9 de Novembro de 1975
A exemplo do Porto e Faro, no Terreiro do Paço em Lisboa, a uma manifestação convocada pelo P.S., pelo P.S.D., pelo C.D.S. e transmitida, em directo, pela R.T.P.
José Saramago em “Os Apontamentos”:
O discurso do almirante Pinheiro de Azevedo é importante. Dizemo-lo logo de entrada, tão fácil é ver que o 9 de Novembro representa uma data-chave no processo que a 25 de Abril se iniciou. Ontem, enfim, o VI Governo encontrou o primeiro-ministro que ansiosamente buscava. O Porto fora um simples ensaio, um passo ainda hesitante, e está aí a prová-lo aquilo a que chamámos, neste lugar, discursos paralelos, o discurso do orador e o discurso da multidão: não havia ainda coincidência. Mas em Faro já houve diálogo, correspondência de ideias, entendimento. Às três, foi de vez: em Lisboa outra multidão, com gente de dentro e gente de fora, dois partidos grandes, três partidos pequenos, retornados em força. O Terreiro do Paço estava cheio e foi rebaptizado: chamou-lhe o primeiro-ministro Terreiro do povo, com grande festa dos presentes, assim reconfortados no mesmo plano dos camponeses, dos operários e, quem sabe, dos moradores dos bairros de lata. (…)
Ah, é verdade! Houve incidentes no Terreiro do Paço, sobre os quais não nos pronunciamos. É certo que seria bom saber quem lançou as bombas lacrimogéneas. Mas vai ser difícil: muitos anos depois é que veio a saber-se que o incêndio do Reichstag não foi ateado por que, por causa disso pagou com a vida…
São estes incidentes que levaram Pinheiro de Azevedo a pronunciar frases que ficaram apara a história: o povo é sereno, é apenas fumaça…
O Poder Popular, jornal do M.E.S. publicará o interessante diálogo ocorrido, na varanda de onde o primeiro-ministro discursava, entre Pinheiro de Azevedo e Mário Soares, diálogo que foi recolhido por microfones indiscretos.
Para mais fácil leitura, cliquem na imagem.
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