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sábado, 6 de janeiro de 2024

OLHAR AS CAPAS


A Caça

Virgílio Martinho

Capa: João Botelho

A Regra do Jogo, Lisboa, Abril de 1974

As coisas tinham-se passado assim. Quando todos, incluindo o macho e o cadáver de Beningna, chegaram perto da igreja apareceu o padre Matias a ver o que era.

Viu e fez logo o sinal da cruz. Não contente, era homem de grandes gestos, abanou amplamente a cabeça em forma de massaroca de milho e ergieu os braços ao céu. Posto isto, pediu um relato circunstanciado do que acontecera, mas antes sugeriu que fossem todos para debaixo do alpendre de modo a evitar as más consequências da invernia.

domingo, 6 de junho de 2021

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 A Sagrada Família

Virgílio Martinho

Capa: Vitorino Martins

Colecção Palco nº 12

Moraes Editores, Lisboa, Outubro de 1980

Olímpia: Querida, o dinheiro e a cama sempre foram as molas reais duma contra-revolução vitoriosa. Se eu tratar da primeira, estás disposta a tratar da segunda?

Patrícia: Insinuas que me deite com os contra-revolucionários pouco estimulados? Não posso acreditar!

Olímpia: Não com todos, só com os chefes. Quando os fins são históricos há que fechar os olhos às conveniências, Patrícia.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

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Filopópolus

Virgílio Martinho

Capa: Mário Henrique Leiria

Colecção Teatro Vivo nº 2

Plátano Editora, Novembro de 1973

Sou a alma de Polónio, o jornalista. Como sabem o meu corpo foi morto pelo veneno de Alice das Maravilhas. Mas não quero mal à cortesã, sei que o amor é tão cego que nem poupa o objecto amado. Em contrapartida, agora que não passo dum véu, que não como, não bebo, nem tenho ambições, resolvi matar Filopópolus por idealismo. Considero-o um cancro que tudo corrói com as suas matreirices de pequeno ladrão. Engana a pobre Mercedes, engana os cúmplices, engana vossas excelências. Tem de ser castigado! E como há sempre lugar para sermos bons e úteis à Humanidade, aqui estou eu…

sábado, 5 de novembro de 2016

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1383

Virgílio Martinho
Capa: José Araújo
Editorial Caminho, Lisboa, Março de 1977

Uma palavra ainda: Que ninguém esqueça e lembre sempre a seus filhos e netos que só pela união e concerto dos melhores de nós foi possível derrubar uma governação cuja política nos levaria à vassalagem do estrangeiro e por fim à perda da nossa própria nacionalidade. A luta que travámos e levámos a bom termo fez de nós um povo independente e livre. Que doravante seja  esta a lei da nossa conduta e o anseio supremo do nosso desígnio.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

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O Grande Cidadão

Virgílio Martinho
Capa: Manuel Dias
Editora Arcádia, Lisboa, Fevereiro de 1975

Mas tudo isso é pouco ou é muito. De qualquer modo é uma forma de governar. O Grande Cidadão ignora toda a espécie de crítica e castiga quem o lembra. Por isso os que passeiam na qualidade de público, levando pela mão os filhos, estão prazenteiros e deliberadamente esquecidos. Quando acabar a cerimónia vão para casa e jantam. Depois dormem. Talvez copulem com a esposa, talvez não.

segunda-feira, 2 de março de 2015

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O Concerto da Buzinas

Virgílio Martinho
Capa: Henrique Ruivo
Seara Nova, Lisboa 1976

Diz Rodriguez:
… os bons pássaros só pensam em fugir da gaiola, mesmo que as suas asas estejam cortadas rentes…
… o pássaro nobre sabe que o espaço livre é a sua casa, a sua única casa…
… fugi dum campo rodeado de arame farpado, dei às asas, mas enganei-me no rumo, em vez do Norte vim para o Sul…

… mas juro que voarei de novo, que voarei…

sábado, 15 de fevereiro de 2014

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Relógio de Cuco

Virgílio Martinho
Contraponto, Setúbal Janeiro de 1997


Eu amava o velho pai como quem ama uma coisa inventada, sem palavras nem carinhos. Via-o enorme, as pernas sempre a fugirem de mim, o corpo magro ligeiramente curvado e lá em cima as fossas do seu nariz. E era esta e não outra a minha invenção de pai. Via-o e era o mesmo que sentir-me duas vezes, como sombra na parede ou imagem no espelho. Porque ele tinha um ar severo e grave, raramente me falava, nunca me beijava, só uma vez me atirou com a mona às pernas. Como um pai que não há. Trabalhava à noite na estação de Setúbal e dormia de dia na nossa casa dos Quatro Caminhos, havia entre nós horários diferentes. Ele via a noite e a lua, eu o dia e o sol, éramos ambos duas paralelas, uma maior outra mais pequena. Encontrávamo-nos porém ao jantar mas o nosso infindável silêncio continuava a ser o nosso silêncio, embora a mãe dos dentes brancos falasse e risse entre nós.