José Saramago
Capa: Moita de Macedo
Editorial Futura, Lisboa, 1973
Segundo livro de crónicas de José Saramago.
A certo ponto diz:
“Quero eu dizer na minha que estas crónicas são também os dizeres de um fala-só. De modo que fala-sós somos todos: os loucos, que começaram, os poetas, por gosto e imitação, e os outros, todos os outros, por causa desta comum solidão que nenhuma palavra é capaz de remediar e que tantas vezes agrava.”
Noutro ponto dirá, quase definitivo:
“Não haverá grandes possibilidades de nos salvarmos, se não salvarmos a inteligência. Até ao dia em que já não farão falta os intelectuais, porque todos o serão."
Segue-se um excerto da crónica “História para Crianças”:
“Se não escrevi o livro definitivo que tornará a literatura portuguesa, enfim, uma coisa a sério, foi só porque ainda não tive tempo. Isto é o que me diz o meu amigo Ricardo, e di-lo com tal convicção, que muito céptico seria eu se não acreditasse sob palavra. (…) Digo “sim senhor”, se a intimidade não dá para mais, e se é o caso de dar, como acontece com o meu amigo Ricardo, acho-me tão eloquente que construo uma frase de oito palavras ‘então vê lá isso cá fico à espera’”. (…)
Na história que eu escreveria, havia uma aldeia.(::J Logo na primeira página, sai o menino pelos fundos do quintal, e, de árvore em árvore, como um pintassilgo desce o rio e depois por ele baixo, naquela vagarosa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu… Em certa altura, chegou ao limite das terras até onde se aventura sozinho. Dali para diante, começava o planeta Marte, efeito literário de que ele não tem responsabilidades, mas com que a liberdade do autor acha poder hoje aconchegar a frase. Dali para diante, para o nosso menino, será só uma pergunta sem literatura “vou ou não vou?”. E foi “
Não haverá grandes possibilidades de nos salvarmos, se não salvarmos a inteligência. Até ao dia em que já não farão falta os intelectuais, porque todos o serão."
Sem comentários:
Enviar um comentário