domingo, 27 de novembro de 2011

LXXXI


Já és minha. Repousa com teu sono em meu sono
Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora.
Gira a noite em suas rodas invisíveis
e ao meu lado  és pura como âmbar adormecido.

Nenhuma outra, amor, dormirá com meus sonhos.
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma outra viajará pela sombra comigo,
Apenas tu, sempre-viva, sempre sol, sempre lua.

Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves signos sem rumo,
teus olhos fecharam-se como duas asas cinzentas,

enquanto eu sigo a água que levas e me leva.
a noite, o mundo, o vento fiam o seu destino,
e  sem ti já não senão apenas o teu sonho.

Pablo Neruda em Cem Sonetos de Amor, tradução de Albano Martins, Campo das Letras, Porto, Maio 2004

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