sexta-feira, 11 de novembro de 2011

26 DE OUTUBRO


Há muito tempo não me calha um café pela chávena esquinada. Por ela me apercebi de que a frequência de rotação das chávenas pelos clientes é, em média, de uma vez por mês.
Setembro inteiro passou sem que me tivesse calhado uma curta vez que fosse a familiar chávena esquinada. Dia após dia rodei a pequena asa branca, na pressa de reconhecer no perímetro da cerâmica aquela ferida antiga. A última vez que a usara, uns lábios tinham-na beijado com tanto afago pela manhã, que pelo final do dia trazia ainda indeléveis as marcas daquele afecto. Não é fácil lavar um beijo.
De quando em vez o acaso rasga o espaço do Café e chega-nos desde o balcão a inconfundível voz de cacos espalhando-se em descuido, contra o mosaico do chão.
Desconfio seriamente que a chávena tenha morrido.

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