sábado, 18 de outubro de 2014

PELA QUARTA VEZ

 

Quando ela disse
«Não desperdices as palavras, são só mentiras»
Gritei que era surda
E ela trabalhou-me a face até ma amansar os olhos
Depois disse, «Não esqueças
Toda a gente deve dar algo em troca
Por algo que recebe»

Fiquei ali em pé e cantarolei baixinho
Dei uma batidas no tambor dela e perguntei-lhe porquê
E ela abotoou a bota
E endireitou o saia-casaco
Depois disse, «Não te armes em engraçadinho»
Então enterrei as minhas mãos nos bolsos
E tacteei com os polegares
E estendi-lhe galantemente

O meu último pedaço de chiclete

Ela pôs-me na rua
Fiquei na sujidade onde toda agente andava
E depois de dar conta de que me tinha
Esquecido da camisa
Voltei atrás e bati à porta
Esperei na entrada, ela foi busca-la
E tentei decifrar
Aquela fotografia na cadeira de rodas
Que estava encostada contra…

O seu rum jamaicano
E quando chegou, pedi-lhe um pouco
Ela disse, «Não querido»
Eu disse, «As tuas palavras não são claras
Era melhor cuspires o chiclete»
Gritou até a cara ficar toda vermelha
Depois caiu no chão
E eu tapei-a então
Pensei em ir dar uma vista de olhos à gaveta dela

E quando terminei
Enchi o meu sapato
E levei-o até ti
E tu, tu levaste-me para dentro
Amaste-me então
Não perdeste tempo
E eu, eu nunca tomei demasiado
Nunca perdi a tua muleta
Agora não peças a minha.


Bob Dylan

Canção do álbum Blonde on Blonde (1966)

Bob Dylan em Canções Volume I (1962-1973) Relógio D’Água, Lisboa Setembro de 2006.



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