quinta-feira, 14 de novembro de 2024

POEMA

A minha vida é o mar o Abril a rua

O meu interior é uma atenção voltada para fora

O meu viver escuta

A frase que de coisa em coisa silabada

Grava no espaço e no tempo a sua escrita

 

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro

Sabendo que o real o mostrará

 

Não tenho explicações

Olho e confronto

E por método é nu meu pensamento

 

A terra o sol o vento o mar

São a minha biografia e são meu rosto

 

Por isso não me peçam cartão de identidade

Pois nenhum outro senão o mundo tenho

Não me peçam opiniões nem entrevistas

Não me perguntem datas nem moradas

De tudo quanto vejo me acrescento

 

E a hora da minha morte aflora lentamente

Cada dia preparada

 

Sophia de Mello Breyner Andresen de Geografia em Cem Poemas de Sophia

Sem comentários: