quinta-feira, 21 de novembro de 2024

OS DIAS VISTO DO CAFÉ DO MONTE

«O divertissement implica tempo, claro. Um tempo parado, contemplativo, contrário ao tempo da aceleração exponencial. E as brincadeiras dos cães lembraram-me agora uma história. Uma história por demais conhecida. Contava-a António Alçada Baptista.

Andava o Padre Anchieta por terras do Brasil. Com pressa no chegar, pede o jesuíta aos índios que lhe transportam a tralha que sejam despachados no passo. O destino fica longe, a dias de caminhada. No primeiro dia os índios foram céleres, assim como no segundo. Inesperadamente, ao terceiro descansaram. Surpreendido, pergunta-lhes o padre pelo motivo da pausa. A explicação chegou rápida e era simples: “Temos vindo demasiado depressa e a nossa alma ficou para trás. Temos de esperar por ela para podermos continuar”.»


Ana Cristina Leonardo numa das suas crónicas no Público 

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