quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


Não sei porque as pessoas celebram a passagem do ano, o ano está sempre a passar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL


Auld Lang Syne.
A canção que sempre se  ouve no findar do ano.
Ainda ninguém me disse porquê.
Dizem que é tradição.
Se é tradição que se cumpra.
Uma versão bem disposta dos Pink Martini.

QUOTIDIANOS


Queria lembrar
a gerência
que as bebidas estão aguadas
e que a rapariga do bengaleiro
tem sífilis
e que a banda é formada
por antigos torcionários nazis
Porém como é
véspera de Ano Novo
e tenho cancro da boca
vou pôr o meu
chapéu de papel no meu
crânio e dançar.


Leonard Cohen, versão de Pedro Mexia

Legenda: Shirley Maclaine e Fred MacMurray em O Apartamento de Billy Wilder, 1960.

À PARTIDA JÁ TEMOS UMA ALEGRIA!


Tal como, por estes dias, se pode ler na blogosfera:

QUANDO PENSARES QUE ALGO É IMPOSSÍVEL, PENSA NO ANÍBAL.

ELE CHEGOU A PRESIDENTE!

Uma das alegrias certas do ano que aí vem é a de que Cavaco deixará Belém.

Que vá para a Travessa do Possolo, para a urbanização da Coelha, para o raio que o parta.

O homem é um emplastro.

Não gosta de ler, chegou a confundir Thomas Mann com Thomas More, não gosta de futebol, não percebe de números.

Mas percebe de negócios que lhe preencher muito…muito mesmo…, a conta bancária.

E a dos amigos.

Tempo para lembrar que, quando o filho do senhor Teodoro da bomba de gasolina disse aos portugueses que deviam acreditar na banca, nos banqueiros e no Banco de Portugal, dizer-lhe que, não falando no BPN, BANIF, outras miudezas, a bronca BES deverá custar aos portugueses qualquer coisa como 15.000 milhões de euros.

Sim, leram bem.

Mais:

Quarenta mil milhões foi quanto o sistema bancário espatifou, desde 2008, em Portugal.

Dinheiro saído do bolso dos portugueses.

E em que bolsos, em que paraísos fiscais está todo esse o dinheiro?

Por onde andam as centenas de Dias Loureiros do clã Cavaco?

Segundo Nicolau Santos, Dias Loureiro - «Pai: sou ministro!»  - um dos homens fortes do cavaquismo, é arguido desde 2009 por compras de empresas em Porto Rico e Marrocos, suspeita de crimes fiscais e burlas. Mas seis anos depois, o Ministério Público ainda não acusou Dias Loureiro, nem o processo foi arquivado.

Sim, o novo ano poderá não trazer grandes alegrias, mas ver Cavaco desopilar  de Belém, mas esta já ninguém nos tira.

Merece mesmo erguer uma taça de espumante.

 Tchim!Tchim!


ILUMINAÇÕES DE NATAL


Lisboa.
Rua Augusta.
E o fumo gratificante das quentes e boas... quentinhas.

NO SALÃO PRETO E PRATA


Todas as segundas-feiras, no Michael’s Pub, podia encontrar-se Woody Allen a tocar clarinete.

Depois, passou as segundas-feiras e o clarinete para o Carlyle Hotel.

Não consta que voltasse a mudar de poiso.
 
Mas em 2004 fez o Réveillon no Casino Estoril.

Miguel Esteves Cardoso, no Blitz de 4 de Dezembro de 2004, espantava-se:

Numa página ímpar, depara – sim, porque não é todos os dias que o verbo «deparar» se pode empregar bem – com um anúncio do Casino Estoril que me informa que, para o réveillon 2004/2005, a atracção principal, juntamente com Armando Gama e alguns outros, será Woody Allen e a orquestra de jazz de que faz parte.
Uma vez recuperado o ritmo cardíaco com a administração sábia de beta-bloqueadores e nitroglicerina, lá telefona para o Casino para saber se ainda há mesas. Há. Por 500 euros a cabeça – o que não é caro, porque inclui jantar de gala e todas as bebidas.
«Woody Allen num réveillon do Casino Estoril» é uma imbatível resposta num jogo imaginário em que ganha quem engendrar a combinação mais estapafúrdica: Tom Waits a anunciar os resultados do Totoloto; Brian Eno a fazer as manhãs da Renascença; Bill Murray no papel de mordomo na novela Mistura Fina… (descontando esta última, que até nem está mal vista. )

Woody Allen voltou uma outra vez a Portugal.

A 27 de Dezembro de 2005, para um Concerto no Centro Cultural de Belém., em que o bilhete mais caro,para as cadeiras de orquestra, custava 90,00 euros, e o mais barato, nas galerias, cifrava-se nos 30 euros.

Quem viu o documentário de Barbara Kopple, Wild Man Blues, sobre algumas digressões da New Orleans Jazz Band fica com a ideia de que são um verdadeiro enfado para o artista.

Gozo em tocar música, Woody Allen terá apenas nas noites das segundas-feiras nova-iorquinas.


Aliás Woody assume que não é propriamente um grande músico.  

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


Sonho que salto, que nado, que corro, que brinco. Sonho que estalo de riso, atravesso o rio de um salto, me perseguem muitas viaturas e nunca me alcançam.

Frantz Fanon

Legenda: fotografia de Gérard Castello-Lopes

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL


Do álbum de Natal de Diana Krall escolhi Have Yourself a Merry Little Christmas.


ILUMINAÇÕES DE NATAL


Lisboa.
Rua do Ouro.

CANÇÕES PARA O MEU PAI


Se ainda andasse por cá, o meu pai faria hoje 103 anos.


A canção de hoje é Yolanda, da autoria de Pablo Milanês.

Curiosamente, não foi na versão de Pablo Milanês que conheci Yolanda, mas na versão de Robert Wyatt.

Como não podia deixar de ser, através daqueles vinis que, durante tempos, o Miguel fez estacionar na Mestre António Martins.

Numa daquelas historietas sobre Caríssimas Canções que o Sérgio Godinho andou a publicar no Expresso, que depois deram livro, espectáculos ao vivo, CD/DVD, umas das canções de que o Sérgio Godinho falava era Sea Song do Robert Wyatt.

Para relembrar o personagem, vale a pena trazer o recorte da crónica do Sérgio:


No 1º aniversário da destruição das torres gémeas de Nova Iorque, perguntaram-lhe o que ele pensava da tragédia.

Não hesitou:

 Essa data tornou-se famosa, como todos sabem, por ser o dia em que os americanos puseram no poder o general Pinochet, nos anos 70, e também o dia em que Salvador Allende foi assassinado pelo exército fascista a soldo dos Estados Unidos.

Aqui, têm ago mais sobre o cantor.

Já não há disto!

Tempo de irmos à canção.

Esto no puede ser no mas que una cancion
Quisiera fuera una declaracion de amor
Romantica sin reparar en formas tales
Que ponga freno a lo que siento ahora a raudales
Te amo
Te amo
Eternamente te amo
Si me faltaras no voy a morirme
Si he de morir quiero que sea contigo
Mi soledad se siente acompañada
Por eso a veces se que necesito
Tu mano
Tu mano
Eternamente tu mano
Cuando te vi sabia que era cierto
Este temor de hallarme descubierto
Tu me desnudas con siete razones
Me abres el pecho siempre que me colmas
De amores
De amores
Eternamente de amores
Si alguna vez me siento derrotado
Renuncio a ver el sol cada mañana
Rezando el credo que me has enseñado
Miro tu cara y digo en la ventana
Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Eternamente Yolanda

OS IDOS DE DEZEMBRO DE 1975



30 de Dezembro de 1975

Estes dois recortes, um do Diário Popular, outra de A Luta, ambos de 30 de Dezembro de 1975, referem o encerrar do capítulo que ficou para a História como o «Caso Rep«ublica».
Chegava ao fim a longa e difícil luta dos trabalhadores que se arrastou por seis meses.
Passados que são 40 anos ainda não é possível saber, com exactidão, o que se passou no República, durante o Verão Quente.
Mas já é possível dizer que a versão de Mário Soares, e de todos os oportunistas que em seu redor se colocaram, não é toda verdade.
Apenas a verdade que serviu para criar o divisionismo entre as esquerdas.

Um dia, se fará a História.
De quem traiu e o porquê.
Como escreveu Simone Beauvoir:
É horrível assistir à agonia de uma esperança.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


As gaivotas nasceram dos lenços que dizem adeus.

Ramón Gómez De La Serna em Greguerias

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL



A Lindissima I'll Be Home For Christmas do álbum de Natal da Linda Rondstadt.


AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL

Gosto muito de It Came Upon a Midnight Clear.
Escolhi a interpretação de Joan Sutherland.



OS IDOS DE DEZEMBRO DE 1975


29 de Dezembro de 1975

O recorte é do Diário de Lisboa de 29 de Dezembro de 1975

Por parte da Igreja Católica pairou, sempre, sobre a ditadura Salazar/Caetano, um manto de silêncio, uma bênção que mais não era do que uma íntima aliança de interesses mútuos.

Para os senhores bispos, a PIDE nem perseguiu nem matou cidadãos portugueses.

Para os senhores bispos, a Guerra Colonial não existiu.

Para os senhores bispos, a perseguição a membros progressistas da Igreja, feita pelo regime, foi uma mera invenção de gente a soldo do estrangeiro.

A este silêncio de décadas, como facto parodoxal e escandaloso, sobreveio, nos dias seguintes ao 25 de Abril, um palavreado imenso contra os novos ares que o país começava a viver.

Não foram pacíficos os novos tempos na rádio da igreja.

Em Fevereiro de 1975, o despedimento sem justa causa de 11 trabalhadores, conduziram a uma greve que durou largos dias. A entidade patronal tentou conduzir um conflito laboral numa questão religiosa.

No seu Canal da Crítica, publicado do Diário de Lisboa de 13 de Fevereiro de 1975, escrevia Mário Castrim:


Durante a greve, o Episcopado proibiu a transmissão do terço e da missa.

Álvaro Guerra, no República de 3 de Março de 1975:


No Expresso de 3 de Dezembro de 2011, Ana Cristina Leonardo recorda:

… havia muira gente na Rua Capelo e que quando lá cheguei me perguntaram: “Vens para a manifestação de apoio aos trabalhadores?” Respondi que sim, ora essa, e o homem disparou: “Vais para o piquete das pedras!” E põs-me um capacete da Lisnave na cabeça. Cheguei ao piquete das pedras (as pedras arrumadinhas a um canto) e não conhecia ninguém. Fartei-me de esperar pelas forças da reacção, que nunca mais chegavam para ser apedrejadas, devolvi o capacete e disse que ia só ali. Distraí-me com um soldado que explicava aos passantes como manejar uma arma, reparei que se fizera tarde, tinha um comboio para apanhar e fui para casa.

Às 09,00 horas do dia 12 de Março de 1975, com a leitura de um comunicado, os trabalhadores da Rádio Renascença recomeçavam as emissões com uma programação própria, mas não abandonando a luta contra o reaccionarismo da Gerência:

O reinício da actividade da estação é antes de mais a nossa vitória. Ignoramos quais vão ser as etapas posteriores. Para já a estação está outra vez activa ao serviço das classes trabalhadoras e das massas populares.

Na madrugada de 7 de Novembro de 1975, por ordem superior do Conselho da Revolução, a terapia política da bomba destruía os emissores da Rádio Renascença na Buraca.

Perguntava-se, então:

Que rádio sairá dos destroços?

No dia 29 de Dezembro de 1975, por decisão do Ministério da Comunicação Social, a Rádio Renascença voltava ao Patriarcado.

Como é do conhecimento público, a Rádio Renascença não foi nacionalizada, o que correspondeu à reconfirmação da posição da Igreja Católica neste órgão de informação. Na sequência lógica dessa decisão resolveu o Governo fazer a restituição das instalações e bens, ilegalmente ocupadas, da Rádio Renascença em Lisboa.

Segundo um porta-voz da Rádio Renascença a estação recomeçaria as suas emissões no primeiro dia do Novo Ano com a transmissão, ao meio dia, da missa de Ano Novo, celebrada pelo cardeal Patriarca de Lisboa.

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


 Há em Lisboa um pequeno número de restaurantes
 ou casas de pasto em que, sobre uma loja com feitio
 de taberna decente se ergue uma sobreloja com uma
 feição pesada e caseira de restaurante de vila sem
 comboios. Nessas sobrelojas, salvo ao domingo
 pouco frequentadas, é frequente encontrarem-se
 tipos curiosos, caras sem interesse, uma série de
 apartes na vida 

                 Fernando Pessoa em Livro do Desassossego                                                

Ao fim de 61 anos o Restaurante Palmeira, na Rua do Crucifixo, fechou portas na antevéspera de Natal.

Não mais as abrirá.

A câmara vendeu o prédio em hasta pública e os novos donos deverão ter em perspectiva a construção de um hotel.

É o que está a dar na baixa lisboeta.

O Palmeira era um dos últimos tascos de Lisboa onde se podia usufruir daquilo que se chama comida caseira.

Um balcão, como deve ser um balcão dum tasco, comprido, à direita de quem entra.

Comida a saber a comida.


Uns fabulosos pastéis de bacalhau, dobrada, cozido à portuguesa, feijoada à transmontava, mão de vaca com grão, favas à portuguesa, ervilhas com ovos e, todos os dias, um prato diferente de bacalhau.

Sabe-se que há, pelo menos, cem maneiras de cozinhar bacalhau.

No Verão, os caracóis.

E sempre o grito do Helder, citando Luiz Pacheco: caracóis, dizem, faz tesão.

A minha memória do Palmeira é mais de antes do 25 de Abril.

Ali aportava, mais o Helder Pinho, o Armindo, o Zé Ferraz, mais uns quantos, para o petisco e para elaborar planos para o derrube da ditadura.

Planos sem-fim.


Apenas romantismo e cavaqueira.

Para derrubar a ditadura, outros tiveram que meter mãos à obra.

Mas, naquelas mesas, ficaram muitas memórias, camaradagem, sonhos.

Jorge Sampaio, enquanto presidente da Camara, amiúde almoçava no Palmeira e a clientela metia estudantes das Belas Artes, magistrados do Tribunal da Boa Hora, trabalhadores de diversas profissões, ricos e pobres, mas tudo gente de bom gosto, que sabem o que é comer e beber de uma maneira que cada vez acontece menos em Lisboa.

E não só!


Passei por lá no findar do dia de encerramento.

Cheio que nem um ovo, à porta, em trabalhos de preparo, uma camara de reportagem de uma qualquer televisão.

Entrei só para fazer os bonecos que ilustram o texto.

Não me apeteceu comer, nem beber.

Odeio despedidas.

OLHAR AS CAPAS


Um Natal

Truman Capote
Tradução: Rita Alves Machado e Dinis Machado
Capa: Rogério Petinga
Difel, Lisboa s/d

Doze horas mais tarde estava eu em casa, na cama. O quarto estava escuro. Sook estava sentada a meu lado, oscilando na cadeira de baloiço, um som tão calmante como as ondas do oceano. Tentei contar-lhe tudo o que tinha acontecido, e só parei quando fiquei rouco como um cão cansado de uivar. Ela passou os dedos pelo meu cabelo e disse: - Claro que o Pai Natal existe. Só que ninguém consegue fazer sozinho tudo o que ele tem para fazer. Por isso o senhor distribuiu a tarefa por todos nós. Por isso toda a gente é Pai Natal. Eu sou. Tu és. Até o teu primo Billy Bob. Agora vai dormir. Conta as estrelas. Pensa na coisa mais tranquila que conheças. Como a neve. Lamento que a não tenhas podido ver. Mas agora a neve cai das estrelas. Estrelas brilhando, neve rodopiando dentro da minha cabeça; a última coisa de que me lembrei foi da voz calma do Senhor dizendo-me aquilo que eu tinha de fazer. E no dia seguinte fi-lo. Fui com o Sook aos Correios e comprei um postal. Esse mesmo postal existe hoje. Foi encontrado no cofre-forte do meu pai quando ele morreu o ano passado. Eis o que tinha escrito: Olá papá espero que estejas bem eu tou e tou a aprender a pedalar o meu avião tão depressa que daqui a pouco tou no céu por isso fica de olhos abertos e sim eu gosto muito de ti Buddy.

NOTÍCIAS DO CIRCO


A juntar à monumental irresponsabilidade do governo no escândalo do BAIF, este foi mais um momento de desonestidade, a juntar a tantos outros, do governo de direita.
A chico-espertice de gente que não olhou a meios para angariar votos.
No Verão o governo dizia que os portugueses iriam reembolsar da sobretaxa de IRS, no próximo ano, um valor a roçar os 35%.
No dia 24 de Dezembro o Público titulava que esse reembolso estava a zero.
E sem qualquer expectativa de mudança.

OUTROS NATAIS


Dresden.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


Olhar de frente o Sol Assim se aprendem
as letras iniciais da Solidão.

David Mourão-Ferreira

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL


Até ao Dia de Reis sei que, naturalmente, não vou ter tempo para aqui colocar todas as Minhas Canções de Natal.
Andava hoje à procura de uma versão de Baby, It’s Cold Outside., que é mesmo uma das minhas preferidas.
Ia escolher a versão de Dean Martin ou Willie Nelson, cantantes que já tiveram canções, quando me disseram que, mesmo não existindo em disco cá na casa, poderia escolher a interpretação de Nina Simone e Ray Charles.

Concordei em pleno.


TRÁGICAS ODISSEIAS


A trágica realidade é esta:

Desde o início do ano, que agora finda, já chegaram à Europa, utilizando as mais diversas rotas, 1.005.504 migrantes.

Um aumento de cinco vezes em relação a 2004.

A maioria acantona-se em campos de refúgio, ao frio e à chuva, aguardando uma autorização de emprego, que tarda em chegar, e muitos terão que regressar aos países de origem.

Fogem da guerra, da miséria, da fome, dos mais diversos tipos de perseguições.

E não falamos dos que, naufragando, não chegaram a um destino.

Na terra de onde vêm não os querem, na terra para onde vêm, também não.

Gente sem espaço, à deriva, à espera de uma ténue esperança, à espera da morte.

A Europa perde-se em discussões banais, ressaltam as divisões e os ódios, faz por esquecer uma solidariedade que teimaram em apregoar como bandeira.

Uma catástrofe que levamos para o novo ano.

Outros mais, se nada for feito.

Onde está Deus?, perguntam os que acreditam.

Perguntemos, antes, pelos homens que se vão demitindo de encontrar uma solução para o drama destes seres humanos.

Para que não seja demasiado tarde.

OLHAR AS CAPAS


Cidade Diária

Baptista-Bastos
Editorial Futura, Lisboa, 1972

Mas houve um bom Natal na minha vida. Um bom Natal inesquecível. Um bom Natal em que este metro e oitenta e quatro de português, que redige um português inútil, inútil português de metro e oitenta e quatro, presumiu ser útil escrevendo num português inçado de erros, coxo, desmantelado – mas feliz. Foi assim: pelas onze e meia da noite de um 24 de Dezembro eu estava na redacção do jornal onde trabalhava. Veio um telegrama de Londres que dizia mais ou menos isto: «Um menino que está a morrer pediu à mãe morangos. Não há morangos em Inglaterra por esta época do ano. A mãe foi à B.B.C. e a B.B.C. fez um apelo. Um avião em voo escutou-o. Transmitiu o apelo a todos os aviões do mundo. E alguns aviões do mundo atrasaram as suas partidas, transferiram de bojo para bojo um cesto de morangos que fora adquirido na Cidade do México. Os morangos chegaram a Londres.»
Não havia mais no telegrama; mas era uma grande história de Natal e de amor. Numa suave noite de Natal, em que seria radioso relembrar às pessoas que, por vezes, as pessoas conseguem coisas formidáveis. Ao telegrama de Londres eu tinha, somente, de apor um título. Foi o que saiu: «Os homens levaram-lhe os morangos.»
Nunca soube se o menino de Londres chegou a comê-los. Nunca soube se o menino de Londres conseguiu safar-se da morte. Sei que houve dezenas de aviões que transmitiram o pedido de uns para os outros, que centenas de passageiros, certamente imprecando, saíram atrasados para os seus destinos. Sei que os morangos chegaram a Londres.
Sei que em Lisboa, num Dezembro usualmente triste, a arremedar uma humilde felicidade, a qual, por ser humilde, terá sempre de ser simples, afectuosa e discreta – houve um repórter que escreveu palavras úteis porque eram o alvoroçado testemunho de que os homens, quando querem, conseguem tudo quanto querem.

PREMIAR QUEM TRABALHA A FAVOR DE PORTUGAL


Tal como ficou prometido em AH1... AS ABÓBORAS!...

domingo, 27 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


Onde ainda é possível hoje um pouco de silêncio, longe da contínua sucessão de notícias nas TV, rádios, jornais; da gritaria da publicidade; da música aos berros das discotecas, bares, corredores do Metro, ruas, praias; da chamada (raio de nome!) “música ambiente” dos centros comerciais, consultórios médicos, bancos, restaurantes, cafés, comboios, até das casas de banho e dos elevadores; do ruído estridente dos telemóveis; das conversas em voz alta; dos automóveis circulando de vidros abertos e leitor de CD no volume máximo; da chiadeira dos
travões; dos escapes; dos festejos de vitória nos dias de futebol; das celebrações gregárias que, por tudo e coisa nenhuma, enchem as ruas de todo o
género de turbas ululantes?
 Porque tememos tanto o silêncio? 

Manuel António Pina em Crónica, Saudade da Literatura

legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

NOTÍCIAS DO CIRCO


Em meados de 2014, o hospital de São José deixou de ter equipa de Neurocirurgia Vascular ao fim de semana.

Como tal, desde então, todas as pessoas que deem entrada nesta unidade hospitalar com aneurisma a partir de sexta-feira às 16 horas terão de aguentar até ao dia útil seguinte (segunda-feira) para tratar do aneurisma.

Num fim-de-semana, faltavam poucos dias para ser Natal, um jovem de 29 anos, deu entrada no Hospital de São José.

Morreu na sequência de aneurisma cerebral por falta de operação.

Paulo Macedo, enquanto Ministro da Saúde do governo de direita, foi confrontado por deputados com a falta de médicos aos fins de semana, que resultaram em várias mortes.

João Semedo, médico e ao tempo deputado do Bloco de Esquerda, num debate parlamentar, disse ao ministro:


A sua política pode poupar muitos euros, mas não poupa vidas. 

OLHAR AS CAPAS


Natal… Natais
Oito séculos de Poesia sobre o Natal

Antologia de Vasco Graça Moura
Capa: Graça Castanheira
Público, Lisboa, s/d

Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.

(Pedro Tamen)

PORQUE HOJE É DOMINGO


Foi um dos filmes da infância da gente do meu tempo.
Motivos de ordem vária não permitiram que o tivesse visto por essa altura.
Só muito mais atarde me aconteceu vê-lo. 
E, apesar da idade já espigadota, ainda deu para o ver com imenso prazer e graça.
Bom domingo!

sábado, 26 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


O sócio capitalista aqui da firma, sempre doente em parte incerta, quis, não seu por que capricho de que intervalo de doença, ter um retrato do conjunto do pessoal do escritório. E assim, antes de ontem, alinhámos todos, por indicação do fotógrafo alegre, contra a barreira branca suja que divide, com madeira frágil, o escritório do gabinete do patrão Vasques. Ao centro o mesmo Vasques; nas duas alas, numa distribuição primeiro definida, depois indefinida, de categorias, as outras almas humanas que aqui se reúnem em corpo todos os dias para pequenos fins cujo último intuito só o segredo dos Deuses conhece.

Fernando Pessoa em Livro do Desassossego

Legenda: trabalhadores de uma empresa em tempo de Natal.
Fotografia Shorpy

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL


Chegou a vez de Dean Martin aparecer nas Minhas Canções de Natal: Blue Christmas.

ILUMINAÇÕES DE NATAL


Lisboa. 
Rua do Carmo.

OS IDOS DE DEZEMBRO DE 1975


Para muitos militares de Abril, o Natal de 1975 foi passado na prisão.
Até a solidariedade de familiares e amigos, deu azo a lamentáveis acidentes.
Os recortes são do Diário de Lisboa e do Diário Popular de 26 de Dezembro de 1975.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL


Happy Xmas (War is Over).
Inevitavelmente.
Bom Natal!



É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


O Ensaio Sobre a Cegueira foi publicado em Outubro de 1995.
No Natal desse ano, constituiu como sugestão de prenda de Natal.
Um sugestão de bom gosto.
«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara».

LADAÍNHA DOS PRÓXIMOS NATAIS


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira de Cancioneiro de Natal em Obra Poética

OS IDOS DE DEZEMBRO DE 1975

Em Dezembro de 1974, o jornalista Manuel de Azevedo decretava, na última página do Diário de Lisboa, que o Natal era de Esperança.
Em Dezembro de 1975 já não era assim.

SARAMAGUEANDO


Então o carpinteiro encheu-se de coragem e em voz alta perguntou se naquela casa, ou noutra, Se me estão a ouvir, alguém quereria, em nome do Deus que tudo vê, dar guarida a sua mulher, que está para ter um filho, decerto haverá por aí um canto recolhido, que esteiras trazia-as ele, E também onde é que poderei encontrar nesta aldeia uma aparadeira para ajudar ao parto, o pobre José dizia envergonhado estas coisas enormes e íntimas, ainda com mais vergonha por sentir-se corar ao dizê-las. A escrava que o atendia ao portal foi dentro com a mensagem, o pedido e o protesto, demorou-se, e voltou com a resposta de que não poderiam ficar ali, procurassem outra casa, mas não a tivessem por certa, e que a sua senhora mandara dizer que o melhor para eles ainda seria recolherem-se a uma das muitas covas que havia naquelas encostas, E a aparadeira, perguntou José, ao que a escrava respondeu que, autorizando os seus amos e aceitando-a ele, ela mesma poderia ajudar, pois não lhe haviam faltado na casa, em tantos anos, ocasiões de ver e aprender. Em verdade, muito duros são estes tempos, e agora se confirmou, que vindo bater à nossa porta uma mulher que está para ter um filho, lhe recusámos o alpendre do pátio e a mandámos parir numa cova, como as ursas e as lobas. Deu-nos, porém, a consciência um rebate, e, levantando-nos donde estávamos, fomos ver ao portal quem eram esses que buscavam abrigo por razão tão urgente e fora do comum, e quando demos com a dolorosa expressão da infeliz criatura apiedou-se o nosso coração de mulher e com medidas palavras justificámos a recusa por termos a casa cheia, São tantos os filhos e as filhas nesta casa, os netos e as netas, os genros e as noras, por isso não podíeis caber cá, mas a escrava vos levará a uma gruta que nos pertence e que tem servido de estábulo, aí ficareis cómodos, não há lá animais agora, e, tendo isto dito, e escutado os agradecimentos da pobre gente, nos retirámos para o resguardo do nosso lar, experimentando nas profundezas da alma o conforto inefável que dá a paz da consciência.
Com todo este ir e vir, este andar e estar parado, este pedir e perguntar, foi desmaiando o forte azul do céu, e o sol não tarda que se esconda por trás daquele monte. A escrava Zelomi, que esse é o seu nome, vai à frente guiando os passos, e leva um pote com brasas para o lume, uma caçoila de barro para aquecer a água, sal para esfregar o recém-nascido, não vá apanhar alguma infecção.
E como de panos vem Maria servida e a faca com que se há-de cortar o cordão umbilical trá-la José no seu alforge, se Zelomi não preferir cortá-lo com os dentes, já a criança pode nascer, afinal um estábulo serve tão bem como uma casa, e só quem nunca teve a felicidade de dormir numa manjedoura ignora que nada há no mundo que se pareça mais com um berço. O burro, pelo menos, não lhe achará diferença, a palha é igual no céu e na terra. Chegaram à cova aí pela hora terça, quando o crepúsculo, suspenso, ainda dourava as colinas, e não foi a demora tanto por causa da distância, mas porque Maria, agora que levava garantida a pousada e pudera, enfim, abandonar-se ao sofrimento, pedia por todos os anjos que a levassem com cuidado, pois cada resvalo dos cascos do asno nas pedras a punha em transes de agonia. Dentro da caverna fazia escuro, a enfraquecida luz exterior detinha-se logo à entrada, porém, em pouco tempo, chegando um punhado de palha às brasas e soprando, com a lenha seca que ali havia, a escrava fez uma fogueira que era como uma aurora. Logo, acendeu a candeia que estava dependurada duma saliência da parede, e, tendo ajudado Maria a deitar-se, foi por água aos poços de Salomão, que ali são perto. Quando voltou, achou José de cabeça perdida, sem saber que fazer, e não devemos censurá-lo, que aos homens não os ensinam a comportar-se utilmente em situações destas, nem eles querem saber, o mais de que hão-de vir a ser capazes é pegar na mão da mulher sofredora e ficar à espera de que tudo se resolva em bem. Maria, porém, está sozinha, o mundo acabaria de assombro se um judeu deste tempo ousasse cometer esse pouco. Entrou a escrava, disse uma palavra animadora, Coragem, depois pôs-se de joelhos entre as pernas abertas de Maria, que assim têm de estar abertas as pernas das mulheres para o que entra e para o que sai, Zelomi já perdera o conto às crianças que vira nascer, e o padecimento desta pobre mulher é igual ao de todas as outras mulheres, como foi determinado pelo Senhor Deus quando Eva errou por desobediência, Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, os teus filhos nascerão entre dores, e hoje, passados já tantos séculos, com tanta dor acumulada, Deus ainda não se dá por satisfeito e a agonia continua. José já ali não está, nem sequer à entrada da cova. Fugiu para não ouvir os gritos, mas os gritos vão atrás dele, é como se a própria terra gritasse, a tais extremos que três pastores que andavam por perto com os seus rebanhos de ovelhas foram para José e perguntaram-lhe, Que é isto, que parece que a terra está gritando, e ele respondeu, É a minha mulher que dá à luz além naquela cova, e eles disseram, Não és destes sítios, não te conhecemos, Viemos de Nazaré de Galileia ao recenseamento, na hora que chegámos cresceram-lhe as dores, e agora está nascendo. O crepúsculo mal deixava ver os rostos dos quatro homens, em pouco tempo todos os traços se iriam apagar, mas as vozes prosseguiam, Tens comida, perguntou um dos pastores, Pouca, respondeu José, e a mesma voz, Quando tudo estiver terminado vem dizer-me e levar-te-ei leite das minhas ovelhas, e logo a segunda voz se ouviu, E eu queijo te darei. Houve um longo e não explicado silêncio antes que o terceiro pastor falasse. Finalmente, numa voz que parecia, também ela, vir de debaixo da terra, disse, E eu pão lhe hei-de levar.
O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo. Envolto em panos, repousa na manjedoura, não longe do burro, porém não há perigo de ser mordido, que ao animal prenderam-no curto. Zelomi saiu fora a enterrar as secundinas, ao tempo que José se vem aproximando. Ela espera que ele entre e deixa-se ficar, respirando a brisa fresca do anoitecer, cansada como se tivesse sido ela a parir, é o que imagina, que filhos seus próprios nunca os teve.
Descendo a encosta, aproximam-se três homens. São os pastores. Entram juntos na cova. Maria está recostada e tem os olhos fechados. José, sentado numa pedra, apoia o braço na borda da manjedoura e parece guardar o filho. O primeiro pastor avançou e disse, Com estas minhas mãos mungi as minhas ovelhas e recolhi o leite delas. Maria, abrindo os olhos, sorriu. Adiantou-se o segundo pastor e disse, por sua vez, Com estas minhas mãos trabalhei o leite e fabriquei o queijo. Maria acenou com a cabeça e voltou a sorrir. Então, o terceiro pastor chegou-se para diante, num momento pareceu que enchia a cova com a sua grande estatura, e disse, mas não olhava nem o pai nem a mãe da criança nascida, Com estas minhas mãos amassei este pão que te trago, com o fogo que só dentro da terra há o cozi. E Maria soube quem ele era.


Legenda: Adoração do Menino, pintura de Gerard van Honthorst

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

AS MINHAS CANÇÕES DE NATAL


Sim, não poderia ser outra a canção de hoje.
Noite silenciosa, noite santa.
Bom Natal.

QUOTIDIANOS


Como me enternece o Natal. E como o detesto com rancor. E isto apenas pela invenção infernal de se darem prendas. Porque é esse um acto que nos compromete não apenas as algibeiras mas ainda e sobretudo a capacidade de escolher de acordo com o prendado, os seus gostos, as suas necessidades, as suas possibilidades de surpresa. Porque tudo isto tem de ser mobilizado. E não só com uma pessoa mas com uma chusma delas. Há que haver pois para cada uma delas um concerto de várias soluções para o múltiplo problema. E que essas soluções exprimam bem o nosso bom gosto, gentileza, largueza, exclusiva atenção, como se a nossa vida fosse toda conduzida para este acto social. Quase se não tem gosto na prenda que nos dão pela chatice incomensurável daquela que temos de dar. Já se proíbe às vezes a gorjeta. Ninguém teve ainda a ideia humanitária de proibir, como uma vergonha, o detestável, abjecto chatíssimo costume de nos prendarmos uns aos outros. Assim o Natal poderia regressar à pureza que é a sua. E estaríamos mais atentos aos cânticos angelicais.

Vergílio Ferreira em Conta-Corrente IV volume

CHRISTMAS POSTCARD FROM A HOOKER IN MINNEAPOLIS

A canção de Tom Waits faz parte do lado A de Blue Valentine.
A imagem é um pormenor da contra capa do LP.


OLHAR AS CAPAS


Nocturnos

Tom Waits
Tradução, introdução e organização do texto: João Lisboa
Colecção Rei Lagarto nº 18
Assírio & Alvim , Lisboa, Outubro de 1989

Postal de Natal De Uma Puta Em Minneapolis

Olá Charley, estou grávida
E a viver na rua 9
Mesmo por cima de uma livraria nojenta
À beira da Euclid Avenue
Deixei de meter droga
E parei de beber Whisky
O meu homem toca trombone
E trabalha no caminho de ferro

Ele diz que gosta de mim
Ainda que o bebé não seja dele
Diz que o vai criar como a um verdadeiro filho
Ofereceu-me um anel que a mãe costumava usar
E sai comigo para dançar
Todos os sábados à noite.

E Charley, penso sempre em ti
Todas as vezes que passo numa bomba de gasolina
Por causa da brilhantina que usavas no cabelo
E ainda tenho aquele disco de Little Antony e os Imperials
Mas roubaram-me o gira-discos
O que é que se há-de fazer?...

Olha Charley, quase dei em doida
Quando o Mário foi de cana
Por isso voltei para Omaha
Para viver com os meus velhos
Mas toda a gente que eu conhecia
Ou morreu ou estava presa
Então voltei para Minneapolis
E desta vez penso que vou ficar por cá

Sabes Charley, pela primeira vez desde o acidente
Parece-me que sou feliz
Só queria ter agora todo o dinheiro
Que costumávamos gastar em droga
Comprava um parque de carros usados
E não vendia nenhum
Para usar um diferente em cada dia
A condizer com a maneira como me sentisse

Oh Charley, por amor de Deus,
Queres saber toda a verdade?
Não tenho nenhum marido
Ele não toca trombone
E preciso de dinheiro emprestado
Para pagar ao advogado
E, olha, Charley, devo sair com pena suspensa
No dia de S. Valentim.


OUTROS NATAIS


Natal em Londres.