não lhe alargueis, Senhora, mais a vida;
acabará morrendo em seu ofício,
sua fé defendendo e lealdade.

Luís de Camões em Sonetos

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

DIÁRIO DA GREVE GERAL


 «A esmagadora maioria dos trabalhadores do País está a trabalhar", afirmou o ministro da Presidência em declarações aos jornalistas na manhã desta quinta-feira. Leitão Amaro afirmou ainda que "o nível de adesão do País à greve é inexpressivo, em particular no sector privado e social.»

«O país está a trabalhar e há uma parte do país que está a exercer o legítimo direito à greve. A parte que está a exercer legítimo direito à greve é a parte minoritária, a parte largamente maioritária está a trabalhar e nós estamos também a trabalhar", afirmou Luís Montenegro, numa curta declaração aos jornalistas.»

 

ALGUMA SE VEZ PODERÀ DIZER QUE, FACE A ESTAS ANÁLISES SOBRE A GREVE GREAL, ESTAMOS PERANTE UM GOVERNO CREDÍVEL, RESPONSÁEL?

 

«O fenómeno é comum a quase todos os países da OCDE e Portugal não foge à regra: nas últimas décadas a taxa de sindicalização tem vindo a ser cada vez mais baixa. Porque é que isto acontece? Mudanças no mundo e no mundo do trabalho em concreto ajudam a explicar o declínio da sindicalização. Mas os sindicatos avisam que não morreram e que, para os trabalhadores, continuam a ser o último apoio quando tudo o resto falha.»


Patrícia Carvalho no Público

«Afinal, que sentido tem exatamente a greve geral?
O propósito desta revisão da legislação laboral é desequilibrar a lei a favor dos empregadores e diminuir a natureza coletiva das relações de trabalho. Basta, aliás, recordar as palavras de alerta deixadas pela ministra do Trabalho em entrevista à RTP, quando afirmou que “a lei que está em vigor tem algum desequilíbrio em favor dos trabalhadores”. As propostas do Governo são de tal forma “avançadas” que nem nos sonhos mais ambiciosos dos empregadores e dos seus representantes se esperava um brinde destes.


Pedro Adão e Silva

«Os herdeiros do passismo regressaram ao poder e querem retomar o caminho de intimidação iniciado há 15 anos. Para eles, trabalha melhor quem tem medo, quem, por isso, obedece e se cala.

Manuel Loff

A greve geral existiu
É uma derrota, a somar a outras que o executivo tem acumulado neste dossier. Da união pouco usual das duas centrais sindicais à convocação de uma greve geral que já não acontecia há 12 anos. Da quase ausência de quem, no espaço público, defenda a bondade das mudanças à lei até ao embaraço provocado ao próprio candidato presidencial Luís Marques Mendes. O Governo começou muito mal, sem ter construído uma narrativa para as mudanças, e arrisca-se a acabar pior.
A greve geral existiu
De pouco servirá entrar na guerra de números que, como seria de esperar, estão dentro da amplitude do exagero entre aquilo que os sindicatos exibem como uma vitória e o que Governo e patrões dizem que foi uma derrota. O que é certo é que a greve geral existiu mesmo e dificilmente deixará de ser um marco negativo no percurso político deste executivo.»


David Pontes

POEMAS QUOTIDIANOS

Poemas quotidianos

como o sol
como a noite

como a vontade de comer
e o sono

como as preocupações
e o amor

e porque saio à rua
e trabalho
diariamente

 

António Reis em Poemas Quotidianos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Primeiro levaram os comunistas,

Mas eu não me importei,

Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,

Mas a mim não me afectou

Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,

Mas eu não me incomodei

Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez

De alguns padres, mas como

Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim

E quando percebi,

Já era tarde.

 

Poema atribuído, entre outras autorias, a Bertold Brecht

NOTÍCIAS DO CIRCO

Depois das críticas dos trabalhadores da RTP e de Salvador Sobral sobre a permanência de Portugal no certame, por causa da presença de Israel, uma petição ganha fôlego para exigir o país se retire, tal como fizeram Espanha, Irlanda e Países Baixos.

A petição lançada a 5 de Dezembro para exigir a retirada de Portugal do Festival da Eurovisão, já tem mais de 10 mil assinaturas.

DIÁRIO DA GREVE GERAL

 «A proposta do governo, nas suas traves mestras, também provoca mais precariedade (contratos a termo certo com duração inicial de um ano, em vez dos seis meses atuais, e com possibilidade de duas renovações, até um limite de três anos); vai facilitar o despedimento, desprotegendo o trabalhador contra despedimento injustificado; promove uma maior desregulação dos horários e a precarização das condições de trabalho, enfraquece a contratação colectiva, a acção sindical e o direito à greve.

É legitimo propor este caminho, acreditando que é o caminho certo para aumentar a produtividade nas empresas, fazer crescer a economia e criar novos empregos. Mas entra no domínio da aldrabice política querer convencer alguém que tudo isto não é feito com perda de direitos para os trabalhadores.»

Paulo Baldaia no Expresso


A CGTP e a UGT marcaram uma Greve Geral contra as medidas laborais propostas pelo governo.

Será a primeira em 12 anos. A última, realizada pelas duas principais centrais sindicais, a 27 de Junho de 2013, ocorreu durante a crise económica, quando Portugal enfrentou um resgate financeiro e as suas consequências.

Luís Montenegro, e acompanhantes, justificam a revisão da Lei Laboral com a necessidade de modernizar a economia e diz que os trabalhadores não têm razão para fazer greve.

Luís Montenegro, e acompanhantes, afirmam que as medidas propostas visam aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho.

«Apresentámos alterações a mais de 100 artigos, mais de 100 alterações, e estamos agora disponíveis para uma consulta sobre essas alterações no âmbito da Concertação Social e também estaremos disponíveis para isso no Parlamento. O objetivo é que o resultado final possa confirmar o ajustamento da lei às exigências actuais da nossa economia, ao funcionamento da nossa economia, à robustez da nossa economia e ao funcionamento das nossas empresas»

Os serviços mínimos vão abranger, na próxima quinta-feira, dia de greve geral, a circulação de comboios, barcos e a Carris, em Lisboa, excluindo, todavia, o Metro. As decisões foram reveladas este sábado pelo Conselho Económico e Social.
O direito à greve encontra-se consagrado no artigo 57.º da Constituição da República Portuguesa. É um direito fundamental dos trabalhadores. O direito à greve é irrenunciável. Todos os trabalhadores podem aderir à greve geral, independentemente do sector de atividade, público ou privado, da natureza da sua entidade patronal e da natureza do seu vínculo à entidade patronal e do facto de se encontrarem sindicalizados ou não.  O aviso prévio de greve geral apresentado pela UGT e pela CGTP cobre todos os trabalhadores por conta de outrem.

Mas há sempre que contar com velhos hábitos, como as ameaças que larga fatia do patronato exercerá sobre os trabalhadores.

MÚSICA PELA MANHÃ


 Em relação a Elvis Presley, sou mais que suspeita, sou suspeitíssima.

Sei que é um exagero, mas gosto de tudo o que o Elvis canta e adianto que White Christmas adquire um outro sentido na voz do Rei.

Colaboração de Aida Santos.

UM HOMEM INSEGURO

Era um homem inseguro

desde que, em criança,

pendurado numa árvore,

sentira quebrar-se o ramo

e estatelara-se no chão

como um pássaro bebé

acabado de sair do ninho.

Transportou pela vida

esse sentimento de queda,

a vertigem do alpinista

à borda do precipício.

Era alguém de confiança

que desconfiava do mundo,

começando por si, desde

aquele dia de uma queda

continuada que findaria

apenas à hora da morte,

quando, adormecido de pé,

tombou sobre o vazio

batendo com a cabeça

num coração de mármore.

 

Juraan Vink, do "Livro das Memórias".

Versão de HMBF em Antologia do Esquecimento

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Tudo o que é bom é feito devagar.

Príamo, último Rei de Tróia

OLHAR AS CAPAS


 Os Homens Alegres

Robert Louis Stevenson

Tradução: Helena Barbas

Colecção: Mares nº 59

Expo 98, Lisboa Agosto de 1997

Estava uma manhã maravilhosa de finais de Julho quando pela última vez me pus para o caminho de Aros. Na noite anterior um barco tinha-me largado em terra de Grisapol. Tomei o pequeno-almoço que a modesta estalagem me permitiu e, deixando ali toda a bagagem até que a pudesse vir recolher por mar, ataquei pelo promontório de coração alegre.

Estava longe de ser um nativo destas partes, originário, como era, do tronco puro das terras baixas da Escócia. Mas um tio meu, Gordon Darnaway, depois de uma juventude pobre e rude, e de alguns anos no mar, tinha casado com uma jovem rapariga das ilhas. Mary Maclean, assim se chamava ela, a última representante da sua família. E quando ela morreu a dar à luz uma filha, Aros, a quinta cercada pelo mar, tinha ficado na posse dele. Não lhe trouxe nada alem de meios de subsistência, como eu bem sabia, mas era um homem a quem a má fortuna perseguira. Embaraçado como estava com uma criança pequena, receava voltar a arriscar-se nas aventuras da vida, e conservava-se em Aros, a roer as unhas contra o destino. Os anos passaram-lhe sobre a cabeça naquela solidão, e não lhe trouxeram nem auxílio, nem contentamento. Entretanto a nossa família ia morrendo na planície. Há pouca sorte para qualquer um daquela raça, e talvez o meu pai tivesse sido o mais afortunado de todos porque, não só foi um dos últimos a morrer, mas deixou um filho ao seu nome e um pouco de dinheiro para o sustentar. Eu era estudante na Universidade de Edimburgo, vivendo suficientemente bem às minhas custas, mas sem amigos e parentes. Quando algumas notícias acerca da minha pessoa fizeram caminho até ao rio Gordon, no Ross Grisapol, ele – que era um homem que considerava o sangue mais espesso que a água – escreveu-me no dia em que soube da minha existência, e instou-me a que considerasse Aros como o meu lar. Foi assim que acabei a passar as minhas férias naquela parte do país, tão distante de todo o convívio e conforto entre o bacalhau e as galinhas d’água escocesas. E era para isso que agora, depois de ter acabado as aulas, regressava com um coração tão leve nesse dia de Julho.


DIÁRIO DA GREVE GERAL


 Luís Montenegro, para as últimas eleições legislativas, não incluiu no programa do PSD qualquer reforma laboral.

Por motivos que só ele, ou a ministra do Trabalho, poderão clarificar, surgiu um miserável pacote reformista dos direitos de quem trabalha muito e recebe pouco.

Causou espanto e indignação.

Depois de lida e relida a proposta, tanto a CGTP e a UGT, acabaram por concluir que apenas uma Greve Geral, poderia levar o governo e os habituais acompanhantes, a repensarem o disparate em que caíram.

A Greve Geral ficou marcada para o dia 11 de Dezembro.

Entretanto, nada aconteceu, apenas acusações pífias: o governo desqualificou as motivações da greve, lançando a acusação de que as centrais sindicais estão a mando dos partidos, esquecendo (?) que o que motiva os trabalhadores é a própria reforma laboral.

Ainda reuniram com a UGT, que, entre outros, reúne trabalhadores apoiantes do PSD, mas o pacote é demasiado gravoso, para que remendos e remedinhos que apresentaram, servissem para demover a Greve Geral. 

MÚSICA PELA MANHÃ

A capa do CD não é nada bonita.

A fotografia que escolheram abona pouco quem nela consentiu. Como diz Sammy, apropriada para aqueles calendários que existiam nos calendários das paredes das garagens de bairro.

Mas como se gosta de Diana Krall… e  de Canções de Natal…

NUM OUTRO MAR QUE DESSES MORRERIA

Num outro mar que desses morreria
e não invejo, pois, a só migalha
que a mão que tens mais leve certo dia
a outros pelo vento cega e espalha.
 
A mim, amor, só cabe, qual convém
para o centro da terra, teu miolo;
e, mais, do que isso, a tua chaga-mãe,
a perfeita descida do teu colo,
 
o lado fora, e nele o imo expresso
nos acidentes líricos do leito
em que, de ter-te, só me tenho e esqueço.
 
Em nada tenho tudo, dito e feito,
e nisso tens a estrela que mereço
brilhando perto, ao fundo do teu peito.

Pedro Tamen de Os Quarenta e Dois Sonetos em Tábua das Matéria

 


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Morrer é saber que não se aprendeu tudo, inclusivamente como morres.

Sérgio Godinho

DISTO, DAQUILO E DAQUELOUTRO

Gosto de futebol.

Aos 5 anos, com o meu avô, rumámos ao Campo Grande, na velha «estância de madeira», e aí vi o primeiro jogo em que o Benfica defrontou o Vitória de Setúbal. Na memória ficou que o Benfica ganhou, o Setúbal tinha um avançado centro negro, de seu nome Melão, do Benfica ficou gravada a bonita e elegante figura de José Águas.

Ao longo de todos estes anos, vi os melhores jogadores do mundo, lembrarei sempre o Mundial de 1966, aquele jogo do Eusébio contra a Coreia do Norte.

Vou-me desiludindo com os caminhos que o futebol vai percorrendo e já pouco ou nada me entusiasma.

Ando a arrumar papéis velhos e dei com recortes que registam a morte de George Best, possivelmente, a primeira superstar do futebol mundial.

No dia da sua morte, os jornais ingleses realçaram as várias exibições memoráveis George Best e, como uma das mais brilhantes, lá vinha os quartos de final da Taça dos Campeões Europeu, em 1966. Na Luz, a rebentar pelas costuras, Best marcou dois dos cinco golos com que o Manchester presenteou o Benfica. Eu estive lá!

Dois anos depois, a final dos Campeões Europeus no Estádio de Wembley, 1 a 1 no final do jogo mas a segundos desse final, o Simões falha, à boca da baliza o segundo golo e, no prolongamento, o George Best marcou o 2º golo que terminaria com o resultado de 4 a 1.

Nesse ano de 1968, Best tinha 22 anos, estava no pico da sua carreira, glória do Manchester United e da selecção da Irlanda, os seus colegas de equipa diziam que não havia nada que ele não conseguisse fazer em campo, que não havia posição no terreno que lhe fosse incómoda. Mas começou a chegar tarde e a faltar aos treinos. Álcool, mulheres, noites que acabavam mal, algumas atrás das grades nas esquadras de polícia.

Disse:

«Na minha vida gastei montanhas de dinheiro em mulheres, vinhos e carros rápidos. O resto desperdicei…».

Um dia, Best sintetizou exemplarmente a sua vida:

«Na América vivia numa casa perto da praia. No caminho para lá, havia um bar, por isso nunca chegava à água.»

Também desmentiu um célebre rumor da época, segundo o qual tinha dormido com sete misses Mundo: «Foram só quatro!»

Legenda: fotografia na primeira página e destaque na 2ª e seguintes do Público de 26 de Novembro de 2005.

1.

A fuga de impostos das multinacionais custa 2,9 milhões de euros por dia.

2.

Os Açores, a Madeira, o Alentejo e o Algarve são as regiões portuguesas com taxas de mortalidade mais elevadas.

3.

Foi ajustada a idade da reforma sem penalizações para o ano de 2027: serão quase 67 noas (66 e 11 meses), mais dois meses do que em 2026. É o valor mais alto de sempre, um recorde que, ao que tudo indica, será batido ano após ano enquanto a esperança média de vida continuar a subir.
Lembrem-se que mais anos de vida não significa necessariamente mais anos com qualidade de vida.

4.

                        

A CGTP e a UGT decidiram convocar uma greve geral para 11 de Dezembro, em resposta ao anteprojecto de lei da reforma da legislação laboral, apresentado pelo Governo.

O governo apenas tem debitado as banalidades do costume!

5.

Desde o início do ano, Portugal perdeu 37 ecrãs de cinema e está em vias de ver extinguirem-se mais nove, num total de 46.

6.

Bernardo Gouvêa, presidente do Instituto do Vinho e da Vinha, disse a Pedro Garcias do Fugas do Público que «Portugal produz vinho em quantidade suficiente para as suas necessidades, mas, mesmo assim importa mais de 299 milhões de litros a Espanha.»

Não sou especialista, mas entendo que estas misturas de uvas não ajudam à qualidade e sabor do vinho e, possivelmente, ao preço.

Talvez por isso os vinhos alentejanos, tinham um sabor que hoje não encontro. 

NOTÍCIAS DO CIRCO

Soldados da GNR e guardas da PSP foram mandantes de agrários que mantiveram, em condições de trabalho e de vida completamente miseráveis, trabalhadores imigrantes.

 Os nomes dos agrários não foram revelados, tão pouco se sabe se irão ser incriminados.

Ana Sá Lopes lembra hoje no Público:

«Safra Justa: quem não transcreveu as escutas aos elementos da GNR e ao agente da PSP?

O que é que aconteceu para não terem sido transcritas? Durante um ano não houve funcionários capazes para o fazer? Os procuradores esqueceram-se? No programa Expresso da Meia-Noite da SIC Notícias, na passada sexta-feira, o advogado Manuel Magalhães e Silva chegou a dizer que as escutas não foram transcritas “de propósito”. Isto é particularmente grave porque se está a falar de crimes de quase escravatura contra imigrantes.

No comunicado de 25 de Novembro, a GNR diz que “tudo fará para que os autores sejam criminalmente responsabilizados” e que na Guarda Nacional Republicana “não há lugar para pessoas cujo comportamento possa corromper o compromisso de honra e exemplaridade ética” que os militares assumiram “perante a sociedade e os cidadãos”.
A IGAI – Inspecção-geral da Administração Interna – já abriu um inquérito aos suspeitos. Só que, por causa de uma indesculpável acção do Ministério Público, afinal, na GNR “há lugar para pessoas cujo comportamento possa corromper o compromisso de honra”. O regresso ao trabalho destes militares sob suspeita é de uma imensa gravidade e põe em causa a confiança dos cidadãos nas forças de segurança.»


O TELEMÓVEL COMO UM PEQUENO ALTAR

«O modo como muitos dos humanos estão virados para o telemóvel, canalizando para o ecrã todas as suas possibilidades corporais e toda a sua actividade intelectual, é semelhante à adoração obsessiva por um deus. Como se o ecrã do telemóvel fosse um pequeno altar portátil que exige uma espécie de oração quase contínua – nunca na História existiu religião mais exigente de atenção por parte do devoto.

Talvez seja, então, o momento de mudar de Deuses, e do deus-ecrã se passar para a velha Deusa que Goethe adorava, a Deusa da Presença.»

Gonçalo M. Tavares

VELHOS RECORTES


 Carta de Clarice Lispector para João Cabral de Melo Neto, reprodução do JL s/d.

MÚSICA PELA MANHÃ


8 de Dezembro de 1980.

John Lennon regressava a casa, em Nova Iorque, um fã louco disparou sobre o cantor 5 tiros de revolver e sentou-se no passeio.

Colaboração de Aida Santos.

PASSAREI PELA PRAÇA DE ESPANHA

O céu estará límpido.

As ruas abrir-se-ão

na colina de pinheiros e de pedra.

O tumulto das ruas

não mudará esse ar parado.

As flores das fontes

salpicadas de cores

abrirão os olhos como mulheres

divertidas. As escadas

os terraços as andorinhas

cantarão ao sol.

Abrir-se-á aquela rua,

as pedras cantarão,

o coração baterá em sobressalto

como a água nas fontes -

será esta a voz

que subirá as tuas escadas.

As janelas saberão

o odor da pedra e do ar

matinal. Abrir-se-á uma porta.

O tumulto das ruas

será o tumulto do coração

na luz extraviada.

 

Serás tu - quieta e clara.

 

28 de Março de 1950

Cesare Pavese

domingo, 7 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Dizem que a televisão fez diminuir a convivência. Não serão as dificuldades na convivência que introduz o poder da televisão?

Autor desconhecido.

ASSIM ERA E NÃO O QUE HOJE É...


Para Luís Montenegro e seus acompanhantes, recorda-se o que Sá Carneiro quis que o então P.P.D. fosse.

Legenda: folheto da exposição que a Ephemera tem patente na Mitra em Lisboa até 31 de Janeiro de 2026