domingo, 28 de fevereiro de 2010

QUANDO AS PESSOAS SE ESCREVIAM

Para:
Mademoisele Maria Delfina Alves
Correio de Aljezur
Algarve

Lisboa, 30.09.940

Minha Tia e Madrinha

Damos-lhe os nossos sinceros parabéns pelo seu aniversãrio natalício, desejando-lhe mil felicidades na companhia do avô e de quem mais desejar.
Muitos beijinhos deste seu sobrinho e afilhada
Joaquim e Maria

Legenda: Postal antigo comprado na Feira da Ladra.

POSTAIS SEM SELO



Tão nobre a sepultura que ele escolheu para si mesmo. Jaz debaixo de magníficos pinheiros verdes cobertos de neve. Não vou avisar ninguém. A natureza vela pelos seus mortos, as estrelas cantam em voz baixa em torno da sua cabeça e os pássaros nocturnos grasnam, e é esta a música ideal para quem já não ouve nem sente.

Robert Walser, "Os Irmãos Tanner"

Legenda: Nevão em Pinheiro de Lafões.
Fotografia de Luís Pinheiro de Almeida.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

FECHADOS PARA FÉRIAS

Trafaria.

"Antiga Casa Marítima".

Para além da caldeirada de peixe, das ameijoas, das cadelinhas, outra especialidade da casa são os filetes de tamboril. A salada que acompanha os filetes, vem sempre com coentros. É um pormenor que gosto de realçar.

Como não se pode fumar, há sempre a possibilidade de trazer o copo para a muralha e ficar ali a olhar o rio e a fumar uma charutada.

Legenda: Fotografia de Luis Miguel Mira tirada em Outubro de 2008. Íamos com o olho fito nos filetes mas, em Outubro, a "Antiga Casa Marítima" fecha para férias do pessoal.

OLHAR AS CAPAS

Audrey Hepburn: A Biografia

Donald Spoto
Capa José Manuel Reis
Edições ASA, Lisboa, Outubro de 2007

Anos mais tarde, aqueles que trabalharam com ela na UNICEF e aqueles que sentiram o seu carinho, a sua compaixão e o seu trabalho eficaz em África e no resto do mundo conheceram em primeira mão o resultado dessa colheita. O círculo fechara-se; a arte ficara envolta no âmago do seu ser. Como ela exclamara uma vez em relação ao seu jardim todo em flor, podia-se agora dizer por fim sobre a sua vida: "É tudo tão impossivelmente - tão maravilhosamente - singular.

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?



Um pouco mais abaixo, a Aida fala de “Férias em Roma” com a Audrey Hepburn e o Gregory Peck. O tempo em que os filmes eram “com” e não “de”.

“Férias em Roma”, realizado em 1953, é um amável filme de William Whyler.


“Parece uma vespa” disse Enriço Piaggio quando viu o primeiro modelo do que é hoje um dos símbolos do século passado, e como “Vespa” ficou na História.


A "Vespa" nasceu em 25 de Abril de 1946.

A “Vespa” é também Audrey Hepburn e Gregory Peck nesse “Férias em Roma”, ou Nanni Moretti nos seus filmes “Querido Diário” e “Abril”.

Nunca fui a Roma, nunca irei, o meu orçamento já se vê em aranhas para ir comer uns filetes de tamboril à Trafaria, mas se a Roma fosse, entenderia que era de “Vespa”, por me parecer a melhor maneira, que percorreria a cidade. Aqui, para além dos orçamentos, nasceria outro problema: não tenho carta de condução. Mas deixem-me pensar que assim seria.


Diz quem por Roma andou, que se podem alugar “Vespas” por uma, oito, ou vinte e quatro horas e que as pessoas, esvoaçando nas "Vespas", cumprimentam-se umas às outras e até fazem corridas. Estou a vender peixe pelo preço por que comprei.

Em 2008, pelo Dia de São Valentim, a CNN revelava os 10 mais românticos filmes de sempre.

Estas coisas das listas valem o que valem, mas “Férias em Roma” aparecia em terceiro lugar. O primeiro lugar era ocupado por “Casablanca” de Michael Curtiz, a segunda posição por “Luzes da Ribalta” de Charles Chaplin, enquanto “Até à Eternidade” de Fred Zinnermann aparecia em quarto lugar.

No papel da princesa Anna, Audrey Hepburn, ganharia um Óscar pela sua interpretação. Tinha 24 anos.
João Bénard da Costa no seu “Muito Lá de Casa” escreveu que “durante muito tempo, mulheres assim metiam-me algum susto. Não sei se tinha medo de as partir a elas, ou medo que elas me partissem a mim.”.

Conta a lenda que Gregory Peck, apercebendo-se do seu soberbo trabalho, sugeriu que o nome de Audrey Hepburn, no genérico, aparecesse à frente do seu. Não é impunemente que sempre admiti que Gregory Peck era um verdaeiro “gentleman”.



Audrey Hepburn deixou aparições na tela que considero inesquecíveis, estarão mesmo gravadas na memória do cinema. Seria fastidioso enumerá-las, mas não resisto a recordá-la em “Boneca de Luxo” de Blake Edwards, à janela, de viola na mão, cantando “Moon River” que Henry Mancini compôs em estado de graça, possivelmente, apenas a pensar em Audrey Hepburn.

Truman Capote, o filme é baseado num dos seus livros, “Breakfast At Tiffany’s”, queria Marilyn Monroe para o papel feminino. Deram-lhe uma Audrey Hepburn, que veio a revelar-se deslumbrante de graça e leveza. Quase arriscaria a dizer que Audrey que parece ter nascido para todos os papeis que desempenhou no cinema, mas para este posso garantir que nasceu mesmo.

Como teria sido com Marilyn Monroe?

Apenas a imaginação nos pode conduzir a uma resposta, e, gostando também de Marilyn, delicio-me a pensar como efectivamente seria.

Todos os anos, reservo parte das noites de Inverno, para tentar fazer uma ideia, pálida que seja, de como seria.

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DA MINHA GALERIA

Audrey Hepburn e Gregory Peck no filme "Féria em Roma".
Acho este postal maravilhoso. Só me lembra uma coisa: ternura.
Já não há artistas assim. já não há filmes assim, já não há olhares assim.

GRAVATA OU NÃO GRAVATA


Não uso, mas gosto de gravatas. 

Gosto mesmo.

No transitário alemão onde trabalhei, obrigavam, excepto às sextas-feiras, os homens a ir de gravata.

O obrigar é assim uma coisa com que afino.

Deu-se o 25 de Abril e não mais fui trabalhar de gravata.

Hoje tenho para aí umas gravatas perdidas, completamente fora de moda, dizem, mas ainda gosto delas.

Mas quando casamento ou baptizado impõe uso de gravata, socorro-me do enorme naipe de gravatas do Miguel ou do Luís.

Mas esta história das gravatas, vem a propósito do que o Miguel Portas disse ao “i”:

“As pessoas de direita usam fato e gravata como os padres usam sotaina. É como uma farda. Mas a maioria de nós, no Bloco, não usa gravata por razões operacionais e culturais.”

Percebo o que o Miguel, no fundo, pretende dizer, mas o facto de, lá pelo Bloco, não usarem gravata, não os tem impedido, volta e meia, de dar uns tiros nos pés.

O mais recente, é o apoio que deram a Manuel Alegre, com vista às próximas eleições presidenciais.

A minha avó dizia que as cadelas apressadas têm filhos tortos…

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ADA DE CASTRO


Foi num jantar de aniversário da Lena, no “Sr. Vinho” que conheci a sua amiga e fadista Ada de Castro.
Um belo jantar, agradável companhia e uma grande noite de fados.
Pedi a Ada de Castro que cantasse um fado de que gosto muito e que faz parte do seu reportório: “O Cigano”.
Fosse pelo que fosse nunca mais ouvi alguém cantar aquele fado como a Ada de Castro nessa noite o cantou.
Há uns tempos atrás ouvi-a no programa da RTP 1 “Portugal no Coração”, onde interpretou “Sou.Latina”, um fado com música de sua autoria.
Ada de Castro tem hoje 73 anos, caiu um pouco no esquecimento.
Gosto particularmente deste disco. Não só pela bonita capa, mas também pelos fados, todos eles assinados por Eduardo Damas e Manuel Paião, com especial destaque para “Deste-me um cravo encarnado”.

IRISH OAK


Tanto quanto me lembro comecei a fumar cachimbo pelos meus quinze anos.

Por curiosidade, por uma qualquer maneira de querer ser diferente, diferente dos que fumavam cigarros. Hoje fumo cachimbo por prazer. Fumar cachimbo é uma maneira de estar, filosófica, assim como acariciar gatos. Cada vez que pego num cachimbo para o fumar sinto sempre a tal diferença.

As minhas primeiras marcas de tabaco foram os incontornáveis “Mayflower”, o “Clan” o “Gama”. Mais tarde fixei-me no “Revelation”, um agradável “Smoking Mixture” da Philip Morris e que nos pacotes em lugar do estúpido “Fumar Mata” tinha “it’s mild and mellow”. Nos finais dos anos 70 deixaram de o fabricar e mais tarde descobri o “Captain Black”.

Conheci-o através do agente da "Aminter" em Ponta Delgada. Na primeira vez que apareceu no escritório deixou um inebriante perfume, que mais tarde o Paulo Rodrigues definiu como sabor a caramelo. Na altura não se vendia em Lisboa, mas o Nascimento lembrou-se que tinha um cunhado a trabalhar da Base aérea das Lajes e passei a receber latas de meio quilo de “Captain Black” a um preço “five Stars”. Entretanto passou a vender-se em Lisboa.

Um dia ao ler um livro do Jorge Listopad dei com uma marca de tabaco de cachimbo que ele achava muito bom, mas , lamentava-se, que só se vendia nos "free shops "dos aeroportos.

Como o Miguel viaja muito, pedi-lhe que me tentasse arranjar uma embalagem.

Nunca o encontrou, nem em Paris, nem nas "free shops dos" diversos aeroportos por onde passava.

Mas um dia surpreendeu-me com um saquinho com três latas de “Irish Oak”.

Tinha-o descoberto numa pequena loja de tabacos em Bruxelas, junto à estação de caminhos de ferro.

Pode ser que ele, um dia, se disponibilze, para nos contar, aqui, os pormenores.

Há um bom par de anos, em conversa com o Miguel Alves, lamentava-se das suas cada vez maiores dificuldades em comprar “Captian Black” em Lisboa. Disse-lhe que, depois do encerramento das tabacarias no Rossio, passei a comprá-lo numa loja do Centro Comercial Vasco da Gama.

Aproveitei para lhe contar a história com o “Irish Oak” e falar do Jorge Listopad.

A história chama-se “Pernoitar” e encontra-se no livro “Em Chinatown com a Rosa"

É esta a história:

“Emergiu da noite, não, eram dois, sim, emergiram da noite, mas como se ela não existisse, até àquele momento eu estava sentado sozinho na esplanada com as cadeiras empilhadas e arrumadas, a noite e ninguém, estava sentado numa cadeira branca de abrir e fechar, a única que não fora presa pela corrente, fumava cachimbo, “Irish Oak”, o tabaco que outrora Graham Greene me mandara com um cachimbo “Peterson”, uma oferta por tê-lo acompanhado, eu ou a Clara ou nós os dois, pela cidade ainda alvoroçada, por tê-lo apresentado às novas personalidades, ter-lhe aberto as portas das instituições e dos clubes revolucionários, habituei-me ao “Irish Oak” nem sempre fácil de arranjar, nem mesmo no “free shop” dos aeroportos, estou sentado e penso tabaco, tabaco, o fumar divino, paz e sossego, stop, Virgem Maria, arco do céu, se eu quisesse ouviria o mar, as gaivotas estão a dormir, eis senão quando emergiu da noite à noite, mas afinal eram dois, ele sentou-se no muro e disse boa noite, o que em Portugal não significa que se vá dormir já, mas algo como noite acordada e que seja boa, que a vida continue na escuridão.
Interromperam o meu fluxo silencioso de palavras e o navegar em ideias aproximadamente formadas pelas palavras, tal como agora interrompi a frase anterior que não tinha fim. Cumprimentei-o, pois, com essa mesma boa noite à portuguesa, procurei e no bolso encontro o isqueiro e esperei, esperei enquanto aguardava. Sentou-se no muro. Ela ficou ao pé, afastou-se. O cachimbo era excelente, embora seja evidente que um cachimbo aceso pela segunda vez deixa de ser tão cheiroso e saboroso. “Irish Oak”. Na tampa da caixinha redonda de lata um carvalho verde, um quadro que no escuro tem de ser imaginado. Ao longe as luzes baças de um barco de pescadores. A oscilarem no ar incerto. Como numa narrativa.
- Rouba-se muito por aqui, aventurou ele.
- Onde, aqui?
- Em Portugal.
Era uma frase muito sintética. Inusitadamente sintética. Eu não estava acostumado a isso.
- Fui seu aluno, senhor professor, disse depois.
No dia anterior eu tinha estado com os pescadores. Tinha percebido que toda a pesca é um conflito. Com o mar, com as redes, com a organização do próprio trabalho, com o sistema da entreajuda.
- Professor de quê? Perguntei baixinho, devagar, sem quase ter perguntado. Algures, alguém pôs uma motocicleta em marcha.
- Foi há muito tempo.
Ninguém me dirá nada de novo, afirmou Zaratustra. Não quero ouvir nada de novo, eu. Mas quem é o eu?. Quem é Zaratustra? Cada dia nos aproxima mais. Mas aproxima de quem? De quê?
Não tinham onde dormir. Dormiram no meu quartinho. Coisas que se curam, que não se curam. Eu tinha tempo. O tempo ainda me pertencia.”

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

POSTAIS SEM SELO

"O álcool tira as ilusões. Depois de alguns golos de conhaque já não penso em ti.

Marguerite Yourcenar

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

THE LEGEND

CAMDEN CDS 1212

Side One
Good Rockin’ Tonight – Blue Moon – Frankie & Johnny – Old Shep – In The Ghetto – I Got Stung
Side Two
You’ll Never Walk Alone – Love Letters – Too Much – All That I Am – Poor Boy – Mystery Train

A notícia é antiga mas só agora dela tomei conhecimento.
Em Inglaterra, em Novembro do ano passado, foi arrematado por 1055 libras um fio de cabelo de Elvis Presley. A primeira oferta começou em 250 libras.
Ainda da notícia: “O fio está conservado num caixilho de 30 cm por 56 cm, com autenticação de Thomas B. Morgan – que comprou várias madeixas de cabelo de Elvis ao barbeiro do cantor, Homer Gill Gilleland, e as conservou desde a morte do cantor em 1977.”Dá para acreditar? É o que o jornal “I” diz:
Agora sabem vocês quanto me custou esta maravilha de disco?
5 Euros.
No Boteco da Rua Edith Cavel.

Publicado inicialmente aqui.

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...



OLHAR A FINITUDE

O meu pai dizia que nunca devíamos entrar na cozinha de um grande hotel.

O fotógrafo português Jorge Molder foi entrevistado pela revista “Pública” de 7 de Fevereiro.

Esteve seriamente doente, foi operado ao coração.

Perguntam-lhe se isso mexeu com os seus ritmos, se foi olhar a finitude.

Molder respondeu:

“É. Mas nessa altura lembrei-me de uma coisa que a minha mãe costumava dizer: se o restaurante é bom, não queiras saber o que se faz na cozinha. Quando fui operado, o professor José Fragata, que é uma pessoa extraordinária, bem me quis explicar o que me iam fazer; disse logo que não me interessava saber, que só me interessavam os resultados."

Legenda: Imagem da série “Não tem que me contar seja o que for”.Molder numa sala de cinema.
Fotografia retirada da citada entrevista na “Pública”

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

YESTERDAY/WOMAN

Esta música é dedicada à minha irmã Aida.

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...

Não são os cigarros “Marlboro” que foram extintos.
Extintos estão os maços de cigarro “Marlboro”, ou de qualquer outra marca, sem aqueles inestéticos avisos:
Fumar pode matar
Fumar provoca doenças mortais
Fumar provoca o cancro pulmonar mortal
Fumar provoca doenças cardio-vasculares
Fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência
Fumar provoca o envelhecimento da pele
Fumar pode provocar morte lenta e dolorosa.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

DA MINHA GALERIA


Troy Donahue
A primeira vez que o vi foi numa pequena participação no filme “Imitação da Vida”. Um daqueles filmes que arrepia.
Aliás o final deste filme em que Mahalia Jackson” aparece a interpretar uma lindíssima canção, é um daqueles finais para constar de uma cassette só de finais de filmes, que eu e o Miguel andamos para fazer já não sei há quantos anos. Volta e meia falamos nisso e é sempre para um dias destes. Pode ser que sim.
Depois encontrei-o em "Sete Dias em Fárias" com a Connie Stevens e mais tarde no “Idílio em Setembro” com a Sandra Dee, outro filme meu de despedaçar corações. Não dá para contar. Só visto.
Como também só visto quando Troy Donahue aparece em “O que importa é Viver” com Suzanne Planchette e também com a Angie Dickinson e o Rossano Brassi.
Neste filme gosto da cena passada num bar e em que é cantada “Al Di La”, canção que só passados muitos anos consegui encontrar cantada pela Connie Francis.
Filmes que dão para sonhar. Filmes de um tempo que marcou. Filmes simples em que os olhares e um tocar de mãos diziam tudo.
A gente nova não percebe muito bem como se pode gostar destes filmes.

DESPEDIDA DE CARREIRA DE MARIA TERESA DE NORONHA

Em 1938, A Emissora Nacional convidou Maria Teresa de Noronha para actuar, apresentada pelo locutor D. João da Câmara. Foi tal o êxito que foi convidada para um programa semanal de Fados e guitarradas durante 23 anos. Os seus fados transmitem saudade, tristeza, amor, tudo o que a alma lhe pedia.
Tornou-se Condessa de Sabrosa pelo casamento com D. José António de Sabrosa de Guimarães Serôdio, grande admirador do Fado.
Esta sublime fadista nasceu em Lisboa a 7 de Novembro de 1918 e faleceu a 4 de Julho de 1997 em São Pedro de Sintra.

FADO DO CASTANHEIRO

sábado, 20 de fevereiro de 2010

HÁ 35 ANOS


No passado dia 9 de Fevereiro completaram-se 35 anos sobre a I Conferência da Reforma Agrária que permitiu as ocupações de terras no Ribatejo e Alentejo e que marca, formalmente, o arranque em força da Reforma Agrária.

Não é pacífica a discussão sobre a Reforma Agrária.

São profundas as cicatrizes que o processo deixou mas, com serenidade, a História há-de debruçar-se sobre esses anos, gloriosos para os trabalhadores alentejanos, trágicos para os latifundiários.

Porque a visão da Reforma Agrária depende, sempre, do lado de onde estamos a olhar
Sabe-se que até ao 25 de Abril os camponeses viviam miseravelmente. Jornadas de trabalho do nascer até ao pôr-do-sol, sem qualquer espécie de direitos.

Os latifundiários nem toda a terra queriam trabalhada.

A História também há-de falar de um certo voltar atrás que a chamada “Lei Barreto” proporcionou.

Quando percorremos algumas ruas de Lisboa, algumas terras do país, deparamos, ainda com paredes onde se pode ler: “Barreto Rua”Com essa lei os trabalhadores foram obrigados a abandonar as terras que ocuparam e a entregá-las aos proprietários.

Terras que voltaram a abandonar ou a venderem aos espanhóis.

Por esses tempos conturbados, o jornalista Carlos Pinhão, aproveitando um mero jogo de futebol, lembrava que eram outros os campeonatos que não podíamos perder, e publicava um poema no jornal “A Bola”.

Vale a pena recordar esse poema:

“Ao que parece
O Benfica vai perder o Campeonato.

Ao que se diz
Fica de luto metade do País.

Mas será mesmo um contratempo
Do outro Mundo?
Do outro tempo?
Dá pão?
Dá pão como a Reforma Agrária?
Será tão grande o mal?
Tão de tremer?

Olhe que não!
A Reforma Agrária é que é
O Campeonato Nacional
Que não se pode perder!”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PERCURSO

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.


Pablo Neruda

OLHARES




O Valdemar é minhoto, nasceu em Barroselas, distrito de Viana do Castelo.
Aqui reconstruíu uma casa dos avós e faz parte dos nossos itinerários.
Estas fotografias são de Junho de 2008, vê-se o Rio Neiva a passar em Tregosa, uma localidade perto de Barroselas.


POSTAIS SEM SELO



Aperta a mão do mar,
Diz-lhe bom dia. Ele dirá maresia.

Pedro Tamen

DO BAÚ DOS POSTAIS


Dois postais de Fajão, no concelho de Pampilhosa da Serra.
Não são de agora. Estive em Fajão em Julho passado e não tem nada a ver com a terra que conhecia. A começar pelo acesso por uma estrada que dantes era só solavancos.
Num lugar chamado Boiças, que pertence á Freguesia de Fajão, aconteceram bons momentos. Com a minha avó, os meus pais, a minha irmã Fernanda. Ainda hoje a nossa mãe conta histórias dos tempos em que pastava cabras por aquelas serras fora.
Ao domingo íamos á missa a Fajão, numa camioneta de caixa aberta, que o regedor da terra punha à disposição das pessoas. Costumávamos cantar:

“Nossa Senhora da Conceição
Faça sol e chuva não
Para podermos ir a Fajão.”

Hoje, nas Boiças, só existe um morador. No Verão, para passarem alguns dias de férias, ainda aparecem os filhos de antigos moradores.
Algumas das casas estão abandonadas e encontram-se em ruínas. e, no Verão, aparecem alguns dos filhos de antigos moradores para passarem férias..
Por vezes, eu e a Fernanda, falamos de como seria bonito voltar a passar uns tempos nas Bouças.
Vou jogando no Euromilhões. Pode ser que sim, que saia, que dê para comprar uma casa nas Boiças.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

TENHO UMA JANELA


Tenho uma janela
que dá para o mar
barcos a sair
barcos a entrar
tenho uma janela
que dá para o mar
sonhos a partir
sonhos a chegar
tenho uma janela
que dá para o mar
um fio de fumo
uma sombra além
uma história antiga
um cantar de vela
um azul de mar
tenho uma janela
que dá para o mar
tenho uma janela
que seria bela
seria mais bela
que qualquer janela
janela fosse ela
de Lua ou de estrelas
ou qualquer janela
de qualquer escola
se não fosse aquele
pescador já velho
que anda pela praia
a pedir esmola
barcos a sair
barcos a entrar
chego-me à janela
e não vejo o mar.


Mário Castrim, canção infantil

PARA QUE NADA FALTE...

É vulgar encontramos anúncios a condomínios em que se realça a existência de piscina, campo de ténis, garagens, jardins, mordomias várias.
Este, para os lados da Parede, adianta que também tem capela.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

WE ARE THE WORLD

No dia 28 de Janeiro de 1985 , uma constelação de estrelas da música norte-americana, com o fim de angariaraem fundos para combater a fome em África, juntaram-se para gravar “We Are the World”.
A canção foi composta por Lionel Ritchie e Micahel Jackson e o “single” vendeu mais de 20 milhões de cópias, o que permitiu um montante de 60 milhões de dólares e terá sido o mais emblemático “single” de solidariedade até hoje gravado.
Em “We Are the World”, fazem ouvir-se quarenta e duas vozes e, entre outras, estão as de Harry Belafonte, Ray Charles, Bruce Springsteen, Bob Dylan, Paul Simon, Diana Ross, Stevie Wonder, Tina Turner, Dione Warwick, Kenny Rogers, Willie Nelson
Pode uma canção mudar o mundo?
Chegará o dinheiro destas campanhas de solidariedade às mãos de quem dele necessita?
Nas minhas noites de pesadelos chego a pensar que grande parte deste dinheiro cai nas contas bancárias que corruptos presidentes, corruptos ministros têm na Suiça.
Peço desculpa por alguma inconveniência, mas acontece que, por vezes, não consigo dominar o meu mau feitio.
E acreditem: detesto ser desconfiado!...

QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

Legenda: "Marcha de Quarta-Feira de Cinzas", poema de Vinicius de Moraes, música de Carlos Lyra.
Não foi possível identificar o autor/origem da caricatura.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

POSTAIS SEM SELO

Ah! O que seria de nós sem a música.
Gostava de tocar banjo numa banda de Dixieland.

Legenda: Woody Allen com a sua "New Orleans Jazz Band"

O DIREITO DE AMAR


Com muito gosto, volto ao livro “Unidos no Amor Contra a Indiferença” da Isabel Barata e do Manuel Matos
Acontece que no domingo, Dia dos Namorados, o programa “Consigo”, transmitido pela RTP 2, tinha uma história para contar e essa história era a da Isabel e do Manuel de que já falei aqui..
Se a leitura do livro já me comovera, ouvir a Isabel contar a sua história, comoveu-me ainda mais.
Não tenho dúvidas de que os afectos são pertença de toda a gente, não escolhe este ou aquele, que o amor não tem obstáculos, nem limites.
Sincero o depoimento da responsável da editora que publicou o livro.
Mas não quero deixar de salientar o que Laura Torres, fisioterapeuta do Hospital Curry Cabral, e que há alguns anos acompanha a Isabel, disse no findar do programa:

“OS VERDADEIROS HERÓIS NA VIDA SÃO ELES!”

DESFILES CARNAVALESCOS

Em Lisboa está um dia miserável.

Chove e faz frio
.
Penso no dinheiro, no tempo de trabalho que foram despendidos para que, as autarquias do costume, pudessem apresentar, aos foliões do Carnaval, os seus desfiles de músicas e belezas.
Tanto quanto me lembro, por alturas do Carnaval, são mais os dias de chuva do que os de sol.
Apesar de tudo as autarquias persistem. Os munícipes consentem.

Há alguns anos, a propósito destes desfiles carnavalescos, o Francisco José Viegas escreveu esta crónica:

O Carnaval português sempre me afligiu. Lembro-me dele quando ainda só era Entrudo e não dispúnhamos daquelas raparigas da Mealhada a dançar na rua, debaixo de chuva, abrigadas pelos seus simpáticos biquinis. Essa é a primeira imagem que me assalta: o frio, o desconsolo meteorológico, a desadequação climática. Isso e os seus desfiles, em carros alegóricos montados em cima de tractores. E dos fatos de má qualidade, de brilho barato, cintilante nos domingos de Fevereiro, escarlates. Tinha pena das raparigas. Também me penalizava pelos rapazes, da cidade ou da província, muito machões durante o ano, mas que no Carnaval se mascaravam de meretrizes ou de tias velhas. Mas, insisto, o pior era o frio de Fevereiro, os chuviscos a meio da tarde, o granizo nas ruas de Ovar, de Cantanhede ou Olhão. Um resto de misericórdia vinha do fundo da consciência pedir protecção para os desfiles. Aos desfiles, propriamente ditos, vi-os sempre pela televisão e bastou-me: umas raparigas sem o sentido das proporções dançavam muito mal o samba, agitavam bandeirinhas, sorriam, enregeladas, com peças de tule cobrindo uns corpos muito brancos que ainda não tinham feito a dieta habitual antes da época balnear. O corpo das portuguesas, neste domínio, é um campo de sacrifícios: durante o ano alimenta-se bem e corajosamente; entre Abril e Maio começa a penar e a penitenciar-se, preparando-se para a exposição solar do Verão. É um mundo de desgraças. Só o Carnaval, com as suas peças de tule com penduricalhos de brilhantes falsos em cima, permite entrever as carnes esbranquiçadas que hão-de estar mais passadas no S. João.

TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL


Hoje em dia, é vasto o “Clube Dos Que Não Ligam Puto ao Carnaval”

Nem os bailes da adolescência do vira-o-disco-e-toca-o-mesmo, deram pistas de dança para que pudesse mudar de opinião.

O Carnaval cada vez está mais pífio, se é em que em algum tempo, deixou de o ser.

Há uma cena deliciosa na “Família Adams”:

Perguntam à Wednesday se não se vai mascarar para ir ao baile. Ela responde:

Eu já estou mascarada. Estou mascarada de psicopata. Os psicopatas parecem pessoas normais.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...

Festa da Música.
Todos os anos, pela Primavera , realizava-se no Centro Cultural de Belém.
Durante sete anos foi possível as salas abarrotarem com gente para ouvir música clássica. Para espanto dos que pensavam que isso da música clássica era um feudo burguês com sede em S. Carlos.
Nunca admitiram - melhor: não quisreram admitir - que o que afastava as pessoas, ditas vulgares, da música clássica, residia no preço dos bilhetes. O gosto de muita gente pela música clássica, outros que o aprofundaram, começou com a Festa da Música.
Em 2006,, o governo, invocando cortes orçamentais, deixou de comparticipar com verbas que possibilitassem a continuação da Festa da Música e passaram a abriram as portas do CCB ao banqueiro Joe Berardo.
É outra louça, convenhamos, uma mente brilhante. Porque a ralé o quer é futebol, a Música Clássica é um nicho das elites.
Para que conste: para além do governo, na pessoa da Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, António Mega Ferreira foi, também, um dos coveiros da Festa da Música.
Vivem todos muito felizes!...

OLHAR AS CAPAS

Puro Prazer - Histórias de Charutos em Portugal


Autoria e Coordenação: António Gonçalo Bulhosa e António Lobato Faria
Direcção de Arte: Mário Mandacarú
Bulhosa Livreiros, Lisboa, 1997

Mas acima de tudo, o charuto é uma presença afectiva, evasiva e repousante. Podemos estar sós no meio de uma multidão. Só nós e o charuto, partilhando sentimentos e confidências com o fumo. O charuto é uma companhia.

João Soares Louro

domingo, 14 de fevereiro de 2010

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


MIRADOIRO


Não sei se vês, como eu vejo,
Pacificado,
Cair a tarde
Serena
Sobre o vale,
Sobre o rio,
Sobre os montes
E sobre a quietação
Espraiada da cidade.
Nos teus olhos não há serenidade
Que o deixe entender.
Vibram na lassidão da claridade.
E o lírico poema que me acontecer
Virá toldado de melancolia,
Porque daqui a pouco toda a poesia
Vai anoitecer.

Miguel Torga

sábado, 13 de fevereiro de 2010

BEM-VINDO ANDRÉ

Perfumado seja este teu dia em pétalas de felicidade. Espero receber-te nos meus braços para abrir o meu coração e exalar o carinho e ternura QUE SINTO com a tua vinda a este mundo.
Deus te abençoe e aos teus papás.
Tia Fernanda

Sara
Sei que já amamentaste o teu filho. Já sentiste a união apaixonante e inexplicável de sentires o teu filho colado a ti. Não há palavras!

A natureza é perfeita.

Deus vos conceda toda a felicidade do mundo.
Parabéns






MEMÓRIAS




13 de Fevereiro de 1973.

Uma terça-feira e o dia em que o Mário nasceu.

A desvalorização do dólar em 10 por cento, enquanto o Japão deixava o Iene a flutuar, é a notícia de que se ocupam todos os jornais neste dia.

Em 14 meses era a segunda vez que o dólar era desvalorizado.

Reflexos desta crise internacional o escudo aguardava.

O economista Sérgio Ribeiro, num comentário na 1ª página do “Diário de Lisboa” realçava “o facto de as pessoas se sentirem um pouco à margem dos problemas.” E que, mais uma vez, “não vai resultar o esclarecimento das razões por que aparecem as crises monetárias.”

Outras notícias do “Diário de Lisboa” davam conta que, a partir de Março andar de táxi iria custar mais caro, bandeirada passava de 2$50 para 5$00 , que uma modesta apanhadeira de malhas ganhou 1.116 contos no Totobola e que próximo do Rio Cavado foi pescado um salmão, juntamente com diversas lampreias, espécie raríssima naquele rio,e há mais de 130 anos que ali não se pescava um salmão. A notícia terminava dizendo que “os felizes pescadores venderam-no em Viana do Castelo, à razão de 230$00 o quilo.”

O Sporting em digressão por Israel vencia, com “grande exibição” a Selecção de Haifa por 4 a zeroe o Benfica deixava Macau e na quinta-feira jogava em Djacarta.

Toni, médio do Benfica, foi eleito pelo CNID, Clube Nacional de Imprensa Desportiva,
o melhor futebolista do ano de 1972.

No 1º canal da RTP o destaque ia para a exibição do filme “Um Marido Ideal” de Alexander Korda com Paulette Goddard e Michael Wilding, no 2º canal o destaque recaia num programa com Música Coral pelo Coro Phydellius. Ambos os canais tinham o fim de emissão marcado para as 23,40 horas.

O filme “O Padrinho” de Francis Ford Coppola recebeu onze nomeações para os “óscars” da Academia.

No “Satélite” estreava-se “O Último a Rir” de Alain Tanner. Lauro António,no "DIário de Lisboa", publicava as críticas aos filmes de Bill Norton “Nas Malhas da Rede” com Kris Kristopherson, em exibição no Éden” e “O esquadrão da Morte” de Ricahrd Colla com Burt Reynolds em exibição no S. Jorge.

O “República” colocava em título na última página:” Voz do Operário” faz hoje 90 anos” no corpo da notícia podia ler-se :”Para comemorar os seus 90 anos de vida, “A Voz do Operário” hasteou a sua bandeira e o dia foi igual aos outros, “que os tempos não vão para festas”, comentou o presidente da colectividade.

Na véspera, por coincidência, duas mulheres davam à luz fora de qualquer maternidade.

“A Capital”, contava um desses casos: “Acometida das derradeiras dores de parto quando a corta mato tentava chegar ao transporte público que a conduzisse à maternidade mais próxima, Clementina Cerqueira, com residência no Mucifal, Colares, não conseguiu ultrapassar um terreno de vinha em que então se encontrava. E ai mesmo, sem auxílio, em plena natureza, deu à luz uma menina.”.

Por seu lado “O Século” , com destaque na 1ª página e com direito a fotografia, noticiava: “Cansado pelo tempo que o pai demorava a encontrar um táxi, o pequeno Carlos Jorge decidiu-se a vir ao mundo em plena estrada de Palma de Baixo, ao principio da tarde de ontem. Sem preconceitos, nem cerimónias, o rechonchudo bebé espantou com o seu aparecimento quantos por ali circulavam, enquanto a mãe, trasmontana de boa cepa, não deixava de corar com o desaforo da criança.”

Pela leitura da notícia ficava a saber-se que o Carlos Jorge vinha fazer companhia a oito irmãos.

Na última página, também de "O Século", o destaque para Georges Sinenon, que fazia 70 anos, e anunciava a reforma: “Agora vou sentar-me numa cadeira a contar a mim próprio histórias que esquecerei imediatamente. E sei que não hei-de aborrecer-me.”

O “Diário de Notícias” colocava, em destaque, na 1ª página: “Libertados finalmente 142 prisioneiros americanos pelos comunistas do Vietname.” Também em destaque, com fotografia a cinco colunas, a notícia da preparação do I Congresso da Acção Nacional Popular, com os dirigentes da A.N.P. a apresentarem cumprimentos a Marcelo Caetano.

Para este dia, o Boletim Meteorológico previa atá às 24 horas: "céu geralmente muito nublado com vento moderado de Oeste; períodos de chuva; possibilidade de queda de neve nas terras altas; descida de temperatura."

BOM DIA, ANDRÉ

Ontem, às 23,30 horas, o André tornou-se Cidadão do Mundo.

"Pequeno Poema"

"Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouquceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe..."

Sebastião da Gama em “Serra-Mãe”


Legenda: Na imagem, os primeiros girassóis que, em Fevereiro de 2008, semeei, no Magoito, no quintal do meu primo Mário.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OS DESENHOS DO AFONSO





Desenhos do neto Afonso, aos 5 anos, na parede do qaurto.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

MEMÓRIAS

O “Cais do Olhar” tem-me levado a mexer em caixas com postais e coisas diversas, álbuns de fotografias.
Numa dessas caixas encontrei o cartão do “Restaurante da Mariazinha.”
Lembrei-me da Meryl Streep quando no começo do filme “África Minha” diz que teve uma fazenda em África.
Eu tive um restaurante em Almoçageme.
Muitas histórias, muitos amigos, alguns já morreram.
Muitas saudades.

DEZ MIL DIAS DEPOIS



A 11 de Fevereiro de 1990, Nelson Mandela, após 27 anos de prisão, saia em liberdade.
Com 71 anos, tinha passado mais de um terço da sua vida preso.
Apenas quis ser libertado quando as autoridades garantiram que todos os companheiros, com quem lutara contra o “Apartheid”, também seriam libertados
Era domingo e estava um calor abrasador.
"Lembro-me que ele saiu da prisão com um sorriso", disse à BBC Deborah Jane Cairns, que na altura tinha 11 anos.
“Não sou um santo, a não ser que pensem que um santo é um pecador que ainda não desistiu.”, disse um dia.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

OLHAR AS CAPAS



Champanhe Para Um

Rex Stout
Tradução de Almeida Campos
Capa de Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº 150
Livros do Brasil, Lda
Lisboa s/d

Se não estivesse a chover e a ventar naquela áspera manhã de uma terça-feira de Março, eu teria saído a fim de ir ao banco depositar uns cheques quando Austin Byne me telefonou e ele podia ter feito a tentativa com outro qualquer. Mas mais provavelmente, não. Talvez me telefonasse mais tarde, de forma que eu não tenho nada que estar a culpar o tempo. Seja como for, eu encontrava-me no escritório a olear a máquina de escrever e as duas Marley Calibre 38, das quais tínhamos licença de uso e porte, quando a campainha do telefone tocou e eu atendi.
- Escritório de Nero Wolfe. Fala Archie Goodwin.

UNIDOS NO AMOR



Na Foz do Ribeiro, aldeia do concelho da Pampilhosa da Serra, todos os anos, por Julho, realiza-se a Festa da Aldeia. Foi lá que conheci a Isabel. Um encontro que me deixou encantada tal a sua simpatia e delicadeza. Estava com a irmã e os pais. Foi pouco o tempo que conversamos, mas o suficiente para não me esquecer desse dia.
Por coincidência, neste Natal, a minha comadre Tina, ofereceu-me o livro “Unidos no Amor Contra a Indiferença” (1) escrito por Isabel Barata e Manuel Matos, ambos deficientes, e que são os protagonistas desta linda história de amor, cumplicidade, ternura e também sofrimento.
Fiquei rendida até porque se tratava da Isabel que conhecera na Festa da Foz do Ribeiro. Deixo aqui alguns excertos desse livro, que em boa hora me foi oferecido, esperando que sejam suficientes para provocar a curiosidade da sua leitura:

“Não podemos negar que há obstáculos circunstanciais (a nível físico e mental ou sensorial) na vivência amorosa das pessoas com deficiência mas um obstáculo que pode ser torneado”.

“O sonho era um fim de tarde subindo a encosta com o perfume de laranjeira.
O coração dançava -em mim até ao longe depois e muito antes do castelo maduro, velho, agora amigo. Sinto as vozes em aguarela dentro do Peugeot 305 possivelmente cansado, sinto o branco casario abrindo-me portas ao sonho.
Então aquilo era Avis perfume de laranjeira e a verdade de um povo sobriamente solidário, simplicidade que me viram e não observaram que me adoptaram não como, mas porque eu era um dos seus, nem pior nem melhor, apenas tal como sou.”.

Sabe mal a palavra “deficiência”: sabe a uma espera dentro de um pântano, sabe a uma recusa vinda do fundo de todo o nosso ser encravada na garganta, mas não é tão desagradável ao paladar que conduza à renúncia. Na verdade, não é deficiência, mas sim a atitude das pessoas que se julgam “normais, que mais nos custa suportar, que, sobretudo quando não se conseguiu perceber ainda que a vida é um estádio para o crescimento individual de cada um, mais nos desmoraliza.”

“Viver sem paixão é viver sem estar vivo. Na realidade, e pelo menos nas sociedades ditas ocidentais, os valores mais importantes são os que estão realizados com o consumo e o mercantilismo, onde quem possui mais e melhores produtos – a maioria deles, perfeitamente inúteis – é que é feliz. Mas o que quer dizer «feliz» neste sentido? O que pode haver de felicidade, por exemplo, em eu ter adquirido aquele televisor último «grito» se ele nos traz gritos de dor? De que forma pode o Ter suplantar o Ser? Para que serve ter asas de bela penugem se não Sou pássaro? Esta concepção da vida não é razoável, nem aceitável. Pelo menos para mim não é, mil vezes não”.

“A minha paixão desde criança pelos automóveis levou-me a limitar muito o mundo dos meus brinquedos de infância, reduzindo-o à quase exclusividade dos «carrinhos», independentemente da qualidade, da cor e da forma. Recordo ainda hoje experiências marcantes, tanto positiva como negativamente, relacionadas com esses «diabinhos» que me sustentavam o amor por essas máquinas que contêm todas as contradições da humana condição e que pelo Homem criadas e produzidas, retratam o Ser Humano A minha paixão pelos automóveis levou-me a ter sentimentos que seriam impossíveis na criatura que recordo de mim desde muito cedo”.

Ficarei por aqui nas citações, mas acreditem que a verdade seria publicar muitas mais. Mas não terminarei sem citar as palavras que a Isabel e o Manuel escrevem na introdução:

“Amar é a única saída digna para esta vida e a melhor estadia nela.”
__________

(1) “Unidos no Amor Contra a Indiferença”, Isabel Barata e Manuel Matos”,
Quidnovi – Edição e Conteúdos S.A., Novembro 2009