16 a 31 de
Outubro
A F.N.L.A, único dos movimentos emancipalistas armados angolanos que
mantinha uma actividade militar efectiva, ordenou a todos os combatentes o
cessar-fogo.
Agostinho Neto:
O povo angolano já conquistou através de 13 anos de
luta heroica o direito à sua independência.
OS TRABALHADORES do Jornal do Comércio, empresa do Grupo
Borges & Irmão, terminaram a greve, iniciada há 33 dias, quando a administração
recusou negociar o caderno reivindicativo então apresentado e no qual se exigia
o saneamento do director do jornal, Carlos Machado.
Entretanto, em consequência da intentona de 28 de setembro, as
autoridades militares passaram um mandato de captura contra Carlos Machado, o que
levou a administração a reconsiderar a sua posição.
O PRESIDENTE Costa Gomes discursa perante a Assembleia Geral da ONU no
dia 17:
Não mais admitiremos trocar a liberdade de consciência
colectiva por sonhos grandiosos de imperialismo estéril.
PROJECTO DE Lei Eleitoral:
- Direito de voto aos 18 anos e para emigrantes.
- Não podem ser eleitores os indivíduos comprometidos em organizações
antidemocráticas.
- Obrigatório e oficioso o recenseamento.
COM A PRESENÇA do Ministro da Justiça, Salgado Zenha, de representantes
dos partidos políticos, de muito povo, a Ponte Salazar passou a chamar-se Ponte
25 de Abril.
SEIS MESES volvidos sobre o 25 de Abril.
O Diário de Notícias perguntou a uma série de personalidades:
Que pensa destes seis meses decorridos desde o 25 de
Abril?
Respigaram-se estes:
Ilse Losa:
Duma maneira geral, no País e no estrangeiro tinha-se
o povo português como pachorrento, passivo e desalentado. Durante quase meio
século dominado por um grupelho poderoso que não se dignava dar-lhe a mínima
satisfação sobre as medidas tomadas e o dinheiro gasto, parecia, de facto, alheio
o seu próprio destino. Eis que em 25 de Abril, a mais humana revolução desde
sempre, fez estalar a casca da indiferença e de aparente adormecimento, e
surge-nos um povo decidido a provar que se conservou vivo apesar de tudo e de
todos.
José Augusto França:
É claro que há gente que não tinha e ainda não tem
vergonha – e muito há fazer em todas as frentes, da cultura à economia, para
evitar enganos de governo, mal-entendidos de partidos, e, numa história que
corre veloz, perdas de tempo. Após estes seis meses, há que ganhar sem descanso
outros meses e outras batalhas que hão-de vir. A revolução de 25 de Abril é um
facto da civilização e, portanto, um facto moral.
José Cardoso Pires:
Nestes seis meses vivemos mais do que em vinte anos.
Luzia Maria Martins:
Quantos anos serão necessários para que surja essa
nova sociedade ansiada pela maioria? Não me atrevo a fazer previsões neste
campo. Creio que já é importante que estejamos a caminhar para ela. E estes seis meses têm sido uma experiência
notável, e, na sua generosidade, muito positiva.
Paulo Quintela:
O meu ofício é estudar poetas e transmitir-lhes a
mensagem. Ora, os poetas, em momentos altos, são também profetas. Um deles, e
dos maiores e mais castigados pelas desgraças do nosso século, Bertolt Brecht,
deixou-nos estes versos que agora entrego à vossa meditação, como «vademecum»
de todo o homem que quer ser livre e quer ajudar a construir um mundo de
justiça e de razão:
De que Serve a
Bondade
I
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
II
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
II
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
Fontes:
Recortes de acervo pessoal, Portugal Hoje, edição da
Secretaria de Estado da Informação e Turismo.
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