Os primeiros dias de Novembro do ano de 1975 estão muito quentes.
No dia 4 o Jornal Novo traz na sua 1ª página um comunicado da Frente Militar Unida (anti-fascista e anti-social-fascista) onde se afirma que o PCP quer destruir a solução de esquerda proposta ao País pelos Nove.
No dia 6 numa reunião conjunta do Conselho de Revolução com o Governo Provisório, o Conselho reafirma o seu apoio ao VI Governo Provisório.
No dia 7, o Conselho da Revolução manda destruir o emissor da Buraca da Rádio r
Renascença.
Ponto 5 do comunicado do Conselho da Revolução:
As instalações da estação emissora da Rádio renascença, na Buraca, que como é do conhecimento público se encontravam seladas e guardadas, foram abusivamente ocupadas na sequência de uma manifestação realizada no passado dia 21 de Outubro. A partir dessa data verificaram-se, por várias vezes, actuações contra-revolucionárias da referida emissora com provocações e alterações à ordem pública. Comunica-se que hoje, dia 7 de Novembro, foi ordenado pelo Conselho da Revolução a uma força militar para pôr termo à actuação da Rádio renascença, o que foi efectuado cerca das 4 e 30, não devendo a referida emissora voltar a funcionar até à regularização do seu estatuto.
Do Diário Popular de 7 de Novembro de 1975:
Cerca de sessenta pára-quedistas comandados por um capitão, penetraram pelas 5 da madrugada, na área do acampamento revolucionário de protecção às instalações da Rádio renascença, na Buraca, e, depois de neutralizados os cinco soldados e sete civis que ali se encontravam, dirigiram-se ao edifício e colocaram potentes cargas explosivas em todas as dependências onde havia material técnico. Minutos depois, a Rádio Renascença era silenciada com uma explosão de grande violência.
Comentando a destruição dos emissores da Rádio Renascença, Leonor Martinho Simões no Diário de Notícias de 8 de Novembro, citava a atitude de Salazar, em 1936, face à revolta dos marinheiros de dois navios de guerra o “Dão” e o “Afonso de Albuquerque”, en que disse:
Embora à custa do suor de todo o povo, com a clara consciência do dever se mandaram construir. Com a mesma imperturbável serenidade dei ordem para que fossem bombardeados até se renderem ou afundarem. A razão que se eleva acima de todos os sentimentos foi esta: os navios da Armada portuguesa podem ser metidos no fundo; mas não podem içar outra bandeira que não seja a de Portugal. Desperdiçam-se num momento economias de muitos meses, é certo: não podemos, porém ficar presos de tais considerações quando o exige a honra da Nação.
Do livro Abril nos Quartéis de Novembro (1):
No plano militar, o 25 de Novembro começou de facto em 7 de Novembro com a destruição dos emissores da Rádio Renascença situados na Buraca, nos arredores de Lisboa. Esta acção (a primeira e a última efectuada pelo AMI) desencadeou a rebelião dos sargentos e das praças, que tinham sido utilizados.
Legenda: título do Diário de Lisboa de 7 de Novembro de 1975
(1) Abril Nos Quartéis de Novembro de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, Livraria Bertrand, Lisboa, Junho 1979
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