domingo, 30 de setembro de 2012

À LUPA



O título pertence ao Correio da Manhã e revela que o ministro-sombra-do-não-governo voltou a disparatar.

Disse a luminária-António-Borges:

Que os empresários que se apresentaram contra a medida são completamente ignorantes, não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas.

Como diria o filósofo-futeboleiro, Manuel Machado: um cretino é sempre um cretino!

RESGATAR PORTUGAL


É já no próximo dia 5 de Outubro que se realiza na Aula Magna, em Lisboa, o Congresso Democrático das Alternativas.
Todos os pormenores poderão ser consultados no site do Congresso.

O Congresso Democrático das Alternativas é uma iniciativa de cidadãos e cidadãs de diferentes quadrantes da sociedade portuguesa, que se propõem debater as consequências económicas, sociais, políticas e culturais da adoção do Memorando de Entendimento e das políticas de austeridade. No respeito pela autonomia dos partidos políticos e de outros movimentos e organizações, pretende-se reunir todos os que sentem a necessidade e têm a vontade de debater e construir em conjunto uma alternativa à política de empobrecimento consagrada no Memorando e de convergir na ação política para o verdadeiro resgate democrático de Portugal.

O Congresso Democrático das Alternativas convoca a cidadania ativa, as vontades progressistas, as ideias generosas, as propostas alternativas e a mobilização democrática para resistir à iniquidade e lançar bases para um futuro justo e inclusivo que devolva às pessoas e ao País a dignidade que merecem.


“Só vamos sair da crise empobrecendo”. Este é o programa de quem governa Portugal. Sem que a saída da crise se vislumbre, é já evidente o rasto de empobrecimento que as políticas de austeridade, em nome do cumprimento do acordo com a troika e do serviço da dívida, estão a deixar à sua passagem. Franceses e gregos expressaram, através do voto democrático, o seu repúdio por este caminho e a necessidade de outras políticas. Em Portugal, o discurso da desistência e das “inevitabilidades” continua a impor-se contra a busca responsável de alternativas. Portugal continua amarrado a um memorando de entendimento que não é do seu interesse. Que nos rouba a dignidade, a democracia e a capacidade de coletivamente decidirmos o nosso futuro. O Estado e o trabalho estão reféns dos que, enfraquecendo-os, ampliam o seu domínio sobre a vida de todos nós. Estamos a assistir ao mais poderoso processo de transferência de recursos e de poderes para os grandes interesses económico-financeiros registado nas últimas décadas. Tudo isto entregue à gestão de uma direita obsessivamente ideológica que substituiu a Constituição da República Portuguesa pelo memorando de entendimento com a troika. E que quer amarrar o País a um pacto orçamental arbitrário, recessivo e impraticável, à margem dos portugueses. Uma direita que visa consolidar o poder de uma oligarquia, desmantelar direitos, atingir os rendimentos do trabalho (que não sabe encarar como mais do que um custo), privatizar serviços e bens públicos, esvaziar a democracia, desfazer o Estado e as suas capacidades para organizar a sociedade em bases coletivas, empobrecer o país e os portugueses não privilegiados. Num dos países mais desiguais da Europa, o resultado deste processo é uma sociedade ainda mais pobre e injusta. Que subestima os recursos que a fortalecem, a começar pelo trabalho. Que hostiliza a coesão social. Que degrada os principais instrumentos de inclusão em que assentou o desenvolvimento do País nas últimas quatro décadas: Escola Pública, Serviço Nacional de Saúde, direito laboral, segurança social. Este é um caminho sem saída. O que está à vista é um novo programa de endividamento, com austeridade reforçada. Sendo cada vez mais evidente que as políticas impostas pela troika não fazem parte da solução. São o problema. Repudiá-las sem tibiezas e adotar outras prioridades e outras visões da economia e da sociedade é um imperativo nacional. Este é o tempo para juntar forças e assumir a responsabilidade de resgatar o País. É urgente convocar a cidadania ativa, as vontades progressistas, as ideias generosas, as propostas alternativas e a mobilização democrática para resistir à iniquidade e lançar bases para um futuro justo e inclusivo que devolva às pessoas e ao País a dignidade que merecem. São objetivos de qualquer alternativa séria: a defesa da democracia, da soberania popular, da transparência e da integridade, contra a captura da política por interesses alheios aos da comunidade; a prioridade ao combate ao desemprego, à pobreza e à desigualdade; a defesa do Estado Social e da dignidade do trabalho com direitos. É preciso mobilizar as energias e procurar os denominadores comuns entre todos os que estão disponíveis para prosseguir estes objetivos. Realinhar as alianças na União Europeia, reforçando a frente dos que se opõem à austeridade e pugnam pela solidariedade, pela coesão social, pelo Estado de Bem-Estar e pela efetiva democratização das instituições europeias. É fundamental fazer escolhas difíceis: denunciar o memorando com a troika e as suas revisões, e abrir uma negociação com todos os credores para a reestruturação da dívida pública. Uma negociação que não pode deixar de ser dura, mas que é imprescindível para evitar o afundamento do país. Para que esta alternativa ganhe corpo e triunfe politicamente, é urgente trabalhar para uma plataforma de entendimento o mais clara e ampla possível em torno de objetivos, prioridades e formas de intervenção. Para isso, apelamos à realização, a 5 Outubro deste ano, de um congresso de cidadãos e cidadãs que, no respeito pela autonomia dos partidos políticos e de outros movimentos e organizações, reúna todos os que sentem a necessidade e têm a vontade de debater e construir em conjunto uma alternativa à política de desastre nacional consagrada no memorando da troika e de convergir na ação política para o verdadeiro resgate democrático de Portugal. Propomo-nos, em concreto, reunindo os subscritores deste apelo, iniciar de imediato o processo de convocatória de um Congresso Democrático das Alternativas. Em defesa da liberdade, da igualdade, da democracia e do futuro de Portugal e do seu papel na Europa. E apelamos a todos os que não se resignam com a destruição do nosso futuro para que contribuam, com a sua imaginação e mobilização, para a restituição da esperança ao povo português.

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


Um bonito anúncio à Coca-Cola.
Lamentavelmente perdi o nome do blogue onde encontrei o anúncio.

sábado, 29 de setembro de 2012

SÓ OS DO COSTUME É QUE FICARAM EM CASA!





Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.
Interroga o capital:
De onde vens?
Pergunta a cada ideia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
 senta-se também a insatisfação.
A comida sabe mal e a sala  torna-se estreita.
Aonde o perseguem chega a revolta
e de onde o expulsam persiste a agitação.

Bertold Brecht

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

TODOS OS DIAS PASSARAM A SER DE LUTA!


O Estado português concedeu em 2011 benefícios fiscais de quase mil milhões de euros a 40 empresas, segundo dados publicados pelo Ministério das Finanças.
A Câmara de Lisboa pagou a António Mega Ferreira 19 mil euros para estudar os espaços museológicos na cidade. Mas há vários anos que o município acumula sobre o tema análises dos serviços internos e até da coordenadora dos museus. A autarquia alega tratar-se de trabalho "complementar", numa altura em que um dos museus fecha aos domingos por faltarem 100 euros para ter um segurança. As vereadoras da Cultura e das Finanças, Catarina Vaz Pinto e Maria João Mendes, respectivamente, salientaram na justificação de tal contratação que este estudo deve ser desenvolvido por um especialista devidamente habilitado.
O ministro da Educação, Nuno Crato, adiantou hoje que, neste ano letivo, foram colocados cerca de menos cinco mil professores do que no ano passado.
Os encargos que o Estado assumiu com as Parcerias Público Privadas (PPP) vão custar os portugueses 13, 1 mil milhões de euros, durante os próximos dez anos.
António Lobo Xavier, figura de proa do CDS, afirmou que Passos Coelho não conhece o país ou não conhece o que as pessoas pensam.
Ao arrepio do Acordo Social, assinado em Janeiro, o governo estuda a possibilidade de cortar a duração do subsídio de desemprego.

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe:
Já pensou em reformar-se?
Respondeu:
Tenho vários amigos que já se reformaram. Eles adoram. Vão à pesca e ao basebol, viajam pela Europa, jogam às cartas, passam belos momentos. E eu? Ia aborrecer-me de morte… Talvez um dia diga o contrário mas, para já, só quero trabalhar. Sabe, a minha mulher é muito mais nova do que eu e adora viajar. Eu tenho de ir atrás dela senão ela vai dizer-me, “Oh, estás tão velhinho”, e isso seria irritante. Ela mantém-me jovem e provavelmente acabará por me levar para a tumba mais depressa. Talvez um dia deixem de me dar dinheiro para filmar devido à minha idade. Se o fizerem, acho que vou responder-lhes: “Seus idiotas, olhem para o Manoel de Oliveira.”

Woody Allen, entrevistado por Francisco Ferreira, no Expresso.

OS CROMOS DO BOTECO

POSTAIS SEM SELO


Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros. Desde os píncaros da Castro Laboreiro ao Ilhéu de Monchique fervem rumorejos, conversas, vozeios, brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o bom senso de todos. O falatório é causa de inúmeros despautérios, frouxas produtividades e más-criações.
Fala-se, fala-se, fala-se, em todos os sotaques, em todos os tons e decibéis, em todos os azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor interesse. O país não tem nada a dizer, a ensinar, a comunicar. O país quer é aturdir-se. E a tagarelice é o meio de aturdimento mais à mão.
Mário de Carvalho em Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, Editorial Caminho, Lisboa Outubro de 2003

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

TODOS OS DIAS PASSARAM A SER DE LUTA!


O primeiro-ministro afirmou, hoje, durante um almoço conferência com empresários, que ficou surpreendido com as argumentações sobre a Taxa Social Única.
No seguimento de um pedido do governo, o Conselho Nacional da ética para Ciências da Vida, fez um parecer no qual defende que os tratamentos a oferecer aos doentes devem ser ponderados em função dos custos e dos anos de vida que garantem.
O presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, veio esta quinta-feira defender, pela primeira vez, a privatização parcial da Caixa Geral de Depósitos, para o banco público cumprir as metas acordadas com a troika. O presidente do BPI, Fernando Ulrich, é da mesma opinião.
Um em cada quatro portugueses admite já ter sofrido de depressão e a quase totalidade considera que a crise aumentou o número de casos desta doença, revela um estudo da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, hoje divulgado.

À LUPA


Recapitulemos. Ao final do dia, Pedro lança a bomba em direto pela televisão minutos antes do futebol. À noite, canta alegremente “Nini”. Na manhã seguinte vem ao Facebook encenar a dor pungente de ser primeiro-ministro. Naturalmente, fosse outra a ordem das variantes e o resultado em nada se alteraria. Tão fraca prestação dramática prova, porém, que o artista saltou os versos “foi tempo de crescer/foi tempo de aprender”, encalhado que parece na fase do “dói-dói”. E deste modo se tornou pleonástica a conhecida máxima, “os políticos e as fraldas devem ser mudados regularmente e pela mesma razão”.
 Ana Cristina Leonardo no Expresso.

MARCADORES DE LIVROS

SARAMAGUEANDO


Pegarmos nas palavras de José Saramago e, sem ponta de espanto, constatar que em quase tudo o que disse, em quase tudo o que escreveu, existem reflexos nos dias amargos que vamos enfrentando, em que tentamos que seja possível, um acreditar numa luz, luzinha que seja, no final de um qualquer túnel.
Por exemplo, nas palavras finais do Ensaio Sobre a Cegueira:
 POR QUE FOI QUE CEGÁMOS,
NÃO SEI,
TALVEZ UM DIA SE CHEGUE A CONHECER A RAZÃO,
QUERES QUE TE DIGA O QUE PENSO,
DIZ,
PENSO QUE NÃO CEGÁMOS,
PENSO QUE ESTAMOS CEGOS.
CEGOS QUE VÊEM,
CEGOS QUE,
VENDO,
NÃO VÊEM.
Legenda: fotografia encontrada no Project Adir.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

TODOS OS DIAS PASSARAM A SER DE LUTA!


Numa sessão de homenagem a Adriano Moreira, realizada hoje em Lisboa, Pedro Passos Coelho citou versos de Os Lusíadas para defender que, apesar de não poder ser subestimada, a corrente em que o navio português foi posto tem ventos favoráveis a soprar nas suas velas.
O Governo tem prevista a privatização parcial da Caixa Geral de Depósitos para travar a escalada da dívida pública.
A factura da água aumentou na esmagadora maioria dos concelhos do país nos últimos dois anos, chegando a triplicar nalguns casos.
O Governo vai proibir as empresas públicas de contratar novos trabalhadores no próximo ano. As excepções à regra terão de ser autorizadas pelo ministro das Finanças.
O Turismo de Portugal pagou 190 mil euros por The Beauty of Simplicity, o vídeo promocional que usa imagens manipuladas de Lisboa. A prestação de serviços de publicidade foi atribuída à Krypton Films por ajuste directo.
Numa lista de 230, Governo quer extinguir 38 fundações, eliminar 100% dos subsídios a 14 e cortar 30% a outras 52.
Com os cortes nas fundações, o Estado poupa 200 milhões de euros.
Marcelo Rebelo de Sousa defende uma decisão mais radical no corte dos subsídios às fundações, considerando que o Governo poderia ter sido mais drástico.

ANDY WILLIAMS (1927-2012)


Na longa lista dos meus crooners, não se encontra nos primeiros lugares.
Não por demérito do artista, mas por mero gosto pessoal.
Andy Willimas ficará sempre ligado a Moon River, canção do filme Breakfast At Tiffany’s, que em português se chamou Boneca de Luxo, comovente interpretação da lindíssima Audrey Hepburn.
O ano passado foi-lhe diagnosticado um cancro. Esteve em tratamento, mas em Julho deixou o hospital para que pudesse passar os últimos dias em casa.
Passou-se o mesmo, entre muitos outros, com Paul Newman que, por mera coincidência, morreu faz hoje quatro anos.
Com um cancro nos pulmões, Newman, já muito debilitado, decidiu abandonar o hospital em Agosto desse ano, de forma a passar os últimos dias de vida em casa, junto dos seus.
O jornalista Victor Cunha Rego disse um dia: A pessoa preparar-se para a morte é a grande finalidade da vida.
Morrer não deverá ser, necessariamente um acto de solidão e abandono.
António Lobo Antunes escreveu que ninguém está preparado para morrer e citava Paul Klee: Como posso eu, cristal, morrer?

QUE, PELO MENOS, NÃO SE PERCA O HUMOR...


Quem chega a Liverpool de avião, aterra no aeroporto John Lennon e é recebido por um verso de Imagine, uma das canções mais famosas do ex-Beatle, Above us only sky - por cima de nós, apenas o céu.
O Liverpool FC, clube mais emblemático da cidade, está longe de andar nas nuvens na Premier League inglesa e alguém (provavelmente um adepto do rival Everton) resolveu acrescentar uma frase à citação de Imagine, Below us only QPR and Reading - Por baixo de nós, apenas o QPR e o Reading.
Os reds estão a ter um desastroso início de época, ainda sem vitórias em cinco jornadas na Premier League, e apenas dois pontos conquistados, que lhe valem um humilhante 18.º lugar, apenas à frente do QPR e Reading.
Fonte: Público.

UM TEMPO QUE DESAPARECEU...


Obrigo-me a procurar a companhia de escritores. Se estou sem escrever, sinto remorso. Já tive grandes amigos escritores, da minha idade e mais velhos, como o José Gomes Ferreira, o Orlando da Costa, o Carlos de Oliveira, o Herberto Helder o Augusto Abelaira… Eram pessoas que nem falavam muito de literatura. Era um convívio em que se falava de coisas concretas. Não se falava só de literatura. Hoje não seria possível, porque era também a vida de café. Essa vida desapareceu.
Nuno Júdice

OLHAR AS CAPAS


Cozinha de Urgência
Henriette Chandet e Suzanne Desternes
Adaptaçlão de Maria Helen da Costa Dias
Capa: João da Câmara Leme
Livro de Bolso nºs 29/30
Portugália Editora, Lisboa s/d

A maior parte das mulheres, hoje em dia, trabalha fora de casa e pouco tempo tem para dedicar à cozinha. Mesmo as que ficam em casa já não têm paciência para passar horas a fazer a comida, preparando pratos segundo receitas complicadas. Por isso umas e outras necessitam ajudam; fazem tudo ou quase tudo por si mesmas adquiriram outros hábitos, não se interessam pelos grandes livros das nossas avós que lhes surgem assaz complicados, demasiado dispendiosos e, a falar verdade, já em desuso.
Contudo, a herança das tradições culinárias não morreu ainda de todo, os pratos saborosos e bem apresentados continuam a ser bem recebidos.
Há por isso que adaptar essas tradições ao modo de vida actual, fazendo uma cozinha simples mas agradável à vista e ao paladar. Cozinha de urgência – diremos nós – a cozinha da mulher que volta tarde para casa e pouco tempo tem para preparar as refeições.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

TODOS OS DIAS PASSARAM A SER DE LUTA!



O secretário-geral da UGT afirmou que a central sindical mantém em cima da mesa o cenário de uma greve geral, mas a decisão depende do Orçamento do Estado para 2013.
A Caixa Geral de Depósitos assume como sendo de alto risco a sua exposição de 122 milhões de euros a duas parcerias público-privadas envolvendo obras públicas na Grécia e em Espanha. O banco estatal tem como parceiro nestes negócios o BESI, para além de outros grupos internacionais.
À semelhança da Grécia e da Irlanda, nota-se em Portugal uma tendência para falhar os objectivos das medidas acordadas com os credores, escreve o Financial Times na sua edição de hoje.
John Williams, dirigente da Reserva Federal dos Estados Unidos, considerou que os planos de austeridade exigidos a certos Estados da zona euro se arriscam a travar o crescimento económico e a complicar ainda mais a redução dos défices públicos.
As várias forças de segurança nacionais vão juntar-se ao protesto convocado pela CGTP para o próximo sábado e ponderam fazer greve.
O aumento de IRS anunciado, ontem, pelo primeiro-ministro terá um impacto, já a partir de Janeiro, no rendimento de mais de dois milhões de portugueses.
A Fenprof (Federação Nacional de Professores) lançou a denúncia: de que o Ministério da Educação e Ciência pagou mais de 61 mil euros ao escritório do advogado Sérvulo Correia por um parecer no caso do não pagamento de compensações por caducidade do contrato dos professores, pagamento que o ministro Nuno Crato diz desconhecer!...

À LUPA


Descobri-o no fim. Descobri-o nas palavras dos outros. Nos títulos que os outros diziam que ele tinha escrito. Nas palavras dos que confessavam o seu amor pelas palavras dele. Por ele. Descobri-o melhor num texto. Escrito noutra língua por outro autor que, entretanto, eu já tinha descoberto. Foi através das suas frases - que tive o privilégio de traduzir para a minha língua - que ele começou a chegar. O seu nome já me tinha acenado. Já o vira, já quase o lera, mas por uma razão ou por outra, a página não se virara.
Comecei com Noturno Indiano. Lido num só dia. Numas horas em que não houve lugar para mais nada, a não ser acompanhar aquele homem que percorre a Índia em busca de um amigo, de si, dos hotéis e dos passos, do passado, do futuro, dos encontros, dos sonhos, de quartos cheios de histórias (e de horas). Um homem que eu descobri. Mesmo que tarde. Neste momento leio Requiem, e deixo-me encantar por mais uma viagem interior, a única escrita diretamente em português. Afirma Pereira chegará a seguir. Já o tenho. Depois quero descobrir A Mulher de Porto Pim. O quarto dos tantos livros possíveis que Antonio Sarabia destacou naquele texto que eu li, que me cativou, e que me parece já tão longínquo. Percorri livrarias, alfarrabistas, nada. Diz-me um amigo que a reedição está para breve. Espero, sinceramente, que sim. Antes que seja tarde.
Francisca Cunha Rego no JL

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS

QUOTIDIANOS


 Um caçador de Idanha-a-Nova foi aos tordos e acabou por ser detido. Segundo a GNR o homem gravava o pio dos tordos num telemóvel a atraía as aves com os toques.
 Dos Jornais

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TODOS OS DIAS PASSARAM A SER DE LUTA!


Durante a manhã, com a presença do primeiro-ministro e o ministro faz finanças, esteve reunido o Conselho de Concertação Social.
Pelo que já se vai sabendo, uma conclusão há a tirar: mais do mesmo!
O Governo afirma que, para compensar a devolução de um subsídio aos funcionários públicos e pensionistas, estão a ser estudados o agravamento da tributação em IRS e também sobre o capital e o património.
É provável que grande parte do 13º e 14º mês da função da república e pensionistas sejam devolvidos, não se sabe quando emas se isso acontece terão de ser lançados impostos sobre todos os rendimentos e património.
A CGTP já fez saber que não é por aqui que se pode ir por aí e rejeita qualquer medida ou qualquer mexida no IRS que porventura tenha como consequência a redução dos salários, seja do sector privado, seja da administração pública, seja através dos pensionistas do regime geral ou da administração pública.
Há um conjunto de pessoas que não declara o que ganha no IRS.

ELVIS 100%



Capa e contra capa do nº 69, referente e Setembro/Outubro, da ELVIS 100%, revista do clube de fans de Elvis Presley em Portugal.

domingo, 23 de setembro de 2012

OLHAR AS CAPAS


O Lugar do Televisor

Mário Castrim
Capa e ilustrações: Ana Romão
Editorial Além-Mar, Lisboa Julho 2003

Estou doente. O grande pico da febre já passou, mas fiquei muito deitado abaixo. Não me apetece nada. Não me apetece fazer nada. Nem ler. Não há dúvida: deu-me forte. Pedi que me trouxessem a mesinha de escrever na cama, estou encostado a duas grandes almofadas. Mas seguro a esferográfica nos dedos moles. A minha mulher diz-me: «Vê lá se me sujas o lençol, como da outra vez. As nódoas de esferográfica não saem.«Como da outra vez»... Sorrio. Foi há mais de doias anos. Elas nunca esquecem nada.

DO BAÚ DOS POSTAIS



No baú tenho uma quantidade de postais com endereços muito vagos.
Este. por exemplo, não tem nome de rua, nem de porta, apenas Correio de Lisboa /Paço d'Arcos.
Será que terá chegado às mãos da D. Adelaide Oliveira?

(Clicar na imagem do texto para uma mais fácil leitura)

sábado, 22 de setembro de 2012

POSTAIS SEM SELO


Vez por outra, o meu pai levava-me até à Trafaria. Atravessar o rio era uma aventura sem parágrafos. Colocava-me na amurada do vapor e seguia o doce movimento das ondas, perdidas em outras ondas e em espuma e em salpicos. As gaivotas soltavam gritos estridentes e poisavam levemente nas águas, procurando comida ou seguiam em bando a uns metros da popa do barco. O barco deixava um sulco borbulhante nas águas.

Baptista-Bastos em A Bolsa da Avó Palhaça, Oficina do Livro Lisboa Novembro 2007.

OS CROMOS DO BOTECO

À LUPA


Vou ter de viver os próximos tempos em condições muito duras que não dependem de mim. Ser uma testemunha passiva do que se passa comigo, nada poder fazer para alterar seja o que for, desespera-me. Quando as coisas dependem da minha vontade eu luto. Quando não dependem fico reduzido a um espectador inútil, sofrendo o que se passa sem poder intervir, e a minha indignação e a minha angústia crescem. Aguenta-te. Mas é difícil aguentar passivamente. Noites sobressaltadas, despertares cansados, a raiva da injustiça. Vou arranjando forças para continuar a escrever mas esta pequena coisa dentro de mim tenta destruir-me a energia. Sempre aceitei mal o que vem de fora da minha vontade, sempre aceitei mal o que me é imposto autoritariamente, sem discussão nem razões. Aceito, até certo ponto, a incerteza do futuro, não aceito que essa incerteza não me consinta uma margem de liberdade.

António Lobo Antunes na Visão.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

DA MINHA GALERIA


Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
e nada mais


Composição de Zé Rodrix e Tavito.
Intérprete: Elis Regiba

À LUPA


O presidente da Comissão de Ética, Medes Bota, afirma que mais de metade dos deputados também trabalha para o privado, considerando, por isso, urgente que se aumente o grau de exigência nas incompatibilidades e impedimentos dos deputados, chamando a atenção para o facto de em 230 deputados, 117 acumularem funções com o sector privado.
Entre os deputados que acumulam funções, a maioria trabalha em direito ou está ligada ao meio empresarial. Metade dos 66 deputados com formação jurídica exerce advocacia e 84 têm interesses patrimoniais ou laborais em empresas privadas.

Dos jornais

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

OLHAR AS CAPAS


Os Filmes da Minha Vida, Os Meus Filmes da Vida

João Bénard da Costa
Assírio & Alvim, Lisboa, Novembro de 1990

Nunca serei eu a rejeitar a famosa definição baudelairiana da crítica, quando lhe exigia parcialidade e paixão. Nunca serei eu a anatemizar terrorismos por estas bandas. Nunca serei eu a defender os jogos perigosos da transparência.
Mas precisamente porque sei donde se fala – quando se fala com paixão crítica (dois termos que só não são antagónicos quando são um pelo outro envolvidos) – sempre me afastarei de um texto crítico quando esse secundarizar a elucidação do que critica ( a sua plena iluminação) ou a formação do gosto de quem eu quero que goste tanto como eu gosto e que, se possível, goste como eu gosto.
Talvez por isso aplique sempre aspas ao «crítico» que outros vêem em mim. Certamente por isso, não desculpo aos críticos o abastardamento do gosto, de que começaram por ser vítimas e acabaram por seus fautores. E sobretudo por isso não perdoo que se seja crítico sem gosto, a contragosto ou com desgosto. Com nenhum desgosto aprendi nada. E aprender a gostar ´+e tudo quanto pedi e peço aos críticos de quem gosto.

QUOTIDIANOS


Isto de envelhecer…

Isto de estar a um passo de morrer…. Só não se sabe como…

Quando já nada se tem da criança que fomos, ou não fomos, só servimos para morrer…

Grande parte ao abandono: dos filhos…dos parentes… da sociedade…

No dia em que fez 105 anos, Emídio Guerreiro. disse: Não é com a morte que a vida termina: esvai-se antes disso.

Uma depressão irreversível…
Duas irmãs, de 92 e 94 anos, com mobilidade reduzida, morreram, esta manhã, num incêndio em Vila Nova de Gaia. Há vários que estavam ao cuidado de um casal na situação de desempregados.

A possibilidade de as idosas estarem amarradas à cama quando as chamas deflagraram, era falada no café situado ao lado do prédio, e giravam à volta de suposições: estavam amarradas para não se levantarem e caírem, sabe-se lá mais o quê…

 Uma mulher que vive perto do edifício onde deflagrou o incêndio, afirmou à Lusa ter visto duas pessoas na varanda muito aflitas. A senhora estava a querer entrar em casa para salvar as idosas, e o homem a agarrá-la para não a deixar entrar.

O NOME DE UM PAI



[Do observador no velório de CDA]

 A tempo de descrever
a fabricação do luto:
o punhado de letras
apanhadas ao acaso
para formar o nome preciso.
Uma a uma com o seu espeto
prontas para serem pregadas
com zelo de profissional
no quadro preto de lã
sem desconsolo e lágrima
sem se sentir sozinho
diante daquelas sílabas
soletradas pelo mover
mudo dos lábios, no silêncio
(como se fosse uma prece)
da capela vazia, antes
da chegada do corpo:
um erro na composição
do nome foi corrigido
mas a morte incorrigível
já tinha chegado, há tempo.


Armando Freitas Filho

Nota do editor: No dia em que Carlos Drummond de Andrade morreu o seu amigo e poeta Armando Freitas Filho, deslocou-se à casa mortuária. Dos primeiros a chegar, verificou que estavam a escrever, num painel, Drummond com um m a menos. Corrigiu e o episódio deu lugar a este poema.
O poema como a história são retirados de um trabalho de Alexandra Lucas Coelho, publicado no Público de 17 de Agosto de 2012.

O VERÃO ACABOU


O Verão a despedir-se.
Poderia escolher Derniers Baisers de Les Chats Sauvages.
Optei por Au Revoir Sylvie do Duo Ouro Negro.
O meu amigo Garrudo vai gostar.

À LUPA


Maria Teresa Horta recusa receber o prémio literário, outorgado pela Fundação Casa de Mateus, pelo seu livro As luzes de Leonor. A marquesa de Alorna, uma sedutora de anjos, poetas e heróis, das mãos de Pedro Passos Coelho, cerimónia marcada para o próximo dia 28 de Setembro.

Na realidade eu não poderia, com coerência, ficar bem comigo mesma, receber um prémio literário que me honra tanto, cujo júri é formado por poetas, os meus pares mais próximos - pois sou sobretudo uma poetisa, e que me honra imenso -, ir receber esse prémio das mãos de uma pessoa que está empenhada em destruir o nosso país.
Sempre fui uma mulher coerente; as minhas ideias e aquilo que eu faço têm uma coerência. Sou uma mulher de esquerda, sempre fui, sempre lutei pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores.

POSTAIS SEM SELO


Lembram-se daquele aparelho onde podiam colocar um disco e, depois, acender umas velas, beber um copo de vinho? Há todo um romantismo em volta disso… as capas, o cheiro.
Se uma coisa produz beleza e deixa a sua marca na Humanidade, temos de nos agarrar a ela.
É o que se passa com o vinil.


Legenda: Marilyn Monroe.
                 Não foi possível localizar o autor/origem da fotografia.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

MARCADORES DE LIVROS

À LUPA


Agora é oficial: ao anunciar o novo pacote de austeridade a um país atónito, Pedro Passos Coelho conseguiu atingir aquilo a que todos os governos aspiram - a unidade de todo o povo. Só que, neste caso, contra as medidas avançadas.

Editorial do Diário de Notícias.

POSTAIS SEM SELO



Tudo vem de mais longe e vai para mais longe do que nós.

Marguerite Yourcenar

Legenda: pintura de Stephen Darbishire.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

LUIZ GOES (1933-2010)



Morreu Luiz Goes.


Nessa altura, vivia-se em Coimbra uma das fases mais ricas da canção feita por estudantes. Depoisda época áurea em que participaram nomes como António Menano, Francisco Menano, Edmundo Bettencourt e Artur Paredes, os anos 50 e 60 reconduziram a canção coimbrã ao seu mais alto nível, com vozes como Luis Góis, FernandoMachado Soares e José Afonso.

José Niza, no prefácio à Obra Completa de Adriano Correia de Oliveira, Movieplay, 1994.

À LUPA


Temos de nos habituar a ler os programas de governo, que é coisa que ninguém faz. Vai toda a gente votar, mas devia-se votar de forma mais consciente. Normalmente, as pessoas votam por amor partidário ou porque nos cartazes há pessoas mais simpáticas do que outras. Acredito que o número de portugueses que introduz o voto na urna não faz ideia dos programas. Mas pior: as pessoas não acreditam no que os políticos lhes dizem nas campanhas e, portanto, não lhes ligam nenhuma.

Manuela Ferreira Leite ao I.

CHAMAM-LHE ARTISTA


Olhe, tenho um amigo, o Zé Quintela,
trabalhava aqui connosco. Há uns anos
foi a França passar férias. Compreende?
Foi fazer uma calçada na casa de um emigrante.

Lá ficou. Por aqui andava à esturra, pagavam-lhe
oitenta contos. Em França chamam-lhe artista,
com direito a guarda-sol. Ganha muito mais
do que isso. E até faz exposições.

Foi bem. Cá seria o Zé Calceteiro,
a beber minis na Tendinha do Rossio

Vítor Nogueira, colocado no Expresso por Nicolau Santos.

QUOTIDIANOS

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

QUOTIDIANOS


O velho está sentado no banco de jardim, gorro de lã na cabeça, junto às pernas um enorme saco de plástico cheio de coisas que só ele sabe o que são e que as tem como importantes.

Está a olhar, nem sabe bem para onde, a pensar nem sabe o quê.

A entradota dama que passa, mala Louis Vuitton ao ombro, pergunta-lhe se ele necessita de qualquer coisa: uma sandes, um galão.

O velho olhou a dama, tremendamente chateado por lhe interromperem a meditação, no fundo, no fundo, a indómita vontade de dizer à dama para ir dar uma granda volta, ou pior ainda, mas decidiu-se a dizer qualquer coisa:

- Queria um rádio de pilhas para ouvir os relatos da bola!

A dama ainda ficou uns breves instantes a olhar para o velho de gorro de lã na cabeça, sentado no banco de jardim, a olhar para o longe.

 Terá acabado por murmurar para dentro de si mesma, que não vale a pena ter pena desta gente, ingrata até mais não.

A CONDIÇÃO DE SER PESSOA


Mário Castrim, numa das suas críticas de televisão, publicadas no seu livro O Lugar do televisor, introduz Diógenes, e o imperador Alexandre, com este  a querer ser simpático para com o filósofo, o intuito de o ajudar.

Diógenes estava sentado numa pedra, fora da sua «casa». O imperador aproximou-se, manteve com ele uma longa conversa e por fim perguntou:
-Não precisas de nada? Pede-me o que quiseres.
-Peço-te que te chegues mais para o lado para não me tirares o sol… - respondeu Diógenes.

Castrim salta depois para o que o levou a invocar a história de Diógenes e do imperador Alexandre: uma reportagem televisiva sobre os sem abrigo.

A certa altura, o projector da televisão incide sobre um velho mal coberto pelos seus cartões prensados. Pisca à luz os olhos pesados, defendidos pela mão em forma de pala. A repórter faz perguntas, ele não responde, sempre com as mãos a defender-se da agressividade do projector.
-Somos a televisão – diz a repórter, para o tranquilizar – diga-nos, o que é que mais deseja neste momento? O que é que mais quer?
- Quero que me deixem dormir – respondeu, tapando a cabeça com o cartão prensado.
Não, a resposta não é a de nenhum Diógenes filósofo. Mas é a resposta de alguém que, no fundo do poço, encontra reservas de dignidade para defender a sua condição de pessoa. Viva. Debaixo do cartão prensado.