Adriano Correia de Oliveira morreu há 32 anos.
Daqui por uns anos corre-se o sério risco, neste país tão triste de esquecer gente, de Adriano Correia de Oliveira ninguém saiba quem foi, ou o que fez.
O tempo da chegada de Adriano a Coimbra na descrição de
Manuel Alegre:
Vivia-se, então, quando ele chegou a Coimbra, um tempo de grande tensão
histórica e de grande tensão interior, um tempo de impulso e de pulsão, de
mudança e mutação. Algo mudara no nosso viver colectivo. Algo mudara dentro de
cada um de nós. Era um tempo pejado de apelos e sinais, carregado de perigos e
angústias, um tempo prenhe de coisas novas, por vezes indistintas e confusas,
mas que buscavam o seu rosto e a sua forma. Ruíam tabus e mitos, levantavam-se
barreiras, apertava-se a mordaça e reforçava-se a repressão, mas algo estava em
marcha, algo que nenhuma censura e nenhuma polícia podiam travar: era uma nova
consciência que despontava, uma energia que pulsava naquela geração sobre que
se abatia, por um lado o endurecimento da ditadura salazarista, por outro o
espectro cada vez mais próximo da guerra de África. Ao mesmo tempo chegavam a
Coimbra ecos e notícias da luta libertadora de outros povos e também da tomada
do paquete Santa Maria por Henrique Galvão, do ataque ao quartel de Beja, de
manifestações e greves em Lisboa e Alentejo. E já por Coimbra tinha passado o
vendaval da candidatura presidencial de Humberto Delgado, bem como a revolta da
Academia contra o decreto 40.900 que visava a liquidação da tradicional
autonomia das associações estudantis e, no caso particular de Coimbra, da
Associação Académica. Tal como noutras épocas decisivas (recordo as gerações de
Garrett e de Antero), o sopro do tempo, a corrente das ideias, o próprio fluir
da História tinham chegado e provocavam um fervilhar de iniciativas, buscas,
enfim, uma extrema tensão geradora duma nova mentalidade e duma nova maneira de
ser. Foi nessa Coimbra que Adriano desembarcou. Trazia consigo uma grande
generosidade e aquela dose de inocência que nunca haveria de perder. Não sei
como, talvez por acaso, ou talvez não (não estará o Acaso, afinal, ma origem de
tudo?), começou a aparecer por minha casa onde já se juntavam, entre outros, o
António Portugal, o José Afonso, o Rui Pato. Descobrimos então o timbre
inconfundível da voz de Adriano e também essa sua conhecida pretensão, que
nunca perderia e haveria de provocar infindáveis discussões com o António
Portugal, de cantar uma oitava acima de Edmundo de Bettencourt.
Este homenzarrão barbado, mas com olhar cândido como dele disse Manuel da Fonseca, foi, acima de tudo, um homem de coragem; o melhor de todos nós na opinião de Fausto.
Este homenzarrão barbado, mas com olhar cândido como dele disse Manuel da Fonseca, foi, acima de tudo, um homem de coragem; o melhor de todos nós na opinião de Fausto.
Adriano
Não era só a voz o som a oitava
que ele queria sempre mais acima
nem sequer a palavra que nos dava
restituída ao tom de cada rima.
Era a tristeza dentro da alegria
era um fundo de festa na amargura
e a quase insuportável nostalgia
que trazia por dentro da ternura.
O corpo grande e a alma de menino
trazia no olhar aquele assombro
de quem queria caber e não cabia.
Os pés fora do berço e do destino
alguém o viu partir de viola ao ombro.
Era Outubro em Avintes. E chovia.
Manuel Alegre
Exílio
Poema de Manuel Alegre
Música de Luís Cília
Exílio
Poema de Manuel Alegre
Música de Luís Cília
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