quinta-feira, 31 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Um homem é um sucesso se pula da cama de manhã e vai dormir à noite, e, nesse meio tempo, faz o que gosta.

Bob Dylan

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia

COM QUE SOPRO SE RESSUSCITAM?


16 de Setembro de 1969

Ouvi, agora, transmitido pela rádio, Dido e Eneias de Purcell. Sensação, como sempre, da Hora da Morte.

17 de Setembro de 1969

Fui a Lisboa. Recebi as provas de Tempo Escandinavo.
Todo o dia sem música. Cheguei a casa feliz, e abri a Rádio.
A atmosfera para mim compõe-se de oxigénio, azoto e música.

18 de Setembro

Toda a manhã a ruminar as provas… Descoberta arrepiante de muitas palavras mortas.

Com que sopro se ressuscitam?

José Gomes Ferreira em Livro das Insónias Sem Mestre VIII volume dos Dias Comuns.

OLHAR AS CAPAS


Assinar a Pele
Antologia de Poesia Contemporânea Sobre Gatos

Organização João Luís Barreto Guimarães
Assírio &Alvim, Lisboa, Novembro de 2001

Zoologia: O Gato

Um gato, em casa sozinho, sobe
à janela para que, da rua, o
vejam.

O sol bate nos vidros e
aquece o gato que, imóvel,
parece um objecto.

Fica assim para que o
invejem — indiferente
mesmo que o chamem.

Por não sei que privilégio,
os gatos conhecem
a eternidade.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

NOTÍCIAS DO CIRCO


Cheguei a pensar que o homem nunca mais deixaria a Travessa do Possolo, à Lapa, ou a casa da Coelha nos algarves.

Enganei-me.

Apareceu, hoje, a dar uma aula a jovens na «Universidade de Verão do PSD».

A prestação mais não versava do que mandar directas e indirectas ao Primeiro-Ministro e ao Presidente da República.

Mimos de sua excelência cavacal:

«A realidade acaba sempre por derrotar a ideologia»., não deixando de bolsar de que a Portugal mais não resta que não seja a submissão à União Europeia e às suas imposições.

«Aqueles que no Governo têm a retórica da revolução socialista acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam.»

Passado o tempo que passou, o filho do Sr. Teodoro da bomba de gasolina, ainda não conseguiu debelar a azia que o atingiu quando olhou a formação do Governo do PS com os apoios do PCP, do BE, do PEV.

O Partido Socialista já veio lamentar a intervenção, lembrando que enquanto esteve em Belém não tivesse «piado mais», contra a «troika» e o governo de direita de Passos e Portas, na defesa do povo e dos trabalhadores.

Ele nunca se engana e quando se engana não o reconhece.

Cavaco é um fulano que me irrita, que me coloca no limiar do vómito.

OLHAR AS CAPAS


Os Crimes do Bispo

S.S. Van Dine
Tradução: Peri Pinto Diniz
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 6
Livros do Brasil, Lisboa s/d

Uma vez sentados na biblioteca, insistiu em oferecer-nos um copo de vinho do porto que ele mesmo serviu.
- Druker deveria estar aqui – disse o professor. – Tem muito carinho pela minha «Noventa e seis», embora ele beba somente em rras ocasiões. Eu disse-lhe que deveria tomar mais vinho do porto; mas ele pensa que lhe faz mal e lembra a minha gota. Todavia não existe relação alguma entre a minha gota e o vinho do Porto. A opinião é mera superstição. Um bom vinho do Porto é o mais são de todos os vinhos. A gota não é conhecida na cidade do Porto. Druker precisa um pouco de estimulante físico de boa qualidade… Pobre homem. O seu espírito equivale a um forno que lhe queima o corpo. É um homem brilhante, Markham. Se tivesse suficiente energia física, que se harmonizasse com o seu espírito, será um dos maiores físicos do Mundo.

ACREDITAR NO ALUNO


O Barradas tinha lágrimas nos olhos. Eu falara-lhe com uma voz pequenina, que não ralhou nunca. Disse-lhe que tenho confiança nele e tenho mesmo. O Amor converte os pecadores, quanto mais o Barradas que é um rapazinho manso e bom!
Primeira lei: acreditar no aluno. Se o campo é bom e se a semente é bem lançada, até uma inicial vontade de enganar a contraria, agindo no espírito do aluno a nossa fé. E depois há o ficar ou não ficar tranquila a nossa consciência. Suponhamos, fora da escola, que um homem me diz: «Venho a pé do Algarve à procura de trabalho. Estou morto de cansaço e de fome e gastei os últimos cobres. Tenho vergonha de pedir esmola». Suponhamos agora que eu lhe digo: «Se não se importa, eu dou-lhe alguns escudos. Não +e esmola, nem é talvez «dar» a palavra que devia empregar, porque isto é um empréstimo: amanhã posso eu precisar e outro me há-de socorrer; me há-de pagar a dívida que o senhor contraiu comigo». Pois bem: «Tu és um trouxa» - poderão dizer. «Foste no conto do vigário e o homem ri-se de ti, enquanto come o teu dinheiro». E que me importa? Prefiro arriscar-me a «ser levado» a arriscar-me a deixar um homem morrer de fome. Sou levado, mas fico lavado. O que me enganou é que não.

Sebastião da Gama em Diário

GIRANDO-O DE ENCONTRO À CHAMA


O detective saiu também. A porta fechou-se. O barulho confuso lá fora dilui-se um pouco e Breeze e eu sentámo-nos a olhar um para o outro atentamente.
Passado um pouco, Breeze cansou-se de olhar para mim e tirou um charuto da algibeira. Rasgou a película de celofane com um canivete, cortou a ponta do charuto e acendeu-o com todo o cuidado, girando-o de encontro à chama e segurando o fósforo ainda mais um pouco a olhar pensativamente para nada. 
Deu algumas profundas fumaças no charuto para se assegurar de que ele ardia da maneira que ele gostava, sacudiu o fósforo com gestos lentos e inclinou-se para o pousar no peitoril da janela aberta. 
Depois fitou-me mais um pouco.
- Você e eu – declarou – vamos entender-nos.
- Isso é óptimo – respondi.

Raymond Chandler em A Janela Alta

terça-feira, 29 de agosto de 2017

OLHAR AS CAPAS


O Amor Desagua em Delta

Egito Gonçalves
Capa: Armando Alves com um desenho de José Rodrigues
Colecção Coroa da Terra nº 1
Editorial Inova, Porto, Dezembro de 1971

Sitiados


Esta cidade é a última cidade...
Os muros derruídos estão cercados:
Os canhões troam através dos mapas.

Nossa imagem, revelada pelas montras,
Passeia pelas ruas de mãos dadas...
Somos a última trincheira valiosa.

Unidos, trituramos os assaltos
E renovamos o cristal da esperança.

Os ruídos emolduram-te o sorriso,
Pura mensagem, prenhe de um futuro
Isolado de poeiras e de lágrimas.

BIBLIOTECA COSMOS


Escrevi dois volumes segundo este projecto, um intitulado “ A Ciência Hermética” e outro “O Embalsamento Egípcio”, e ambos foram publicados numa colecção famosa designada Biblioteca Cosmos, editada em Lisboa, e na qual saíram mais de 100 volumes, talvez 150.
O director da Biblioteca Cosmos era um professor da Universidade Técuica, ainda hoje muitas vezes recordado pela sua competência no ramo da Matemática. Chamava-se Bento de Jesus Caraça e conheci-o pessoalmente. A sua memória ao ser acordada no tempo presente, como às vezes sucede, não se prende ao seu saber, o que só por si o justificaria, mas à sua resistência à ditadura salazarista que nunca perdoou a ninguém que se lhe pusesse. Esteve preso, foi afastado da sua profissão, sofreu bastante e não resistiu aos sofrimentos. Tinha apenas mais quatro ou cinco anos do que eu e já morreu há mais de quarenta anos.
Das vezes que falei com ele recebeu-me sempre de modo muito correcto, com certa distância natural. Recordo um pormenor curioso. Bento Caraça era director de uma Gazeta de Matemática, análoga aos objectivos à minha Gazeta da Física, e até na tipografia daquela que esta se compunha e imprimia. Eram irmãs gémeas. Certo dia fui procurar o professor Caraça para saber da aceitação que tivera um artigo meu que lhe enviara para publicação na dita Gazeta de matemática. Ele já o tinha lido, e gostara. Ia publicá-lo, mas… Ele estava sentado à secretária, sério, compenetrado da sua função de director, e eu sentado defronte como penitente. O meu artigo versava as íntimas relações entre a Matemática e a Física e punha em relevo a importância dessas relações ao nível do ensino liceal. Intitulei-o “A Física filha directa da Matemática”. Era esta a razão do mas… O título não lhe agradou. Bento Caraça procurou fazer-me compreender que a dignidade e a gravidade da Ciência não permitiam a leveza daquelas palavras, parece que pouco virtuosas. Ele era um homem progressista, aberto às transformações sociais, revolucionário, mas há coisas sagradas. Visto isso mudei o título para “Sobre a correlação entre a Matemática e a Física no ensino liceal.”. Veio no nº 31, de Fevereiro de 1947. Ele morreu no ano seguinte, e eu ainda cá estou a apreciá-lo nas suas forças e nas suas fraquezas.

Rómulo de Carvalho em Memórias

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


O jornalismo, tal como o conhecemos, está a acabar: E isso não é uma boa notícia para as democracias.

Nicolau Santos no Expresso

Legenda: pintura de Claude Monet

NOTÍCIAS DO CIRCO


Recorte tirado da última página do Expresso de 26 de Agosto de 2017.

TRUMPALHADAS


A Coreia do Norte ameaçou afundar todo o território dos Estados Unidos, caso a administração de Donald Trump tente invadir o país asiático, no âmbito das tensões permanentes entre as duas partes.
E o mundo ficou à mercê de dois tarados!!!...

SOU TÃO ROMÂNTICO QUE ATÉ GOSTO DE CONSERVAR RECORDAÇÕES...


Falando de discos, vão para um teatro para crianças que se está organizando, segundo penso. E também empréstimo. Comigo, levo apenas quatro ou cinco de música russa e os dois de jazz que a Dietlinde me ofereceu uma vez… (Sou tão romântico que até gosto de conservar recordações. Que bom!) Deixo cá todos os que suponho que ela gostava: Bach, Mozart, Beethoven, canções de Natal, cancões alemãs e, evidentemente, os discos de música brasileira que eu caí na arara de comprar.
Bem, M.ª Isabel, creio que não estou a fazer nada ilegal, nem a prejudicar a futura venda que irá enriquecer a minha quase ex-esposa. Tudo foi emprestado… creio que ainda me resta o direito de emprestar aquilo que foi uma parte grande de mim durante muitos anos. Quando quiser, é só pedir e tudo volta. Não alterei a fortuna do unido casal nem espoliei ninguém… apenas ajudei alguns a terem, temporariamente, um pouco mais de direito à vida…
E é tudo no que respeita à casa. O resto cá está, mas a casa já não é nada. Morreu. Creio que era isto que a Dietlinde queria. Ao raspar-se de casa, declarou-me que não queria nada. Depois, pediu a viola. Levou a viola. Em seguida discos e livro. Levou discos e livros (aliás, tudo, incluindo a viola, ficou por cá, à guarda da Branca). Depois a m´quina de costura. Teve a solene afirmação, por mim feita, que a máquina era dela. Depois começou a querer mais coisas e agora conseguiu o que queria, conforme o bom processo hitleriano: tudo. O Hitler também não queria mais nada depois da Áustria, não queria mesmo mais nada depois dos Sudetas, nadíssima mais depois de Dantzig até que… apanhou a indigestão da Polónia. O diabo é que este sistema dá quase sempre como resultado a chegada de uns senhores chamados russos até Berlim. Não há dúvidas que sou muito parvo; em certa altura devia também ter resolvido zangar-me e ir até Berlim da minha jovem
Discípula de Hitler. Bem, mas adiante…
(…)
A propósito de partida: gostaria muito, mesmo muito, de ainda conseguir tomar uma bebida consigo, antes de meter os pés ao desastre. Mas, M.ª Isabel, não creio isso muito provável. Vou num cargueiro, trabalhando na conferência de carga. Foi uma manigância que arranjei para poder ir, pois estou em  falência quase fraudulenta. Como sabe, mais uma das minhas múltiplas loucuras ´+e ser também possuidor de Cédula Marítima de Praticante de Comissário. Portanto, estou legal. Se o cargueiro não chegar, cá estarei; se alguém me prender, também cá estarei. Senão, vou no dia 14. Com vento sul e mar encapelado… e confesso-lhe que muito chateado e sem acreditar nada no que vou fazer.
É assim.
Escreva-me ainda uma vez, se lhe sobrar tempo e lhe der prazer. Gostaria bem de a ler acerca de Londres e dos seus entusiasmos.
Diabo, M.ª Isabel, você vai fazer-me falta… Parece estranho, não parece?
De longe um dos maiores abraços que tenho arranjado ultimamente, agora para si

                                                                                    Mário-Henrique



À LUZ DE CANDEEIROS


Sapadores.

domingo, 27 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Habituei-me a calar a dor até não sentir nada. Acreditem. Nada.

Marta Cristina de Araújo em Meios de Transporte

Legenda: não foi possível obter o autor/origem da fotografia.

OLHAR AS CAPAS


A Morte Mora no 14º Andar

Pat Mc Gerr
Tradução: Elisa Lopes Ribeiro
Capa: Cândido Costa Pinto
Colrcção Vampiro nº 68
Livros do Brasil, Lisboa s/d

As duas coisas deram-se quase ao mesmo tempo e foi impossível dizer qual delas se ouviu primeiro, se o grito estridente da mulher ou o baque do corpo esmagando-se no passeio. Ruídos de passos precipitados convergiram imediatamente para o ponto da queda. Era mais da meia-noite, num bairro tranquilo de Nova Iorque, para lá da Rua 55, perto de East River e muito longe das luzes resplandescentes da Broadway. Mas, em menos de dois minutos, formou-se um ajuntamento tumultuosos à volta do corpo.
- Caíu quase em cima de mim, quase em cima, quese em cima… - repetia a mulher que soltara o grito, num tom crescente de histeria.
- Exactamente! – confirmou o companheiro, muito mais calmo. – O corpo bateu no chão mesmo na nossa frente, Se a Mabel eu fôssemos um pouco mais depressa…
- Devia haver uma lei! – declarou gravemente o homem gordo que fumava cachimbo. – Se as pessoas querem matar-se desta maneira, isso é lá com elas… mas com a condição de terem primeiro a certeza de que não passa ninguém cá em baixo! Lembram-se do que aconteceu, há dois anos, àquele carteiro? Ficou logo esborrachado, só porque um maluco decidiu deitar-se da janela abaixo. É caso para agente perguntar para que serve a polícia, se não pode evitar casos destes.

AS COISAS QUE DESEJAMOS NUNCA ACONTECEM


Mário-Henrique deixou S. Domingos. Esta carta, datada de 31 de Agosto de 1961, já foi escrita em Carcavelos. Recebera carta de Maria Isabel, encantada com Londres, de onde lhe escrevera, mais do que com Paris.

Gostaria imenso de estar aí consigo. Londres e uma companhia exacta são duas coisas que não se conseguem senão muito dificilmente. Gostaria de ir consigo comer uns horríveis ovos com presunto no Lyon’s Corner de Regent Street, gostaria de a levar ao pequeno restaurante chinês perto de Picadilly (não me lembro agora do nome da rua), tão barato e tão pessoal, onde nós nos sentimos mesmo nós; ou então irmos provar uma “pizza” na "pizzaria” onde a velha italiana tinha a mania de me fazer festas na cabeça. Enfim, gostaria de estar a sentir Londres consigo. Talvez pudesse contar-lhe só com os olhos o que é a Londres das pessoas, e não a tal do turismo. Seria de facto “sensacional”, como você muito “highlifement” afirma na sua carta. Mas, cara Mª Isabel, as coisas que desejamos nunca acontecem ou, quando acontecem, é tão raramente que até parece que não aconteceram. Assim, tenho que ficar aqui… até não ter.
Cara Mª Isabel, diz-me você na sua carta que os seus amigos têm uma casa tão bonita como a minha. Vénia agradecida pelo seu comentário, é o meu gesto nesta altura. Simplesmente, a minha casa já não tem nada daquilo que você conheceu uns dias atrás. Está praticamente perdida. Passo a explicar: como lhe disse, deixo-a aqui, para que a Dietlinde faça o que lhe apetecer, pois já não tenho mais capacidade para tentar salvar qualquer coisa. Simplesmente, três coisas desapareceram temporariamente: os livros, as pinturas, e esculturas e os discos. Passo a explicar: os livros vão ser entregues, como empréstimo, à Biblioteca Operária de que eu fui um dos directores e organizadores há alguns anos. Tem este acto a sua justificação: a minha “estimada esposa” nunca se interessou, nem de longe, pelos livros. Apenas dizia que juntavam pó, etc. Assim, e como podem ser úteis a gente que de facto se interessa pelo que neles há, aí vão eles de empréstimo. Claro que todos os livros alemães e ingleses que eu lhe ofereci (e até bastantes que já eram meus antes do inefável casamento) aqui ficam.
Quanto ás 2Obras de arte”, seguem em viagem de recreio pela Europa latina (Espanha, França, Itália) integradas, também única e simplesmente como empréstimo, numa exposição itinerante que “companheiros” velhos estão preparando. Assim se mostrará a gentes dessas terras bárbaras que cá também se sabe alguma coisa. Cá em casa fica o quadro pintado por mim que está na casa de jantar e o crucifixo que está no quarto. No lado da minha virginal esposa. Disse-me ela, numa última carta, que queria isto e eu isto deixo ficar. Bem.

Mário-Henrique Leiria em Depoimentos Escritos.

Nota do editor: amanhã será transcrita a parte final desta carta do Homem do Gin para a advogada Maria Isabel.

PAISAGEM


Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello Breyner Andresen em Mar

OLHARES

sábado, 26 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Se não receio o erro, é porque estou sempre pronto a corrigi-lo.

Bento de Jesus Caraça

Legenda: Bento de Jesus Caraça

SOMOS PRÓXIMOS UNS DOS OUTROS


Honramos os nossos pais quando conservamos na memória o de melhor tinham e faziam e deixamos o resto para trás. Quando combatemos e controlamos os demónios que os deitaram abaixo e que, agora, habitam em nós. É tudo o que podemos fazer se tivermos sorte. Tenho uma mulher que amo, uma bela filha e dois bonitos filhos. Somos próximos uns dos outros. Não sofremos de alienação e da confusão por que passei na minha família. No entanto, as sementes dos problemas do meu pai estão plantadas bem fundo no nosso interior… e, assim, resta-nos manter a vigilância.

Bruce Springsteen em Born to Run

OLHAR AS CAPAS


Ciclo de Pedras

Luís Veiga Leitão
Prefácio: Fernando Guimarães
Colecção Poetas de Hoje nº 16
Portugália Editora, Lisboa, Maio de 1964

Segredo

Lá, na última das celas
nódoa negra de açoites,
não há dias, não há noites
porque as as noites têm estrelas.

Lá, só na sombra que dói.
Sombra e brancura de um osso
que o preso remói, remói
no fundo do seu poço.

Lá, quando o vierem buscar
amanhã, depois ou logo,
terá na alma mais um fogo,
mais uma chama no olhar.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Não é segurando nas asas que se ajuda um pássaro a voar. O pássaro voa simplesmente porque o deixam ser pássaro.

Mia Couto em Jesusalém

Legenda; não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.


DA MINHA GALERIA


Amália Rodrigues e Virgilio Teixeira em Fado.

OLHAR AS CAPAS


A Ilustre Casa de Ramires

Eça de Queiroz
Lello & Irmão – Editores, Porto s/d

Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender, minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.
Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:
- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta perda de vida e fazenda?!
- Quais trabalhos, minha senhora? Era desembarcar ali na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são balelas.

AQUELE ALI É MÁGICO


José Luandino Vieira para a elaboração dos Papéis da Prisão, contou com uma equipa de organização constituída por Margarida Calafate Ribeiro, Mónica V. Silva, Roberto Vecchi. A equipa finaliza o livro com uma longa entrevista com Luandino Vieira que serve como ajuda para se perceber o mundo de fragmentos que este livro constitui.
Esta é a última abordagem aos Papéis da Prisão que iniciámos a 13 de Dezembro do ano passado.
Um livro de uma importância transcendente na longa luta, portuguesa e angolana, contra a ditadura salazarista/marcelista que durante perto de 50 anos oprimiu o povo português e os povos das Colónias.
Tentámos reproduzir o que nos mereceu atenção e permitiu uma transcrição que não fosse muito longa.
No texto de hoje, a equipa pergunta a Luandino Vieira se está tudo reflectido nos Papéis. A resposta saiu assim:

O que não está… Eu tinha o privilégio de ter uma senhora caboverdiana a fornecer-me o leite, desde que cheguei. Essa história de Ana de Tchumtchum é a de uma muito lenta conquista de amizade, que se transforma em cumplicidade. A outra é a de domesticar um pardal. Domestiquei um pardal, nenhum pássaro é fácil, mas um pardal… Fazia parte das estratégias de conquistar o tempo. E demorou-me tanto tempo a ganhar a confiança de nhá Ana como do pardal. A nhá Ana permitiu-me tirar toda a papelada para fora, pouco a pouco; o pardal deu-me um estatuto, sobretudo diante dos caboverdianos: «Aquele ali é mágico), porque efetivamente o pardal aparecia e pousava no meu ombro. Estávamos todos, os presos, perfilados, para fazer a chamada para entrar na caserna e, de repente, vinha um pardal de um lado qualquer e pousava, pum! E os caboverdianos, da cozinha, a dizer: «Aquele ali é bruxo!». Por causa do pardal…

Legenda: José Luandino Vieira

OLHARES


Graffiti na Rua Natália Correia a Sapadores.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice, foi a época da fé, foi a época da incredulidade, foi a estação da luz, foi a estação das trevas, foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero, tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós.

Charles Dickens

Legenda: Charles Dickens por Robert William

OLHAR AS CAPAS


Conta-Corrente
2 
(1977-1979)

Vergílio Ferreira
Capa: Luís Duran
Livraria Bertrand, Lisboa, Fevereiro de 1981

23 de Janeiro 1978

A certa altura, temos enfim a vida em ordem – os filhos arrumados, as ideais arruamdas, os livros escolhidos, a mulher enfim escolhida, o trabalho realizado, todas as opções feitas. É a altura finalmente de vivermos, de gozarmos do que acumulámos, de sermos homens a valer. Mas é justamente nessa altura que nos põem fora da vida. São horas de a loja fechar ou de ser trespassada.

ELE PODE RUGIR ATÉ A TERRA TREMER


Uma noite, o Bono, vocalista dos U2, tinha vindo jantar com uns amigos. Passar aquele tempo com o Bono foi como jantar num comboio – parece que estamos em movimento, a caminho de algum sítio. Bono tem a alma de um poeta antigo e há que ser cuidadoso quando se está perto dele. Ele pode rugir até a terra tremer. É também um filósofo envergonhado. Trouxe umas Guiness com ele. Estávamos a falar de coisas de que se fala quando se passa o Inverno com alguém – falámos sobre Jack Kerouac. O Bono conhece o material de Kerouac bastante bem. Kerouac, o homem que celebrizou cidades americanas como Truckee, Fargo, Botte e Madora, cidades que a maioria dos americanos nunca tinha ouvido falar. Era até estranho que Bono conhecesse melhor o Kerouac do que a maioria dos americanos. Bono diz coisas que mexem com qualquer um. É como aquele tipo dos velhos filmes, aquele que dá uma sova a um bufo com as próprias mãos e lhe arranca uma confissão. Se Bono tivesse vindo para a América na primeira metade do século tereia sido polícia. Ele parece saber muito sobre a América e o que não sabe tem curiosidade em saber

Bob Dylan em Crónicas

Legenda: Bono 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


O mundo está muito complicado, mas não o acho suficientemente absurdo para perder a esperança.

José Rodrigues Miguéis  carta a José Saramago, datada de Maio de 1952 em Correspondência.

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da imagem.

OLHARES


Gosto do nome: «La Gondola».

O meu pai apreciava lá ir jantar nas noites de calor.

Ficávamos sentados nas mesas por debaixo das buganvílias, logo no lado esquerdo quando se entra a porta do chalé.

O edifício do restaurante situa-se numa das últimas vivendas que, noutros tempos, enchiam a Avenida de Berna, a Avenida da República.

O restaurante estava de portas abertas desde 1943.

Fecharam no dia 6 de Agosto por mor de uma permuta de terrenos entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Montepio Geral que ali vai construir a sua nova sede.

«La Gondola» não conseguiu entrar no capítulo do Programa Lojas com História da edilidade lisboeta.

Por aqueles lados, a Câmara quer que haja um enorme centro de escritórios e, para disfarçar o cimento, projectam um pedaço de jardim.

Dão-lhe o pomposo nome de renovação da Praça de Espanha.


Será mais um prego, grande, mesmo grande, espetado na identidade da cidade.


Recordo o último jantar que tivemos com o meu pai em «La Gondola».

Era Agosto e à mesa também estavam a Aida e o Miguel.

Abancámos na esplanada e por ali ficámos a derreter garrafas geladas de Ponte de Lima Branco. Lembro que o meu pai comeu pescadinhas fritas com arroz de pimentos.

Quanto aos comes dos restantes, a memória não responde.

Naquele tempo, e este jantar foi há mais de trinta anos, a cozinha de «La Gondola» era caseira, a preços nada exorbitantes.


Ainda os «chefs» não tinham aterrado para destruir a cozinha portuguesa e fazer as delícias (?) de uma série de gente a armar ao chico-rico-esperto, que não sabe o que é comida a saber a comida e faz de um de um almoço, de um jantar uma sequela de exibicionismo e fanfarronice.


Gente que só entendem a comida quando espetam na carta coisas como estas:

-          Cação da costa alentejana com crosta de queijo de Serpa e coentros sobre migas de feijão manteiga
-          - Osso buco de borrego do norte alentejano sobre ragout de batata e ervas finas
-          Tataki de atum marinado sobre tártaro de tomate com escabeche de legumes e seus sucos
-          Entrecosto de porco preto marinado servido com migada de batata e azeitonas de Moura
-          Figos da horta com creme de ovos perfumados com licor de Borba e amendoas torradas
-          Bacalhau confitado em azeite a 70º sobre rissotto de ameijoas com coentros e espargos verdes
-          Salmão fumado com molho de iogurte perfumado com poejos frescos e rosti de batata
-          Polvo assado no forno em vinho tinto alentejano com batatinhas novas e tomate assado
-          Frango do campo recheado com camarão e grelos de couve sobre talahrim com tomate xuxa e oregãos frescos
-          Pato laqueado e fumado e figos assados em Cabernet Sauvignon e crocante
-          Pregado com cerejas caramelizadas e presunto de porco preto
-          Carre de borrego em crosta de gengibre e molho de quatro especiarias

-          Creme de ervilhas com ovos de codorniz escalfados e azeite do chouriço


Naquele tempo, a cozinha do «La Gondola» era obra de gente autodidacta, sem frequência de escolas de hotelaria, mas que guardavam dentro de si os cheiros, os modos de fazer, de avós e mães, mantendo a qualidade, a simplicidade de fazer como padrão indesmentível.

Um restaurante à antiga, como dizia o meu pai.

Já em tempos recentes - mais de cinco anos? Talvez! - passei pela «La Gondola», era um tarde-pós-almoço de Janeiro, fria  e chuvosa, para tirar umas fotografias, antevendo  que «La Gondola» não permaneceria por muito mais tempo.

A ementa já não era bem como quando lá íamos com o meu pai.

Naquele dia, rezava assim:

Caril de gambas 20,50 euros
Bifinhos de vitela 19,50 euros
Linguine Nero Neptuno 18,50 euros
Sopa da Família 3,00 euros
Marquês de Borba Branco 16,50 euros
Quinta do Caleiro Reserva Douro 18,50 euros
Romã em ninho de casquinha de laranja 4,00 euros
Peras bêbadas 4,00 euros.

Nada a ver com «La Gondola» dos outros tempos.


Terá sido esta «La Gondola» dos tempos recentes., que neste Agosto findou.

Ficam as memórias.

Um destes dias, saberemos que o camartelo iniciou a destruição do lindíssimo chalé.

OLHAR AS CAPAS


O Círculo Vermelho

Edgar Wallace
Tradução: Darcy Azambuja
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 45
Livros do Brasil, Lisboa s/d

«E ainda bem que ele não me fez a corte» monologou a rapariga, sorrindo. Nem sequer podia imaginar Froyant perseguindo uma mulher. Lembrou-se das longas jornadas durante as quais devia seguir o velho, com o seu cachimbo na mão, enquanto ele ia de sala em sala, verificando as pratas, examinando os tapetes, passando os longos dedos ossudos sobre o mármore polido das «étagères».
Ele media o vinho a ser servido em cada refeição e contava as garrafas vazias e até as rolhas. Gabava-se de poder constatar a ausência de uma flor no grande jardim da sua «villa». Mandava regularmente para o mercado pêssegos e peras dos seus pomares e fazia cenas terríveis com o jardineiro pouco consciencioso que lhe comesse uma maçã, porque o seu instinto o levava infalivelmente a surpreender esses crimes.

VELHOS RECORTES


Recorte de um suplemento de Verão do jornal «Público», s/d.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


A amizade, e ainda mais o amor, é a ponte que liga as pessoas.

José Saramago, de uma entrevista à Visão 16 de Janeiro de 2003

Legenda: não foi possível obter o autor/origem da fotografia. 

À LUZ DE CANDEEIROS


Candeeiro no Beco do Sol, à Graça.

OLHAR AS CAPAS


Letras

Manuel Alegre
Colecção Poesia – Nosso Tempo nº 9
Centelha, Coimbra, Junho de 1974

S (ésse)

Direi de meu tempo que havia um S
havia uma sombra e um silêncio
havia um S de sigla e de suspeita
com suas seitas e seus sicários.

Não sei se o signo não sei se sina
não sei se simplesmente sujo.
Ou só servil. Ou só sevícia.

Havia um S de saturno
havia um susto
havia um S de soturno
havia um S de sol.

De meu tempo direi
que havia um S
de sepulcro.

Sentinela. Sentinelas.

Ou talvez selva. Talvez serpente.
S de sebo e de sebenta: seco seco.

E também senão. E também senil.

De meu tempo direi
Que havia um S
sem sentido.

E também Setembro. E também solstício.
Saga e safra.
Ou talvez semente. Ou talvez segredo.

Havia um S de sal e sílex
havia um silvo.
Havia uma sílaba ciciada.

E também o sonho: entre suar e ser.
(Como um soluço como um soluço).

De meu tempo direi
que havia um S
de sol e som.
Havia setembro e um assobio
contra um S de sombra e de silêncio.

UM SILÊNCIO REPLETO DE RAZÕES


 Neste livro de Correspondência, pertence a Eugénio de Andrade a primeira carta pós-25 de Abril. Não tem dia. Apenas: Maio de 1974:

O meu silêncio começa a ser escandaloso, mas tem as suas razões, algumas que conheces, outras que ignoras. Antes de 25 de Abril tive o mais íntimo dos meus amigos preso pela Pide, e depois do movimento das Forças Armadas, houve uns dias de bebedeira.
O tempo quase não chegava para a leitura dos  jornais, as emissões de rádio, a televisão. Durante uns dias este país foi outro: agora é necessário encontrar-se um ritmo, o que não é fácil. O processo democrático, ao nível dos organismos, das fábricas, das escolas, é para já uma batalha. É evidente a falta de hábito. Não tardará que a Junta de Salvação comece a ter também os seus presos políticos: a esquerda revolucionária já está a ser aproximada pelos bem-pensantes do país, incluindo os comunistas, da mais sinistra reacção.
(…)
Não tomes a mal o meu silêncio, o país começa a estar quase todo em greve, e isso é muito inquietante.

TRUMPALHADAS


As últimas capas do «The New Yorker» e do «The Economist».

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Nunca lutes com um porco: ficas todo sujo, e ainda por cima o porco gosta.

Bernard Shaw

Legenda: pintura de William Sidney Mount

OLHARES


Fajão.

JERRY LEWIS (1926-2017)


Vejo-me, de repente, nas tardes do «piolho» a matar aqueles filmes do Jerry com o Dean Martin. Uma maltosa, na plateia, a partir o coco a rir, a arregalar o olho para raparigas insossas mas giras.
Tem filmes imperdíveis e uma interpretação de luxo em o «Rei da Comédia», de  
Martin Scorsese, que faz esquecer por completo o que em tempos dissera:
 «Tive um enorme sucesso fazendo de completo idiota».
O meu mundo tem cada vez menos gente. Gente que me ajudou a viver.


VELHOS RECORTES


Recorte do semanário ultra-salazaeista «Agora».
Não tenho a data da edição mas o ano será o de 1966.
Como é que com este paleio, alguns de nós, lograram prever uma «primavera marcelista»?

UM HORROR PÍFIO


6 de Setembro de 1969

As eleições aproximam-se e a oposição em Lisboa dividiu-se em grupos, como se já estivesse no poder. Um horror pífio.
Embora tentasse conservar-me neutro nesta luta de capoeira sem galos, acabei por tomar posição sem grande entusiasmo… Mas que remédio senão ser português! (Oxalá não esteja a ser pretensiosamente ridículo!)

José Gomes Ferreira em Livro das Insónias Sem Mestre VIII volume dos Dias Comuns.

domingo, 20 de agosto de 2017

POSTAIS SEM SELO


Os ingleses são tolerados na Escócia desde que não atirem com o seu orgulho à cara dos outros.

Dorothy L. Sayers em Qual dos Cinco?

TANTO QUE HÁ POR FAZER"


Até ao dia 18 de Agosto, a GNR já tinha levantado 782 processos de contraordenação por incumprimento da legislação que estabelece o Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. São multas por comportamentos negligentes dos donos das terras, como a falta de gestão das faixas combustíveis, as fogueiras ou queimas, ou a falta de limpeza dos terrenos ou da limpeza junto às estradas.

 Mas até ao momento apenas foram pagos 74.040 euros em coimas (65.240,00 euros por singulares e 8.800,00 por empresas)."A maior parte dos proprietários prefere pagar a coima, no valor de 140 euros, do que mandar limpar o terreno, o que custa 500 a mil euros

Os 74 mil euros são uma gota no vasto oceano de danos causados pelos fogos.  

O incêndio de Pedrógão Grande causou 497 milhões de euros em prejuízos totais. O Estado só conseguiu arrecadar um milhão de euros em autos de contraordenação pagos por proprietários de terrenos florestais desde 2014 até agora.

Segundo descreve o Diário de Notícias de hoje, é à GNR que compete "carregar" a estatística das causas dos incêndios para o Sistema de Gestão Florestal.

Até ao dia 2 de agosto, a Guarda tinha investigado as causas de 8122 fogos, concluindo que 40% das ocorrências, ou seja, 3320 incêndios tiveram causas negligentes. Depois houve 1374 fogos que foram causados com dolo ou intenção, 17% do total. Registados ainda 699 fogos, 9% do total, que tiveram origem em reacendimentos e apenas 82, apenas 1%, que surgiram por causas naturais. A destacar, um conjunto apreciável de incêndios com causa desconhecida: 2647, ou seja, 33% do total. «Nestes, em que não foi possível apurar a causa dado o estado do terreno por causa da deflagração, ou por outros motivos, podem ter sido intencionais ou negligentes. A verdade é que em 85% dos casos os incêndios foram causados por intervenção humana. Quanto aos fogos causados por reacendimentos, mostram "que a vigilância pós incêndio não funcionou», segundo um responsável.
Este ano, a Guarda já identificou 700 indivíduos como potenciais incendiários, nas aldeias e zonas rurais do país.

No sábado, na zona de Sintra,um homem de 78 anos foi detido  depois de ter sido apanhado pela GNR em flagrante delito enquanto ateava fogo ao Parque Natural Sintra-Cascais.

Após a detenção, o indivíduo confirmou a autoria do crime, acrescentado que era a quinta vez que tentava atear fogo naquela zona do parque natural. As autoridades encontraram, inclusive, várias provas que o comprometiam, na viatura em que se fazia transportar.

Segundo a GNR, o arguido cometeu ainda um crime de corrupção activa na forma tentada, quando, já detido, tentou ofereceu 230 euros em dinheiro aos elementos da GNR para o libertarem.

Segunda-feira comparece perante um juiz.