quarta-feira, 30 de junho de 2021

OLHAR AS CAPAS


Nemesis

Agatha Christie

Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues

Capa: Lima de freitas

Colecção Vampiro nº 300

Livros do Brasil, Lisboa s/d

À tarde. Miss Jane Marple tinha o hábito de ler o segundo jornal do dia. Deixavam-lhe à porta dois jornais, todas as manhãs, e ela lia o primeiro enquanto bebia o chá matinal – se o jornal chegava a tempo, evidentemente, pois o rapaz que os distribuía era muito irregular quanto a horários. Não raro até, aparecia um distribuidor novo ou um substituto temporário do primeiro, e cada um deles tinha as suas ideias próprias acerca da rota geográfica da distribuição. Talvez fosse uma maneira de quebrarem a monotonia. Mas os clientes que estavam habituados a ler o jornal cedo, para tomarem conhecimento das notícias antes de se dirigirem para o trabalho, ficavam aborrecidos se o jornal chegava atrasado. Em contrapartida, as senhoras idosas e de meia-idade que viviam pacatamente em St. Mary Mead preferiram, não raro, ler o jornal enquanto saboreavam, sem pressas, o pequeno-almoço.

PERDER E GANHAR TEMPO

7 de Janeiro de 1967

Passo de novo os meus dias com a sensação de «perder tempo», agravado agora pela tragédia de não saber como «ganhá-lo».

José Gomes Ferreira em Dias Comuns  Volume II

UM CERTO GOSTO PELO RECATO


Fernando Pessoa sentia-se fácil de definir.

«Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e da minha morte»

Assim como Milan Kundera, escritor que nunca me despertou interesses por aí além, talvez uma insustentável ignorância minha ou qualquer tique a lembrar preguiça…

Numa crónica recente, Pedro Mexia lembrava que sempre teve uma certa admiração pela lacónica nota que acompanha os seus livros:

«Nasceu na Checoslováquia. Em 1975, instalou-se em França».

Por ele os autores de biografias e autobiografias, teriam de arranjar outros meios de subsistência.

«Nem bibliografia, nem elogios, nem outras datas, apenas duas coordenadas. Kundera é um daqueles escritores que acreditam que não há nada de relevante a dizer numa nota biográfica, muito menos numa biografia, porque tudo o que importa vem nos livros. E avisa que nem sequer o “eu” dos livros é o “eu” empírico: “impor o nosso eu aos outros é a versão mais grotesca da vontade de poder.”»

terça-feira, 29 de junho de 2021

POSTAIS SEM SELO


Os mais difíceis poemas onde falo de amor são aqueles em que o amor contempla.

 Jorge de Sena

 Legenda: Jorge e Mécia de Sena

PERTO DO CORAÇÃO

Aqui e ali, em algum vão de escada ou em algum inviável primeiro andar frequentado por gente silenciosa e obscura, em qualquer esquina perdida, ou persistindo arruinadamente entre ostensivas montras de bancos e de prontos-a-vestir, resistem na cidade as últimas cerzideiras, costureiras, apanhadoras de malhas em meias, engraxadores, latoeiros, caldeireiros, sapateiros e toda a legião de artesãos que os tempos urbanos, muito antes do chamado impacto do Mercado único, condenaram.

Hoje transformaram-se em segredos de família: quem conhece uma cerzideira não o diz a ninguém e partilha só com os amigos do peito e os parentes próximos esse inestimável património. E quem sabe do último limpa-chaminés, vindo do fundo da memória e de qualquer tugúrio das vizinhanças, recebe-o junto da lareira da sala com o orgulho discreto de quem recebesse o representante de extinta e esquisita dinastia.

Manuel António Pina, em Crónica, Saudade da Literatura

OLHAR AS CAPAS


Um Passado Perfeito

Leonardo Padura

Tradução: Helena Pitta

Edições Asa, Porto, 2009

Quando uma pessoa está assim tensa, e sente que não consegue pensar muito, o melhor é acender um havano, não o acendendo por acender e puxar o fumo, mas para o fumar a sério, única forma de o charuto nos oferecer todas as suas qualidades. Eu próprio, ao fumar assim quando faço estas coisas, estou a desperdiçar estes Davidoff  5000 Gran Corona de 14,2 centímetros, que merecem um fumar reflexivo ou simplesmente que nos sentemos a fumar e a conversar uma hora, o tempo que um charuto deve durar. O que acendi de manhã foi um desastre: primeiro porque a manhã nunca foi o melhor momento para um charuto desta categoria e, segundo, porque não lhe dei a atenção devida e o maltratei.  Depois, e por muito que o quisesse, já não consegui arranjá-lo e parecia estar a fumar uma breva * de amateur, podes crer. Não sei como preferes fumar dois maços de cigarros todos os dias em vez de um havano. Isso faz-te mal. Já nem digo que seja um Davidoff 5000 ou qualquer outro bom Corona, um Romeu y Julieta Cedros Nº 2, por exemplo, um Montecristo Nº 3 , ou um Rey del Mundo de qualquer medida, mas um bom charuto de capa escura, que puxe suavemente e queime por igual. Isso é a vida, Mário, ou o que mais se lhe assemelha. Kipling dizia que uma mulher é só uma mulher, mas que um bom puro, como lhe chamam na Europa, é qualquer coisa. E eu digo-te que o tipo tinha toda a razão porque, ainda que não perceba muito de mulheres, disto percebo. É a festa dos prazeres e dos sentidos, velho: recreia a vista, desperta o olfato, aperfeiçoa o tacto e cria o bom gosto que uma chávena de chá depois da refeição completa. E até tem a sua música para os ouvidos. Ouve, movo-o entre os dedos e geme como se estivesse com cio. Estás a ouvir? Esses são os prazeres complementares: ver uma cinza de dois centímetros bem formada ou retirar a faixa que o rodeia depois de ter fumado o primeiro terço. Não é a vida? Não olhes para mim com essa cara, que isto é muito sério, mais do que pensas. Fumar é um prazer, sobretudo se souberes fumar. O que tu fazes é um vício, uma vulgaridade, e por isso ficas um bruto e desesperas. Entende uma coisa, Mário, este é um caso como qualquer outro e tu vais resolvê-lo. Mas não deixes que o passado te influencie, ok? Olha, para saíres deste buraco, vou fazer uma excepção, bom, tu sabes que eu não ofereço um charuto a ninguém, mas vou dar-te este Davidoff 5000. Vou dizer agora a Maruchi que te traga café e vais acendê-lo, como te disse que se acende, e depois dizes-me. Serias muito estúpido se isto não te ajudasse a viver.

 

  • Charuto ligeiramente achatado e menos compacto que os cilíndricos (Nota do Tradutor).

Colaboração de Luís Miguel Mira

NOTÍCIAS DO CIRCO


O direitista-liberal Publico, a páginas 12 da sua edição de 4 de Junho, rasga as vestes pela rapaziada dos grupos privados de saúde.

Não sou adepto da iniciativa privada, faz-me comichão nas solas dos pés, e quando vejo os lamentos desta gente por estarem a perder dinheiro nas cirurgias, nas consultas e nas urgências, ocorre-me o Algarve, os proprietários de hotéis, restaurantes, bares, discotecas, spas, sei lá que mais, a queixarem-se da escassez de turistas que os levará à penúria, sem lhes ocorrer (?) que, sem turistas, poderiam apostar nos portugueses, baixando, logicamente, os preços de ultra-gamanço que sempre praticaram e que não estão dispostos a largar. 

domingo, 27 de junho de 2021

PORQUE HOJE É DOMINGO

Não sou de certezas, mas sei que foi a 8 de Junho que o blogue começou a tropeçar nas pedras do cais, e algumas vezes, como na velha canção, a tropeçar na mesma pedra.

Pode a pandemia trazer a incapacidade de escrever uma linha que seja?

Lembrei-me disto quando, hoje, escrevi um comentário no «Largo da Memória» e saltou uma frase do avô: «Eu não te avalio pela quantidade de vezes que tu cais, mas pela rapidez com que te levantas.»

quinta-feira, 24 de junho de 2021

NOTÍCIAS DO CIRCO


O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues,  a segunda figura do Estado, apelou a que os portugueses, no domingo, se desloquem de forma massiva a Sevilha para que possam apoiar Portugal nos oitavos de final do campeonato da Europa.

Isto é de uma irresponsabilidade confrangedora!

terça-feira, 22 de junho de 2021

POSTAIS SEM SELO


Como moro num rés-do-chão abro a janela e vejo os pombos. Há meses que não faço quase nada senão a abrir a janela e ver os pombos.

António Lobo Antunes

OLHAR AS CAPAS



Testemunho do Sonho

Marguerite Yourcenar

Tradução: Maria Filomena Duarte

Capa: Antunes

Círculo de Leitores, Lisboa s/d

Ao quarto copo, vieram-lhe à mente ideias inusitadas; pensou; mirou o calendário, que celebrava as virtudes de uma marca de medicamentos, e perguntou a si próprio o que significava aquilo dos dias, dos meses e dos anos; achou muita graça às primeiras moscas da época suspensas da sua armadilha de papel gomado, esforçando-se fracamente por se escaparem antes de morrer; satisfeito por ter retirado tão bem o que apendera na escola, disse para com os seus botões que, em suma, é assim, de cabeça para baixo, que os homens andam de um lado para o outro nessa enorme bola que anda à roda. Precisamente, estava tudo a andar à roda: uma valsa majestosa arrastava as paredes. O calendário dos medicamentos, o cartaz das laranjas, o retrato do chefe do Estado e a sua própria mão que tentava em vão segurar uma garrafa. Mais um copo, e os olhos fecharam-se-lhe como se a noite, apesar de tudo, valesse mais do que a sala de uma taberna; o ponto de apoio da parede faltou às costas da cadeira; rolou para o chão sem se aperceber que caía e sentiu-se como um morto.

A SOLIDÃO ABSOLUTA

25 de Junho de 1967

Homem solidário, chego assim à conclusão de que, salvo mutações radicais e a curto prazo improváveis, vou acabar os meus dias na solidão absoluta. Fiel a mim mesmo, está claro, e sem descer no plano da intervenção cívica e social (pois destruir isso seria suicidar-me), mas só e frustrado. Sempre com mais e nunca com menos problemas. E à beira dos primeiros grandes desgosto autênticos. É possível que renasça, daí, mais profundamente humano… Mas a saúde, o vigor dizem-me que não, que é tarde. Será?

Mário Sacramento em Diário

segunda-feira, 21 de junho de 2021

OLHAR AS CAPAS


Talvez um Grito

Carlos Loures

Edições Salamandra, Lisboa, Fevereiro de 1985

- Ah, é verdade, já me esquecia de lhe transmitir um recado do senhor inspector. Ele diz que o seu amigo, o padre, lhe manda cumprimentos. Está detido nas nossas instalações no Porto. Já esclareceu a situação dele, e a sua também, e está de boa saúde. Até amanhã.

Passado pouco tempo vieram-no buscar. Tiveram de o amparar na descida das escadas. Cerca do meio-dia, a carrinha chegava a Caxias. Almoçou, reprimeindo a sua natural repugnância pela comida,, e deitou-se. Só acordou na quarta-feira.

Até ao entardecer, depois das seis horas quando chegou o jantar, ainda não tinham vindo. Poderiam vir à noite. Ou não.

Ganhara o primeiro round.

Utilizando a mesma técnica usada pelo Travassos na sua prisão anterior, o Castanheira deferira, em tom casual, o dardo envenenado, sugerindo a prisão e a traição de vasco. Sinal de que sabiam alguma coisa. Apenas um indício, uma pista, ou tudo? Porém, fazer conjecturas era fazer o jogo do inimigo. Só tinha de aguardar a chamada de Lisboa. Tudo recomeçaria, mas não do princípio, como dissera o Castanheira; eles tinham descoberto parte do seu jogo e isso era importante. «Desta vez vou ganhar. Tenho de ganhar!».

Um paquete branco, já todo iluminado, descia o rio na direcção da barra. Cheio de sortilégio, majestoso na sua brancura que se destacava como um sinal de luz nas sombras envolventes do anoitecer.

«Como se fosse um cisne», pensou.

sábado, 19 de junho de 2021

APENAS PARA DAR UM RECADO

A Philips anuncia telefones que eliminam o ruído da respiração. Sinto-me inquieto com este mundo novo que se anuncia; que vai ser dos telefonemas sexuais, dos silêncios arfantes, dos rituais aéreos do desejo, dos navios nocturnos? Como irão os violadores aterrorizar as vítimas? Como suportar um telefone sem pecado nem crime? Tantas vezes a minha avó dizia: o telefone é só para dar um recado.

Eduardo Prado Coelho em Tudo o que Não Escrevi Volume I 

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?

Confinamentos…

O medo nunca saiu dentro de mim.

Apesar das vacinas, apesar dos cuidados, sei que não sairá.

Sempre fui de medos: os mais diversos, os mais disparatados.

Conheço-me.

Tenho andado para aqui a balançar entre os dias.

Tenho pintado, vou renovar o livro para a minha neta Maria, ainda tenho que fazer o do João e o da Francisca.

Sempre que ocorra, virei aqui com uma canção, um filme, pedacinhos agarrados por aí.

Hoje vou ao cinema para recordar Habla Com Ella de Pedro Almodovar que é um filme lixado, lixado mesmo, que me faz ter saudades do Garrudo quando, a propósito de tudo e de nada, dizia «habla com ella».

 

O filme vem aqui por causa de uma canção da banda sonora, aquela em que Caetano Veloso canta Cucurrucucú Paloma.

É uma canção velha de que gosto muito mas que na voz de Caetano, naquele arranjo que fizeram com instrumentos de corda, tem um outro voo.

A canção faz parte de um bonito disco de Caetano: Fina Estampa ao Vivo, em que Caetano pretende fazer uma releitura, disse ele, do cancioneiro hispano-americano lida por um brasileiro.


Colaboração de Aida Santos

sexta-feira, 18 de junho de 2021

OLHAR AS CAPAS


Vencer!

Roger Martin du Gard

Tradução: Maria Lamas

Círculo de Leitores. Lisboa s/d

Mais uma vez, avalia a que ponto o mal-entendido é irremediável, a que ponto são e continuarão a ser dois. Talvez ele não tenha culpa… Mas que parte cabe também ao outro!

O automóvel ronca em frente da porta.

Como um autómato, André desce a escadaria.

Encostado ao carro, muito direito, recebe o beijo de adeus; depois fecha a porta:

- Vá…

Maquinalmente, diz a meia voz:

- Eis-me sòzinho!

Levantar-se-á sozinho: sentar-se-á sozinho à mesa, sòzinho…

Voltará da herdade; onde está ela?... Na sala, ninguém; no quarto, ninguém…

-Sòzinho!

Sente-se pregado ao fim da escadaria por um indivisível terror de viver. A porta de entrada aberta como um túmulo.

Ergue os olhos para a casa vazia…

Maria, curiosa, debruçada da janela da senhora, segue com os olhos o automóvel que desce a avenida.

A MELANCOLIA DO FIM

9 de Setembro de 1974

 Depois do almoço, dou o «digestivo» até ao café do Zé para tomar a beberagem e ler os jornais. Gosto do sossego do café, do largo provinciano que ladeio até lá e me lembra certos versos de Saul Dias. Mas hoje reparei que de um lado e de outro do caminho, através dos pinhais, as moradias estavam fechadas. O Outono já. Ouço os meus passos sobre a areia, olho em volta o silêncio de abandono. A presença oblíqua de quem partiu – nas portas fechadas, persianas corridas, jardins desertos. É o que dá a isto uma indivisível melancolia; a ausência de quem se foi. Não o vazio, mas o ter estado habitado. O espírito irradiante de um ser humano que esteve presente. Penso-o enquanto percorro o caminho silencioso. Os pinheiros imóveis, sem uma aragem, o céu nublado, entristecido de uma chuva que talvez venha. A melancolia do fim.

Vergílio Ferreira em Conta-Corrente Volume I 

quinta-feira, 17 de junho de 2021

OLHAR AS CAPAS


Perry Mason Resolve o Caso do Bígamo Assassino

Erle Stanley Gardner

Tradução. Fernanda Pinto Rodrigues

Capa: Lima de Freitas

Livros do Brasil, Lisboa s/d

Della Street, secretária particular de Perry Mason, tinha os olhos brilhantes de malícia e a mão direita atrás das costas.

- Bons-dias, Mr. Mason – cumprimentou.

O advogado levantou a cabeça da secretária, apercebeu-se do brilho do olhar da empregada, recostou-se na cadeira giratória e perguntou:

- Que temos agora?

- Preciso de umas informações.

- Dispare.

- Pode explicar-me o princípio em que se baseia o telefone e como é possível uma voz transformar-se em impulsos eléctricos, ser transmitida por um fio e voltar a transformar-se em sons audíveis, dando a impressão de chegar através do auscultador?

- Com certeza. Basta introduzir uma moeda na ranhura a isso destinada.

- Pode explicar-me porque é meio-dia em Nova Iorque quando são apenas nove horas em Los Angeles? – prosseguiu Della Street.

- Fácil! Os nova-iorquinos levantam-se três horas mais cedo.

- Vejamos se é capaz de responder, agora, a esta: como explica que, num dia quente, no deserto da Califórnia, seja possível olhar para as altas montanhas e Vê-las cobertas de neve?

A testa de Mason começou a franzir-se…

- Você é muito crescida para levar açoites e muito útil para ser despedida, mas se tiver a bondade de me dizer a que vem…

NOTÍCIAS DO CIRCO


Que o botas-de-santa-comba, no dia da inauguração do Estádio Nacional, tenha mandado  uns aviões despejar panfletos sobre os espectadores é uma coisa, mas que no século XXI tenhamos que ouvir o presidente da república, claro que é filho de um dos ministros do botas, dizer que temos é de nos focar no apoio à selecção de futebol é um escândalo, um desastre.

«Hoje é dia de futebol, e aqui estamos todos unidos em torno do futebol e, portanto, eu não vou agora estar a falar de outros temas, porque é desconcentrar o fundamental. Temos de estar focados, e estamos todos focados: o senhor primeiro-ministro, o senhor presidente da Assembleia da República, eu próprio, o senhor presidente da Federação Portuguesa de Futebol, os portugueses todos»

sexta-feira, 11 de junho de 2021

HÁ NOITES


Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.

Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto. 

Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.

 
Natália Correia 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

NOTÍCIAS DO CIRCO

Se não entendes, livra-te disso.


Diálogo de um filme de gangsters

terça-feira, 8 de junho de 2021

MANDIMBA METÓNIA VILA CABRAL


Infância triste mas encantada
Em casas grandes muito sombrias
Outras crianças não as havia
Os meus amigos? Dois grandes gatos
A luz o vento a água a água

Se alguém tocava velho e roufenho
O gramofone de manivela
Eu perturbava-me e a quem me via
Com lágrimas que não entendia

Havia festas de vez em quando
Eram janelas do paraíso
Lembro os adultos. Como eram estranhos
Como eram estranhos e imprevistos

Como eu sentia que não sei onde
Um outro reino de festa e luz
Inteiramente me pertencia
E só de longe naquelas casas
Naquela gente que me era fria
Muito por alto se reflectia

 

Alberto de Lacerda em Exílio

segunda-feira, 7 de junho de 2021

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


O cinema é a arte de pôr mulheres bonitas a fazer coisas bonitas, disse Jean Renoir, mas gosto mais da frase do François Truffaut: O cinema é fazer coisas belas a mulheres belas.

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Contracapa de A Questão Académica de 1907 de Natália Correia.

Este livro, oriundo da Biblioteca do meu pai, terá sido comprado num alfarrabista. Durante muitos anos, na meia tarde dos sábados, havia, mesmo que chovesse, visita aos alfarrabistas.


O livro tem uma dedicatória da escritora, a Carlos Cunha. Uma «homenagem» a um anónimo leitor/admirador da escrita ou da beleza de Natália Correia.

OLHAR AS CAPAS


 

A Questão Académica de 1907

Natália Correia

Prefácio: Mário Braga

Editorial Minotauro, Lisboa, 1962

Tentámos com o auxílio, tanto quanto possível fiel, da crónica dos acontecimentos reconstituir uma quadra agitada da vida académica nos meses que precederam o regicídio.

Fizemo-lo com a consciência de render à mocidade uma homenagem devida à sua decisiva importância no aceleramento das forças que decompõem e reorganizam as colectividades.

Se a trajectória da questão académica foi mesquinhamente contida pelo jogo de interesses que desencadeou, justo é reconhecer-se que no ímpeto que a lançou e durante o período mais brilhante da sua evolução, dela irradiou essa natural ciência da juventude que intui no lodo das sociedades o impulso do que nelas quer sobreviver.

UMA VOZ NA PEDRA


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

 

António Ramos Rosa, de Facilidade do Ar em Obra Poética Volume II


domingo, 6 de junho de 2021

SARAMAGUEANDO

13 de Agosto de 1993

Continuo a trabalhar no Ensaio Sobre a Cegueira. Após um princípio hesitante, sem norte nem estilo, à procura das palavras como o pior dos aprendizes, as coisas parecem querer melhorar. Como aconteceu em todos os meus romances anteriores, de cada vez que pego neste, tenho de voltar à primeira linha, releio e emendo, emendo e releio, com uma exigência intratável que se modera na continuação. É por isto que o primeiro capítulo de um livro é sempre aquele que me ocupa mais tempo. Enquanto essas poucas páginas iniciais não me satisfizerem, sou incapaz de continuar. Tomo como um, bom sinal a repetição desta cisma. Ah, se as pessoas soubessem o trabalho que me deu a primeira página de abertura de Ricardo Reis, o primeiro parágrafo do Memorial, quando eu tive de penar por causa do que veio a tornar-se em segundo capítulo da História do Cerco, antes de perceber que teria de principiar com um diálogo entre o Raimundo Silva e o historiador… E um outro segundo capítulo, o do Evangelho, aquela noite que ainda tinha muito para durar, aquela candeia, aquela frincha da porta…


José Saramago em Cadernos de Lanzarote Volume I


OLHAR AS CAPAS


 A Sagrada Família

Virgílio Martinho

Capa: Vitorino Martins

Colecção Palco nº 12

Moraes Editores, Lisboa, Outubro de 1980

Olímpia: Querida, o dinheiro e a cama sempre foram as molas reais duma contra-revolução vitoriosa. Se eu tratar da primeira, estás disposta a tratar da segunda?

Patrícia: Insinuas que me deite com os contra-revolucionários pouco estimulados? Não posso acreditar!

Olímpia: Não com todos, só com os chefes. Quando os fins são históricos há que fechar os olhos às conveniências, Patrícia.

sábado, 5 de junho de 2021

...E NADA ACONTECE

6 de Março de 1943

Há momentos nestes primeiros ensaios da primavera em que parece que é por um tris que a verdade última da vida não rasga o seu véu misteriosos e aparece toda nua diante dos olhos do mundo. Ou porque um pássaro acabou por encontrar o sítio para fazer o ninho, ou porque uma flor começou a abrir, ou por qualquer outra razão que se não vê, as árvores parram de mexer, as aves param de cantar, as águas param de correr, e um grande silêncio de espectativa pura paira na cósmica alegria de tudo. A natureza parece inteira em jejum de comunhão.

Mas os segundos passam, aquela tensão exaspera-se, começa a bulir uma folha, a trinar um melro, a murmurar uma fonte, e nada acontece.


Miguel Torga em Diário Volume II

OLHAR AS CAPAS


  

Que Pode a Literatura?

Depoimentos de Simone de Beauvoir, Yves Berger, Jean-Pierre Faye, Jean

                            Ricardou, Jean-Paul Sartre, Jorge Semprum

Direcção da colecção de Urbano Tavares Rodrigues

Colecção Polémica nº 3

Editorial Estampa, Lisboa, Novembro de 1968

Ao ouvir os vários autores que falaram antes de mim ia pensando para comigo que teria sido melhor substituí-los por leitores. Antes de mais, porque todos eles, sendo romancistas, se esqueceram de que a literatura não é feita exclusivamente de romances; há também os ensaios, por exemplo, e será muito difícil não os integrar na literatura…

Nesse caso para onde irão os belos sonhos de morte de que ouvimos falar há pouco? Isso é outro problema.

Em segundo lugar preferia que fossem os leitores a falar porque a literatura é comunicação, coisa que foi completamente esquecida aqui, com excepção de dois defensores da literatura de compromisso.

Em terceiro lugar porque os leitores, al falarem, teriam conferido às palavras a sua função de signo.

REVOLUÇÃO


Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação



Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 4 de junho de 2021

TRAGÉDIA DE NÃO SABER...

7 de Janeiro de 1967

Passo de novo os meus dias com a sensação de «perder tempo», agravado agora pela tragédia de não saber como «ganhá-lo».

José Gomes Ferreira em Dias Comuns Volume II

FÓRMULA MÁGICA


Estou mais forte, pára

pára de atormentar-me, estou mais forte, agora, pára,

tu que querias devorar-me, pára,

estou mais forte, pára,

tenho uma poderosa magia agora, pára,

já não podes dominar-me, pára,

estou mais forte, pára,

tenho uma poderosa magia, estou mais forte, pára,

pára, estou mais forte agora, forte, forte, pára.

 

América do Norte, Iroqueses, versão de Herberto Helder, em Rosa do Mundo

quinta-feira, 3 de junho de 2021

DESCANSAR NAS FÉRIAS

Explicava um amigo meu que nunca ia de férias para parte nenhuma porque precisava de descansar nas férias, ver outras caras, outros lugares. Ficava, por isso, na cidade em Agosto. Porque a cidade em Agosto é outro lugar, outra cidade, transfigurada, lavada, habitada por outra gente, tranquila e preguiçosa. A cidade mesquinha e frenética de todos os dias do ano transfere-se para o Algarve e para o sul de Espanha com a sua ansiedade, as suas correrias, os seus vícios, as suas imundícies, as disputas dos lugares de estacionamento, as bichas, as maledicência. As águas da cidade páram então. A meio do mês estão praticamente limpas e transparentes e podem ser bebidas em longos haustos de renovada felicidade.

 

Manuel António Pina em Crónica, Saudade da Literatura

SINTRA


As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.

Luís Miguel Nava em Poesia

quarta-feira, 2 de junho de 2021

PRAZERES QUE MATAM!


 Ritz foi a marca dos últimos cigarros que o meu pai fumou.

Um dia, apanhou um susto, colocou o maço de lado e nunca mais lhe tocou.

O gesto permitiu-lhe viver mais uns anos do que aqueles que não teria vivido, se não cortasse com os cigarros.

O velhote que vendia os livros da Colecção Vampiro ao meu pai, morreu antes dele. As causas da morte não fizeram parte das conversas do bairro.

Há uns 20 anos Nicolau Santos escreveu este texto:

«Não sou fumador. Mas detesto que outros escolham o que é bom para mim. E o que a Lei do Tabaco vem criar, na senda do fundamentalismo americano que atravessou o Atlântico e chegou à Europa, é uma sociedade de delatores e um grupo social de párias. De delatores, porque os cidadãos são incentivados a denunciar aqueles que fumam em espaços onde tal será proibido, se não o fizerem de moto próprio, os respectivos proprietários. De párias, porque são tratados como um grupo que tem de ser erradicado da sociedade. Não há produto sobre o qual, na Europa e nos Estados Unidos, mais campanhas têm sido feitas, a explicar os seus malefícios. Haverá muito poucos cidadãos europeus, com mais de 18 anos, que não saibam que o tabaco pode provocar cancro, impotência e outras doenças. Mas, dito isto, deixem-nos exercer o nosso direito a decidir. Deixem-nos escolher se queremos ir a um restaurante onde se pode fumar ou não. Deixem-nos escolher se comemos chouriços e morcelas ou alimentos vegetarianos. Deixem-nos andar a uma velocidade decente nas estradas e não a uns irracionais 120 km/h. Deixem-nos assar sardinhas no carvão, matar o porco nas aldeias, ir a touradas. Dêem-nos toda a informação. Mas não escolham por nós o que devemos fazer. Só assim teremos uma sociedade responsável e não um grupo de mentecaptos acéfalos, prontos a obedecer sem pensar ao primeiro tiranete que subir ao palco.»

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Este livro de Agatha Christie fazia parte da biblioteca do meu pai e ao seu comprador custou 20 escudos, o que em moeda nos dias de hoje seriam 10 cêntimos.

Eu digo o seu comprador porque não foi o meu que o comprou no estado de novo.

Numa esquina da Praça Paiva Couceiro, um velhote vendia livros em 2ª mão. Era aí que o meu pai, já reformado, se abastecia de livros da Colecção Vampiro. Ficava perto de casa e ajudava o velhote a ganhar uns tostões, para além de lhe dar uns cigarritos «Ritz».

Não sei a que preço os livros eram vendidos porque o meu pai, a tal gentileza para com o velhote, pagava-os a cinco escudos cada um.

Saía de casa pela manhã, bebia o café no «Chaimite», duas ou três cigarradas, e depois chegava a casa com um saco de plástico cheio de livros da Vampiro.

OLHAR AS CAPAS


Cartas na Mesa

Agatha Christie

Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues

Colecção Vampiro nº 324

Livros do Brasil, Lisboa s/d

- Meu caro Monsieur Poirot!

Era uma voz suave, ronronante, uma voz utilizada deliberadamente como instrumento e que não tinha nada de imprevisto nem de não premeditado.

Hercule  Poirot virou-se, inclinou a cabeça e apertou cerimoniosamente a mão a quem o interpelara. Havia nos seus olhos um não sei quê fora do vulgar, como se aquele encontro casual despertasse nele uma emoção que raramente tinha ensejo de sentir.

- Meu caro Mr. Shaitana!

O QUOTIDIANO «NÃO»


Estamos todos bem servidos
de solidão.
De manhã a recolhemos
do saco, em lugar de pão.

Pão é claro que temos
(não sou exageradão)
mas esta imagem do saco
contendo um pequeno «não»

não figura nesta prosa
assim do pé para a mão,
pois o saco utilizado,
que pode ser o do pão,

recebe modestamente
a corriqueira fracção
desse alimento que é
tão distribuído, tão

a domicílio como
o leite ou o pão.
Mas esse leitor aí
(bem real!) já diz que não,

que nunca viu no tal saco
o tal «não».
Ao que o poeta responde,
sem maior desilusão:

– Para dizer a verdade,
eu também não…
Mas estava confiante
na sua imaginação

(ou na minha…) e que sentia
como eu a solidão
e quanto ela é objecto
da carinhosa atenção

de quem hoje nos fornece
o quotidiano «não»,
por todos os meios, desde
a fingida distracção,

até ao entre-parêntesis
de qualquer reclusão…

Alexandre O´Neill de Abandono Vigiado em No Reino da Dinamarca

terça-feira, 1 de junho de 2021

UMA VIDA DE CÃO

20 de Junho de 1967

Diz-se que o homem são é o homem adaptado. Mas quem pode adaptar-se ao fascismo senão renegando a sua condição de homem? Quando comecei a fazer clínica na minha vila natal, pressionado por um casamento «precoce» para as realidades burguesas e pela cegueira do meu Pai, bem que tentei adaptar-me! Qual foi o resultado? Levei uma vida de cão, mal ganhando para viver, acorrendo de dia e de noite a quantos pobretanas não tinham outro que lhes acudisse. Logo fui um cachorro branco em ninhada de pretos. Quem precisava, abusou; quem não precisava, perseguiu. Era lá possível que alguém se atrevesse a calcar o risco do cálculo e da hipocrisia.

Mário Sacramento em Diário

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...

 


Os jacarandás já florescem em Lisboa.

Na rotunda das Olaias, há uns tímidos jacarandás, mas gosto de os olhar.

Os melhores locais para, em Lisboa, olhar a beleza dos jacarandás são:

o Largo do Rato, a Avenida D. Carlos I,  a Avenida da Torre de Belém, o Parque Eduardo VII,  e o melhor que havia era visitar a Feira do Livro e olhar a beleza dos jacarandás, mas este ano a Feira só abre portas em Agosto.

Ou este poema do Eugénio de Andrade:

«São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas – irmão dos pássaros –,
perder-me no ar.»

1.

Vivemos em pandemia.

A todo o instante dizem-nos que estamos a melhorar, logo a seguir há quem diga que não é bem assim.

 Já há muito sei que não voltarei à vida que tinha.

2.

O governo, faça o que fizer, leva porrada.

Na esmagadora maioria põe-se a jeito…

Há ali gente que nem um clube de bairro saberia dirigir.

O lobby futebolístico uefeiro & Cª Lda,  impôs que a final da «champions» deveria realizar-se no Porto. O papa azul-dragão disse que iriam dar uma lição à malta de capital que, com festa de campeão do Sporting, provocaram um caos. 

Afinal não aprenderam nada com o que acontecera em lisboa.

Marcelo não conseguiu resistir, também alfinetou o governo quando no ano passado era um sorriso aberto de regozijo pela final da da Champions se realizar em Lisboa e até tirou fotografia.

Há quem diga que o crime organizado há muito invadiu o futebol.

3.

Santos Populares.

No Porto, diz-se que vão acontecer festejos sanjoaninos.

Rui Rio não concorda.

Em Lisboa, diz-se que não existirão festejos santaantoninos.

Carlos Moedas não concorda.

Apenas 90 mil quilómetros quadrados.

O mesmo país?

4.

Com o dinheiro ganho com o pontapé na bola, Cristiano Ronaldo comprou, em Lisboa, o mais caro andar da cidade e arredores. 

O dinheiro é dele, faz o que muito bem  quiser.

A coisa embaraça-se quando no topo, sem autorização camarária, sem consulta aos restantes inquilinos do prédio, manda construir uma marquise.

O arquitecto do edifício sente-se chocado, Tomás Taveira, célebre arquitecto do burgo, considera que o espaço da marquise é vital para a profissão de Ronaldo.

Ainda não se sabe se a marquise será, ou não, demolida.

Revoltadas com as críticas à marquise, as irmãs de Cristiano, disseram aos jornas: «palhaçada de país!»

Será que já chegámos à Madeira?

5.

Como não há contabilidades para estas coisas, admite-se que ainda existam em Portugal cerca de 900 lares ilegais e isso manda-nos para uma população residente de 18 a 27 mil pessoas.

6.

Os lucros da Jerónimo Martins no 1.º trimestre de 2021 foram de 61 milhões de euros, mais 24 milhões do que o período homólogo de 2020.

7.

 A administração do Novo Banco vai receber um bónus de 1,86 milhões de euros, referente a um ano em que o banco deu prejuízos de 1.329 milhões.

A Assembleia da República proibiu o governo, no final de 2020, de emprestar mais dinheiro dos contribuintes ao Novo Banco. Para contornar o obstáculo, o executivo aprovou agora, em Conselho de Ministros, uma resolução que vai permitir ao Novo Banco receber uma nova injeção, desta vez de 429 milhões de euros, por parte do Fundo de Resolução.

8.

O número de imigrantes em Portugal é agora de cerca de 660 mil, mais setenta mil do que antes da pandemia. No primeiro trimestre deste ano, nasceram quase menos três mil bebés e temos que atentar no facto de uma boa parte destes nascimentos se verificarem entre a população migrante.

9.  

Até Março deste ano os consumidores portugueses gastaram mais 125 milhões de euros em supermercados, um aumento de 5,5% em relação a igual período do ano passado e as bebidas foram o sector com o maior crescimento, de 20,7%.

10.

Porque o saber mão ocupa lugar, li num texto do Manuel S. Fonseca que Rudyard Kipling pintava de vermelho as bolas de golfe para poder jogar nos dias de neve.