Ritz foi a marca dos últimos cigarros que o meu pai fumou.
Um dia, apanhou um
susto, colocou o maço de lado e nunca mais lhe tocou.
O gesto permitiu-lhe
viver mais uns anos do que aqueles que não teria vivido, se não cortasse com os
cigarros.
O velhote que vendia
os livros da Colecção Vampiro ao meu pai, morreu antes dele. As causas da morte
não fizeram parte das conversas do bairro.
Há uns 20 anos
Nicolau Santos escreveu este texto:
«Não sou
fumador. Mas detesto que outros escolham o que é bom para mim. E o que a Lei do
Tabaco vem criar, na senda do fundamentalismo americano que atravessou o
Atlântico e chegou à Europa, é uma sociedade de delatores e um grupo social de
párias. De delatores, porque os cidadãos são incentivados a denunciar aqueles
que fumam em espaços onde tal será proibido, se não o fizerem de moto próprio,
os respectivos proprietários. De párias, porque são tratados como um grupo que
tem de ser erradicado da sociedade. Não há produto sobre o qual, na Europa e
nos Estados Unidos, mais campanhas têm sido feitas, a explicar os seus
malefícios. Haverá muito poucos cidadãos europeus, com mais de 18 anos, que não
saibam que o tabaco pode provocar cancro, impotência e outras doenças. Mas,
dito isto, deixem-nos exercer o nosso direito a decidir. Deixem-nos escolher se
queremos ir a um restaurante onde se pode fumar ou não. Deixem-nos escolher se
comemos chouriços e morcelas ou alimentos vegetarianos. Deixem-nos andar a uma
velocidade decente nas estradas e não a uns irracionais 120 km/h. Deixem-nos
assar sardinhas no carvão, matar o porco nas aldeias, ir a touradas. Dêem-nos
toda a informação. Mas não escolham por nós o que devemos fazer. Só assim
teremos uma sociedade responsável e não um grupo de mentecaptos acéfalos,
prontos a obedecer sem pensar ao primeiro tiranete que subir ao palco.»
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