quarta-feira, 2 de junho de 2021

PRAZERES QUE MATAM!


 Ritz foi a marca dos últimos cigarros que o meu pai fumou.

Um dia, apanhou um susto, colocou o maço de lado e nunca mais lhe tocou.

O gesto permitiu-lhe viver mais uns anos do que aqueles que não teria vivido, se não cortasse com os cigarros.

O velhote que vendia os livros da Colecção Vampiro ao meu pai, morreu antes dele. As causas da morte não fizeram parte das conversas do bairro.

Há uns 20 anos Nicolau Santos escreveu este texto:

«Não sou fumador. Mas detesto que outros escolham o que é bom para mim. E o que a Lei do Tabaco vem criar, na senda do fundamentalismo americano que atravessou o Atlântico e chegou à Europa, é uma sociedade de delatores e um grupo social de párias. De delatores, porque os cidadãos são incentivados a denunciar aqueles que fumam em espaços onde tal será proibido, se não o fizerem de moto próprio, os respectivos proprietários. De párias, porque são tratados como um grupo que tem de ser erradicado da sociedade. Não há produto sobre o qual, na Europa e nos Estados Unidos, mais campanhas têm sido feitas, a explicar os seus malefícios. Haverá muito poucos cidadãos europeus, com mais de 18 anos, que não saibam que o tabaco pode provocar cancro, impotência e outras doenças. Mas, dito isto, deixem-nos exercer o nosso direito a decidir. Deixem-nos escolher se queremos ir a um restaurante onde se pode fumar ou não. Deixem-nos escolher se comemos chouriços e morcelas ou alimentos vegetarianos. Deixem-nos andar a uma velocidade decente nas estradas e não a uns irracionais 120 km/h. Deixem-nos assar sardinhas no carvão, matar o porco nas aldeias, ir a touradas. Dêem-nos toda a informação. Mas não escolham por nós o que devemos fazer. Só assim teremos uma sociedade responsável e não um grupo de mentecaptos acéfalos, prontos a obedecer sem pensar ao primeiro tiranete que subir ao palco.»

Sem comentários: