Um destes dias, à converseta, falou o Miguel que encontrara, num texto dos primeiros tempos do cinema português, um manual do espectador.
Prometeu que, um destes dias, partilharia, por aqui, esse texto.
Lembrei-me então de um código de considerações dirigido aos espectadores, em Julho de 1964, pelo “ Cine-Clube de Cinema” de Marília, no Brasil.
Reza assim:
“Para seu benefício e par o progresso da nossa comunidade, considere que:
1 – A bicha é uma instituição universal e democrática. Furar a bicha é sinal de desrespeito ao próximo, provoca briga e mal-estar. Amanhã o prejudicado poderá ser você…
2 – Quem obedece à delimitação de idades, indicados pela Censura Oficial (impróprio até 6, 12 r 17) observa uma lei muito sensata, além de não aborrecer o porteiro e, no final de contas, a si mesmo.
3 – Reservar cadeiras, não numeradas, é acto destituído de qualquer fundamento jurídico. A cadeira é sua, depois de ocupada.
4 – Quem não quiser importunar os outros e tiver a intenção de compreender o filme, convém adquirir o hábito de assistir ao filme desde o início. Chegar atrasado é doença crónica de muita gente.
5 – Quem não quiser importunar os outros deve também somente se levantar quando a palavra “FIM” aparecer na tela; respeite o direito dos outros assistirem ao filme até ao fim.
6 – Os pombinhos de rostos próximos ficam bem em praças floridas, em tarde primaveril, mas, no cinema, formam uma barreira incómoda… e coitado do vizinho de trás.
7 – Não adianta culpar o dono da sala nem se vingar do mesmo com estragos materiais, se o filme for fraco ou desagradar; procure informar-se previamente, junto a fontes credenciadas, sobre o valor dos filmes.
8 – É perfeitamente dispensável fazer-se fundo sonoro extra, com palestras, com tosse forçada e pigarro imaginário, ou dando risadas porque o filme já tem fundo musical apropriado.
9 – Quem fica falando em altas vozes, na sala de espera do cinema, durante a projecção, incomoda e revela primarismo em civilidade.
10 – Discutir o filme e analisá-lo é hábito salutar, que revela cultura e inteligência, mas fazê-lo durante a projecção é, por muitos e óbvios motivos, inoportuno.”
1 comentário:
Este está em jeito de Chalaça, mas falando de coisas sérias e importantes para que gosta de Cinema e de estar (bem) numa sala de Cinema.
O outro, de 1928 se a memória não me falha, era mais sério.
Pô-lo-ei aqui, com a devida auitorizaqção de Sam, O Paquete, numa próxima oportunidade.
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