segunda-feira, 31 de maio de 2010

JUNHO POPULAR JUNHO

Amanhã começa Junho.

Junho calmoso, ano formoso.

O 6º mês do ano. Tem 30 dias.

Durante Junho o dia aumenta 8 minutos.

No dia 1 o Sol nasce às 05h 14m e o Ocaso verifica-se às 19h 56m.

No dia 30 o Sol nasce às 05h 15m e o Ocaso.

As mulheres nascidas em Junho são morenas, caprichosas, um pouco difíceis de aturar; apaixonadas, ardentes por prazer, são às vezes incompreensíveis. O seu aspecto distraído não as impede de apreciar o lado positivo da vida, pois são trabalhadores, capazes de actos energéticos.

Os homens têm uma inteligência viva e inclinada para as coisas belas; dão demasiada importância aos aspectos emotivos da vida, amam o conforto, os prazeres diversos, e, por contraste frequente, têm o instinto da economia. Mais positivos que activos, quando conseguem vencer a sua indolência natural, são pacientes. Só raramente enriquecem.

Os gémeos são de pessoas de confiança e estima. Prósperos em bens materiais. A aventura é uma constante nas suas vidas.

Incensos: alecrim e jasmim

Pedra: Ágata

Metal: Platina

Cor: Amarela

Na horta continuam as regas de manhã e à tarde. Nos canteiros semeiam-se agriões, coentros, erva -cidreira, espinafres, salsa segurelha, tominho. Colher a batata de Fevereiro. Continua a sementeira para feijão em verde. Plantar pimentos e tomates. Apanhar as cerejas. Extrair o mel.

No jardim semeiam-se begónias, gipsófilas, lembra-te-de-mim, miosótis, não-me-esqueças.
Junho é o mês dos perfumes mágicos. Intensos. Sardinhas assadas, manjericos, sardinheiras em flor. Santos Populares. Cheira bem. O solsticio de Verão. Os dias cada vez mais longos.

Diz-se que no São João a sardinha pinga no pão mas, hoje em dia. é apenas um dito de outros tempos.

Os pescadores queixam-se de que os preços a que vendem a sardinha não paga o gasóleo. Mas ao consumidor chega cada vez mais caro. Trezentos por cento é quanto a sardinha sobe, entre o preço de licitação na lota e o valor que o consumidor paga.

Números de 2008 mostravam que:

Preço na lota: 1,50 euros
Armazém da doca: 3,00 euros

Vendedor grossista: 4,00 euros

Vendedor mercado: 5,00 euros

Preço dose no restaurante: 7,00 euros

A 21 de Junho dá-se o solstício de Junho que determina o começo do Verão.

Há um verso de Eugénio d’Andrade que diz: "Quase se vê daqui, o Verão."

Eugénio d’Andrade morreu a 13 de Junho de 2005. 

Tinha 82 anos.

UM TAL DE ROBERT WYATT



Rober Wyatt é um louco que sempre gostou de se embriagar, de não ter preocupações, de ser inconsciente e acompanhado por isso escreveu e compôs canções.

Recentemente disse que essas loucuras (numa noite de bebedeira mandou-se de um terceiro andar, ficou paraplégico e anda numa cadeira de rodas) são coisas que já lá vão.

Enquanto trabalhava o último disco, bebado de manhã à noite, a mulher Alfie, deixou que a coisa andasse assim. Acabado o disco colocou-lhe um grande letreiro na parede: "Alfie ou Vodka?

Escolhe!"

Hoje bebe chá, aos domingos à tarde visita os "Alcoólicos Anónimos" e continua a escrver canções. Diz que não são assim tão boas porque "o alcool dá-nos um sol artificial num dia de chuva."

Aproveita para dizer que não é uma lenda, apenas um Pai Natal de barbas brancas.

“Comunista? Não sei se sou. Mas se essa imagem puder mudar mentalidades, que assim seja.”

É de opinião que “ao capitalismo não interessa que toda a gente morra à fome porque aí desaparecem os consumidores. Basta que as pessoas tenham dinheiro para comprar Coca-Cola. Hambuerguers e discos da Britney Spears"

domingo, 30 de maio de 2010

CAMBADA DE MALANDROS!...



O País tem mais coisas mais importantes com se preocupar do que se ver enredado em “fait-divers” socratianos. Já nos basta o que já temos e ainda virá.

Durante a visita de José Sócrates ao Brasil, os seus assessores entenderam bichanar aos ouvidos dos jornalistas de que Chico Buarque de Holanda queria encontrar-se com o Primeiro-Ministro..

Os jornalistas nem pensaram duas vezes e escarrapacharam a notícia.

De imediato Chico Buarque de Holanda desmentiu a atoarda:

"Foi o vosso ministro quem pediu o encontro. Aliás, nem faria muito sentido eu pedir um encontro e o primeiro-ministro vir ter à minha casa", disse com aquele sorriso claro que lhe conhecemos.

O lamentável acontecimento espelha o nível de aldrabice, de incompetência, de falta de decência da trupe que rodeia José Sócrates´.

Alguma vez passa pela cabeça de quem que seja ter interesse em conhecer José Sócrates?

E havia de ser logo o Chico que deverá saber melhor quem é o David Luís do que alguma vez saber quem é o nosso primeiro.

Não quero abusar muito da linguagem, mas de há muito se sabe que estamos perante gente sem a mínima ponta de carácter.

Dizendo melhor: uma cambada de malandros!

sábado, 29 de maio de 2010

QUADRAS PARA A FESTA

A Sara pediu-me umas quadras para colocar nos manjericos que vão ser vendidos na Festa dos Santos Populares dão Jardim de Infância onde trabalham.
Saíram assim:

Nosso colégio tem nome
de Santo maravilhoso
o nome dele é António
Santo António Milagroso

Nesta época popular
Santo António vem dançar
trás calçada a chinelinha
para assim, não escorregar

Oferecemos um manjerico
tão verdinho e tão cheiroso
e uma sardinha assada
de cheirinho apetitoso

Pardais trazei no bico
lembrança ao nosso Santo
folhinhas de manjerico
cheirinho que gosta tanto

Um arraial de verdade
nesta época de ensejo
acalma a nossa cidade
a brisa do rio Tejo

Legenda: imagem tirada daquiI

DENNIS HOPPER

I
Morreu Dennis Hopper. Tinha 74 anos.

Uma longa carreira de 50 anos, como actor e realizador de cinema.

Em 1969 escreveu, interpretou e realizou “Easy Rider”.

Envolvido em drogas e álcool, pelo ano de 1986, consegue convencer David Lynch a dar-lhe o papel do perverso Frank Blooth em “Blue Velvet”.


O suficiente para que o seu nome figure, em destaque, na História do Cinema, seja lá o que isso for.
Em Março de 2010, já muito debilitado, viu ser colocada a sua estrela no Passeio da Fama de Hollywood. "Esta estrela significa muito para mim. Obrigado a todos", disse na ocasião.

Entre outros, tinha a seu lado o amigo Jack Nicholson que lhe conseguiu arranjar 400 mil dólares para que “Easy Rider” fosse realizado. O filme acabaria por render 17 milhões de dólares.

É em “Easy Rider” que Jack Nicholsom, no pequeno-grande-papel de um advogado alcoólico, começará a sua ascendente carreira de actor de cinema.

Para onde Dennis Hopper tenha partido, nada irá ser como antes.

Legenda: cena de "Easy Rider". Vêem-se Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson

sexta-feira, 28 de maio de 2010

ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS!

Pode haver quem pense que as manifestações não resolvem.
É bem provável, mas ficar em casa é que não resolve mesmo nada.
Não pode haver resignação, nem silêncio, nem baixar de braços.
O tempo é de irmos para a rua chamar os bois pelos nomes.
Onde mão houver uma alternativa terá, necessariamente, de existir uma alternativa.
É isso que vamos demonstrar amanhã!

BAILES DA VIDA


Claro que a música de cow-boys não fazia parte dos bailes da vida. Mas ouvida hoje sei que ficava por lá a matar.
Se viram, entre muitos outros, a “Paixão dos Fortes” saberão o quanto bonitos eram aqueles bailes. O estrado de madeira a elegância do Henry Fonda.
Encontrei este disco na lojeca da Rua Edith Cavel. Não conhecia as músicas, nem os artistas mas achei a capa uma maravilha, custava apenas 2 euros e trouxe-o.
Valeu bem a pena.
E fica bem nos Bailes da Vida.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ALGUÉM QUE DESANUVIE A ATMOSFERA...

Sei que os tempos são de crise profunda, que o tema não se presta a brincadeiras de mau gosto, mas não resisto a transcrever o que hoje li no "Jornal de Notícias":

"Activistas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero) acusam de “sexista”, “discriminatória” e “homofóbica” a nova música de Quim Barreiros, que dá pelo nome de “Casamento gay” e integra o seu novo trabalho discográfico “Deixai-Me Chutar”.
Se não vejamos: “ Os políticos aprovaram o casamento gay. Nem todos estão de acordo com a aprovação da lei. O Zezinho ‘paneleiro’ casou com o Manuel das ‘tricas’. E convidaram a família, os amigos e os ‘maricas’. Um casamento ‘panasca’ com muita animação.
Este é um registo de um cantor profundamente sexista, que usa palavras que são claramente usadas como fonte de discriminação contra a qual lutamos”, denuncia, ao JN, Paulo Jorge Vieira, da associação LGBT e feminista “Não te prives”. “Esta é uma atitude preocupante quando sabemos que se trata de alguém bem conhecido que está a reforçar a homofobia com a sua música”, acrescenta o activista, admitindo que é necessário analisar se tal composição configura ou não crime.
“O ‘artista’ acrescenta ao extremo sexismo de composições anteriores, a homofobia mais primária, no mau gosto de sempre. Ele próprio tenta vender um estereótipo de macho latino boçal, que nada corresponde à percepção que hoje o conjunto da sociedade tem dos temas da igualdade e dos direitos humanos”, admite, por outro lado, João Carlos Louça, activista da “Panteras Rosa”, que vai um pouco mais longe: “Estou convencido que Quim Barreiros não ficará em nenhuma página relevante da história da cultura popular do nosso país”.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (08)


Numa das suas primeiras sessões, a direcção da Associação Portuguesa de Escritores, deliberou constituir um grupo de trabalho que pormenorizasse a história da destruição da Sociedade Portuguesa de Escritores.

Desconheço se esse projecto veio a ter concretização.

Continuo a pensar que a destruição da Sociedade Portuguesa de Escritores, nos seus mais sórdidos meandros, é uma história por fazer.

Desde o primeiro momento se tornou claro que, a atribuição do Prémio de Novelistica a Luandino Vieira, funcionou como o pretexto de que Salazar necessitava, não só para encerrar a Sociedade Portuguesa de Escritores como a destruição, por parte de um grupelho de pides e legionários, não só das instalações como de todo o património histórico e cultural que nela existia .

Tinha 20 anos por ocasião deste miserável crime.

Os documentos que aqui comecei a colocar, apenas têm o intuito de revelar um dossier de recortes que fui recolhendo, com muitas omissões, possivelmente imprecisões, ao longo dos tempos. Lembrar algo que, porventura, alguns tenham esquecido e outros desconhecem por completo.

No topo do post, a ilustração mostra a capa do primeiro número de “Loreto 13”, revista literária da Associação Portuguesa de Escritores.

Publicada em Janeiro de 1978, custava 40$00 e tinha como directora Maria Velho da Costa que, com estas palavras, fazia a apresentação da revista:

“Os lugares de intervenção especificamente literária escasseiam. O autor português, porém, após um relativo silêncio que muitos confundiram com vazios e outros sabiam ser escrever no chão e deixar-se inscrever pelas paixões da rua nesse texto que entoámos todos do post-25 de Abril, volta agora com relativa frequência aos livreiros. Mas os espaços colectivos onde debater, propor, expor, dar presença aos novos e estímulo aos de sempre, quase não há – poucas páginas literárias, apenas uma revista de periodicidade larga, outra mais que incerta.
Quanto à periodicidade e certezas desta, garantimos o que podemos – garanti-la aos sócios e público enquanto durara a verba e o mandato, lançá-la aberta a toda a escrita de qualidade, legá-la como coisa viva a quem depois de nós vier ocupar o espaço já rodado – LORETO 13.
Sempre é um endereço.”

terça-feira, 25 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (07)

Aproveitando aquela floresta de enganos que ficou conhecida na história como “primavera marcelista”, Urbano Tavares Rodrigues escreveu no “República” de 28 de Outubro de 1968, um artigo em que falava da “urgente necessidade do restabelecimento da Sociedade Portuguesa de Escritores.”

O apelo teve eco e os escritores mobilizaram-se para que voltassem a ter uma casa que os representasse.

A 13 de Março de 1970 o “Diário De Lisboa” noticiava:

“Cerca de 125 escritores presentes (ou representados) numa reunião, ontem à noite, realizada na Casa do Alentejo, aprovaram unanimemente, na generalidade, o projecto de estatutos da Associação de Escritores Portugueses (ou Associação Portuguesa de Escritores: a escolha ficou deferida para final). “

Em 28 de Setembro de 1972 o “República” noticiava:

“A novel Associação Portuguesa de Escritores, cuja criação foi agora autorizada por despacho do Ministro da Educação Nacional, nasce ao fim de três anos de esforços e cerca de treze meses volvidos sobre a Assembleia-geral que determinou a sua formação. Nos fins prosseguidos sucede à Sociedade Portuguesa de Escritores, dissolvida em 1965”O escritor Manuel Ferreira diria:
“Foi ganha a penas a primeira batalha”.Na tarde de 13 de Abril de 1973, no 13º Cartório Notarial de Lisboa, à Rua das Portas de Santo Antão, quinze sócios oficializaram a fundação da Associação Portuguesa de Escritores.

A 7 de Junho desse mesmo ano, eram eleitos os primeiros corpos gerentes da Associação Portuguesa de Escritores.

Direcção:
Presidente: José Gomes Ferreira
Vice-Presidente: Manuel Ferreira
Vogais: Casimiro de Brito, José Saramago, Maria Velho da Costa, Pedro Tamen e Rogério Fernandes
Suplentes
Álvaro Guerra, António Modesto Navarro, Gastão Cruz, Isabel da Nóbrega, Maria Alberta Meneres, Maria Amélia Neto e Nuno Júdice
Assembleia-geral
Presidente: Sophia de Mello Breyner Andresen
Vice-Presidente: Alexandre Babo
Vogais: E.M. de Melo e Castro e Fernando Assis Pacheco
Suplentes: Eduardo Prado Coelho e Maria Isabel Barreno
Conselho Fiscal
Presidente: Faure da Rosa
Vogais: João Rui de Sousa e Mário Ventura
Suplentes: Armando da Silva Carvalho e Vasco Miranda

A 14 de Junho de 1973, em cerimónia realizada na Casa da Imprensa, tomavam posse, para o triénio 1973-1975, os Corpos Gerentes da Associação Portuguesa de Escritores.

“Devo declarar que considero a aceitação do cargo em que fui agora empossado o primeiro acto verdadeiramente poético da minha vida.”, disse José Gomes Ferreira no seu discurso de tomada de posse.

Só um poeta ousaria ser presidente de uma associação sem sede, sem dinheiro, sem nada.
A sede da Associação situou-se na Rua do Loreto, num 2º andar, bem por cima do velho piolho que toda a Lisboa conhecia: o "Loreto"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (06)



Petição de Recurso apresentada ao Supremo Tribunal Administrativo.

Tentativa para que fosse reparada a decisão ilegal e injusta do encerramento da Sociedade Portuguesa de Escritores.

A petição foi apresentada pelo advogado Eduardo Figueiredo em nome da Sociedade Portuguesa de Escritores, Jacinto do Prado Coelho, Joel Serrão, Matilde Rosa Araújo, Maria Judite de Carvalho, Álvaro Salema, João José Cochofel, Natália Nunes, Bernardo Santareno, Orlando da Costa, Egidio Namorado,

José Gomes Ferreira nos seus "Dias Comuns" Vol. II

24 de Fevereiro de 1967
Volto ao presente, por gosto de precisar de respirara vida, e reencontro a paisagem amarga de sempre com algumas notícias graves. Assim a Sociedade Portuguesa de Escritores foi definitivamente assassinada pelo Supremo Tribunal Administrativo, por meio de um acórdão injusto."

domingo, 23 de maio de 2010

UMA SEMANA DO CARAÇAS...







Pois foi!...
Mas o Benfica ganhou o campeonato, o Papa andou por aí, o Zé Mourinho é o maior, o Mundial de futebol começa daqui por uns dias, e depois vêm as férias...
... além disso somos um povo de brandos costumes...

SE UM DIA FOSSE BORBOLETA...



Composição feita pela Sara quando tinha 7 anos. 

A ilustração é de há dias e teve a especial colaboração da Maria:

"Se eu um dia pudesse transformar-me em borboleta gostava de voar ao ar livre e conhecer outros países e outras pessoas.
Gostaria de andar em todos os jardins cheios de flores, e cheios de alegria.
Eu gostava de mostrar ás outras borboletas e ás pessoas que sou maravilhosa.
Eu gostava de ser branquinha e azulinha. Não gostaria que me matassem.
Gostaria de ter muitos amigas e voar com elas.
Era tão bom se eu um dia fosse borboleta."

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (05)

28 DE MAIO DE 1965

No dia 28 de Maio, às 11 horas, um grupo de escritores entregou no Ministério da Educação Nacional o seguinte documento:

Exmo Senhor Ministro da Educação Nacional

Contra a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores e contra a campanha de descrédito que pretende desvirtuar a independência e a isenção dessa Sociedade, os escritores abaixo assinados vêm solenemente protestar perante V. Exa. E declarar que são inteiramente solidários com o comportamento digníssimo assumido pela Direcção da Sociedade e com o júri escolhido pela unanimidade dos corpos gerentes eleitos em 1965, que de acordo com os estatutos e a tendendo a um critério meramente estético, concedeu o Grande Prémio de Novelística de 1964 ao livro “Luuanda”. Tal critério meramente estético foi, de resto, o que informou outros júris na atribuição de prémios a diversas obras do mesmo autor, e até ao livro “Luuanda”, agora galardoado pela Sociedade Portuguesa de Escritores.
Com efeito, já em 1961, 1962, 1963 e em 1964, textos de Luandino Vieira foram respectivamente premiados pela Sociedade Cultural de Angola (1º Prémio do Conto), pela Casa dos Estudantes do Império (1º Prémio João Dias) pela Associação dos Naturais de Angola – que neste momento tanto se insurge contra a atribuição do prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, (1º e 2º Prémios de Conto) e, ainda há poucos meses, o 1º Prémio Mota Veiga. O facto destas instituições terem considerado exclusivamente o valor estético da Obra de Luandino Vieira e a circunstância muito significativa de o livro agora laureado pela Sociedade Portuguesa de Escritores ser exactamente o mesmo que em 1964 obteve, em Angola, o referido Prémio Mota Veiga, estando já condenado e preso o seu autor, reforçam sem dúvida a idêntica posição do júri do Grande Prémio de Novelística. Sendo assim, e dado que nunca foi levantado acerca daqueles prémios qualquer protesto relacionado com a conduta cívica de Luandino Vieira, nem extinta nenhuma das entidades que lhos concedeu, é licito presumir que a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores manifesta estar ela a ser vítima de medidas especiais de discriminação cultural.
Os signatários exprimem a sua veemente repulsa pelo atentado à liberdade do espírito patente na campanha tendenciosa empreendida contra a Sociedade Portuguesa de Escritores. Solicitam portanto a V. Exª a reabertura da mesma sociedade e a garantia de que os membros do júri não serão sujeitos a pressões de qualquer natureza. Parece-lhes também inteiramente justo e necessário que V. Exª mande proceder a um inquérito rigoroso sobre os desacatos praticados na sede da Sociedade Portuguesa de Escritores por um grupo de indivíduos que deverão ser responsabilizados pelos prejuízos materiais e morais resultantes da sua repugnante acção
."


O documento está assinado por 161 escritores portugueses.

Dias antes, já os escritores-capachos-do-regime se tinham apressado a apresentar as suas demissões de associados da Sociedade Portuguesa de Escritores.

Gente menor, obviamente,

Alguém conhece Maria do Carvalhal?

Mas em “A Voz” de 23 de Maio de 1965 lia-se esta notícia:

“A escritora D. Marai do Carvalhal (D. Maria dos Prazeres Carvalhal), ao tomar conhecimento dos motivos por que foi mandada encerrar a sede da Sociedade Portuguesa de Escritores, pediu telegraficamente a sua demissão de sócio daquela colectividade.”

Do documento-protesto não consta o nome da escritora Agustina Bessa Luís.

José Gomes Ferreira no III volume dos “Dias Comuns” dá-nos uma pista:

“Quando da dissolução da Sociedade Portuguesa de Escritores, a Sophia de Mello Breyner pediu-lhe a assinatura para o natural protesto dos escritores.
Como já se calculava, a Agustina Bessa Luís recusou. Com uma carta modelar de quem queria fingir que não recusava.
A Sophia leu-ma. E não resisti a dizer-lhe (ou a pensar que lhe dizia):
-Mande-a encaixilhar e pôr na parede. É um auto-retrato triste de quem não quer ter perfil.”

sábado, 22 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (04)

22 DE MAIO DE 1965

Deste modo, o “Diário de Notícias” não deixava de referir a louvável decisão do governo ao encerrar a Sociedade Portuguesa de Escritores.

“Era inevitável, A atribuição do Prémio, por um júri da Sociedade Portuguesa de Escritores, a Luandino Vieira, pseudónimo de um individuo preso em Luanda, a cumprir pena de 14 anos por crime de terrorismo, provocou a mais viva repulsa de todos os portugueses. Na Metrópole como no Ultramar, e de mais sentida em Luanda, que justamente considerou a decisão do júri daquela Sociedade como um ultraje à memória dos mortos e à bravura dos vivos que se deram e dão pela Pátria. De todos os lados e dos mais diferentes sectores da vida portuguesa nos chegam as manifestações da repulsa de quem apenas sabe cultivar sentimentos patrióticos.”

Uma notícia de “Ultima Hora”, publicada no jornal “ Voz”, dava conta:

“Ontem á noite, numeroso grupo de estudantes portugueses e antigos combatentes do Ultramar promoveram grande manifestação em frente da Sociedade Portuguesa de Escritores, como protesto conta a concessão de um prémio a um terrorista. Os jovens acabaram por penetra no edifício e espatifaram o que restava da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores.”

sexta-feira, 21 de maio de 2010

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


Ainda havia o vespertino "A Capital", ainda havia ardinas....

SOCIEDADE PORTUESA DE ESCRITORES (03)



21 DE MAIO DE 1965

"Traiçaõ Premiada" era o título do Editorial do jornal “A Voz”, apoiante do regime.
Começava assim:

“Não tenhamos ilusões. Tudo são pretextos para nos desarmar doutrinariamente, e não para insinuar que a intelectualidade e o talento estariam ao serviço de ideias contrárias”

E assim terminava:

“O livro premiado não tem efectivamente categoria literária. É sofrível, entre os 10 e os 12 valores. Há muito disso por cá e não acreditamos, ninguém acredita, que o prémio não tenha tido objectivo político. Entretanto, o Mundo irá criando a imagem dum mártir, dum “grande escritor” preso nos cárceres dos “colonialistas”. Chessman foi também um vil assassino, e de todo o mundo comunista e afins surgiram mensagens para o livrar da cadeia eléctrica. Ao laureado e à Sociedade Portuguesa de Escritores bastarão, para os condenar, o sangue dos nossos soldados, as lágrimas das mães portuguesas, o sentimento ancestral da Grei. A traição foi premiada”.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (02)

20 DE MAIO DE 1965

Despacho do Ministro da Educação Nacional, I. Galvão Telles:

“Considerando que a Sociedade Portuguesa de Escritores, através de júri designado pelos seus corpos gerentes, atribuiu o Grande Prémio de Novelistica a um indivíduo condenado criminalmente a 14 anos de prisão maior por actividades de terrorismo na Província de Angola;
Considerando que, apesar de tornadas do domínio público a identidade e a situação do mesmo indivíduo, nem o júri revogou aquela decisão nem os corpos gerentes a repudiaram;
Considerando, com efeito, que tal repúdio se não contém, nem mesmo de forma implícita, no comunicado remetido pela Direcção da Sociedade à Imprensa e de que a mesma direcção me enviou cópia;
Considerando a gravidade excepcional dos factos referidos que, além do mais, profundamente ofendem o sentimento nacional, quando soldados portugueses tombando no Ultramar vítimas do terrorismo de que o premiado foi averiguadamente agente;
Considerando que a situação exposta é legalmente justificativa de extinção da Sociedade em referência;
Determino, nos termos do Artº 4º do Decreto-Lei nº39 660, de 20 de Maio de de 1954, a extinção da Sociedade portuguesa de Escritores."


No comunicado da Direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores, referido no despacho do ministro da Educação poderia ler-se:

“A Direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores desconhecia inteiramente a identidade do autor do livro “Luuanda”, subscrito pelo pseudónimo de Luandino Vieira”.

A finalizar:


“Como resulta não só do que anteriormente se disse mas também das directrizes a que, estatutariamente, obedece a Sociedade Portuguesa de Escritores, a atribuição do “Grande Prémio de Novelistica” baseou-se exclusivamente no valor literário da obra, de modo nenhum, significando um juízo referente às actividades de que o autor é acusado.”

quarta-feira, 19 de maio de 2010

SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES (01)



 19 DE MAIO DE 1965

A Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu os prémios “Camilo Castelo Branco," “Grande Prémio de Novelística e “Grande Prémio de Ensaio”, - segundo foi hoje comunicado – respectivamente a Isabel da Nóbrega, pela sua obra “Viver Com os Outros”; Luandino Vieira, pelo seu livro “Luuanda”; e Armando de Castro pelo seu livro “A Evolução Económica de Portugal – Sec. XII a XV”.

O "Prémio Camilo Castelo Branco-64", no valor de 50 contos, é instituído pelo Grémio Nacional dos Editores e Livreiros e patrocinado pela Sociedade Portuguesa de Escritores.
O júri era constituído pelos escritores António Coimbra Martins, José Palla e Carmo, José Régio, Mário Dionísio e Óscar Lopes.

O “Grande Prémio de Novelística”, no valor de 50 contos, o mais alto galardão para a novela portuguesa, foi instituído pela Sociedade Portuguesa de Escritores com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian.

O júri era constituído pelos escritores Alexandre Pinheiro Torres, Augusto Abelaira, Fernanda Botelho, João Gaspar Simões e Manuel da Fonseca.

O “Grande Prémio de Ensaio”, também no valor de 50 contos, foi instituído pela Sociedade portuguesa de escritores, com o patrocínio da Gulbenkian.



O júri era constituído pelos escritores Augusto Saraiva, Castelo Branco Chaves, José Cardoso Pires e Teixeira da Mota.”

O “Diário de Lisboa”, noticiando a atribuição dos prémios, comentava:

“Isabel da Nóbrega e Luandino Vieira são, no panorama literário, escritores com posição de relevo, entre os valores mais expressivos da modernidade, cuja obre os impõe por méritos reais, agora consagrados a tão alto nível, do mesmo moído que é distinguido o valor, como economista de robusta estrutura, de Armando Castro, um nome firmado pelas capacidades do historiador da economia nacional."

No dia 20 de Maio de 1965 “A Voz”, em telegrama da ANI, denunciava que Luandino Vieira era o pseudónimo de José Vieira Mateus da Graça e que fora condenado em 22 de Junho de 1963, num tribunal de Luanda, a catorze anos de prisão, por crimes de terrorismo praticados na província de Angola.

Legenda:
"Luuanda", Editora e Distribuidora "Eros", Ltda, Belo Horizonte, 1965
Recorte do jornal "República" de 19 de Maio de 1965, noticiando a atribuição dos prémios da Sociedade Portuguesa de Escritores

terça-feira, 18 de maio de 2010

18 DE MAIO DE 2003

O Afonso nasceu a um domingo.

No “Retrato da Semana”, coluna dominical de António Barreto lia-se:

 “Não conheço nenhum parlamento no mundo onde os deputados gritem tanto como no nosso. Mesmo para assuntos áridos de carácter jurídico e administrativo, a retórica parlamentar é quase sempre excessiva. Não nos termos, na construção da frase truculenta, na hipérbole de gosto duvidoso ou na metáfora preciosa, mas no grito, na zanga e na estridência. Assim como na condenação moral.”

No pós-guerra do Golfo 2003, Alexandra Lucas Coelho, envidada especial do “Público” a Bagdad escrevia:
“Tiroteios, incêndios, saques em pleno dia. Carros roubados com metralhadoras apontadas ao condutor. Câmbiuos fixados por máfias armadas. É Bagdad ainda fora da lei. Cinco milhões de habitantes para menos de 200 polícias (americanos e iraquianos) na rua ao mesmo tempo. Grande parte deles sem receber salários há dois meses. Só nos últimos dias os polícias iraquianos começaram a receber armas e ordem para disparar.”

Sabia-se também que os Estados Unidos e o Reino Unido adiaram o seu plano para permitir a constituição de uma Assembleia Nacional o que os coloca a governar o país por tempo indefenido.

Uma sondagem "Público,Antena 1 e RTP", revelava que o sentimento generalizado dos portugueses é o de que a economia tem vindo a piorar e o retrato traçado para os próximos meses não é animador.

O Papa João Paulo II, indiferente a quem lhe diz para abdicar, soprava 83 velas pelo aniversário natalício.

Portugal, ao derrotar a Espanha na final, conquistava o título europeu de futebol em selecções sub-17.

A "RTP" transmitia, em directo, o Grande Prémio da Áustria de Fórmula I e o "Canal Hollywwod" exibia “Em Nome do Pai” de Jim Sheridan.

O “Diário de Notícias” colocava a toda a largura da sua 11ª página que George Bush recandidata-se à Casa Branca.

“Cabe ao povo americano decidir se mereço um novo mandato.”. As eleições estão marcadas Novembro de 2004.

O deputado Francisco Assis, líder distrital do PS/Portro era perseguido e agredido em Felgueiras por simpatizantes do Partido Socialista e apoiantes de Faátima Felgueiras.

“Vai e Vem”, filme póstumo de João César Monteito passou, fora de competição, no "Festival de Cannes".

O "Diário de Notícias" informava que por “redução de pessoal”, o Instituto de Meteorologia não forneceu o texto com os dados relativos ao estado do tempo e previsões para o dia seguinte:

O sol nasceu às 06,23 e põe-se às 200,44.
A noite era de Lua Cheia.

Os jornais diários, aos domingos, custavam 1 euro e 10 cêntimos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

GAROTICES


O país está em crise e ele só pensa em dançar..
.
Sócrates, hoje em Madrid, sobre Passos Coelho:

"Para dançar tango são precisos dois e eu não tive parceiro durante meses".

E voltamos à Alexandra Alpha:.

"Isto não é um país, é um sítio mal frequentado."


Legenda: Desenho de Misha Lenn

LAICISMO



Agora que a poeira papal começa a assentar, será bom lembrar duas ou três coisas.

A Constituição de Portugal consagra a liberdade de religião.

A Lei de Liberdade religiosa datada de 2001 determina, no seu artigo 4º, que o “Estado não adopta qualquer religião, nem se pronuncia sobre questões religiosas”. O estado é laico e nenhuma religião pode ter privilégios.

Sou defensor da liberdade religiosa, entendo mesmo que é algo que apenas diz respeito ao foro pessoal de cada um.

Gostaria que respeitassem a minha liberdade de não ter religião Não acontece.

Num país em crise, o dinheiro que se gastou com a visita do Papa (não conheço valores mas devem ser elevados), é um escândalo.

Não gosto que um Papa visite o meu país e a primeira coisa que lhe ocorre é lembrar o Cardeal Cerejeira que, juntamente com Salazar e Caetano, protagonizaram um dos períodos mais tristes e negros da nossa história. Convém não esquecer que a Igreja, sempre esteve com a ditadura e, com o seu silêncio, foi cúmplice das prepotências e crimes cometidos.

Nunca esquece Fátima mas fez por ignorar uma guerra colonial.

A propósito do laicismo do estado, lembrei-me de um importante livro de António José Saraiva, publicado em Dezembro de 1960, e de imediato apreendido pela PIDE.

O livro chama-se Dicionário Crítico de Algumas Ideias e Palavras Correntes.

Na página 163 e seguintes, o autor define “laicismo”:

Na República Romana e nos primeiros tempos do Império, não houve o problema do Sacerdócio e do Império, que subsiste em nossos dias com o nome de problema da Igreja e do Estado. (…)
Mesmo depois de oficializado como religião do Império, o Cristianismo não passou a ser culto único. Verficaram-se até tentativas para repor no lugar os velhos cultos suplantados.(…)
Havia muito caminho andado quando a Revolução Francesa instituiu o Estado Laico. Importa entendermo-nos sobre esta expressão “laico” e derivadas. “Laico” não quer dizer “ateu”. Há Estados e até religiões ateias. Mas não é esse o caso dos numerosos Estados que seguiram nas relações com o culto o paradigma do Estado francês pós-revolucionário. “Estado laico” é aquele que considera como assunto privado o culto e as opiniões religiosas dos cidadãos. Melhor do que “ateu”, a palavra “tolerante” caracteriza a expressão “laico” quando referida a Estado. Mas, na medida em que estabelece a igualdade dos cidadãos perante a lei, destrói os privilégios feudais, centraliza e unifica a autoridade, o novo Estado torna impossível a dualidade de poderes. Dentro do Estado laico, a Igreja deixa de ser um poder, uma entidade com jurisdição, autoridade pública, direito a cobrar impostos, etc. Deixa de haver dualismo, não porque o poder civil absorvesse o poder eclesiástico, mas porque deixou de haver poder eclesiástico, porque as questões religiosas passaram a ser assunto privado, porque existe uma única jurisdição aplicável a todos os cidadãos.Em resultado desta evolução, resumidamente exposta, o Estado laico, isto é, o Estado que reconhece por igual a cada um dos cidadãos o direito a praticar o seu culto, sem reconhecer a qualquer deles privilégios particulares, tornou-se, durante o século passado e o presente, uma das feições mais características da chamada “civilização ocidental”. E com ela o “laicismo”, isto é, aquela concepção segundo a qual a religião é assunto de foro íntimo, próprio do mundo inviolável da consciência.


"Dicionário Crítico de Algumas Ideias e Palavras Correntes" de António José Saraiva, "Publicações Europa América", Lisboa, Dezembro de 1060

domingo, 16 de maio de 2010

16 DE MAIO DE 1978


Uma terça-feira, o dia em que a Sara nasceu,

O governo PS/PSD, chefiado por Mário Soares, concluíra um acordo com o FMI.

O MES, em comunicado, dizia que “a chamada carta de intenções, assinada pelo governo, mais não é do que uma cautela de penhor da independência económica e política de Portugal.”

Pelo seu lado o PCP recordava que vinha a reclamar insistentemente, “sérias correcções à política do governo", propunha um bloco democrático e adiantava:


“Com o pretexto de saída da crise, o Governo, ao mesmo tempo que continua a fazer escandalosas concessões aos grandes capitalistas, exige sacrifícios incomportáveis aos trabalhadores e ao povo em geral. O aumento do custo de vida condena grande parte da população à miséria.
Os acordos com o FMI significam uma capitulação ante o imperialismo e a adopção de uma política completamente contrária àquela que seria necessário para sair da crise..”


Mas os jornais deste dia não deixavam de referir, como um golpe duro, uma outra notícia: o Presidente da República Ramalho Eanes fazia anunciar que tinha autorizado o regresso a Portugal de de Américo Thomaz, presidente fantoche dos governos de Salazar e Caetano.


A União de Resistentes Antifascistas Portugueses, em comunicado denunciava:

“Para os portugueses que viram os seus direitos mais elementares banidos durante dezenas de anos pelo regime a que Américo Tomás presidiu, a presente decisão só pode ser considerada como um grave atentado aos ideias do 25 de Abril e a Democracia Portuguesa".

Ficava também a saber-se que a “Carta Aberta” iria dar origem, em Junho, a uma nova central sindical – a "UGT":


A criação de um sindicato agrícola, no nordeste transmontano era considerada uma “prova de coragem”.

Mais três pides eram postos em liberdade.


“Se os agentes da PIDE/DGS se limitassem a pôr carimbos nos passaportes, já há muito se teria dado o 25 de Abril, que não seria de 74, mas talvez de 54", afirmou o acusador publico numa sessão do julgamento.

Após um ano de interregno, a Companhia "Teatro Estúdio de Lisboa", regressava ao "Teatro Vasco Santana", com uma montagem de textos de Raul Brandão, organizada e encenada por Luzia Maria Martins.

Também se ficava a saber que, à 22ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, faltavam
77$50 para que o Benfica atingisse os 13 mil contos de receitas

Segundo o “Record” diversos associados benfiquistas estavam dispostos a solicitar uma assembleia geral, para ser autorizada a contratação de futebolistas estrangeiros pelo clube.

O 1º programa da RTP iniciava a sua emissão às 18,25 com o "Telejornal" e às 23,05, após outro "Telejornal" encerrava a emissão.. Depois do "Telejornal" das 20,00 horas transmitia-se mais um episódio da novela brasileira “O Casarão”

O 2º programa da RTP começava às 19,00 com “Ano Propedêutico”, aulas de inglês, filosofia, matemática, francês, alemão, geografia e grego.


As 22,00 horas , transmitia-se o "Telejornal" e, logo a seguir, era exibido mais uma episódio da telenovela brasileira “Escrava Isaura”

No “Diário Popular", como publicidade paga, sabia-se que o cinema "Paris" ainda existia e apresentava uma semana de Cinema Indiano.

No mesmo jornal,publicava-se, "Tablóides", a coluna semanal de José Rodrigues Migueis,:

“Quando alguns homens insconcientemente guiados por um secreto pendor suicida se apoderam do governo, a nação entra, sem o saber também, nas vias de autodestruição. A nossa história está cheia de exemplos disso, sendo o maior de todos Sebastião de Alcácer Quibir. Há cerca de vinte anos, já uma autoiridade classificou Portugal como “nação de tendências suicidas.”

O Boletim Meteorológico previa para o dia seguinte “céu muito nublado, vento geralmente fraco, possibilidades de aguaceiros, condições favoráveis à ocorrência de trovoadas nas regiões do Norte e do Centro, neblina ou nevoeiros matinais" 


Os jornais diários custavam 7$50.

sábado, 15 de maio de 2010

POSTAIS SEM SELO

Hoje, aqui, é um domingo como qualquer outro. Um dia para nos levantarmos mais devagar, para ser gasto mais lentamente. Um dia para ir almoçar fora e de caminho ver o mar.

Maria Judite de Carvalho

Legenda: Fotografia de Eduardo Gageiro

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SENTIDO DE HUMOR

Necessariamente o humor será a última coisa que se deve perder:

A RTP 1 transmitia em directo as cerimónias de Fátima.
A SIC transmitia em directo as cerimónias de Fátima.
A TVI transmitia em directo as cerimónias de Fátima.
A RTP África transmitia em directo as cerimónias de Fátima.
A TSF transmitia em directo as cerimónias de Fátima.
A Rádio Renascença transmitia em directo as cerimónias de Fátima.
Tive medo de ligar a torradeira!...

Tirado daqui

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...

Ao entrar no tasco, o Valentim lançava o seu grito de guerra: "Pipos ao alto".
Batia a palma da mão no balcão e pedia um “penalty” tinto.
Vão desaparecendo os pipos de vinho, vão desaparecendo as tabernas.
Estes barris foram encontrados, em Outubro de 2008, à porta da “Casa 10”, na Trafaria.

A CAMINHO DA ATALAIA


Quando vamos a caminho da Atalaia passamos pela Amora.

Como escreveu o Mário Castrim:

“À beira do rio Tejo, há mil luzes a brilhar, ternura de um longo beijo, que gosta de se enfeitar."


Na Amora, junto ao rio, está um coreto., algo que vai desparecendo das terras portuguesas.

Dali há a possibilidade de observar uma esplendorosa vista da baía do Seixal.

Ao lado do coreto há esplanadas, servindo caracóis, cadelinhas, moelas, berbigões, fininhos com dois dedos de espuma.

Um bom passar de tarde.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DIFICULDADE DE GOVERNAR



1


Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
2
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3

Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.


4


Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?


Bertolt Brecht em "Poemas", Tradução de Arnaldo Saraiva, Editorial Preesença

quarta-feira, 12 de maio de 2010

AVISO

Aviso afixado numa tasca na Mouraria:

” O dono do estabelecimento não se responsabiliza por qualquer queda sofrida pelos bebedores”

terça-feira, 11 de maio de 2010

OLHAR AS CAPAS

Pacem In Terris

Carta Encíclica de Sua Santidade João XXIII
União Gráfica, Lisboa 1963

Hoje , em toda a parte, os trabalhadores exigem ardoroosamente não serem tratados como simples coisas, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas em todos os sectores da vida social, tanto no sector económico-social como na política e na cultura."

VÊM AÍ MAIS PEDITÓRIOS...



Quase uma dúzia de luminárias quiseram fazer-se ouvir, em Belém, por Cavaco Silva.

Foram todos ex-ministros das finanças e têm nomes: Bagão Félix, Campos e Cunha, Eduardo Catroga, Ernâni Lopes, Jacinto Nunes, João Salgueiro, Manuela Ferreira Leite, Medina Carreira, Miguel Beleza, Pina Moura.

Claro que Cavaco também foi ex-ministro das finanças e estava na reunião nas suas diversas especialidades.

À volta de uma mesa as senhorias terão manifestado as preocupações face ao estado das contas e da economia portuguesas. Em tempo oportuno deram-nos cabo das vidas e ajudaram – e bem! – a colocar o país no fundo em que se encontra.

Pelo seu lado o ministro das finanças de José Sócrates, a 27 de Janeiro, vendia-nos que "Não há aumento de impostos, concentraremos os nossos esforços na contenção e na redução da despesa, seguindo uma política financeira de rigor", para no dia 10 de Maio contar-nos que "Se o ajustamento do défice tiver de ser feito através de um aumento de impostos, temos de recorrer a uma solução dessa natureza. Não podemos recusar ou pôr de parte toda a panóplia de soluções que serão indispensáveis".

Ao que consta, para além do aumento do IVA, e outras medidas, querem mexer no 13º mês.
Claro que já todos, pelo menos os do costume, já viram este filme e conhecem o final.


Manuel António Pina, excelente cronista do “Jornal de Notícias” conta estas coisas melhor que ninguém:

“Ficou famosa há uns anos uma notícia publicada na rubrica "Notícias militares" do extinto "Comércio do Porto" em que se informava que a esposa do comandante de um regimento da cidade dera à luz uma "robusta menina" concluindo: "Está de parabéns toda a oficialidade". Ocorreu-me este episódio ao saber do conciliábulo sobre a "situação do país" que Cavaco Silva ontem manteve com uma "brigada do reumático" de 10 ex-ministros das Finanças. Porque, se é Cavaco o "pai do monstro" do défice, como Cadilhe diz, toda aquela "oficialidade" está igualmente de parabéns pelo inestimável contributo que deu à gestação do "robusto menino" que o Orçamento há décadas embala. A julgar pelas posições públicas presentes e pelas políticas passadas de alguns deles, não é difícil adivinhar que soluções têm para a "situação do país": cortes nas despesas sociais, cortes em salários e pensões, aumento de impostos. E que soluções não têm: cortes nos escandalosos salários e prémios de gestores públicos e "boys", moralização do IRC da Banca, tributação das grandes fortunas. Era pedir de mais a tão luzida e ex-ministerial gente.”

À CONSIDERAÇÃO SUPERIOR

"Exm.º Senhor Director-Geral
Informo V. Exª que ontem, dia 25 de Abril de 1974, vários funcionários faltaram ao serviço, invocando ter ocorrido uma revolução no País.
Esclareço que esta revolução não foi autorizada superiormente, não vendo qualquer justificação para as faltas, tanto mais que o serviço se atrasou consideravelmente.
Como na legislação vigente não estão previstas faltas pelo ocorrência de revoluções, submeto o assunto ao alto critério de V. Exª, na certeza de que o mesmo merecerá a atenção devida.
Lisboa, 26 de Abril de 1974
A Bem da Nação
O Chefe da 3ª Secção
Ambrósio Silva "


História de Joaquim Santos da Póvoa de Santo Adrião publicada no "Diário de Notícias", s/d

Legenda: Pintura de Vieira da Silva

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


segunda-feira, 10 de maio de 2010

DA MINHA GALERIA

Quando olho esta fotografia, lembro-me sempre da história contada pelo Ricardo Araújo Pereira.
Não sabia como pegar na filha. Lembrou-se então como o José Águas ergueu a Taça dos Campeões Europeus.

domingo, 9 de maio de 2010

DO QUE É IMPORTANTE...

Cita-se agora o caso do José Rodrigues Migueis por ter morrido no exilio donde ninguém o chamou, como já acontecera ao Jorge de Sena, e todavia os jornais deram muito menos espaço à sua morte que à Volta a Portugal em Bicicleta, ou a um desafio de futebol de merda ou à reles politiquice do sai ministro, entra ministro.

Almeida Faria numa entrevista ao semanário "O Ponto", 3 de Dezembro de 1981

Leganda: Capa do catálogo da Exposição Comemorativa do Centenãrio do Nascimento de José Rodrigues Migueis, Lisboa, Setembro de 2001

sábado, 8 de maio de 2010

MEMÓRIAS

Hoje, em almoço com amigos veio à baila alguns ilustres que passaram pela "Mariazinha".Também a gente anónima, alguns ficaram amigos, outros que nunca mais vi.
Lembrei-me, então, que no dia 13 de Agosto de 1998, uma ilustre cliente, teria os seus 7/8 anos, passou por lá e quiz deixar o seu testemunho: duas quadras, um bonequinho e assinou Isabel. O segundo nome é quase ilegivel mas parece ser Vaz.
Não mais voltou. As saudades daqueles tempos são, também estas pequenas e impagáveis ternuras..
Por onde andares, obrigado Isabel.

"Mariazinha"

"O dia parecia frio
e eu quase morria
o meu estomago dava horas
pois já era meio-dia.

Cheguei então aqui
omde logo me instalei
a comer 1 bom bitoque
do qual nunca esqcerei."

DECLARAÇÃO



"Declaro por minha honra que estou integrado na Ordem Social estabelecida de Constituição Política de 1933 com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas.

Torres Vedras, 23 de Novembro de 1966


Um pasar de olhos pelos “Dias Comuns”, Vol I , de José Gomes Ferreira:

"8 de Outubro de 1965
Momento sinistro de pensamento mutilado…
Como é possível viver numa pátria assim! – de livros proibidos, de jornais proibidos, de peças proibidas, de homens proibidos – em que só o silêncio é justo?"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ONDE É QUE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL?

Depois da tentativa de levantamento militar, a 16 de Março, de tropas do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha, sentia-se qualquer coisa no ar.

Apesar da preparação do 25 de Abril mostrar, aqui e ali, algo de amadorismo, laivos de alguma leviandade com reuniões a céu descoberto, em bancos de jardim, à porta de cafés e cinemas, poucos sabiam do que estava e marcha

Clara Ferreira Alves, num “Expresso” de Fevereiro do ano 2000 escreveu:

“Não me lembro muito bem do que estava a fazer no dia 25 de Abril, mas lembro-me de que foi o dia em que o medo passou para o outro lado, em que o medo mudou de lugar. E desapareceu de vez”.


O país dormia quando os militares saíram dos quartéis e grande parte dos portugueses souberam, pelo telefone, o que estava a acontecer.

Fernando Venâncio escreveu um artigo no velho “JL” que intitulou Está uma revolução ao telefone.

José Saramago em “Manual de Pintura e Caligrafia”:

“Dormíamos em minha casa, M. e eu, quando o Chico, noctívago, telefonou, aos gritos que ouvíssemos a rádio.”


José Gomes Ferreira em “A Revolução Necessárai”:

“Manhãzinha cedo, senti acordar-me o sopro da voz ciciada de minha mulher:
-O Fafe telefonou de Cascais… Lisboa está cercada por tropas…”


José-Augusto França em “Memórias para o Ano 2000”:

“Minutos antes das sete horas daquele dia de Abril de 1974, o telefone acordou-me: era minha mãe, aflita e em voz baixa, como se fosse um terrível segredo, a dizer-me que havia uma revolução.

José Cardoso Pires em “Alexandra Alpha”:

“Era a Mana a segredar-lhe que fosse ouvir o rádio, ao rádio já, imediatamente, a tropa estava na rua, era a Revolução.”


Bapatista-Bastos em artigo, publicado no “Diário Popular”, conta:

“Começara às 3 horas da manhã quando Abel Pereira, então subchefe da redacção, me telefonou a dizer: “Salta da cama, Bastos, agora é que é a sério! A revolução está na rua.”

Foi também pelo telefone que, aqui em casa, se soube do que estava a acontecer. Madrugadora, que sempre foi, a Clementina informava e deixava o aviso solene: “Não saiam de casa!”

Deixemos os telefones e passemos a outros registos


Vergílio Ferreira escreveu assim no seu “Conta Corrente”

«Vitória. Embrulha­‑se­‑me o pensar. Não sei o que dizer. Uma emoção violentíssima. Como é possível? Quase cinquenta anos de fascismo, a vida inteira deformada pelo medo. A Polícia. A Censura. Vai acabar a guerra. Vai acabar a PIDE. Tudo isto é fantástico. Vou serenar para reflectir. Tudo isto é excessivo para a minha capacidade de pensar e sentir.»
Miguel Torga no seu “Diário”:
“Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania, Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada”


O privilégio de ter vivido o dia 25 de Abril de 1974, os dias que se seguiram. Muita água haveria de passar por debaixo das pontes, continua a passar, mas aqueles dias ninguém mos tira.

Um tempo como este que todos deveriam viver uma vez na vida.

Jorge de Sena disse que não haveria de morrer sem saber qual a cor da liberdade:

“Nunca pensei viver para ver isto:
a liberdade – (e as promessas de liberdade)
restauradas. Não, na verdade, eu não pensava
- no negro desespero sem esperança viva -
que isto acontecesse realmente. Aconteceu.
E agora, meu general?

Tantos morreram de opressão ou de amargura,

tantos se exilaram ou foram exilados,
tantos viveram um dia-a-dia cínico e magoado,
tantos se calaram, tantos deixaram de escrever,
tantos desaprenderam que a liberdade existe-
E agora, povo português?

Essas promessas – há que fazer depressa

que o povo as entenda, creia mais em si mesmo
do que nelas, porque elas só nele se realizam
e por ele. Há que, por todos os meios,
abrir as portas e as janelas cerradas quase cinquenta anos -
E agora, meu general?

E tu povo, em nome de quem sempre se falou,

ouvir-se-á a tua voz firme por sobre os clamores
com que saúdas as promessas de liberdade ?
Tomarás nas tuas mãos, com serenidade e coragem,
aquilo que, numa hora única, te prometem ?
E agora, povo português?”