quinta-feira, 4 de novembro de 2021

SEM FAZER ABSOLUTAMENTE NADA

28 de Agosto de 2003

Um dia destes, em Lisboa, sentei-me a ler o jornal no Jardim da Parada, em Campo de Ourique. Velhos conversavam ou jogavam cartas sob as árvores, crianças corriam no parque infantil, uma mulher tirava de um saco de plástico restos de pão que lançava às pombas e aos pardais. Pus de parte o jornal e ali fiquei, durante horas, sem fazer absolutamente nada senão respirara (e com que lentidão ociosa é possível respirara num jardim!), enquanto as vozes da grande cidade febril se desvaneciam distantemente dentro e fora de mim.

Os jardins são, nas nossas cidades, os poucos lugares onde existe tempo e espaço para a permanência e para o ser.

Manuel António Pina em Crónica, Saudade da Literatura

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