«O divertissement implica tempo, claro. Um tempo parado, contemplativo,
contrário ao tempo da aceleração exponencial. E as brincadeiras dos cães
lembraram-me agora uma história. Uma história por demais conhecida. Contava-a
António Alçada Baptista.
Andava o Padre Anchieta
por terras do Brasil. Com pressa no chegar, pede o jesuíta aos índios que lhe
transportam a tralha que sejam despachados no passo. O destino fica longe, a dias
de caminhada. No primeiro dia os índios foram céleres, assim como no segundo.
Inesperadamente, ao terceiro descansaram. Surpreendido, pergunta-lhes o padre
pelo motivo da pausa. A explicação chegou rápida e era simples: “Temos vindo
demasiado depressa e a nossa alma ficou para trás. Temos de esperar por ela
para podermos continuar”.»
Ana Cristina Leonardo numa das suas crónicas no Público
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