Explicava um amigo meu que nunca ia de férias para parte nenhuma porque precisava de descansar nas férias, ver outras caras, outros lugares. Ficava, por isso, na cidade em Agosto. Porque a cidade em Agosto é outro lugar, outra cidade, transfigurada, lavada, habitada por outra gente, tranquila e preguiçosa. A cidade mesquinha e frenética de todos os dias do ano transfere-se para o Algarve e para o sul de Espanha com a sua ansiedade, as suas correrias, os seus vícios, as suas imundícies, as disputas dos lugares de estacionamento, as bichas, as maledicência. As águas da cidade páram então. A meio do mês estão praticamente limpas e transparentes e podem ser bebidas em longos haustos de renovada felicidade.
Manuel António Pina em Crónica, Saudade da Literatura
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