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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

OLHAR AS CAPAS


Pensar Portugal Hoje

João Martins Pereira

Capa: Fernando Felgueiras

Colecção Diálogo nº 12

Publicações Dom Quixote, Lisboa, Janeiro de 1971

A resposta em termos institucionais aos interesses dos que hoje controlam o poder económico – eis o significado real da «revolução» a que assistimos com o governo de Marcelo Caetano. A grande burguesia portuguesa, que nunca terá siso liberal, também hoje já não o pode ser. Ela encaminha-se para as formas modernas do neocapitalismo, em que ao Estado cabe uma intervenção que, curiosamente, nos países de tradição liberal tem uma aparência de autoritarismo, enquanto no nosso toma o aspecto de «liberalismo»… Há que assinalar, aliás, que desse intervencionismo se espera um decisivo impulso à iniciativa privada, e não, como alguns  não deixam de temer, um alargamento do sector público a domínios habitualmente fora do seu campo de acção.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

OLHAR AS CAPAS


O Dito e o Feito

João Martins Pereira
Capa: José Cerqueira
Edições Salamandra, Lisboa 1989

Morreu o Zeca Afonso. Mal o conheci, porque assim o quis a minha quase obsessiva, e talvez ridícula, fuga aos ídolos, mesmo os que venero, mesmo, como era o caso do Zeca, os «involuntários» - os anti-ídolos. Mas sofri, melhor, revoltei-me, com a sua doença como se fosse um amigo. E nem sequer estive em Setúbal messe último dia, porque não fui capaz de imaginar que a «festa» se prolongaria até à noite. Deixo aqui registado o texto que me pediu o Combate, e a que chamei «O que faz falta…»:
«Ir a enterrar ao som das canções, horas a fio, pela noite dentro: é belo. Só um poeta a tanto pode aspirar. Mas não chega ser poeta, bem chega de poemas fazer canções, nem mesmo chega que as canções nos fiquem no ouvido e nos ocorram, quase sem querermos, aos lábios. Não. Para que isso aconteça, é preciso que cada um de nós, vindos de tantos lados, por tantos caminhos, andarilhos de tão diferentes jornadas, sinta aquelas canções como saídas de dentro de si – do melhor que há dentro de si. É então que reconhecemos no poeta, naquele poeta, a nossa própria voz, a que disse o que gostaríamos de saber dizer ou de poder dizer. O que disse o que não fomos, somos, capazes de dizer não tanto por não sermos poetas, mas talvez bem mais porque não tivemos, não temos, a coragem de o dizer.
É bom que se saiba que tal homem, tal poeta, que nos alimentou os sonhos, as lutas, a vida, é o oposto, o radicalmente oposto, do político que todos os dias nos diz os seus esforços para resolver os nossos problemas, para quem a nossa voz se exprime em votos e não em poemas, que nos fala para ser ouvido e não para ser cantado, que não nos conhece nem pretende conhecer-nos – que um dia porventura “se curva perante a memória do poeta” como mero acto protocolar de que pode colher alguns dividendos. O poeta, esse de quem falo, é avesso a actos protocolares e ignora a palavra “dividendo”. Não merece sequer que lhe venham a chamar “generoso”, ou “abnegado”, ou “impoluto lutador”, ou etc., etc.
Merece, isso sim – e teria merecido muito mais, é sempre tarde que o sabemos! – que lhe cantem as canções quando desce à terra. E que lhas fiquem a cantar ainda depois de morrerem todos os políticos. E que um dia, quem sabe, como noutro dia aconteceu, possam transformá-las em hinos de vitória.
Os povos sabem que são homens como o Zeca Afonso que lhe fazem falta.»


Nota do editor: Esta capa deveria ter sido publicada no dia 33 quando passaram 27 anos sobre a morte de José Afonso. Um erro de programação remeteu-a para hoje. Como cá pela casa não precisamos de exactas efemérides para falar de quem gostamos, a preocupação pelo erro não nos incomoda.
O importante é não esquecer!

domingo, 10 de março de 2013

OLHAR AS CAPAS


No Reino dos Falsos Avestruzes
João Martins Pereira
Capa: João B.
A Regra do Jogo, Lisboa 1983


Eu fiz 20 anos em 1952. Não-crente já então, se é que o fui alguma vez, eu era a ignorância do mundo, das coisas, das pessoas. Estudava engenharia, afincadamente. Mas desencantadamente. Punham-se-me as questões metafísicas (e físicas) do costume, as ditas «próprias da idade», e outras menos próprias. No meio disto, apenas duas armas, que já deviam vir, como hoje se diz, no meu «código genético»: uma enorme curiosidade, uma visceral propensão para o«não-alinhamento». Debicava sem nexo, como qualquer galináceo, nos grãos que, ao acaso das circunstâncias, me vinham cair no minúsculo pedaço em que me movia: livros, filmes (cine-clubes),associação de estudantes, pouco mais. E sem nexo continuei, anos fora, até que, já nem sei como, dei comigo embrenhado no «mundo sartriano».