sábado, 16 de novembro de 2024

MÚSICA PELA MANHÃ


Vasco Graça Moura disse que Pedro Homem de Melo foi um poeta demasiado mal tratado pela crítica e pelos leitores de poesia.

A Biblioteca da Casa não tem um único livro do poeta.

Mas pela casa existe esse maravilhoso Com que Voz em que Amália Rodrigues, pela mão mágica de Alain Oulman, cantou poetas portugueses e Pedro Homem de Melo, com dois poemas, está representado.


HAVEMOS DE IR A VIANA

Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia.

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta.

CUIDEI QUE TINHA MORRIDO


Ao passar pelo ribeiro

Onde, às vezes, me debruço

Fitou-me alguém corpo inteiro

Dobrado como um soluço


Pupilas negras tão lassas

Raízes iguais às minhas

Meu amor, quando me enlaças

Por ventura as adivinhas

Meu amor, quando me enlaças

 

Que palidez nesse rosto sob o lençol de luar

Tal e qual quem ao sol posto

Estivera a agonizar

 

Deram-me então por conselho

Tirar de mim o sentido

Mas, depois, vendo-me ao espelho

Cuidei que tinha morrido

Cuidei que tinha morrido!

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