sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS IDOS DE OUTUBRO DE 1974


16 a 31 de Outubro

A F.N.L.A, único dos movimentos emancipalistas armados angolanos que mantinha uma actividade militar efectiva, ordenou a todos os combatentes o cessar-fogo.
Agostinho Neto:
O povo angolano já conquistou através de 13 anos de luta heroica o direito à sua independência.

OS TRABALHADORES do Jornal do Comércio, empresa do Grupo Borges & Irmão, terminaram a greve, iniciada há 33 dias, quando a administração recusou negociar o caderno reivindicativo então apresentado e no qual se exigia o saneamento do director do jornal, Carlos Machado.
Entretanto, em consequência da intentona de 28 de setembro, as autoridades militares passaram um mandato de captura contra Carlos Machado, o que levou a administração a reconsiderar a sua posição.

O PRESIDENTE Costa Gomes discursa perante a Assembleia Geral da ONU no dia 17:
Não mais admitiremos trocar a liberdade de consciência colectiva por sonhos grandiosos de imperialismo estéril.

PROJECTO DE Lei Eleitoral:
- Direito de voto aos 18 anos e para emigrantes.
- Não podem ser eleitores os indivíduos comprometidos em organizações antidemocráticas.

- Obrigatório e oficioso o recenseamento.


COM A PRESENÇA do Ministro da Justiça, Salgado Zenha, de representantes dos partidos políticos, de muito povo, a Ponte Salazar passou a chamar-se Ponte 25 de Abril.

SEIS MESES volvidos sobre o 25 de Abril.

O Diário de Notícias perguntou a uma série de personalidades:

Que pensa destes seis meses decorridos desde o 25 de Abril?

Respigaram-se estes:

Ilse Losa:
Duma maneira geral, no País e no estrangeiro tinha-se o povo português como pachorrento, passivo e desalentado. Durante quase meio século dominado por um grupelho poderoso que não se dignava dar-lhe a mínima satisfação sobre as medidas tomadas e o dinheiro gasto, parecia, de facto, alheio o seu próprio destino. Eis que em 25 de Abril, a mais humana revolução desde sempre, fez estalar a casca da indiferença e de aparente adormecimento, e surge-nos um povo decidido a provar que se conservou vivo apesar de tudo e de todos.
José Augusto França:
É claro que há gente que não tinha e ainda não tem vergonha – e muito há fazer em todas as frentes, da cultura à economia, para evitar enganos de governo, mal-entendidos de partidos, e, numa história que corre veloz, perdas de tempo. Após estes seis meses, há que ganhar sem descanso outros meses e outras batalhas que hão-de vir. A revolução de 25 de Abril é um facto da civilização e, portanto, um facto moral.
José Cardoso Pires:
Nestes seis meses vivemos mais do que em vinte anos.

Luzia Maria Martins:

Quantos anos serão necessários para que surja essa nova sociedade ansiada pela maioria? Não me atrevo a fazer previsões neste campo. Creio que já é importante que estejamos a caminhar para ela. E  estes seis meses têm sido uma experiência notável, e, na sua generosidade, muito positiva.

Paulo Quintela:

O meu ofício é estudar poetas e transmitir-lhes a mensagem. Ora, os poetas, em momentos altos, são também profetas. Um deles, e dos maiores e mais castigados pelas desgraças do nosso século, Bertolt Brecht, deixou-nos estes versos que agora entrego à vossa meditação, como «vademecum» de todo o homem que quer ser livre e quer ajudar a construir um mundo de justiça e de razão:

De que Serve a Bondade

I

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

II

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio! 


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Portugal Hoje, edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo.

SEM QUALQUER PONTA DE VERGONHA!...


 O Presidente da República anunciou que vai condecorar o presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços “de extraordinária relevância” para Portugal e União Europeia.

No dia em que Durão Barroso termina o segundo mandato como presidente da Comissão Europeia, Pedro Passos Coelho classificou o trabalho feito como “um símbolo do compromisso do sistema político-partidário português com o projeto europeu” e destacou “a defesa firme da estabilização da Zona Euro”.

Dos jornais

Legenda: imagem do Expresso.

EH, PÁ, VOCÊS DEVIAM ERA FECHAR A NOITE



                                        Keith Richards em Life


OLHARES


É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


Recorte de um anúncio do Diário de Notícias s/d e roubado do nº 25, Outubro de 1974 da revista & etc, uma folheca cultural q.b. dirigida por Vitor Silva Tavares,

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

OLHAR AS CAPAS


Os Facilitadores

Gustavo Sampaio
Capa: Compañia
Esfera dos Livros, Lisboa, Outubro de 2014

Realidades distintas no interior de consórcios de advocacia por onde confluem, num fluxo aparentemente contínuo, os interesses dos maiores grupos económicos e financeiros, os grandes negócios com ou sem epicentro no Estado e os mais influentes ex-políticos. Ou até políticos no activo, em regime de acumulação. A própria bastonária da Ordem dos Advogados, Elina Fraga, em entrevista ao jornal Expresso (edição de 7 de Dezembro de 2013), aparenta reconhecer o fenómeno:
- Já visou que um dos seus combates será contra os lobbies dos grandes escritórios de advogados. Por que razão?
- O lobbying não é uma actividade ilícita. Mas utilizam-se as influências para alterar as leis, muitas vezes em função dos interesses privados. Deve ser incompatível o exercício da advocacia com as funções de deputado. Não se pode legislar de manhã e atender à tarde um cliente que foi favorecido com essa lei.
- Tem casos concretos?
- Digamos que há vírgulas que desparecem e têm um grande impacto nas leis.

POSTAIS SEM SELO


As fronteiras são a minha prisão.

Anna Marly

OS CROMOS DO BOTECO




Já há muito que não passava pelo Boteco.
Hoje, entre outras que a seu tempo aqui irei apresentar, esta preciosidade: um disco de Francis Peluffo,em homenagem a Carlos Gardel.
O cavalheiro dança?

CARINHOS REAIS


Tal como ficou prometido em AH!... AS ABÓBORAS!...

NOTÍCIAS DO CIRCO


Para a OCDE, em relatório há dias tornado público, Portugal deve continuar a melhorar a eficiência do sector público continuando a reduzir o número de funcionários públicos com vista a minorar o peso da despesa com salários.

Por outro lado, o relatório refere que apesar de o emprego público ter caído cerca de 8% desde 2012, ainda há excesso de funcionários em áreas específicas, como as forças de segurança e a educação.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

OLHAR AS CAPAS



Vietname
Antologia Poética

Coordenação e prefácio: Carlos Loures e Manuel Simões
Colecção Nova Realidade nº 12
Edição dos Coordenadores, Maio de 1970

Os Aviões

Na noite de luar o avião passa como um prodígio 
Rápido inofensivo e violento

Ele enche de clamor o sossego branco dos muros onde moro
Ele enche de espanto
O halo azul da noite exterior

Mas depressa passa o pássaro vibrante
De novo tomba a lua sobre as flores
E o cipreste contempla o seu próprio silêncio

Porém noutro lugar noutro silêncio
Bandos passaram em voos de terror
E a morte nasceu dos ovos que deixaram

A lua não encontrou depois as flores
Ninguém morava dentro dos muros brancos

E a noite em vão buscava o seu cipreste

CANÇÕES PARA O MEU PAI


Tendo começado com El Condor Pasa, faço hoje alinhamento para Where Have All The Flowers Gone?

Os créditos desta lindíssima canção são concedidos a Pete Seeger.

A luta contra a Guerra do Vietname, levada a cabo pelos americanos, também por outros os povos do mundo – estamos todos em guerra contra os Estados Unidos da América do Norte! - fez desta canção como de  We Shall Overcome, tantas mais, hinos de mote obrigatório em manifestações e concertos., contrariando os que diziam que cantar não era suficiente. Provavelmente, mas o silêncio é que nunca.


A música a corporizar o protesto, a ajudar à luta.

Nunca se pensou que a música podia não só parar uma guerra como começar a mudar o mundo. 

Cantar  nunca foi suficiente, mas ajuda mais do que todos os silêncios.

Ronald Reagan sobre o Vietnam: não foi uma má experiência, o que foi mau foi termos perdido a guerra.

Números do horror de uma guerra em nome da liberdade versão United States:  3 milhões de vietnamitas morreram, 2 milhões eram civis, 60 mil americanos perderam a vida, uma guerra que terá custado 220 mil milhões de dólares em que os dos Unidos gastaram 675 mil dólares para exterminarem um só guerrilheiro vietcong e continuam, por explodir milhares de toneladas de minas, bombas e obuses lançadas pelos americanos continuam por explodir.

Lyndon Johson, sentado na sala Oval da Casa Branca completamente perplexo por um bando de pigmeus armados de canivetes tivessem conseguido derrotar os Estados Unidos.

Nomes como o Kingston Trio, Joan Baez, Peter Paul and Mary, muitos mais, interpretaram. Where Have All The Flowers Gone?

A versão escolhida para a cassette do meu pai foi a de Peter Paul and Mary, LP da colecção de vinis  do Luís Miguel Mira.
 
Anos mais tarde conheci, numa das muitas antologias que vão sendo gravadas com as canções de Marlene Dietrich, a estupenda versão  que a Diva fez desta canção.

No tempo dessa descoberta, o meu pai já cá não estava para a conhecer, mas teria adorado, ele que tinha um especialíssimo béguin por Marlene Dietrich, pelo seu inenarrável fascínio.

Melhor dito: o fascínio pelas pernas de Marlene Dietrich.

Estas e outras pernas com que sempre sonhou, pernas que ele não tinha qualquer dúvida do que Marlene conseguia fazer com elas.

Marlene também não tinha.

Basta ver o Anjo Azul.

Foram estas as razões por agora, na cassette do meu pai, substituir a versão de Peter Paul & Mary então utilizada.

Para onde foram as flores, sim para onde foram.

Também os sonhos.


Legenda. f otografia de  Huynh Cong Ut da agência Associated Press que recebeu o Prêmio Pulitzer de 1973, correu mundo  e que retrata crianças – Crianças? Sim também os mortos são crianças - fugindo do rebentamento de bombas napalm sobre a aldeia.onde viviam.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

VELHOS DISCOS


Volto hoje aos meus velhos discos.
Não lembro bem qual a primeira canção que ouvi do Duo Ouro Negro.
Não sei se Garota, se Kurikutela.
Não interessa muito agora.
Estas são as canções deste LP:
Iliza Gomara Saiá - Kurikutela - Suliram - Menino de Braçanã - Mulowa - Minha Mulata - Livro Sem Fim - Maria Rita - Muxima - Au Revoir Sylvie - La Mamma - Garota - Singing My Song - Vou Levar-te Comigo.
Do disco escolhi Iliza Gomara Saiá, que é uma canção bem divertida, que me faz puxar logo pelo pezinho.

OLHAR AS CAPAS



Correspondência (1952-1978)

Jorge de Sena/António Ramos Rosa
Edição: Mécia de Sousa e Jorge Fazenda Lourenço
Colaboração: Agripina Costa Marques e Inês Espada Vieira
Guimarâes Editores, Lisboa, Outubro de 2012

Uma conversão radical se há-de dar, no meu corpo ou no meu espírito, ou em ambos, ou então a morte purificadora. O seu bom conselho de não me deixar devorar pela solidão e de tomar posse dela tem sido possível de certo modo, dentro das minhas fracas possibilidades, mas o que se impunha era uma matéria real em que essa posse não se volatizasse a todo o instante. Infelizmente a minha saúde não tem melhorado e, desprovido de meios económicos e qualquer assistência médica, estou simplesmente entregue a esta tensão desesperada de superação, a esta vontade de me salvar.

... E CONTO-TE A MINHA VIDA


«Paga-me um café e conto-te
a minha vida»

o inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro

outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu nunca choraste
por amores que se perdem

os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas?
e temos saudades desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois

«Pago-te um café se me contares
o teu amor»



Legenda: imagem de Masculine-feminime de Jean-Luc Godard, (1966)

QUERO LÁ SABER DO ESPECTÁCULO!


António Mega Ferreira, assumido benfiquista, um dos nomeados no editorial do jornal I de hoje, assinado por Luís Osório, gosta de ver os jogos sozinho para poder fazer figuras tristes à vontade, já que em matéria de futebol não se pode ser razoável.

Há longo tempo, à entrada do Estádio da Luz para um Benfica-Sporting o repórter da RTP perguntou ao actor Artur Semedo se esperava ir ver um bom espectáculo.

Semedo irritou-se e respondeu: quero lá saber do espectáculo! Quero é que O Benfica ganhe!


Tal com disse o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade: Bem aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.

QUOTIDIANOS


Anos da ditadura.

O escritor Manuel Mendes, sportinguista, José MagalhãesGodinho, benfiquista, eram amigos e assumidos e corajosos contestatários da ditadura do Estado Novo.

Sempre que o Benfica perdia, Manuel Mendes, com o seu peculiar arrastar de rr, telefonava a Magalhães Godinho.

- Como está, meu caro amigo, tudo bem consigo, e seguia-se o bla bla sobre a derrota vermelha.

Um dia, à porta da Bertrand, Magalhães Godinho encontra o Manuel Mendes e interpela-o:

- Oh! Manel, você é meu amigo?

- Oh! meu caro Zé, que raio de pergunta, então não sou seu amigo?

- Então se é meu amigo, nunca mais me telefone quando o Benfica perder…


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

QUE BONITA QUE LISBOA FICA!


Abro as janelas de par em par
E deixo a manhã entrar

E entram de rompante o Sol, o céu azul,
O Tejo, os cacilheiros,
Os velhos telhados da cidade
E a passarada amiga da vizinhança

E aquela esplêndida luminosidade outonal
Que tudo acalma
E que tudo pacifica.

Que bonita que Lisboa fica
Após uma boa derrota
Do Benfica…!



Luís Miguel Mira

A INCOMPETÊNCIA E A SABUJICE MERECEM CHORUDA RECOMPENSA


À boleia de O Tempo das Cerejas.

NOTÍCIAS DO CIRCO


Encerramento das jornadas parlamentares da maioria PSD/CDS.

Discurso de Pedro Passos Coelho.

Virou-se contra os jornalistas e os comentadores.

Todos os comentadores e jornalistas podem olhar para os números e saber o que eles dizem, afirmou, para logo lamentar: Pena que para neste exercício de coerência muitos sejam preguiçosos e às vezes orgulhosos. Têm-se dito no debate público inverdades como punhos.
Chega a ser patético verificar a dificuldade de gente que se diz independente tem de assumir que errou, que foi preguiçosa, que não leu, que não estudou, não comparou, que não se interessou, a não ser em causar uma boa impressão de dizer ‘Maria vai com as outras’, o que toda gente diz porque fica bem.

Finalizou lembrando que o Governo recuperou a “credibilidade do país” e a “confiança dos agentes económicos”.

DIZER OLÁ AO OCEANO



Normalmente só tínhamos dinheiro para um cachorro-quente e uma Coca-Cola. Ele comia a maior parte do cachorro e eu a maior parte da chucrute.
Mas nesse dia tínhamos dinheiro suficiente para pedir tudo a dobrar. Atravessámos a praia para irmos dizer olá ao oceano, e eu cantei-lhe a canção «Coney Island Baby», dos Excellents. Ele escreveu os nossos nomes na areia.

Patti Smith em Apenas Miúdos

Legenda: Pôr-do-sol em Coney Island, fotografia de Frank Winters.

À LUZ DE CANDEEIROS

OLHAR AS CAPAS


Diários

Jorge de Sena
Introdução: Mécia de Sousa
Edições Caixotim, Lisboa, Outubro de 2004

Recebi uma carta do Margarido em que me pede colaboração para uns cadernos que pensa publicar com o Egito Gonçalves. Como hei-de dar a uns e recusar a outros? – E quando é que a vida me permitirá que trabalhe em obra e não em traduções e artigos para ganhar dinheiro mísero, não perder contacto e justificar a oferta de alguns livros que não posso comprar.

UM PEDAÇO DE NATUREZA ARRUINADA


Manuel: «Salazar, depois de cair da cadeira, era um tirano deposto e impotente. Mas não o sabia. O governo ia a despacho, a recado, fingia que atendia as suas instruções, uma farsa ignóbil, que, apesar de tudo, o Salazar não merecia. Desrespeitaram-no pensando que, mentindo, o respeitavam. Como Lear, ele era “um pedaço de natureza arruinada”. Porém, era um destroço que ainda infundia terror.»

Baptista-Bastos em O Cavalo a Tinta-da-China.

Legenda: fotografia tirada do Público Magazine, 12 de Março de 1995

domingo, 26 de outubro de 2014

AINDA A GRANDE FARSA


Tempo de voltarmos a mais um episódio da grande farsa que foram os últimos anos de Salazar.

O anterior episódio verificou-se pelos 80 anos do ditador.

A 26 de Outubro de 1969 realizava-se a eleição de deputados para a Assembleia Nacional.

Marcelo Caetano, a 24, através da Rádio e Televisão dirige-se ao país.


São estas as palavras finais da comunicação:


A encenação montada à volta de um Salazar moribundo, chegou ao ponto de o levarem a depositar o seu voto na urna.

A fotografia acima mostra Salazar no carro que o levará à assembleia de voto.

No mesmo banco do carro, uma enfermeira e a governanta Maria.


O Notícias de Portugal reproduz uma outra fotografia com a legenda:

O Presidente Salazar também votou.

Ficam os títulos dos jornais no dia seguinte às eleições:

Diário de Notícias:

O Primeiro Grande Resultado da Eleição de Ontem:

Vitória do Civismo.

Afluência record e ordem Completa.

A Oposição Não Consegui Vencer em Nenhum dos Círculos em que se Apresentou e a Assembleia Nacional Será Constituída pelos Deputados que Eram da União Nacional.

O Século:

A Expressiva Vontade da Nação:

«Sim» ao Prof. Marcelo Caetano

Diário da Manhã:

Esmagadora Vitória da Nação Sobre as oposições Ditas Democráticas.

Legenda:

a    Fotografia retirada da Vida Mundial, nº 1625 de 31 de Julho de 1970
b       Fotografia retirada do Notícias de Portugal nº 1174 de 1 de Novembro de 1969. 

OLHAR AS CAPAS


Salazar, Deus, Pátria, Maria
Peça em um acto, dividido em três cenas
                                           
Maria do Céu Ricardo
Prefácio: Fernando Rosas
Posfácio: Fernando da Costa
Capa: António Sapinho
Notícias Editorial, Lisboa, Novembro de 1997

- Sou para aqui uma coisa, Maria para isto, Maria para aquilo…, passei a vida a servi-lo, sempre à espera, sempre na sombra, a apaparicá-lo… (Pausa)
- Sempre a pensar que talvez um dia, quem sabe, ele olhasse para mim para me ver… Não para me dar ordens, olhasse para mim como ele olha outras mulheres, com outra delicadeza no olhar… Ora!
(Afasta o pensamento com a mão.)
- A verdade é que nunca pensei que ele um dia deixasse o governo, habituei-me a vê-lo sempre no poder. Não é o que vem nos livros? «Quem manda? Salazar! Salazar! Salazar!». Até que apareceu aquele general a fazer ameaças. (Imita): «Se eu for eleito, demito-o!? (Repete para si.) – se eu for eleito demito-o!? Olha que é preciso não ter vergonha… (Pausa.) Bem, também é preciso ter coragem…! (Pausa) – Mas, se ele o demitisse?
(Vai preparar o tabuleiro.)
- Falámos disso tanta vez, tanta vez, e ele, que não me ralasse, que nada me iria faltar, que tinha umas terras, e com as minhas economias…
(A chaleira apita. Vai apagar o lume.)
- Quem me comeu a carne, que me roa também os ossos! (Pausa.) – Trinta e três anos a servi-lo, trinta e três anos a fio, desde a Casa dos Grilos (começa a partir o pão para as torradas.) Comi o pão que o diabo amassou.

PORQUE HOJE È DOMINGO


No dia 30 deste mês, na Sala Félix Ribeiro da Cinemateca, pelas 15,30 horas, é exibido O Dia Mais Longo.
Eu sei que são 174 minutos de duração, mas por nada o irei perder.
Bom domingo!


THE LONGEST DAY
O DIA MAIS LONGO
de Ken Annakin, Andrew Marton, Bernhard Wicki
com John Wayne, Rod Steiger, Robert Ryan, Peter Lawford, Henry Fonda, Robert Mitchum, Sean Connery
Estados Unidos, 1962 - 178 min
legendado em português | M/12

Um dos melhores épicos sobre a Segunda Guerra Mundial, com um elenco de luxo (numeroso e impressionante). THE LONGEST DAY reconstitui, em Cinemascope, os acontecimentos da invasão da Normandia a 6 de junho de 1944. Óscar para melhores efeitos especiais e melhor fotografia.

sábado, 25 de outubro de 2014

A CATEDRAL




No dia 25 de Outubro de 2003 foi inaugurada a Catedral da Luz.



QUERO-TE



O cangalheiro culpado suspira
O tocador de realejo solitário chora
Os saxofones de prata dizem que devia rejeitar-te
Os sinos rachados e os trompetes deslavados
Sopram no meu rosto com desdém
Mas não é assim
Não nasci para te perder

Quero-te, quero-te
Quero-te tanto
Querida, quero-te

O político ébrio dá saltos
Na rua onde as mães choram
E os salvadores ferrados no sono, eles esperam por ti
E estou à espera que ma façam parar
De beber da minha chávena partida
E me peçam que
Abra o portão para ti

Quero-te, quero-te
Quero-te tanto
Querida, quero-te

Como todos os meus antepassados, eles soçobraram
Têm vivido sem verdadeiro amor
Mas todas as filhas deles me rejeitam
Porque eu não penso assim

Bem, volto para a Rainha de Espadas
E converso com a minha criada de quarto
Ela não sabe que não receio olhar para ela
É boa para mim
E não há nada que ela não veja
Ela sabe onde eu gostaria de estar
Mas não importa

Quero-te, quero-te
Quero-te tanto
Querida, quero-te

Ora o teu filho dançarino com o seu traje chinês
Falou comigo, tirei-lhe a flauta
Não, não fui muito queridinho para ele, pois não?
Mas eu fiz isso, porém, porque mentiu
Porque te enganou
E porque o tempo estava do lado dele
E porque eu…

Quero-te, quero-te
Quero-te tanto
Querida, quero-te

Bob Dylan

Canção do álbum Blonde onBlonde (1966)

Bob Dylan em Canções Volume I (1962-1973) Relógio D’Água, Lisboa Setembro de 2006.

POSTAIS SEM SELO


Há coisas que se conhecem e coisas que se desconhecem; entre as duas existem portas.


Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

NOTÍCIAS DO CIRCO




De acordo com a síntese da execução orçamental, publicada esta sexta-feira pela Direção-Geral do Orçamento, nos primeiros nove meses do ano, o Estado pagou à "troika" 1.566,8 milhões de euros em juros e 17,7 milhões em comissões.

DO BAÚ DOS POSTAIS


A SEGUNDA PARTE COMPLETA MUITO BEM A PRIMEIRA...


Tal como ficou prometido em AH!... AS ABÓBORAS!...

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ONDE É QUE EU JÁ VI ESTE FILME?


O informe vem no Diário de Notícias de hoje:

 Manuel Valls já tinha sugerido a mudança no nome do Partido Socialista Francês em 2007 e 2011.

A proposta não fez caminho mas abriu a discussão no seio dos socialistas franceses.

Em converseta com os jornais lá do sítio, o primeiro-ministro francês, volta ao assunto para dizer que é preciso acabar com a esquerda saudosista, agarrada ao passado. O primeiro passo é abri-la às forças do centro e tirar o "socialista" do nome ao seu partido.

Tirar é uma maneira de falar.

Alguns partidos, ditos como tal, nunca foram socialistas.

Tratou-se de um embuste.

Sempre foram sociais-democratas e as voltas que, entretanto a social-democracia, já não sofreu.

Provavelmente, cá pelo pedaço, já existem condições para discutir o , mas ainda há alguma tinta fresca.

Será um dia…

Em Julho de 1977, Jean-Pierre Chavenement, durante o Congresso do Partido Socialista Francês, propõe que o lema do partido seja:

Nem perecer como no Chile, nem trair como em Portugal.



Em Fevereiro de 1984 o descabelado do Vasco Pulido Valente dizia que o PS se transformou no maior e mais eficaz partido da direita portuguesa.


Em 6 de Março de 1988, o mesmo Pulido Valente, declara num , publicado em O Independente:

O Partido Socialista nunce existiu!

José Saramago em Outubro de 1996:

Os partidos chamados socialistas deixaram de ser esquerda. É melhor assumir essa realidade. Não vale a pena continuar com uma ficção que é a de julgar que os partidos socialistas ainda são esquerda. Já não são esquerda, são centro. É o centro de que o tempo em que vivemos hoje necessita.

Fernando Piteira Santos sempre manifestou a sua coeência com a ideologia marxista.

A mando de Mário Soares, alguém perguntou-lhe

- Por que é que não filias no Partido Socialista?

Piteira Santos respondeu:

- Porque sou socialista!

Legenda: tempo do champanhe, para a posteridade, no final da reunião em Bad Munstereifel, que transformou a Acção Socialista Portuguesa no chamado Partido Socialista: 20 votos a favor, sete contra.

MARCADORES DE LIVROS


QUOTIDIANOS



Diário de Notícias, 1 de Abril de 1899.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

MAIS DE DUZENTAS E CINQUENTA GUITARRAS DEPOIS



Mais que Mick Jagger, os Rolling Stones são Keith Richards.

Já havia histórias avulsas, mas a leitura de Life permite concluir que Jagger era um mero e vaidoso adereço.

Keith provém de uma família de músicos e não perdeu a oportunidade de seguir os mesmos caminhos.

Gus &Eu, conta a história em que Keith, por obra e graça do avô abraça a sua primeira guitarra.

Deitava-me com ela e envolvia-a nos braços.

Theodore Augustus Dupree, mais conhecido por Gus, avô de Keith, sabia tocar piano e fazer virar um violino, soprar no saxofone e dedilhar uma guitarra. Ele tinha sido soldado, padeiro, e líder de uma banda de jazz.

Quando entendeu chegada a hora, ensinou Keith a fazer acordes e deu-lhe como trabalho de casa Malagueña, uma peça de Ernesto Lecuona.

Gus achava que Malagueña constituía a base perfeita para aprender a tocar guitarra porque faz uso de uma técnica de dedilhado que contribui de forma crucial para desenvolver o tom do guitarrista.

Tempos depois, Gus disse ao neto:


E começou a magia.

Quando lhe disseram que o quinto neto vinha a caminho, Keith, ou alguém por ele, entendeu que era a altura de, em livro, render  homenagem ao Gus e assim nasceu Gus &Eu.

Aquele abraço especial entre os netos e os avós é único e merece ser preservado. Esta é a história de um desses momentos mágicos. Que eu possa ser um avô tão incrível como Gus foi para mim.

O livro é brilhantemente ilustrado por Theodora, uma das filhas de Keith Richards.

Gus &Eu é uma história comovente, um livro belíssimo.

Com Gus, nunca se sabia onde íamos parar.
Uma vez, ele fez-me subir até ao topo da Primrose Hill para ver as estrelas da noite.
- Não sei se conseguimos chegar a casa esta noite - disse-me o Gus. Por isso, dormimos debaixo de uma árvore no cimo da colina, com as estrelas no céu em cima e as luzes da cidade em baixo.

DITOS & REDITOS


No saber trabalhar, amar e sofrer, está a arte de bem viver.

Só o medo consegue a solidariedade dos homens.

Cagar d’alto.

A vida é caminhar com os outros.

De longe, as montanhas são azuis.

O vício é que educa.

Os começos são enigmas.

Depressa e bem não há quem.

OLHARES


Avenida Almirante Reis, Lisboa

A POESIA É FEITA CONTRA TODOS


Texto de Herberto Helder publicado no nº 25 de Outubro de 1974 da revista &etc.que foi uma folheca cultural q.b., dirigida por Vitor Silva Tavares.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

OLHAR AS CAPAS


Gus & Eu
A História do Meu Avô e da Minha Primeira Guitarra

Keirh Richards
Ilustrações de Teodora Richards
Tradução Maria da Fé Peres
Jacarandá Editora, Lisboa, Outubro de 2014

Um dia o Gus levou-nos a Londres e fomos à oficina de uma grande loja que vendia instrumentos musicais.
- Vamos dar aqui um salto. Preciso de comprar umas cordas
- Está bem, Gus,
Lá dentro aquilo parecia uma colmeia. O Gus pegou em mim e sentou-me numa prateleira para eu poder ver tudo.
Os violinos pendiam do teto, presos por arames. As trombetas suspendiam-se nas paredes.
Homens de batas castanhas e compridas consertavam instrumentos avariados e fabricavam outros.
Eu observava-os, debruçados sobre os violoncelos, os trobones e as trombetas.
Eles deitavam gotas de grude nos tambores e davam-lhe pancadinhas com martelos minúsculos.
Os homens afinavam as cordas das guitarras:
Dinka-plink dinga-plink
E os tambores:
Dok-dok fum-fum dok-fum
Os meus olhos seguiam uma fila de guitarras a serpentear em volta da sala numa correia transportadora.
E no meio de todas as coisas, grandes baldes a borbulhar de grude faziam
Blub, blub, blub.
Era algo mágico.
Sentado na prateleira eu via aquilo tudo.
E foi então ali mesmo, que me apaixonei pelos instrumentos.

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


Na Praça da Figueira existe o Hospital das Bonecas.
Na Rua Palmira nº 35-C encontramos o Hospital dos Candeeiros.
Restauração e venda de candeeiros antigos.
Existe também todo o tipo de abat-jours em louça e não só.

QUOTIDIANOS


Fui, com o desejo de aprender como é a América. E não estava certo de estar aprendendo fosse o que fosse. Descobri que estava a falar em voz alta para o Charley. Ele gosta da ideia, mas o processo faz-lhe sono.
- Aqui só para nós, vamos tentar o que os meus rapazes chamariam fazer as generalidades dançar o jazz. Vamos pôr-lhe títulos e subtítulos. Consideremos a comida, tal como a encontrámos. É mais que possível que nas cidades que atravessámos acossados pelo tráfego haja bons e famosos restaurantes com ementas deliciosas. Mas nos sítios onde se come ao longo das estradas a comida foi asseada, sem sabor, sem cor e de uma completa uniformidade. É quase como se os fregueses não tivessem interesse no que comem, conquanto que não tenha características  que os atrapalhem. Isso é verdade quanto a tudo excepto quanto aos pequenos almoços, que são uniformemente maravilhosos se comermos só bacon com ovos e batatas fritas. À beira das estradas nunca tive um jantar realmente bom nem um pequeno almoço realmente mau. O bacon ou as salsichas eram bons e acondicionados na fábrica, os ovos frescos ou conservados frescos pela refrigeração, e a refrigeração era universal.

John Steineck em Viagens com o Charley

Legenda: pintura de Edward Hopper

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

É A MINHA CANÇÃO


O que permanece na minha memória do final de 1968 é a expressão preocupada do Robert, a neve sempre a cair, as telas por pintar, e um certo alívio proporcionado pelos Rolling Stones. No dia do meu aniversário o Robert veio visitar-me sozinho. Trouxera-me um disco novo. Pousou a agulha sobre o lado um  e piscou-me o olho. Saiu de lá o «Sypaty for the Devil» e começámos os dois a dançar. «É a minha canção», dizia ele.

Patti Smith em Apenas Miúdos

POSTAIS SEM SELO



Adeus mulher sempre te quis bem
Adeus mulher sempre te quis bem sabes
Vou tomar o comboio de ver a Deus
Vou tomar o comboio que sai antes do teu
Mas cada um toma o comboio que pode.

Jacques Brel em Le Moribond

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

domingo, 19 de outubro de 2014

PORQUE HOJE É DOMINGO


Neste domingo de Verão Outonal a lembrança de Elvira Madigan, um filme de que gosto muito.
Bom domingo!