quarta-feira, 30 de junho de 2021

UM CERTO GOSTO PELO RECATO


Fernando Pessoa sentia-se fácil de definir.

«Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas – a da minha nascença e da minha morte»

Assim como Milan Kundera, escritor que nunca me despertou interesses por aí além, talvez uma insustentável ignorância minha ou qualquer tique a lembrar preguiça…

Numa crónica recente, Pedro Mexia lembrava que sempre teve uma certa admiração pela lacónica nota que acompanha os seus livros:

«Nasceu na Checoslováquia. Em 1975, instalou-se em França».

Por ele os autores de biografias e autobiografias, teriam de arranjar outros meios de subsistência.

«Nem bibliografia, nem elogios, nem outras datas, apenas duas coordenadas. Kundera é um daqueles escritores que acreditam que não há nada de relevante a dizer numa nota biográfica, muito menos numa biografia, porque tudo o que importa vem nos livros. E avisa que nem sequer o “eu” dos livros é o “eu” empírico: “impor o nosso eu aos outros é a versão mais grotesca da vontade de poder.”»

1 comentário:

Seve disse...

Olha que coincidência - é que eu também nunca "engracei" com este Kundera, li duas ou três páginas do Insustentável e arrumei...