terça-feira, 30 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Para sublinhados saramaguianos, peguei na peça Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.

Não foi por acaso.

Disse ontem que iria deixar repousar O Amor Possível, a longa conversa entre José Saramago e Juan Arias, mas volto porque ao folhear o livro fui ter às palavras que Saramago escreveu como eventual explicação da peça:

«Se há uma ópera no mundo capaz de pôr-me de joelhos, rendido, submetido, é esta».

Na conversa com Arias, Saramago diz:

«Como te dizia há um momento, agora estou a pensar assim, mas amanhã, no momento da minha morte, tudo poderia acontecer, inclusive que negue tudo o que acabo de afirmar. Mas isso não significa, nem significará nunca que tenha razão então. Estive a ouvir antes Don Giovanni de Mozart e tem oito minutos de música que, para mim, nunca será superada. Refiro-me ao último acto, quando aparece a Don Giovani a estátua do comendador. O comendador exige-lhe que se arrependa, senão leva-o para o inferno. Para mim Don Giovanni é uma ópera melhor do que Parsifal, com toda a sua mística, é a grande ópera e a grande música. Don Giovanni, que é um canalha, um enganador, um tipo desprezível, diz que não, que não se arrepende, e isto é uma lição de dignidade: eu errei, mas o que significa dizer que me arrependo? Não posso apagar todos os males que causei durante a minha vida, as vítimas estão aí, dizer que me arrependo é demasiado fácil.»

FICA AQUI A DECLARAÇÃO

5 de Abril de 1948

Creio que não é preciso. Em todo o caso, fica aqui a declaração.

O que eu fui sempre, o que eu sou, e o que serei, é um artista, um homem e um revolucionário. Na medida em que sou artista, quero um mundod onde a beleza seja o vértice da pirâmide. Na medida em que sou homem, quero que nesse mundo os indivíduos sejam livres e conscientes. E na medida em que sou revolucionário, quero que a revolução traga à tona as grandes massas, e que nunca acabe de percorrer o seu caminho perpétuo, sem estratificações e sem dogmas.

Miguel Torga em Diário, Volume IV

NOTÍCIAS DO CIRCO

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa vetou a lei da eutanásia.

Encontrou inesperadas perplexidades, justifica.

O católico Marcelo Rebelo de Sousa jamais entenderá uma lei destas.

A Igreja, desde muito pequeninos, marca-os.

Muitos deles, ao longo dos tempos, não conseguem livrar-se do ferrete.

A luta continua na próxima legislatura.

Como, tantas e tantas vezes, ao longo da sua vida, disse o médico e deputado João Semedo, defensor da eutanásia:

«Não quero que me imponham a condição de sofrer.»

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Os trabalhos em que me meti, com estes sublinhados saramaguianos, não estão a ser fáceis.

 Provavelmente a ideia era interessante, com fácil concretização, se os livros não estivessem largamente sublinhados.

É o caso deste excelente livro/conversa de Saramago com Arias.

Mas terei que interromper o caminho porque de repente, era provável que estivesse até ao Natal às voltas com o livro. Em tempos de pandemia há que prevenir o cansaço dos viajantes do blogue.

Voltarei a este livro, mas por agora, fico-me por uma pausa e por uma resposta solta de Saramago:

«Repara, entre a criança de hoje e a criança que foste, a diferença é total, porque as crianças de hoje são completamente diferentes. Há crianças que não sabem o que é uma galinha, imagino que pensam que o leite sai dessas embalagens que se compram no supermercado e não sabem que há uma vaca por trás. Por outro lado, sabem tudo sobre a informática e quase nem sequer precisaram de a aprender, intuem-na imediatamente, relacionam-se naturalmente com uma máquina. Sempre houve rupturas, mudanças tecnológicas, o que acontece é que essas mudanças eram lentas e o processo de adaptação fazia-se com naturalidade, mas a brusquidão, a rapidez com que as mudanças se produzem agora faz com que estejas sempre atrasado em relação ao que acontece. Impedem a sua assimilação, pelo menos a pessoas como eu.»

TORNAR A SOLIDÃO FRATERNA

1 de Novembro de 1967

O Socialismo não pode ignorar a solidão nem a incomunicabilidade dos homens que vivem longe uns dos outros, cada qual na sua ilha. A missão do socialismo é justamente incendiar essa solidão e lançar pontes de fogo de ilha para ilha.

Eis o que me apeteceu gritar, há dias, a dois parvos que, palermamente  parvos, identificavam com a burguesia esses materiais de angústia, tão desprezados por alguns socialistas aparentes.

E no entanto essa riqueza pertence-lhes por inteiro na medida em que os homens lhes pertencem.

Socialista; homem que sofre com a consciência de tornar a solidão fraterna.

José Gomes Ferreira em Dias Comuns, Volume III

OLHAR AS CAPAS


 

Ofício de Paciência

Eugénio de Andrade

Prefácio: Gastão Cruz

Capa: Ilda David

Assírio & Alvim, Lisboa, Novembro de 2018


A Pergunta de Stevens


Tragam-me o rio até à porta.

Deixem-no comigo este verão.

Vem de terras tristes. Terras

onde dificilmente o girassol

voltará a florir, o tordo a acasalar.

Apesar de fatigado, sonha

com a ressurreição das cigarras.

Poucas coisas houve no mundo

tão formosas como um rio. Agora

já nem reflecte a sombra das garças.

Em vez de morte, que teremos no paraíso?

Colaboração de Aida Santos

domingo, 28 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Continuamos com o livro de  Juan Arias O Amor é Possível.

A pergunta do jornalista:

«A propósito de portas que abrimos e fechamos, afirmaste também noutra ocasião que ainda mal começaste a abrir portas da tua intimidade. Tens medo de o fazer?»

José Saramago:

«Creio que mesmo que vivêssemos duzentos anos, haveria portas nossas que continuariam fechadas. Porquê? Porque não sabemos abri-las. Freud chegou para abrir umas quantas, mas é certo que não as abriu todas, e até que chegou Freud e outros como ele, essas portas estavam fechadas. De qualquer modo, as pessoas tinham vivido, os escritores tinham escrito coisas magníficas, Shakespeare não tinha precisado de Freud. Provavelmente, as portas que cada um pode abrir talvez não sejam suficientes para poder exprimir de uma forma completa quem és, porque se pudesses abri-las todas, algumas delas seria melhor voltar a fechá-las imediatamente porque o espectáculo podia não ser agradável. Quem sabe se o melhor será nunca chegarmos a dizer quem somos.»

RELAÇÕES INSUPORTÁVEIS

24 de Abril de 1992

Estou habituado a um rol de censuras, extremamente justas aliás: quando não és o centro da conversa aborreces-te, muitas, muitas vezes não ouves os outros, foges daquilo que te incomoda, etc. Mas cheguei a uma conclusão: a única forma de suprimir estes defeitos seria suprimindo-me. Somos quase sempre incorrigíveis, pelo menos no essencial. E é porque somos incorrigíveis que quase todas as relações demasiado próximas são insuportáveis.

Eduardo Prado Coelho em Tudo O Que Não Escrevi,  Volume II

O PRINCÍPIO


 O Advento tem sempre início no domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e termina no dia 24 de Dezembro

Do latim adventum, a palavra "advento" significa chegada e, neste caso, faz referência à chegada de Jesus ao mundo. Assim, é o período antes do Natal, em que a igreja se prepara para a comemoração do nascimento do Menino Jesus.

O tempo do Advento tem a duração de quatro semanas. Este ano, vai de 28 de Novembro a 24 de dezembro de 2021.

Os domingos do tempo do Advento chamam-se: 1.º, 2.º, 3.º e 4.º domingo do Advento. Este tempo que antecede o Natal é o primeiro tempo do calendário litúrgico. É um tempo de espera e de esperança para a chegada de Cristo.

As duas primeiras semanas do Advento visam a preparação para a chegada de Jesus Cristo e as duas últimas semanas do Advento propõem-se a fazer a preparação para a celebração do Natal.

Nas igrejas, durante o tempo de Advento coloca-se a coroa do Advento.

Consiste em um ramo verde disposto em forma circular, onde são colocadas quatro velas nas seguintes cores: verde, vermelha, roxa e branca. A cada domingo uma vela é acesa, até que todas estejam acesas no último domingo do Advento.

Acredita-se que a primeira referência ao Advento seja do ano 380, na Península Ibérica, quando o Sínodo de Saragoça ordenou uma preparação de três semanas para a Epifania do Senhor.

Epifania significa revelação e, por isso, representa o dia em que Jesus foi apresentado ao mundo, o que teria acontecido com a chegada dos Reis Magos no local do nascimento de Jesus.

Colaboração de Aida Santos

Fonte: textos na Internet

sábado, 27 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Este livro que nos vai acompanhar tem muitos sublinhados e por uns dias aqui ficará.

Juan Arias, escritor e jornalista, esteve em Lanzarote no mês de Setembro de 1997, para uma longa entrevista com José Saramago e para título do livro que reúne essas conversas, escolheu O Amor é Possível.

«E isto, não só porque Saramago afirma que nos seus romances o amor é sempre possível, mas também porque, se o amor é um milagre, a literatura e a poesia, e de modo particular a poderosa literatura de Saramago, podem ser capazes de fazer que o amor nem sempre seja impossível.»

O capítulo primeiro chama-se «Vivemos para dizer quem somos».

E primeira pergunta de Juan Arias processa-se assim:

«Já que os teus leitores estão particularmente presentes na nossa conversa, poderia ser interessante recordar aqui a afirmação de que «vivemos para dizer quem somos». Se não te arrependeste de afirmar que se vive para que os outros nos conheçam, podes dizer-nos quem és?»

É esta a resposta de José Saramago:

«Penso que há que ver todas essas frases no contexto em que são ditas, porque não podemos entendê-las como se fossem uma expressão de absoluto. O pior que nós, escritores é que estamos sempre à procura de frases interessantes e quando nos fazem perguntas complicadas tentamos procurar uma resposta que seja, ou que possa parecer, original, inteligente, e até divertida. Mas é verdade que eu disse: «Vivemos para dizer quem somos», e disse-o com toda a seriedade do mundo, mas também é certo que, provavelmente, tratava-se afinal de uma tentativa de disfarçar a impossibilidade de dizer quem somos e para que vivemos, porque provavelmente, vivemos porque vivemos, sem mais. Quer dizer então que não têm sentido as referidas frases? Claro que têm?» 

À ESPERA DE ALGUMA COISA...

1 de Maio de 1968

Em entrevista célebre de Novembro de 1945, o Senhor Presidente do Conselho referiu-se assim à censura: «Declaro não ter nunca percebido esta incoerência que ninguém ainda me explicou claramente: por que motivo se exige atenta fiscalização dos géneros deteriorados – o arroz, o bacalhau, a manteiga – e se descura completamente a higiene do espírito, não a aceitando para os baixos sentimentos?

Mário Sacramento em Diário

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

 

Pego hoje em A Noite, a estreia de José Saramago como dramaturgo:

«Como pude eu escrever uma peça? Aí está uma questão para que ainda não fui capaz de encontrar resposta e que eventualmente a crítica repetirá, não já em todos os tons, mas naqueles só que exprimam decepção, azedume, contrariedade vária ou ironia.»

de uma entrevista ao semanário Sete, 16 de Maio de 1979.

José Saramago escreveu A Noite para Luzia Maria Martins, que dirigia a Companhia Teatro Estúdio de Lisboa, sedeada no Teatro Vasco Santana, na antiga Feira Popular, em Entrecampos.

Possivelmente, por falta de apoios financeiros, Luzia Maria Martins não conseguiu avançar com o projecto. 

Será Joaquim Benite, com a Companhia do Teatro de Campolide, que em Junho de 1979, no Teatro da Academia Almadense,a levará à cena.

Como primeiro sublinhado fiquemos com as palavras que José Saramago escreveu para a contracapa do livro:

«A noite de que neste livro se fala é a de 24 para 25 de Abril de 1974. Aqui se diz algum pouco do que aconteceu ou podia ter acontecido por trás das janelas iluminadas das redacções e das tipografias, enquanto na rua o regime fascista principiava a cair. Entram jornalistas de alto e baixo, tipógrafos, o director de uns, o administrador de todos. Não há retratos, mas talvez se encontrem retratos. Tal como na vida dos dias todos, uma gente é boa, outra ruim, outra não sabe o que seja nem sabe o que é. Estes são firmes, aqueles são fracos provavelmente porque nunca se lhes pediu a humana ousadia de o não serem. Não será uma história verdadeira, mas é, com certeza, uma história sem mentira.»

O  segundo sublinhado vai para a música que Carlos Paredes escreveu para a peça.

O terceiro sublinhado refere que o cenário é da autoria do pintor  António Alfredo.

Desse cenário escreveu Joaquim Benite;

«António Alfredo inventou um cenário que ocupava todo o teatro e que ligava o balcão (lugar imaginário da tipografia) ao palco (a redacção), através de um passadiço suspenso por fios de aço – lembrança dos meus tempos de “A República”, que inspiraram, de resto, também o gabinete do director, dominando a redacção, idêntico ao que o velho Artur Inês (quem é que se lembra dele?...) ocupava no jornal da Rua da Misericórdia.»

FISCALIZAÇÕES...

1 de Maio de 1968

Em entrevista célebre de Novembro de 1945, o Senhor Presidente do Conselho referiu-se assim à censura: «Declaro não ter nunca percebido esta incoerência que ninguém ainda me explicou claramente: por que motivo se exige atenta fiscalização dos géneros deteriorados – o arroz, o bacalhau, a manteiga – e se descura completamente a higiene do espírito, não a aceitando para os baixos sentimentos?

Mário Sacramento em Diário

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

 Volto às entrevistas que José Saramago deu a José Carlos de Vasconcelos porque existe na entrevista, publicada na Visão de 16 de Janeiro de 2003, um sublinhado de que gosto muito. «Atenção, este livro leva uma pessoa dentro.»

Disse Saramago:

«Eu há muito que digo que todos os livros, e já agora em particular os meus, deviam levar uma cinta com estas palavras: atenção, este livro leva uma pessoa dentro. É isto, no fundo os meus leitores encontram nos meus livros a pessoa que eu sou e gostam.»

ZELOS POLICIAIS

14 de Fevereiro de 1948

Novamente me foi negado o passaporte para sair de Portugal. Prisioneiro! E vejam o absurdo dos zelos policiais! Eles a pensarem que me levavam sombrios propósitos de minar a ordem, e aqui como quem se confessa o que eu queria era ir ver os Velásquez do Prado, e os Memlings de Bruges.

Miguel Torga em Diário, Volume IV

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Continuo a lamentar que a Porto Editora, a Fundação José Saramago, quem quer seja, ainda não tenha começado a publicar a correspondência que José Saramago manteve com os seus pares e também com os seus leitores.

Sobre a correspondência com os seus leitores, disse José Saramago:

«Tenho milhares de cartas e costumo dizer que a obra completa de um escritor só estará realmente completa publicando-se uma selecção das cartas dos leitores porque – fala-se tanto da teoria da recepção – é naquelas carta que se vê realmente o que é a recepção.

No que respeita às centenas de entrevistas que Saramago deu ao longo da vida, não há qualquer referência dada pela Porto Editora, a Fundação José Saramago, quem quer que seja.

Recorde-se que Mécia, mulher de Jorge de Sena, teve o c cuidado de publicar a correspondência que o marido manteve, bem como as muitas entrevistas que deu.

As entrevistas de Saramago, que eu saiba, apenas tiveram divulgação por parte dos entrevistadores que as promoveram: Conversas com Saramago por iniciativa de José Carlos de Vasconcelos e Por Saramago por iniciativa de Anabela Mota Ribeiro.

Os sublinhados de hoje debruçam-se sobre as entrevistas dadas por Saramago a José Carlos de Vasconcelos. O primeiro em que é abordado o romance História do Cerco de Lisboa, que amanhã tarei aqui:

«…há uns três ou quatro anos, estando na Caminho a conversar com a minha revisora, a Rita Pais (cujo nome, aliás, aparece numa enunciação de nomes de de revisores de editora de que se fala no Cerco, é uma homenagem), e ela pergunta-me: «Então quando lança um livro?» eu respondi: »Um dia destes, estou a pensar nisso», e no meio da conversa, a Rita tem uma frase a que na altura não liguei especialmente: «Dos revisores é que nunca ninguém se lembra». Passaram os meses, e a certa altura começa a desenhar-se dentro de mim a personagem do revisor. Portanto, há uma ideia, um motor inicial, que tem 15 anos, ou coisa que o valha; e há depois uma espécie de «cristilização», que parte de uma frase tão corrente como é «dos revisores é que ninguém se lembra». A partir daí começo a pensar a minha personagem.».

O segundo sublinhado é um repisar da ideia da publicação da correspondência dos e com os leitores:

«Tenho conversado com a Pilar sobre isto. As Obras Completas estão incompletas porque lhes falta o outro lado, ou como agora se diz a recepção dos leitores. Gostaria, depois de já cá não estar, que a Pilar organizasse, para publicar, cartas absolutamente extraordinárias, muitas vezes de pessoas sem qualquer preparação académica, documentos humanos de uma profundidade, de uma beleza, de uma emoção raras, que me chegam de toda a parte. E que juntasse aos 30 e tal volumes que eu deixe escritos um ou dois com essas cartas.»

NÃO TENHO FEITO OUTRA COISA

29 de Outubro de 1967

Aliás, em raras excepções, durante toda a vida, não tenho feito outra coisa senão ouvir.

Em jovem ouvia os velhos.

Em velho ouço os jovens.

José Gomes Ferreira em Dias Comuns, Volume III

OLHAR AS CAPAS


De Maneira Que É Claro…

Mário de Carvalho

Porto Editora, Lisboa, Setembro de 2021

Os nossos espaços. Também somos formados por eles. Por aí vagueia a memória que só muito raramente (pode acontecer…) dispensa o cenário. Às vezes engana-nos. É o seu papel.

Eu tive duas avós: a da vila e a do monte. Da vila guardo o vermelho lume afável da lareira, cadeiras de palhinha, família em volta, gatos, mãos ásperas acariciando-me o rosto, vozes a sumirem-se nas lonjuras do sono. Mas também o quarto escuro, uma despensa negra, esconsa, onde se amassava o pão. Pairavam no ar espesso cheiros adocicados. Azeite. Parecia não haver luz que ali fosse consentida. Como se o negrume irradiasse cá para fora. Inquietava-me.

No monte, eram os horizontes às escâncaras, o sol  aberto através de searas, carreteiras, areias, sobro. A rua do monte, o forno do pão, o poço, a grande amoreira. Nunca estava tudo visto e percorrido.

Mas havia também a percepção, mal suspeitada, de que algo adejava sobre aquela família, um mal-estar qualquer que não me transmitiriam, mas que eu adivinhava, por minúsculos sinais. As crianças sofrem muito mais do que se pensa…

O escritório do meu pai, na Calçada do Garcia, apertada e íngreme. Mobílias de fancaria, um enorme relógio redondo, dísticos, em fundo pardo, a apelar à seriedade dos negócios: «Não fazem ninho os milhafres na caverna dos leões.» Sem citar o autor.

As várias casas onde fomos vivendo, desde a Ajuda ao Bairro dos Actores, passando pelos Anjos, Campolide, Campo de Ourique, Picheleira, deixaram cada qual, a sua marca: um troço de rua, uma prateleira de despensa, uma certa janela em aberto, o rendilhado dum tecto, a curva dum corredor, umas sonoras escadas de serviço, um recanto de marquise, um pátio com claraboias… Disso sou também feito, e com isso escrevo, mesmo sem que os lugares o saibam. Eu também os contenho.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.


Como os tempos são de eleições, nos partidos da direita, para novo governo no próximo ano, peguei hoje em Folhas Políticas, publicado por José Saramago em Novembro de 1999 e que reúne uma selecção de crónicas políticas que o autor publicou em jornais e revistas a partir de 1976.

Algumas delas já mereceram abordagem no tempo em que o Partido Socialista, apoiado pelo PCP e pelo BE, conseguiu formar um governo que destronou a direita ultra liberal de Passos Coelho e Paulo Portas.

Foram tempos de alguma esperança, aquela esperança que, desde a primavera marcelista, nos invade volta e meia.

Mas que poderíamos esperar do Partido que se diz Socialista e que, a seu tempo, Mário Soares arrumou numa gaveta?

Quando Ferro Rodrigues, em entrevista ao Público de 16 de Novembro de 2014, bolsava isto: «nós não sabemos o que vai acontecer à esquerda "entre aspas" – digo sempre "entre aspas" porque não acho que haja forças mais à esquerda que o PS», poderíamos esperar algo mais do que aquilo que aconteceu?

E estes são os sublinhados que escolhemos:

«…segundo entendo, a questão da Esquerda, logo a questão do Socialismo, tem de passar por uma definição do partido Socialista no que toca ao lugar que ocupará (ou não) na futura luta, ou, se a linguagem parecer demasiado bélica, no futuro empenhamento das forças de Esquerda. A grande responsabilidade do partido Socialista tem sido a de paralisar, pela sua contradição interna, a irrecusável definição: é possível, por isso, afirmar que, no sentido mais rigoroso do termo, o Partido Socialista adiou o Socialismo. Porque o adiou dentro de si próprio.»

(Página 14)

«Encontremo-nos, pois, e confrontemos. Sabendo cada um o lugar que ocupa, agora, no sector da esquerda que for o seu, sem subvalorização do que, efectivamente, esse sector representar como expressão colectiva. E tenhamos em vista que o objectivo é o Socialismo. A esquerda não é um fim em si, um modo vitimizante ou triunfalizante de estar no mundo: é uma estrutura, um instrumento, uma organização. Que, como todas as coisas, serão julgados pelos resultados. E nós de caminho.»

(Página 16)

«Sem dúvida que foi a vontade popular, tomada em termos aritméticos, voto por voto, que fez do Partido Socialista (continuemos, para sua vergonha, a escrever a palavra por extenso) partido de governo e governo: mas não é contra o povo e, portanto, contra a vontade dele (a não ser que os portugueses sejam irremediavelmente masoquistas) que o governo do Sr. Mário Soares tem vindo a governar, praticamente desde que este celebrado socialista se sentou na principal cadeira do conselho de ministros. Já foi mil vezes escrito, já foi mil vezes denunciado que o Partido Socialista está a governar contra especificações essenciais da Constituição, e portanto contra o povo que elegeu os que a redigiram: evitemos, portanto, as repetições. Quando na semana passada falei de oportunismo e traição, não estava com certeza a pensar no PPD e no CDS, coerentíssimos partidos que sabem tão bem o que querem, que até sabem levar o Partido Socialista a fazer o que a eles convém. Cada um na sua altura e segundo o seu interesse. Nisso, o Partido Socialista tem óptima boca.

Mas onde as coisas atingem o delírio, onde as palavras, coitadas delas, são magnificamente conspurcadas, é quando se fala de dignidade da pessoa humana e de soberania. As palavras, meu caríssimo e único leitor, são infelizes, não podem defender-se de quem lhes troca o sentido, de quem não se sente obrigado a respeitá-las, precisamente porque é mínimo ou nulo o seu respeito pela pessoa humana. Falar em dignidade em Portugal, quando todos os dias se aprovam leis contra o povo, quando a polícia espanca e vem depois esconder a mão, negar que tivesse espancado, quando a subserviência se instalou nos corredores do poder, começa por ser indignidade e acaba por ser perda de sentido moral. O nosso país atravessa uma crise económica gravíssima, toda a gente o sabe. E também vive uma profunda crise moral, mas essa crise, ao contrário do que se quer fazer acreditar, não tem os seus mais elevados expoentes nem na droga, nem na criminalidade, nem na prostituição: paira mais alto e tem piores consequências.»

(Página 23)

«Não vou reclamar a liquidação do Partido Comunista. Isso não faço. Cá por coisas: é uma gente com que me tenho dado bem, conheço-os há muito tempo e, para trabalhos. Já lhes basta.»

(Página 44)

«Neste circo, onde nem sequer faltam os palhaços, agitam-se as figuras de carnaval que são os políticos burgueses: o povo que paga e repaga o bilhete e todas as facturas, tem esta fraude como espectáculo. Porque o circo não presta e o pão já vai faltando.»

(Página 59)

«Cerremos fileiras, ou o imperialismo vencerá esta batalha. A felicidade não é para amanhã, já sabemos, mas a infelicidade pode ser hoje mesmo.»

(Página 81)

«Fala-se interminavelmente de cultura, mas não se vive a cultura. Comemoram-se os escritores que morrem, mas nada se faz para garantir a actividade dos vivos. Se um escritor, por desespero, deixou de escrever, ninguém lhe vai perguntar: «De que precisas para trabalhar?» Dão-se palmas benévolas aos escritores que envelhecem, mas condenam-se ao silêncio os escritores que nascem. Afirma-se que a cultura é uma e nacional, mas impede-se, ou dificulta-se, ou menospreza-se a sua divulgação nos meios de comunicação social. Apregoa-se o pluralismo, fomenta-se a letra única. Teoriza-se o consenso, pratica-se a excomunhão.»

(Página 111)

É PRECISO SABER FAZÊ-LA

13 de Fevereiro de  1968

Recolha de textos de Guevara, da colecção «Novo Rumo». Com este dístico do próprio à entrada: «Muitos consideram-me um aventureiro e na verdade sou-o, mas de um tipo diferente, do tipo dos que arriscam a pele para provar o que dizem.» Frase-resumo, em que há Sol e Trevas – e que incendeia a imaginação do radicalismo pequeno-burguês, neo-romântico ainda, em sua masturbação. Não basta querer a revolução. É preciso saber fazê-la.

Mário Sacramento em Diário

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Que Farei Com Este Livro?, o livro de hoje para sublinhados, reflecte as dificuldades por que passou Luís de Camões para publicar Os Lusíadas: o desinteresse do rei, a perseguição que a Inquisição lhe moveu.

Saramago pretende que o livro seja o retrato das dificuldades de um qualquer autor, num qualquer tempo.


«Damião de GóisSem dúvida são melhores os caminhos rectos, mas esses não os há na vida das nações nem nos interesses dos paços e dinastias. A vossa obra será publicada, Luiz Vaz, mas só quando, claramente a balança pender para um lado ou para outro.

Luís de Camões: Porém o livro não será diferente do que é.

Damião de Góis: A diferença estará nos olhos que o lerem. E a parte que ficar vencedora fará que seja o livro lido com os olhos que mais lhe convierem.

Diogo do Couto: E a parte vencida, que fará?

Damião de Góis: Ficará esperando a sua vez de ler e fazer doutra maneira.

Luís de Camões: Eu sei o que escrevi.

Damião de Góis: Sabereis, não o duvido. Mas também eu sabia o que escrevera na segunda parte do meu livro Sobre a fé, costumes e religião dos Etíopes, e não cuidei que tivesse o santo Ofício motivos para determinar que ele fosse apreendido na alfândega de Lisboa.»

(Página 93)

No dizer de Eugénio de Andrade «de Camões, em pura verdade, muito pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu pobre, morreu mais pobre ainda.»

Luís de Camões: Já não tenho muito por que me ofenda. Mas o meu livro terá de ser publicado graças ao seu próprio mérito, não por caridade, mesmo de amor.

Francisca de Aragão: Há pouco dizias que te irias pôr à porta do paço a pedir esmola. Aceitarias essa e não aceitas o que esmola não é nem pode ser, mas amor, como tu próprio declaraste?

Luís de Camões: Se eu fosse esmolar pelas ruas e praças talvez me dessem dinheiro para comer. Mas não mo dariam se eu dissesse que o destinava a pagar ao livreiro que me imprimisse o livro.»

(Página 134)

QUE NOS PRENDE A UMA ESTRANHEZA

29 de Março de 1992

Houve um tempo em que festejavam o dia dos meus anos, hoje sou eu que os festejo, se assim se pode dizer, é como as carícias sobre o corpo, a mão de um outro vem sempre de uma distância definitivamente perdida no eco das nossas duas mãos, e é uma experiência diferente que nos prende a uma estranheza, e não uma festa triste que se arredonda à nossa volta.

Eduardo Prado Coelho em Tudo O Que Não Escrevi, II Volume 

OLHAR AS CAPAS


Piano Bar

José Viale Moutinho

Capa: Henrique Cayatte

Colecção Caminho da Poesia

Editorial Caminho, Lisboa, Maio de 1988


Fragmentos para Motim

acima do silêncio nascia março

e os dentes dispersos pelos medos

eram outras tantas voltas em vão

 

sempre os rostos trocados      os rostos

sem mais nada     à cidade deixada de lado

somava-se a cárie     às ruas as gangrenas

 

as suas mãos cerravam-se com força

 

em que romances de caranguejos se vivia

 

sempre os rostos voltados     os rostos

sem mais nada     o país ainda próximo

as suas mãos agarravam-se aos medos

dessa primavera de sonos ásperos

domingo, 21 de novembro de 2021

JÁ CANSO DA CAMINHADA

26 de Setembro de 1976

Não, não vale a pena. Já canso da caminhada. Realiza-se a vida fugindo da morte, ela atrás de nós. Sento-me. Ela deve estar a passar. Que significa tudo o que se realizou? Mas a nossa glória. É essa: ser capaz de o perguntar.

Vergílio Ferreira em Conta Corrente, Volume I

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Com a publicação de Ensaio Sobre a Lucidez, José Saramago prosseguiu o seu caminho de nunca evitar polémicas. Podemos não concordar com muito do que disse mas nunca poderemos nunca poderemos dizer que foram fúteis ou estéreis.

A minha especialidade é levantar uma pedra para ver o que está por baixo.

O livro de hoje para os sublinhados é o Ensaio Sobre a Lucidez.

A apresentação de Ensaio Sobre a Lucidez, em Março de 2004, no Centro de Congressos de Lisboa decorreu, perante milhares de pessoas, com um debate moderado por José Manuel Mendes, e que contou com a presença de José Saramago, José Barata Moura, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa.

Disse, então, Saramago: Estou contra o sistema que nos governa e consegui encontrar o instrumento por excelência de contestação: o voto em branco.

Ensaio Sobre a Lucidez provoca a discussão do sentido e eficácia do voto em branco que deveria ser um voto validamente expresso, e como tal considerado, em confronto ou contraste, com o poder viciado da democracia partidária.

O voto em branco é uma arma democrática que possuímos para impedir os políticos de continuarem a brincar connosco, ainda Saramago.

Curiosamente não são muitos os sublinhados deste livro de Saramago talvez porque a sua não conseguiu despertar o gosto saramagueano com que sempre me debrucei sobre os livros de José saramago:

«A minha vontade seria ir aí e dar-lhe um puxão de orelhas, Já não estou  na idade, senhor ministro, Se alguma vez vier a ser ministro do interior, saberá que para puxões de orelhas e outras correcções nunca houve limite de idade, Que não o ouça o diabo, senhor ministro, O diabo tem tão bom ouvido que não precisa que lhe digam as coisas em voz alta. Valha-nos então deus, Não vale a pena , esse é surdo de nascença

Algures, numa não nomeada cidade, há eleições autárquicas. É grande a afluência às urnas mas, após a contagem dos votos, verifica-se que a esmagadora maioria dos votos estão em branco. Nem governo, nem políticos, nem comentadores políticos, nem jornalistas compreendem a situação e interrogam-se de como pode um povo ser tão irresponsável?»

(Página 111)

«Posso fazer-lhe também uma pergunta. Ora essa, senhor presidente, à vontade. Votou em branco, Anda a fazer um inquérito, Não, é só uma curiosidade, mas se não quiser não responda. O homem hesitou um segundo, depois, sério, espondeu, Sim, senhor votei em branco, que eu saiba não é proibido. Proibido não é, mas veja o resultado. O homem parecia ter-se esquecido do amigo imaginário, Senhor presidente, eu, pessoalmente, não tenho nada contra si, sou até capaz de reconhecer que tem feito bom trabalho na câmara municipal, mas a culpa disso a que está a chamar resultado não é minha, votei como me apeteceu, dentro da lei, agora vocês que se amanhem, se acham que a batata escalda, soprem-lhe.»

(Página 121)

«Digamos que pôs a estopa e eu contribuí com o prego, e que a estopa e o prego juntos me autorizam a afirmar que o voto em branco é uma manifestação de cegueira tão destrutiva como a outra. Ou de lucidez, disse o ministro da justiça, Quê, perguntou o ministro do interior, que julgou ser ouvido mal, Disse que o voto em branco poderia ser apreciado como uma manifestação de lucidez por parte de quem o usou, Como se atreve, em pleno conselho do governo, a pronunciar semelhante barbaridade antidemocrática, deveria ter vergonha, nem parece um ministro da justiça, explodiu o da defesa. Pergunto-me se alguma vez terei sido ministro da justiça ou de justiça, como neste momento, Com um pouco mais ainda me vai fazer acreditar que votou em branco, observou o ministro do interior ironicamente.

(Página 176)

«Um impossível nunca vem só.»

(Página 211)

«Barco parado não faz viagem.»

(Página 261)

«As meias palavras existem para dizer o que as inteiras não podem.»

(Página 274)


Legenda: Caricatura de António publicada no “Expresso”, Março 2004

OUTROS NATAIS


O meu pai entendia que o Natal é tempo, único e exclusivo, do norte da Europa: frio, neve, confraternizações em redor da mesa e da lareira.

Como em tantas outras coisas, vendeu-me a ideia e gostosamente comprei.

Como aquela de sempre dizer que não há Natal sem música de Bach.

Ainda hoje, passados tantos e tantos anos, conservo a ideia de que um dia estarei num desses Mercados de Natal que se realizam no norte da Europa a trautear White Christmas, se bem que o Hans-Martin me vá dizendo que cada vez os natais cada vez mais vão tendo dias sem neve.

Será que vai nevar neste Natal?

Por estes dias seria tempo de os Mercados de Natal já terem aberto, mas a terrível pandemia colocou os mercados em risco.

Alguns dos mercados foram já cancelados, outros aguardam por decisões do Governo e das autoridades locais sobre o seu futuro.

 «Não consigo descrever o que estamos a passar. Não dormimos à noite, andamos muito nervosos e tensos», relatou Karin Hantsche, que vende pão de gengibre tradicional no mercado de Dresden há 32 anos.

Os mercados de Natal, quais contos de fadas, antes dos tempos pandémicos, atraíam cerca de 160  milhões de visitantes e geravam de 3 a 5 biliões de euros e transformavam a Alemanha num paraíso natalício.