domingo, 31 de julho de 2011

MATINÉ DAS 3

As minhas matinés sempre foram com estes filmes.
Agora, graças aos DVD, é possível recordá-los.

Com Burt Lancaster numa convincente e envolvente interpretação que lhe valeu o Oscar de Melhor Actor, O Falso Profeta é um filme inesquecí­vel "repleto de poder e emoção" (Variety).
Bem parecido, oportunista, imoral. O caixeiro-viajante Elmer Gantry (Lancaster) é tudo isto e ainda mais. Por isso, quando vai a uma reunião e descobre que consegue angariar dinheiro tão facilmente numa tenda de demonstração como num saloon, Gantry converte-se ao Evangelismo. Unindo esforços com a Irmã Sharon Falconer (Jean Simmons), ele discursa de uma forma eloquente e convincente, o que lhe traz fama e fortuna. Mas quando uma antiga conhecida (Shirley Jones) reaparece, Gantry e é forçado a enfrentar antigos demónios de toda a ordem - segredos enterrados há muito tempo, vão colocar a "santidade" de Elmer num verdadeiro inferno na terra!

Realizador: Richard Brooks
Ano: 1960
IntérpretesBurt Lancaster; Jean Simmons; Arthur Kennedy; Shirley Jones.

POSTAIS SEM SELO


“É sempre bom ir buscar à estante um livro que nos fez bem.”

Ana Sousa Dias

GENTE PEQUENA


Sou de um tempo em que o jornalismo era uma profissão respeitável, ler um jornal não era dar o tempo por perdido, era um gesto importante. Também não  existiam on-lines e havia a necessidade de olhar o que se passava no país e no mundo, mesmo sabendo que o lápis azul da censura, frequentara as pilhas de jornais que se amontoavam, ainda não havia quiosques, no ardina da esquina.

Existiam também as entrelinhas que, magistralmente, alguns jornalistas sabiam utilizar, assim fintando  os-incultos-quase-analfabetos-coroneis-da-censura.

Recordo, não com jornais, mas uma história da rádio, contada por Luis Flipe Costa:

Em 17 de Maio de 1967, Palma Inácio realizou o assalto ao Banco de Portugal da Figueira da Foz, o que seria o primeiro acto político da LUAR. Obviamente a notícia foi proibida pela censura, mas sabia-se, por portas travessas, o que tinha acontecido, e no noticiário da uma da manhã do Rádio Clube Português, o jornalista aproveitou a leitura do boletim meteorológico para concluir a sua apresentação:

"Felizmente, há luar".

Os jornais de hoje, na sua esmagadora maioria, são um lamaçal e o dinheiro que gastaria na sua compra, vão para outras fins.
Em termos de papel impresso, vou navegando com os jornais que os vizinhos, os amigos, me vão guardando, o que pressupõe lê-los com relativos atrasos.

Deu-se o caso que, lendo a revista do “Expresso” do dia 10 de Junho, passei os olhos pelo sublinhado amarelo da “Pluma Caprichosa” de Clara Ferreira Alves, pouca simpatia pela senhora, diga-se, onde a jornalista aborda a derrota do PS, nas últimas eleições, e aproveita para colocar António Vitorino, no reino profundo dos videirinhos e oportunistas.

O personagem é um sujeito convencido, ninguém sabe muito bem de quê, que tem vivido à sombra do Partido Socialista, da sua governação,  mas quando o partido dele necessita, assobia para o lado e declara que “não há festa nem festança onde não apareça a dona Constança.

Assim, escreveu Clara:

 “Ouvir António Vitorino dizer, na noite da derrota histórica do socialismo, que podia ter sido líder e só não foi porque não quis, diz tudo sobre António Vitorino e o socialismo que permitiu que egos destes florescessem dentro dele como fungos.”

IDÍLIO EM BICICLETA


O sagrado Titicaca continua fascinante, nas suas águas intensamente azuis, circundado pela enorme cadeia de picos nevados, na margem boliviana, e a planície suave, do lado peruano. Do cimo da pequena elevação que antecede Puno, o lago não tem fim, perdendo-se no céu azul, tão tranquilos um quanto o outro…


Puno lá está de pés mergulhados no lago e o resto do corpo abraçando os turistas. Passeios no lago, visitas à ilha Taquille e às ilhas flutuantes dos Uros, constituem o menu de todas as agências e hotéis. Continuo a dar-me por satisfeito com as memórias anteriores mas, apesar do excessivo cariz turístico das ilhas flutuantes e dos seus “barcos” de junco, é uma experiência única, caminhar sobre um “nenúfar” com escassos metros de diâmetro, sentir o “chão” de junco flutuar sob os pés e, se nos aproximamos da beira, sentir o calafrio do pé afundar-se na água… Mas acima de tudo é impressionante o processo “natural” de formação das pequenas ilhotas, exclusivamente de junco…
Basta deixar Puno e desaparece de imediato a vertente turística do lago, regressando a vida real peruana, com os escassos habitantes da orla do lago a cortarem e secarem junco, pescarem artesanalmente, esgaravatarem a subsistência nos campos de batatas, cereais e na escassa pastorícia.
Há duas fronteiras próximas com a Bolívia: Desaguadero ou Yunguyo, que cruza o lago. Apesar de minha conhecida, é por esta que me despeço do Peru e entro na Bolívia… apetece-me pedalar sobre o azul do lago, sob o azul do céu, apontando ao branco dos distantes nevados.

Texto e imagens de Idílio Freire

sábado, 30 de julho de 2011

JANELA DO DIA


 1.

Anos idos, quando ficar significava perecer, o saltar fronteiras na busca de qualquer coisa diferente, deixada, por exemplo, num poema de “Pátria Lugar de Exílio” de Daniele Filipe: “onde os trigais amadurecem, está tua saudade da cena familiar –  pais, irmãos, campos, casa, noiva. Lá, falam de ti, serenos, sem chorar…” ou Miguel Torga, no seu “Diário” dizendo até onde podia chegar o aviltamento humano:

“- Entegas-me as peles em Moiros?

- A que horas?

- Às onze.

As peles eram emigrantes clandestinos.”

Milhares de emigrantes começaram a chegar a casa para as tais férias do querido mês de Agosto e  afirmam saber, como disse um emigrante à reportagem do “Jornal de Notícias”: “que a crise está instalada em Portugal", mas alguns reconhecem, sem rodeios, que nos países onde trabalham a situação "não vai melhor". "Lá pode não se sentir tanto, porque os salários são maiores, mas também se sentem os problemas",  

2.

De Acordo com dados do governo As pensões mínimas, que abrangem cerca de um milhão de idosos em Portugal, devem subir entre seis e 13 euros por mês no próximo ano.

No debate quinzenal no Parlamento, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, prometeu "proceder ao desbloqueamento, isto é, à actualização das pensões mínimas para o ano de 2012". "Isto corresponderá a um esforço financeiro considerável, mas é a única maneira que nós temos de mostrar aos portugueses que fazemos aquilo que dizemos".

3.

Sérgio Lavos no “Arrastão”:

“Quanto maiores forem as desigualdades sociais de uma nação, menos democrática ela é. Em 2011, Portugal é um país que caminha em direcção ao Terceiro Mundo. As classes média e baixa vão perdendo cada vez mais poder de compra; as classes mais altas vão acumulando mais riqueza. O capitalismo é isto, e é isto que troika quer, que a União Europeia prefere, que o Governo PSD/CDS vai incentivar. A velha história do Robin dos Bosques invertida. Roubar aos pobres para dar aos ricos. Até quando poderemos tolerar a situação?”

À CONVERSA...


Disseram-lhe:


Afinal tens sentimentos de angústia…


Respondeu:


Em relação à terceira idade, em relação à dependência, à diminuição física, à perda de capacidades…


Maria Velho da Costa à conversa com Mário Ventura em “Conversas”, Publicações Dom Quixote, Lisboa 1986.

LIRIOS


Um dia deixarei para sempre o casaco no cabide da entrada
outras mãos que não as minhas haverá para o recolher
outros olhos pelos meus lhe hão-de fitar depois a ausência.
Depois, nem isso.
Há um momento em que se estende a toalha sobre a mesa dos mortos
como se tivesse sido sempre a mesa dos vivos. Esse dia virá.
Tudo então estará certo e limpo como o esquecimento.
Ou quase assim.

Dispo agora toda esta roupa e escrevo
– sem frio nem perda nem desastre –
a partir desse dia que virá, esse dia depois de mim:

lírios crescem no acaso vivo da relva
uma leve poeira se acrescenta ao ar que não respiro.

Rosa Maria Martelo no Público

POSTAIS SEM SELO


Cada livro que vês, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Há já muitos anos, quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui, este lugar já era velho. Talvez tão velho como a própria cidade. Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe, ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém.

 Carlos Ruiz Zafón em A Sombra do Vento

Legenda: Ilustração de Alex Dukal

FILMES DAS NOSSAS VIDAS



13 intelectiais escolheram 13 filmes, vão apresentá-los e debaterem-nos com os espectadores .

Segundas-feiras de Julho, Agosto e Setembro

21h30, na Rua da Achada (Lisboa)

Esta é a programação para o mês de Agosto:

Segunda-feira, 1 de Agosto, 21h30
Uma Noite na óÓpera
de Sam Wood (1935, 96 min.)
escolha de Regina Guimarães

Segunda-feira, 8 de Agosto, 21h30
Um Dia em Nova Iorque
de Gene Kelly e Stanley Donen (1949, 93 min.)
escolha de Jorge Silva Melo

Segunda-feira, 15 de Agosto, 21h30
Casa deCchá do Luar de Agosto
de Daniel Mann (1956, 123 min.)
escolha de Filomena Marona Beja

Segunda-feira, 22 de Agosto, 21h30
Jonas Que Terá 25 Anos no Ano 2000
de Alain Tanner (1976, 116 min.)
escolha de Eduarda Dionísio

Segunda-feira, 29 de Agosto, 21h30
A Regra do Jogo
de Jean Renoir (1939, 110 min.)
escolha de João Pedro Bénard

Mais informação em Casa da Achada/Mário Dionísio.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

OS CROMOS DO BOTECO

POSTAIS SEM SELO


Aconteça o que acontecer, nunca estarei só. Haverá sempre um rapaz, um bilhete de comboio, ou uma revolução.

Stephen Spender

TEMPOS DIFÍCEIS


Texto de Maria do Rosário Pedreira aqui:
“O País vive tempos extremamente difíceis e vai de férias ainda relativamente anestesiado, pronto para queimar os últimos cartuchos antes do choque frontal que receberá no regresso e se fará sentir sobretudo no último trimestre do ano, com a «rapina» de parte do subsídio de Natal. Para os livros, a situação é má – já se diz que fecham livrarias icónicas, que as distribuidoras começam a não pagar às editoras e que as editoras mais pequenas não terão como subsistir (e isto sem falar no aumento do IVA no livro, do qual, se calhar, não nos livramos). Li algures que o segmento de mercado mais afectado será o dos leitores ocasionais, que vão ao hipermercado comprar bens de primeira necessidade e antes adquiriam um livro por impulso, mas, com a crise, já não o poderão fazer. E tinha, apesar de tudo, alguma fé nos que têm hábitos de leitura enraizados e que, quiçá fazendo parte da classe menos afectada, continuariam a frequentar livrarias e a não resistir a uma ou outra novidade. Parece, porém, que até esses estão a criar resistência aos gastos desnecessários, conscientes de que têm lá em casa imensos livros que ainda não leram e que lhes devem dar agora, com toda a justeza, uma oportunidade. Numa conjuntura como a que vivemos, também creio que qualquer leitor que só possa comprar um livro apostará mais depressa num autor consagrado – retorno garantido – do que num principiante. Ora, dedicando-me eu há doze anos a lançar novos escritores, nunca fui de férias tão preocupada. Com os meus autores, com o meu emprego, com o que o futuro me reserva.”


Legenda:  “Open Door” pintura de Peter Ilsted

quinta-feira, 28 de julho de 2011

JANELA DO DIA


1.

Capa do “Correio da Manhã” de hoje.

Segundo a revista “Exame” estes são os dez mais ricos de Portugal:

1 - Américo Amorim - Grupo Amorim e Galp. Fortuna actual 3106 milhões euros
2 - Belmiro de Azevedo - Grupo Sonae. Fortuna actual 1722 milhões euros
3 - José Manuel de Mello - Grupo Mello, EDP, Brisa. Fortuna actual 1196 milhões euros
4 - Joe Berardo - Vinhos, investimentos e Arte. Fortuna actual 882 milhões euros
5 - João Pereira Coutinho - Grupo SGC, SAG e SGC. Fortuna actual 815 milhões euros
6 - Luís Silva e mulher - Cinveste SGPS e imobiliária. Fortuna actual 757 milhões euros
7 - M. do Carmo Espírito Santo Silva - Espírito Santo e Santogal. Fortuna actual 754 milhões euros
8 - Família Mello Filhos com participações na Nutrinvest e BCP. Fortuna actual 753 milhões euros
9 - Alexandre Soares dos Santos - Soc. F. Manuel dos Santos. Fortuna actual 739 milhões euros
10 - Horácio Roque - Banif e Açoreana Seguros Fortuna actual. 726 milhões euros

Alguma desta gente, uns são gerentes de empresas, juntamente com o restante patronato tem manifestado a opinião de que o país não pode suportar 500 euros como valor do salário mínimo para os trabalhadores.

2.

Respondendo às críticas que foram feitas ao governo sobre a partidarização da Caixa Geral de Depósitos, o Ministro da Finanças garantiu que “os administradores escolhidos preenchem os melhores critérios de excelência profissional.”

3.

Do “Público” de ontem:

"O Governo garantiu a António Nogueira Leite o lugar de vice-presidente da CGD, fazendo tábua rasa dos regulamentos da boa governação que exigem que os titulares destas funções sejam escolhidos em conselho de administração"

Curriculum durante o a nos passado de  António Nogueira Leite:

Vogal do Conselho de Administração da Brisa Auto-Estradas de Portugal SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Químicos Industriais, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Adubos, SA; Vogal do Conselho de Administração da José de Mello Saúde, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da SEC - Sociedade de Explosivos Civis, SA; Vogal do Conselho de Administração da EFACEC Capital, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Expocomitur - Promoções e Gestão Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Herdade do Vale da Fonte - Sociedade Agrícola, Turística e Imobiliária, S.A.;  Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária e Turística do Cojo, SA; Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária da Rua das Flores, n.º 59, SA; Vogal do Conselho de Administração da Reditus, SGPS, SA; Vice-Presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment, SA; Membro do Conselho Consultivo do Instituto de Gestão do Crédito Público.

Para além de conselheiro de primeira água de Pedro Passos Coelho, é provável que, ainda, falte qualquer coisinha!...

POSTAIS SEM SELO


“Quando o Estio entra entristeço. Parece que a luminosidade, ainda que acre, das horas estivais devera acarinhar quem não sabe quem é. Mas não, a mim não me acarinha. Há um contraste demasiado entre a vida externa que exubera e o que sinto e penso, sem saber sentir nem pensar – o cadáver perenemente insepulto das minhas sensações. Tenho a impressão de que vivo, nesta pátria informe chamada o universo, sob uma tirania politica que, ainda que me não oprima directamente, todavia ofende qualquer oculto principio da minha alma. E então desce em mim, surdamente, lentamente, a saudade antecipada do exílio impossível.”
Fernando Pessoa, “Livro do Desassossego”

Legenda: “Praia das Maçãs” de José Malhoa.

SARAMAGUEANDO


Há certos autores que eu leio o mais lentamente possível. Parece-me que converso com eles, que eles me falam e teria tanta pena se não os soubesse reter ainda muito mais tempo ao pé de mim.

André Gide

quarta-feira, 27 de julho de 2011

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS

Logótipo da Livraria Barata na Avª de Roma em Lisboa.

OS CROMOS DO BOTECO

VAGUEANDO PELA CIDADE

Largo de Santo Antoninho, junto ao Elevador da Bica

IDÍLIO EM BICICLETA


Socalcos milenares no vale do Colca
A Cruz de los Condores é o mais místico e turístico ponto da rota, ou não fora um daqueles locais onde tempo e espaço não existem para alem do voo dos condores, que rasgam o céu azul com a serenidade dos seres intemporais, aparecendo e desaparecendo no segredo da montanha.



Até Cabanaconde é como se eu próprio voasse nas asas paradas dos imponentes condores, sorvendo o vale, que se esconde de tão profundo, roçando a montanha, que estende a sua asa áspera e rugosa, lambendo a água gelada do revolto Colca, inalando a brisa cortante, em fuga do gélido Culluncuya. E aterro em Cabanaconde para um lanche tardio, antes de apanhar o autocarro de regresso a Chivay, onde ainda me espera nova tentativa de soldar o raio dos suportes dos alforges…
Sabia que até Arequipa a estrada era asfaltada, o que, ao fim de mais de uma semana praticamente sempre a pedalar no duro rípio, encarava com grande alívio. Também sabia que a altitude de Arequipa era largas centenas de metros inferior à de Chivay, prometendo facilidades adicionais. Não sabia é que a estrada ia passar no Mirador de los Andes, 4910 metros acima do nível do mar, o ponto mais alto dos meus registos ciclísticos…
O início até foi fácil, fosse pelo desnível não ser acentuado, pela altitude não ser exagerada, pela “pressa” de despachar a subida, provavelmente pela energia recuperada no dia anterior. Mas com o decorrer dos quilómetros e das horas, com a percepção que afinal o fim estava para além do alcance da vista, com o sol a aquecer, o ritmo abrandou fortemente e percebi que tinha trabalho para muitas horas. Curva após curva, paragem para “almoçar”, quilómetro após quilómetro, paragem para beber, lanço após lanço, paragem para tirar fotos, comecei a tentar adivinhar qual seria a última curva, o último morro… As antenas, esses benditos espantalhos de ferro, lá estavam espetadas num cume de outra cordilheira. Se comecei por “negá-la”, convicto que passaria mais abaixo, já a olhava de cima para baixo e continuava a subir.

 Texto e imagens de Idílio Freire

terça-feira, 26 de julho de 2011

JANELA DO DIA


1.

Esta é a capa do “I” de hoje:

Na edição on-line pode ler-se:

“São muitas as linhas por onde se cose a nova administração da CGD, ou como o banco público serve de laboratório da coligação.”

Adianta o “I”:

Certo é que a comissão executiva será presidida por José Agostinho de Matos, por indicação do ministro das Finanças, e Nogueira Leite será o seu vice, por escolha do primeiro-ministro. O facto de Nogueira Leite ter trabalhado durante alguns anos no grupo Mello e de a saúde ser uma das áreas a alienar pelo banco público causou também algum desconforto no sector.
Outra entrada inesperada na CGD foi a de Nuno Fernandes Thomaz, para administrador-executivo, defendida por Paulo Portas, que assim garante a representação do CDS/PP nos órgãos do banco estatal. Recorde-se que Nuno Fernandes Thomaz, que foi secretário de Estado dos Assuntos do Mar no governo de Santana Lopes, chegou a defender, durante a campanha de 2005, um Museu da Bíblia no Norte e a construção de um parque temático como a Eurodisney no Sul de Portugal. Ontem, vendeu a sua posição na ASK e pediu a demissão dos cargos que desempenhava".

2.

A CP vai aumentar em mais de 25 por cento o preço do passe mais simples (zona 1) para os comboios da Linha de Sintra e em mais de 15 por cento o dos bilhetes para a mesma zona.

Nos comboios urbanos do Porto, o passe normal para a zona simples aumenta 19,92 por cento, de 23,85 euros para 18,60 euros, enquanto o passe estudante sobe de 17,90 para 21,45 euros (mais 19,92 por cento).

O Governo tinha fixado na semana passada em 15 por cento o aumento médio nos preços praticados para os títulos de transportes rodoviários urbanos de Lisboa e do Porto, para os transportes ferroviários até 50 quilómetros e para os transportes fluviais.

3.

As redes de metro de Lisboa e Porto anunciaram hoje a actualização dos tarifários que entrará em vigor a partir da próxima semana. O preço de um bilhete simples para circular na capital vai aumentar em 17 por cento, para 1,05 euros. A actualização na rede do Porto é inferior, de dez por cento, mas faz subir o bilhete normal para 1,10 euros.

4.

Portugal está a mudar.

À CONVERSA...



Perguntaram-lhe

Há em "A sala magenta"  alguma alegoria?

Respondeu:

"Quando quero sustentar ideias, escrevo artigos. Quando quero mandar mensagens, vou aos correios, Quando quero dar recados, aviso. Se me desse para alegorizar, fechava-me em casa e não confessava a ninguém, até que me passasse".

Mário de Carvalho, no lançamento de “A Sala Magenta, Fevereiro 2008

UMA PESSOA QUE ME CONFRANGE



Um olhar por uma entrevista que Vitorino Magalhães Godinho deu a João Céu e Silva e publicada no “Diário de Notícias” de 27 de Fevereiro de 2009, no tempo em que José Sócrates era primeiro-ministro:

“Sim e os desvarios do 25 de Abril levaram à posição contrária, a de destruir tudo o que havia de melhor e até o que o 25 de Abril trouxe. Houve essa destruição progressiva e as pessoas não se apercebem do que se passa nos hospitais: um descalabro total. Tal como nos sistemas de ensino e económico, que não poderiam escapar no meio desta reviravolta. Além de que a revolução técnica que vem de 1975 para cá criou condições inteiramente novas na economia.

Porque o sistema capitalista não se pensa?

Creio que já não estamos no capitalismo. As pessoas apegam-se a nomes, mas a verdade é que tivemos um capitalismo no século XX que foi engolido por uma evolução que levou a um hipercapitalismo em que as empresas que vendiam para o mercado desapareceram e foram substituídas por grandes redes que conglomeram actividades múltiplas e fazem motores de aviões, perfumes e marroquinaria...

Qual será o futuro deste hipercapitalismo?

Este hipercapitalismo engasgou-se porque criou uma contradição insanável. Quando a Toyota despede 20 mil é porque criou um sistema produtivo que é absurdo e não corresponde às necessidades.

O que motivou o estrangulamento da procura?

O estrangulamento da procura resulta do excesso de produção e saturação de mercado e das pessoas.
Acusa a classe política pela situação. Acha que a nossa classe política não está à altura?
Acho que a nossa classe política é mais do que lamentável. Os nossos políticos não têm ideias e não debatem. Assiste-se a qualquer sessão do Parlamento e verifica-se que há afirmações mas nunca as demonstram. Diz-se que o TGV é fundamental mas ninguém o justifica. Quando há uma crítica ninguém responde, porque há uma incapacidade de argumentar nos nossos políticos. Em todos!

À excepção do primeiro-ministro!

É a pessoa que mais me confrange porque ainda não o ouvi responder a uma pergunta com argumentação. Até deixei de o escutar.

Então pensa que este Governo não sabe o que está a fazer?

Sabe sim, infelizmente. Sabe como destruir o Sistema Nacional de Saúde e o ensino público, como entregar as universidades aos privados... Sabe pôr de parte todas as conquistas do mundo civilizado.
Um Estado corporativo como Salazar sonhou e nunca conseguiu. Realizámos o que desejava, que é o poder nas mãos de organizações profissionais.

Quem tornou esse sonho em realidade?

O Governo actual e os últimos… Foi uma evolução num país que era feito à medida para conservar o mais possível a sociedade tradicional em que Salazar acreditava. Portugal ficou no século XIX e como não era moderno não havia preparação para o que veio com o 25 de Abril. Voltaram-se aos defeitos antigos e acrescentaram-se os modernos. O movimento militar acabou com esse regime odioso de 48 anos sem uma transformação social geral. Imitaram-se modelos estrangeiros, houve a sedução pelo trotskismo, pelo maoísmo e por coisas que nem sabíamos o que eram, que resultaram no desencontro entre o importar de ideias e os programas que não tinham nada a ver connosco. Portugal continua a imitar o que se faz lá por fora. |

segunda-feira, 25 de julho de 2011

MARIA LÚCIA LEPÉCKI (1940-2011)


Maria Lúcia Lepécki morreu, ontem, aos 71 anos, em Lisboa.

Nasceu em Axará, no estado de Minas Gerais, no Brasil, mas estava radicada há várias décadas em Portugal, sendo uma profunda conhecedora da literatura portuguesa.

Brasileira de nascimento e portuguesa por casamento, Maria Lúcia Lepécki estudou em Paris, foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e professora catedrática na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Baptista-Bastos referiu-se a Maria Lúcia Lepécki como uma ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa.

Em 2008, por ocasião do encontro literário Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, manifestou-se publicamente contra o novo acordo ortográfico. Afirmou então:

Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira.

São dois artigos de Maria Lúcia Lepécki, um publicado no JL, s/d, outro no Suplemento Literário do Diário de Lisboa , 28 de Janeiro de 1982, que, de uma forma entusiasmante e entusiasmada, se referem a Levantado Chão de José Saramago e que chamam a atenção para um livro que, como anteriores livros de Saramago, andava a passar ao lado de leitores e da crítica.

Apesar dos seus receios, conseguiu transmitir todo o mágico encanto de Levantado do Chão.
Os tempos vieram dar razão a Maria Lúcia Lepecki:
Não fosse ele um texto revolucionário, documento de fé nas capacidades do homem e nas virtudes daquilo que definitivamente o hominiza: o verbo feito para produzir a verdade

Ainda do artigo do JL:

De certeza não saberei colocar diante dos meus leitores todo o mágico encanto de “Levantado do Chão” (…) O peso desta primeira saga alentejana, a sua dignidade, a sua força inibem-me. Receando perder-me em discurso afectivo, parafrásico talvez, optei pelo distanciamento. Um distanciamento sofrido longamente, pois entre a decisão de falar do livro e o instante de escrita destas linhas medeia muito mais de um ano. Período no qual “Levantado do Chão” foi livro de cabeceira, encantamento permanente, descoberta luminosa e sempre renovada. Um encontro com a beleza. Perdoe-me o Autor, desculpe-me o Leitor, se eu não souber. Fica a análise, incipiente, com as deficiências que nela sinto e vejo, com as falências inevitáveis: fique a análise como gesto de ternura para com um livro que invadiu, como poucos, a minha vida.

VAGUEANDO PELA CIDADE



Jardim Constantino
Pôr as notícias em dia.

domingo, 24 de julho de 2011

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe:

E a morte?

Respondeu:

“Não tenho medo de morrer. Só tenho medo de ficar inutilizada ou incapacitada, mas viva. Por exemplo, o Alzheimer.
Se eu morresse agora, a última coisa que dizia para a posteridade era: “Pelo amor de Deus, não me publiquem nada que eu não tivesse já entregue para publicar. Se há coisa que me aflige imenso, são as obras póstumas. Porque normalmente a obra póstuma não presta. Se o autor não deu para publicar, é porque não quis. Ou então não teve tempo. E se não teve tempo, então não teve tempo de fazer bem como ele quereria. Normalmente, as obras póstumas são um disparate e eu estou farta de de dizer a toda a gente que nem obras póstumas, nem cartas, nada.
Só quero publicado o que está publicado ou então alguma coisa que não esteja, mas que o editor já tenha nas suas mãos. Quando vêm os filhos, os netos, os primos que descobriram na gaveta não sei quê um original, é horroroso.”

Alice Vieira, entrevista ao “Público.

NENHUMA DÚVIDA É JÁ POSSÍVEL



Do que a história regista como “Verão Quente”, ou “PREC”, torna-se difícil encontrar  o dia  em que tudo começou,

Como a ignorância é atrevida, e estes apontamentos apenas são o desenrolar de uma série de recortes de jornais da época, que se encontravam em duas caixas de cartão, permito-me o atrevimento de dizer que esse tal Verão começou nos dias imediatos ao 11 de Março.

Mas o que parece ser consensual é que terá começado aquando de dois casos então ocorridos: “Rádio Renascença” e jornal “República”.

Dois casos relevantes que, oportunamente, terão uma abordagem fora destes registos.

Foi com a saída dos socialistas, seguida da dos sociais-democratas, do IV Governo que me fiquei no primeiro texto desta série evocativa.

18 de Julho

Início do Apontamento de José Saramago no “Diário de Notícias”:

“Nenhuma dúvida é já possível: ou Portugal cai sob a repressão de um regime neofascista capaz de rivalizar com o Chile de Pinochet e seus mandantes, ou cede às pressões nacionais e internacionais interessadas em fazê-lo ingressar na jangada capitalista e hábil da social-democracia, ou avança decididamente, lutando, para o socialismo. É isto o essencial, se não nos enganamos – e não vemos que alguém aí possa provar o contrário.”


“O Século” destaca uma afirmação do General Carlos Fabião, Chefe do Estado-Maior do Exército, num juramento de bandeira nas Caldas da Raínha:

“Hão-de estar contra nós muitos dos que se enganaram no comboio do 25 de Abril”.

Mário Soares num comício em Braga:

“Não queremos que Portugal se transforme num grande campo de concentração. Reconhecemos aos outros o direito de pensarem e terem as suas crenças como entenderem. É necessário respeitar a Igreja.”

Vasco Lourenço:

“Um das coisas em que se está a cair um pouco é confundir o PS com a reacção. O PS não é a reacção em Portugal. Algumas acções do PS e toda a situação que se está a criar é que são aproveitadas pela reacção.”

O Centro de Trabalho do PCP em Aveiro é atacado.






19/20 de Julho

 Comícios do Partido Socialista no Estádio das Antas, no Porto e na Alameda, em Lisboa.

21 de Julho

Da reportagem de “O Século”:

 “Violentíssimos ataques ao PCP, ao MDP/CDE e à Intersindical deram a tónica do ululante comício do PS, realizado em Lisboa, a congregar uma multidão enorme, vinda dos mais diversos pontos do país. “Se não fossem as barreiras estariam aqui mais de meio milhão de socialistas – afirmou em certa altura, com a voz enrouquecida, o dr. Mário Soares. Outro aspecto importante que emergiu das declarações proferidas foi o do PS pedir a substituição do Primeiro-Ministro e a constituição de um “Governo de Salvação Nacional, presidido por elemento apartidário do “M.F.A.” que, seria, também de “unidade popular.”

Um breve aparte:

Recentemente, Mário Soares declarou que, se não tivesse pedido a ajuda a D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, não teria conseguido aquela multidão no comício da Alameda.

Na madrugada deste dia o  MFA divulgou um comunicado onde poderia ler-se:

“Portugal viveu, uma vez mais, dias decisivos para o seu processo revolucionário, caracterizados desta vez por um clima de instabilidade política, habilmente arquitectado por homens que parecem colocar, acima dos superiores interesses e anseios do povo português, a sua vaidade e a sua ambição.
Assistiu-se neste período por parte dos dirigentes de um partido que, pelo seu programa, deveria ser um dos mais importantes partidos políticos portugueses, a uma escalada de violência verbal, que, hábil mas traiçoeiramente, explorou as carências e insuficiências do nosso processo revolucionário e provocou, através da demagogia, da mentira e da calúnia, uma escalada de violência física que já causou vítimas inocentes no seio do Povo português”

O comunicado terminava:

“O M.F.A está e estará sempre com todos os que honesta e conscientemente pretendem construir o Portugal de felicidade que os vossos filhos mereçam.”

É atacada e destruída a sede do PCP em Alcobaça.

Afonso Praça fazendo para “O Jornal” (25.07.75) a reportagem deste assalto escreve:

“Em Alcobaça na tarde de terça-feira, constava à boca cheia que os comunistas até já tinham dinheiro impresso para pôr em circulação logo que o comunismo fosse implantado em Portugal. Mais: houve quem me garantisse que, na sede assaltada do PCP foram encontradas muitas das “novas notas” e que constava que em Lisboa havia uma casa cheia de dinheiro.
Vi notas das referidas nas mãos de um camponês. Mas não se trata de dinheiro nem nada de carácter clandestino: trata-se apenas de selos que o PCP, e outros partidos, vende para angariar fundos e que têm inscrito o respectivo montante: 20, 50, 100, 500 escudos…
Esforcei-me por esclarecer o que era aquele “dinheiro” mas parece-me que não o consegui.”

Legenda: no topo do texto, o  título é do “Diário de Notícias” de 21 de Julho de 1975.
A outra imagem é retirada de “Vida Mundial”, 24 de Julho de 1975.

MATINÉ DAS 3

Um dos meus grandes filmes.
Não sei quantas vezes já o vi.
Por tudo: pela interpretação de Gregory Peck – ganhou o Óscar - pela história em si, numa comunidade rural do sul dos Estados Unidos na época da Grande Depressão, uma mulher branca acusa um negro de a ter violado. Embora inocente nenhum advogado aparece para o defender, a não ser Atticus Finch, um dos cidadãos mais respeitados na comunidade, que aceita ser o seu defensor, contra a maioria da população e à custa de ganhar muitas novas inimizades mas consegue ganhar o o respeito e a admiração dos seus dois filhos que já haviam perdido a mãe.
Este filme tem um outro pormenor que cada vez que o vejo me deixa arrepiada. Quem faz de filha de Gregory Peck é a cara chapada, quando miúda, da minha sobrinha Vanessa.

Filme de 1962 realizado por Robert Mulligan.
Com: Gregory Peck, Mary Badham, Phillip Alford, Robert Duvall, John Megna, Frank Overton, Rosemary Murphy, Ruth White, Brock Peters, Estelle Evans, Alice Ghostley, Paul Fix, Collin Wilcox Paxton, James Anderson, William Windom, Crahan Denton, Richard Hale.

sábado, 23 de julho de 2011

POSTAIS SEM SELO


Meus dias de rapaz e de adolescente podem não ter aberto a boca a bocejar, sombrios, mas abriram os ouvidos a escutar raios e coriscos provindos de um aparelho que foi talvez a maior maravilha tecnológica da minha tenríssima infância,
Sem a rádio eu não teria descoberto Mozart e Beethoven, Schubert e Schumann, Wagner e Verdi, Mahler e Bruckner.
Vozes de outro mundo ou outro mundo em vozes, como os filmes americanos dos anos 40 os encenaram, com a mau sublime expressão no Clifron Webb de “Laura”: “Madder music and sronger wine.

João Bénarda da Costa em Crónicas: Imagens Proféticas e Outras”,  2º volume.

OLHARES

Manjericos no café-bar do Museu da Cidadela em Cascais.

OS CROMOS DO BOTECO


IDÍLIO EM BICICLETA





“Caminho sem retorno…
 Conta-se pelos dedos da mão a presença humana e, quando surge, não se compreende como e onde pode sobreviver…as ruínas de Maukallaqta parecem um sinal de vingança dos deuses – este lugar está vedado aos Homens, deveria estar escrito à entrada do vale, todo o que se atrever a mirá-lo, mais ainda, ousar habitá-lo, não sobreviverá à próxima lua cheia. Mas os Homens sempre ousam e, se há tantos séculos ousaram, construindo um autêntico povoado, porque não ousar hoje, ainda que erguendo não mais de três habitações…




Ruinas de Maukallaqta
Não muito distante surge Maria Fortaleza, mais um conjunto arqueológico fundido nas rochas, sepultado na montanha. E do topo da colina onde se abriga, abre-se ao olhar o magnifico “três canyons”, um tridente esculpido na imponente rocha, por onde fluem outros tantos rios, sendo o mais famoso o Apurimac.




Grand Canyon

Texto e imagens de Idílio Freire

sexta-feira, 22 de julho de 2011

JANELA DO DIA


1.

O aumento do número de administradores na Caixa Geral de Depósitos, hoje conhecido, contraria o objectivo de reduzir 15% os cargos dirigentes de toda a administração
.
Tantas vezes aparecia, aparece, Nogueira Leite nas televisões que se admitia que o homem iria para ministro: apenas será um dos elementos da nova administração da Caixa.

2.

Pergunta de José  Pacheco Pereira aqui:

“Não estará na altura de perguntar pelo site na Internet onde estarão todas as nomeações feitas pelo novo governo e que nos foi prometido como forma de sabermos até que ponto há ou não há jobs for the boys? É que é agora que estão a ser feitas as nomeações e o que se sabe até hoje não  mostra nenhuma diferença substancial nas escolhas de boys em relação a governos anteriores.”

3.

Segundo o “Diário de Notícias”, incluir os dividendos distribuídos pelas empresas no perímetro do novo impostos extraordinário permitira ao Governo arrecadar uma receita superior aquela que estima conseguir com os rendimentos dos pensionistas e dos trabalhadores independentes.

SARAMAGUEANDO


Principalmente, após a sua passagem na SIC e edição em DVD, o documentário de Miguel Gonçalves Mendes “José e Pilar” suscitou um mar de atenções que deram origem a uma petição que visa a sua candidatura a uma nomeação para o Óscar de 2012 para o melhor filme estrangeiro.

Ver aqui.

O filme chegará aos cinemas norte-americanos em Setembro, em data ainda a anunciar.
Só são candidatos a uma nomeação para os Óscares de 2012 os filmes que estreiam em sala nos Estados Unidos entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2011.

No caso de Portugal, o candidato a uma nomeação é proposto pelo ICA, de entre todos os filmes de produção portuguesa que tenham tido estreia comercial.

NÃO SE ESQUEÇAM DE IR AO CINEMA!


“Cinema em Portugal – Os Primeiros Anos”  foi uma exposição realizada  sob a égide das  Comemorações do Centenário da República, que teve lugar, entre Dezembro de 2010 e Maio de 2011,  no Museu da Ciência da Universidade de  Lisboa, lá para as bandas da Escola Politécnica.

Uma bela exposição, diga-se de passagem, que não me parece ter tido a divulgação que merecia.
Mas o Museu da Ciência parece não ser, de facto, um sítio muito apetecível para tudo quanto não diga respeito a dinossauros …  No dia em que por lá passei, um Sábado à tarde de Abril, estava pouco mais que deserta.

Tal como o nome indica, a exposição abarcou os primeiros tempos do Cinema Português, desde Aurélio da Paz dos Reis até ao primeiro filme sonoro, que foi, consoante a vossa opção, “ A Severa” (Leitão de Barros/ 1931 -  primeiro filme sonoro português, embora com sonorização feita em  França), ou “A Canção de Lisboa” (Cottineli Telmo/ 1933  - primeiro filme sonoro inteiramente produzido em Portugal).

O percurso da exposição estava muito bem delineado e não era nada cansativo, como tantas vezes sucedeu com outras  exposições do Centenário. Os objectos expostos, provenientes da colecção da Cinemateca Portuguesa,  abrangiam  equipamentos diversos de diferente dimensão  (câmaras de filmar, projectores, o Kinestoscope de Edison,…), programas e cartazes de cinema,  revistas, fotografias, cenários de filmes, reprodução de estúdios, salas de projecção, salas de cinema, etc. E como é de bom tom  numa exposição sobre Cinema, também estavam visionáveis pequenos extractos de filmes da época: nem mais nem menos que  36  pedaços de filmes, dos Lumiére a Manuel de Oliveira, passando por Max Linder, Greta Garbo,  Rudolfo Valentino  e diversos  primitivos do Cinema Português, que, por si só, valiam bem a deslocação. Tudo isto completado por um excelente catálogo, que  faz o enquadramento histórico da época e reproduz a maior parte dos objectivos expostos e que era vendido pelo convidativo  preço de 15€.

Mas se  venho aqui  falar-vos disto é  porque achei imensa graça  a uns  “Mandamentos do Espectador de Cinema” que por lá vi, e que foram publicados, em 1928, no Nº 40 da  revista “Invicta Cine”.

Ora tomem bem nota:

1)      Lembrai-vos que aqueles que vos ficam por trás também pagaram para ver o que se passa na tela;

2)      Respeitai o conforto do vizinho que vos fica à direita e à esquerda;

3)      Levantai-vos sempre uma senhora deseje passar;

4)      Não deveis ler em voz alta os letreiros da tela;

5)      Não façais comentários de mau gosto sobre os personagens do filme ou qualquer das suas passagens;

6)      Quando caminhardes para o vosso lugar, fazei-o com calma, sem pressa;

7)      Deixai o recinto calmamente em caso de fogo ou qualquer distúrbio local;

8)      Podeis rir à vontade, mas lembrai-vos de manter sempre a vossa compostura;

9)      Levai ao gerente qualquer reclamação que tiverdes a fazer;

10)  Frequentai o cinema pelo menos uma vez por semana.


Muitas destas recomendações estão perfeitamente actualizadas.

A começar pela última…

Nestes tempos de DVD’s,  download’s,   Telecines disto e daquilo, quantas vezes vamos nós ao “verdadeiro” Cinema…?

Por mim falo que, se exceptuar as idas à Cinemateca, talvez não chegue a ir, em média, uma vez por mês, quando nos meus tempos áureos de cinéfilia  chegava  a ter uma média anual de dois filmes  por dia…

Acreditem  que vos confesso isto com uma enorme tristeza…

Boas férias, se  possível com Cinema!


Colaboração de Luís Miguel Mira