segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Quando a minha avó acabava de amassar o pão, dizia sempre, depois de traçar uma cruz na massa: «Deus te ponha a virtude, que eu já fiz o que pude.»

José Saramago em Pequenas Memórias

Legenda: pintura de Jean-François Millet 

MAIS DE 500 BANDAS SONORAS DEPOIS


Finalmente, o compositor Ennio Morricone recebeu um Óscar da Academia como autor de uma banda sonora.

Em 2007 recebeu um Óscar honorário, mas Quentin Tarantino, cumprindo um velho sonho seu, encarregou-o de escrever a música para o seu último filme, Os Oito Odiados.

Ennio Morricone é autor de mais 500 bandas sonoras mas nunca merecera a atenção da Academia.

Justiça tardia, mas, tal como diz o povo, mais vale tarde do que nunca.

Quentin Tarantino já usara música de Morricone antes, mas foi a primeira vez que um filme do realizador teve direito a banda sonora completa daquele que considera o seu compositor favorito. 

O POETA MILITANTE


No dia 29 de Fevereiro de 1980, José Gomes Ferreira decide tornar-se militante do Partido Comunista Português.

Na Soeiro Pereira Gomes é recebido por Carlos Aboim Inglês, responsável pelo Sector Intelectual.

È esse camarada que, no Avante de 6 de Março, torna pública a notícia:

Camarada!

Dia 29 de Fevereiro de 1980, pelas cinco e meia da tarde, chuvosa, caminhaste pelas ruas com o passo firme da tua alma grande e vieste bater à porta da nossa Casa, na Soeiro Pereira Gomes. Na fala directa de quem pensou e se decidiu em consciência disseste enxutamente ao que vinhas: que te aceitássemos como membro do Partido Comunista Português. Aos 80 anos. Em coerência com toda uma vida, repensada e assumida. Dando resposta combativa a um presente que não é fácil. De olhos postos, juvenis, no futuro que faremos, que fazemos.
As tuas palavras, o teu acto, tinha aquele peso e asas que pões em tudo. Simples, como as coisas verdadeiras do coração. Como um acto lúcido que se cumpre na hora, por determinação de homem independente que sempre foste e serás. De homem solidário que és, de raiz – poeta militante, companheiro dos homens que sofrem, sonham e lutam. E que, juntos como os dedos da mão, de mãos dadas, hão-de chegar ao fim da estrada e depois hão-de rasgar as estradas novas de Portugal livre, independente, socialista, para os homens novos que estão nascendo já.

Ficámos de te dar resposta. E. ressalvando embora a pública notícia, que não está nos nossos usos, mas que a luta aconselha nestes tempos de promoção, de crescimento necessário, aqui estamos para te responder dizendo apenas, com respeito e alegria compartilhada decerto por todo o grande colectivo fraternal do nosso Partido – que te saudamos, camarada! Abril vencerá!


Com a sua pontinha de veneno-inveja, Vergílio Ferreira escreve no 3º volume do seu Conta-Corrente:

Aqui há dias a imprensa noticiou que o José Gomes Ferreira (aproveitando a circunstância de o ano ser bissexto?) no dia 29 de Fevereiro se inscreveu no PC. Aqui há semanas, e a propósito de um programa da TV, levantou-se grande celeuma sobre se Guerra Junqueiro era um poeta maior ou menos e ventilou-se ainda a questão sobre se ele, à hora do fim, se teria convertido à Igreja Católica. E, uma vez mais, é curiosos como a história se repete. Só que, no caso de Gomes Ferreira, ele inscreveu-se mesmo.

Nos seus Dias Comuns José Gomes Ferreira refere esse velho sonho de se filiar no Partido.

Dos Dias Comuns estão publicados 7 volumes.

1º Volume: Outubro de 1990
2º Volume: Setembro de 1998
3º Volume: Maio de 2000
4º Volume: Maio de 2004
5º Volume: Novembro de 2010
6º Volume: Janeiro de 2013
7º Volume: Março de 2015

Sete volumes publicados em 25 anos.

A caminho dos 71 anos, são nulas as expectativas de que venha a ler os restantes volumes dos Dias Comuns.

Na Leya não gostam de livros e apenas entendem a edição como algo que tem de gerar lucros.

Os livros dos pivots de televisão, ou treinadores de futebol, qualquer merdunça desde que se veja o guito.

Quem sabe quem é o José Gomes Ferreira?

Quem o lê?

É isso!

Pois!


Para sabermos dos passos diários de José Gomes Ferreira até se tornar militante do partido, teremos que nos socorrer dos textos desses diários que Raúl Hertnes Ferreira disponibilizou na Fotobiografia do poeta.

21 de Junho de 1978

Alguns amigos insistem para que eu me inscreva no Partido Comunista. Tenho resistido até agora e espero resistir.
- Mas tu és comunista – afirmam.
- Pois sou – respondo – Mas tão naturalmente como uma laranjeira dá laranjas. Sem necessidade de cartão.

17 de Junho de 1979

Alguns jornais falam do meu 80º aniversário do próximo ano e alguns insinuam que devem condecorar-me.
Como livrar-me dessa condecoração?
Hoje, lembrei-me de me inscrever no Partido Comunista.
Talvez não se atrevam a condecorar um comuna!

28 de Fevereiro de 1980

Hoje resolvi-me e fui pedir ao Aboim Inglês que me inscrevesse no Partido Comunista Português. Incomodava-me o facto de todos me considerarem pertencente ao Partido. Isto é, possuir tudo o que era positivo nele. Quanto aos defeitos evitava-os sem dificuldades.

4 de Março de 1980

Inscrevi-me no Partido Comunista. Exactamente no pior momento que este partido passa.
Esperei pacientemente pelo dia de hoje.

Também se lê na Fotobiografia que as últimas linhas dos seus Dias Comuns estão datadas de 25 de Maio de 1980 e fazem parte do 20º volume com o subtítulo A vida Corre sem a Elegância de uma Gazela.

Repito: pelos critérios mercantilistas da Leya, e com a idade que vou tendo, quantos mais volumes irei ler dos Dias Comuns do José Gomes Ferreira?

Uma angústia desenhada no horizonte do meu caminhar.

Não tenho por qualquer outro escritor, daqui ou dacolá, a ternura que tenho por José Gomes Ferreira.

Legenda:
      Fotografia de José Gomes Ferreira retirada da Fotobiografia.
      Fotografia de José Gomes Ferreira, numa manifestação de apoio à Reforma Agrária, retirada de Correio do Porto.
      Quadro de José Gomes Ferreira pintado por Mário Dionísio.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É – sinto-o em mim como o meu sangue –
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui...

Álvaro Campos

Legenda: pintura de Georges Seurat

OLHARES


Setúbal.

À CONVERSA


Perguntaram-lhe:

Acredita que há futuro para a imprensa tradicional?

Respondeu:

Não sei, porque também houve um tempo em que se dizia que a bicicleta iria desaparecer e tal não aconteceu, pois agora vejo toda a gente a pedalar. Há uma redescoberta contínua de certas práticas consideradas em perigo, tanto assim que me dizem que o único sector editorial que está em crescimento é o da literatura infantojuvenil. O que vejo é que as crianças ainda gostam de folhear os livros e reparo que cá em casa a primeira coisa que o neto faz é ir ver os livros. Não liga aos jogos ou à televisão, portanto as novas gerações poderão continuar a ler e a querer tocar nas páginas de papel, bem como deixar os restos de bolos colados às páginas e reencontrar essas marcas na velhice, coisa que não se encontra numa pen ou num disco rígido.

Umberto Eco

Legenda: pintura de Toulouse Lautrec

OLHAR AS CAPAS


Voltar Atrás Para Quê?

Irene Lisboa
Capa: Luiz Duran
Livros Unibolso nº 37
Editores Associados, Lisboa s/d

Ai, mas a vida fugia-lhe. Com que dor, sim, com que dor a via fugir-lhe.
A vida não é nada. É uma coisa que passa, apenas. Uma pescadinha de rabo na boca… o seu princípio e o seu fim juntam-se, procuram-se. O rabo está ou volta aos dentes da cabeça, mete-se na boca da infância.
Inocentes, afinal, o princípio e o fim da vida. Sem poderes. Mas tão ligados… Até parece que o fim se alimenta do princípio, que a infância se lhe sobrepõe, o ilumina, o traz sujeito. O resto da vida, oh! o resto da vida some-se, sumiu-se.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Pela noite adiante, com a morte na algibeira,
cada homem procura um rio para dormir.

Eugénio de Andrade

Legenda: fotografia de Edouard Boubat

OLHAR AS CAPAS


Febre No Estádio

Nick Hornby
Tradução: Maria Augusta Júdice
Capa: Fernando Mateus
Editorial Teorema, Lisboa, Março de 2001

Apaixonei-me pelo futebol tal como viria, mais tarde, a apaixonar-me pelas mulheres: de súbito, inexplicavelmente, sem o menor sentido crítico, sem pensar na dor ou perturbação que me viria a provocar.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


E no silêncio o que acontece?

João Tordo

Legenda: fotografia de Christine Hazen Molina 

OLHARES


A fotografia é de 1934.
Os miúdos de hoje divertem-se com telemóveis e afins.

BIBLIOTECA VERDE


Papai, me compra a Biblioteca Internacional de Obras Célebres.
São só 24 volumes encadernados
em percalina verde.
Meu filho, é livro demais para uma criança.
Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde,
só 24 volumes. Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.

Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com um arranhão recuso, já sabe:
quero devolução de meu dinheiro.
Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.

Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde. Sou
o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não; inveja de mim mesmo.)
Ninguém mais aqui possui a coleção
das Obras Célebres. Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passar a mão
no som da percalina, esse cristal
de fluida transparência: verde, verde.
Amanhã começo a ler. Agora não.

Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas. Osíris, Medusa,
Apolo nu, Vênus nua… Nossa
Senhora, tem disso nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa: Não dorme este menino.
O irmão reclama: Apaga a luz, cretino!
Espermacete cai na cama, queima
a perna, o sono. Olha que eu tomo e rasgo
essa Biblioteca antes que pegue fogo
na casa. Vai dormir, menino, antes que eu perca
a paciência e te dê uma sova. Dorme,
filhinho meu, tão doido, tão fraquinho.

Mas leio, leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. Ou antes carruagem
de fugir de mim e me trazer de volta
à casa a qualquer hora num fechar
de páginas?

Tudo que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei
 nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Há certos autores que eu leio o mais lentamente possível. Parece-me que converso com eles, que eles me falam e teria tanta pena se não os soubesse reter mais tempo ao pé de mim.


Legenda: pintura de Guy Pène du Bois

NOTÍCIAS DO CIRCO


O BES, o Novo Banco, o Mau Banco, o que quer que seja que esteja relacionado com todo aquele buracão, só podem trazer más notícias, terríveis notícias.

Já não se fala em prejuízos.

As contas do Novo Banco apontam para perdas de quase 1.000 milhões de euros, resultado explicado com a herança do Banco Espírito Santo.

Fala-se de que é necessário redução de custos estruturais e quando a este ponto se chega, salta o mexilhão.

Sim, elo mais fraco, o mais fácil de tramar: os trabalhadores.

A administração prevê o despedimento de pelo menos um milhar de tranalahdores este ano, em duas vagas de dispensas. Numa primeira fase, o banco pretende abdicar de 500 trabalhadores num despedimento coletivo, chegando depois a acordo com mais 500 trabalhadores para rescisões por mútuo acordo.

Não são os chorudos vencimentos de administradores, directores, as variadas e excelsas mordomias, a má gestão.

Os culpados são os trabalhadores.

Abençoadas cabeças!

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Esperemos bem que sim!

QUOTIDIANOS


É provável que o prazo de validade de alimentos, ou outros, não passe, como diria o outro, de um mito urbano.

Abriu em Copenhaga um supermercado que vende artigos com desconto de 50% porque o prazo de validade caducou ou as embalagens estão danificadas.

O objectivo é acabar com o desperdício alimentar.

Estima-se que em todo o mundo são desperdiçadas, diariamente, 1,3 milhões de toneladas de comida.

A iniciativa foi feita com o apoio governamental e houve que alterar algumas leis.

Em França os supermercados também foram proibidos de deitar fora comida que não tenha sido vendida.

OLHAR AS CAPAS


Tanta Gente, Mariana

Maria Judite de Carvalho
Capa: Rui Belo
Colecção BIS
Leya, Lisboa, Janeiro de 2011

Todos estamos sozinhos, Mariana; Sozinhos e muita gente à nossa volta. Tanta gente, Mariana! E ninguém vai fazer nada por nós. Ninguém pode. Ninguém queria, se pudesse. Nem uma esperança.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


O homem de hoje comete tantas barbaridades como o das cavernas.

Autor desconhecido

Legenda: destruição de templos na Síria.

DO BAÚ DOS POSTAIS


NOTÍCIAS DO CIRCO



Marcelo Rebelo de Sousa vai participar numa celebração ecuménica em sentido lato na Mesquita de Lisboa na tarde de dia 9 de Março, dia em que toma posse como Presidente da República. A iniciativa, inédita em Portugal, está a ser organizada e tem como objectivo chamar a atenção para a necessidade de entendimento entre religiões e culturas, escreveu o Público.

Talvez Marcelo não tenha lido História das Religiões de Chantepi De La Saussaye.


Juntamente, com outros livros e autores, resolveu-me o problema com a religião.

Dizia, então, ao futuro presidente da república que convém não exagerar e deixar a religião bem guardada nos respectivos templos e não aproximá-la da política.

A bem de todos.

CORREIO


Tempo houve em que a chegada do correio era o ponto alto de qualquer aldeia, em qualquer parte do mundo, a grande hora.

Da importância da chegada do carteiro fala este poema de Carlos Drummomd de Andrade.

Tirei-o de uma colecção, de periodicidade quinzenal, editada em Portugal em 1980, que dava pelo nome de Literatura Comentada.

A grande hora da chegada
do Correio.
Ninguém te escreve, mas que importa?
Correio é belo de chegar.
Surge no alto da ladeira
a mula portadora de malas,
trazendo o mundo inteiro no jornal.
O Agente do Correio está a postos
com os filhos funcionários a seu lado.
É família postal há muitos anos
consagrada a esse ofício religioso.
As malas borradas de lama
com registrados e impressos
que a chuva penetrante amoleceu
abrem-se perante os destinatários
como flores de lona
vindas de muito longe.
Cada família ou firma tem sua caixa aberta
onde se deposita a correspondência
mas bom é recebê-la fresquinha das mãos
de Sô Fernando, que negaceia,
brinca de sonegar a carta urgente:
-- Hoje não tem nada pra você.
-- Mas eu vi, eu vi na sua mão.
-- Engano seu. Quer um conselho?
Vai apanhar tiziu, que está voando
lá fora.
Ver abrir a mala é coisa prima.
Traz as revistas de sábado
com três dias de viagem morro acima
abaixo acima, e o cheiro liso do papel
invadindo gravuras: Duque dança
as barbas de Irineu bolem na brisa
do Senado, e  na Rússia
o czar Nicolau tem o olhar vago
de quem vai ser fuzilado e ainda não sabe.

Tudo chega na hora
 do Correio. a mula é mensageira
do Fato, e sabe
antes de nós toda a terrestre
 aventura. Mal comeu
 sua cota de milho, já prossegue
 rumo do Itambé, levando o mundo.

Legenda: pintura de William Albanese

QUOTIDIANOS


Um homem, de 74 anos, morreu mordido, na cara e no pescoço, pelo seu próprio cão.
Aconteceu, ontem, em Vandoma, Paredes.
O cão, um animal de grande porte, arraçado de pastor alemão, foi levado para o canil municipal.

OLHARES


Lisboa.
Largo Trindade Coelho.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Ficaram só dois homens, dentre milhões, com as mãos atrás das costas. Um homem não vive só como um chaparro velho num montado: basta-lhe estender a mão.

Luís de Sttau Monteiro em E Se For Rapariga Chama-se Custódia.

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

AMIGOS DOS LIVROS



Maria do Rosário Pedreira em Horas Extraordinárias.

ARGUMENTOS IMBECIS



João Semedo 

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Os CTT, como muitos portugueses conheceram, já não existem.

O nome é o mesmo mas não tem nada a ver com os velhos CTT.

Este é um anúncio que incentivava as crianças das escolas a escrever cartas, ir à estação, comprar um selo e colocá-las no marco do correio.

Sim, porque uma carta começa pelo envelope e pelo selo.

Quase deixamos de conseguir escrever à mão.

Lembro-me das Cartas ao Director do Diário Popular.

Alguns jornais ainda mantêm a secção, mas as cartas são enviados por mail.

Um número que tenho por aqui:

No Natal de 2005 os portugueses trocaram 320 milhões de SMS com votos de Boas Festas.

Números completamente desactualizados, mas não tenho outros.

Hoje serão muitos e muitos mais.

É brutal o número de pessoas que se tornaram adeptos das Boas Festas digitais.

As cartas que ainda circulam, propaganda, contas para pagar, a esmagadora maioria não trazem selo, apenas uma vinheta, ou a frase: porte pago.

De cada emissão de selos os CTT produzem 250 mil selos mas apenas 50 mil são para consumo, o resto vão para os coleccionadores.

Hoje já ninguém escreve cartas.

Espero que esta minha carta te vá encontrar…

Lembram-se do Carteiro do Conjunto António Mafra?

AINDA A ESQUERDA E A DIREITA



Francisco Seixas da Costa em Duas ou Três Coisas

Legenda; desenho de José Dias Coelho

FADO PARA SUECOS


Fernanda Maria e Alfredo Marceneiro.

Fotografia que pertence à enciclopédia do Fado para suecos  En Vagvisare Till de Ulf Bergqvist.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Aprender jazz é como aprender a falar.
Aprende-se vai-se aprendendo.
Balbucia-se, imita-se, copia-se.
O vocabulário vai chegando, a gramática também.

José Duarte em Cinco Minutos de Jazz

Legenda: pintura de Robert McGinnis

BRIO PORTUGUÊS


Longos e penosos têm sido os passos dos divulgadores de jazz em Portugal.

A incompreensível adversidade para tudo o que é diferente, é sempre uma conquista difícil, a maior parte das vezes impossível.

Ao longo dos 50 anos de Cinco Minutos de Jazz, José Duarte recebeu imensas cartas, postais, a insultá-lo de tudo e mais alguma coisa.

Eram racistas, nazis que defendiam o império.

No seu primeiro livro, João na Terra do Jaze, José Duarte reproduz uma dessas cartas:

Passo a ler-vos um postal que recebi hoje.
Endereço: Exmo. Sr. Director de Rádio Renascença (escritórios e Estúdios)
Remetente: Exmos. Snrs. Correios
Rogo o Vosso auxílio na defesa da Música Portuguesa e repúdio do infame e anti-Português-Jazz-batuque.
Agradece o vosso Daniel Luiz Sampaio
Texto: Venho pedir a V.Ex. que Rádio Renascença não colabore com os idiotas propagandistas do Jazz-Batuque, pois além de ser um género de música bárbara e subversiva de pretos americanos, é também um género de Música-Batuque, anti-Portuguesa, fora da índole e do sentir do nosso Povo, poi somos um Povo Latino. Os idiotas do Jazz-Batuque tudo têm feito para corromper o Povo Português, mas até hoje, só têm conseguido arrastar parte de alguma desvairada juventude, sem brio português, para um género de Música, anti-Portuguesa, sem brio português, para um género de Música, anti-portuguesa que os pretos insurrectos praticam há mais de 100 anos na América, mas que as pessoas sem dignidade pela verdade e pela sua condição de portugueses, teimam em afirmar que o Jazz-Batuque é Música do nosso tempo. Os idiotas, que tal afirmam, são gente de baixa mentalidade e de alma negra incapaz de apreciar e sentir a beleza da Música verdadeira e digna do género humano.
Exmo. Sr. Director, peço-lhe a Vossa ajuda na defesa da nossa Música e dos Músicos portugueses.
Muito grato lhe fica o Vosso, Daniel Luiz Sampaio.
O postal não traz a morada do remetente.

                                                                                 Novembro de 1972

SARAMAGUEANDO

                                                                                               
Em fim de mandato, os presidentes da república desatam a galardoar uma série de gente, irrelevante gente, que pode ir do cabeleiro da mulher ao fornecedor de suspensórios.

Na semana passada, Cavaco Silva, cumpriu essa tradição.

Acontece que entre os condecorados estava António Costa de Albuquerque de Sousa Lara, com a Ordem do Infante D. Henrique, destinada a quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro.

Ora, Sousa Lara ficou para a história por ter tomado, como subsecretário da cultura, a iniciativa de vetar o Evangelho Segundo Jesus Cristo de José Saramago, da lista de candidatos ao Prémio Literário Europeu do ano de 1992.

Fiama Hasse Pais Brandão e Pedro Tamén, também estavam nessa lista, mas em solidariedade para com Saramago, pediram para ser excluídos da candidatura.

Ao tempo, Sousa Lara, um idiota vaidoso, argumentou que a obra não representava Portugal, e a sua moral pífia, de mera rata-de-sacristia, levou-o a bolsar que o livro ataca princípios que têm a ver com o património religioso dos cristãos e, portanto, donde em vez de unir os portugueses, desunia-os.

Era Santana Lopes o secretário de estado da cultura e Aníbal Cavaco Silva o primeiro-ministro, o tal que nunca se engana e raramente tem dúvidas.

Nem Santana, nem Lara foram demitidos e Cavaco Silva sempre concordou com a decisão. Lara referiu mais de uma vez que a sua decisão teve o apoio do primeiro-ministro.

Houve mesmo um jantar de homenagem a Lara no Muxaxo, no Guincho.
    
Entre os duzentos convivas, estavam ministros do governo, representando o espirito de Cavaco, que acabou por enviar  um telegrama de solidariedade e D. Duarte Pio, em discurso, afirmou, com elegância monárquica e cristã que o livro era uma merda.

Interrogada pelo Público em relação à atitude de Sousa Lara, Agustina Bessa-Luís respondeu: Foi um acto impolítico. Deviam-me ter perguntado, eu explicava tudo, ninguém percebia nada, mas ficavam todos contentes.

Por efeito do triste e lamentável acto censório de que foi vítima, José Saramago passou a viver em Lanzarote.

Quando o senhor Sousa Lara já nem a si mesmo se representar, eu ainda representarei este país, disse, então, Saramago ao Expresso.

Hoje, não existem dúvidas que o estúpido, o abjecto acto de censura que o governo de Cavaco Silva exarou sobre O Evangelho Segundo Jesus Cristo, desencadeou uma repercussão internacional, que fez voltar as atenções para a pessoa e o escritor José Saramago.

Do lamentável incidente governativo ao Nobel, foram apenas alguns passos.

Cavaco Silva, que não gosta de livros nem de comunistas, arrasta consigo o pesadelo de ter feito com que José Saramago entrasse na engrenagem da Academia sueca para atribuição do Nobel.

Cavaco Silva nunca leu José Saramago.

Certa vez, titubeou que tentara mas achou-o maçador, não sabe se por falta dos pontos finais, das vírgulas, dos pontos e vírgulas.

Sousa Lara foi o idiota vaidoso a quem deram uma cadeira de poder.

Apenas agarrado ao poder por mera vaidade e não pelo dinheiro.

Segundo Francisco Sousa Tavares, num artigo no Publico desse ano de 1992, Lara é milionário por dois lados: o lado Alnodovar da sua mãe – das maiores fortunas em posse de terras do Alentejo – e a herança dos Sousa Lara que, na exploração do café e dos negros, trouxeram de Angola uma enorme riqueza.

José Saramago dirigiu sempre as suas críticas para a pessoa do primeiro-ministro Cavaco Silva, ele sim o grande culpado pelo lamentável incidente, não só por ter escolhido atrasados mentais para o seu governo, como nunca se ter desmarcado do acontecimento.

Não cabe nas minhas forças evitar a existência dos «dráculas», mas nada poderá obrigar-me a apertar-lhes as mãos, escreveu no 3º volume dos Cadernos de Lanzarote.

Pilar del Rio, viúva de Saramago, qualifica a condecoração de Cavaco a Lara de triste fim.

Acrescentando: Coitados, um e o outro.

Com esta condecoração ao Lara Cavaco Silva mostra aquilo que sempre foi: um rancoroso, um insensível, um vingativo, um inculto, um medíocre, um cínico.

Enfim:  um ser DESPREZÍVEL!

Legenda: na fotografia, o Lara idiota é o segundo a contar da esquerda.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Estive num alfarrabista na zona do Chiado e encontrei seis volumes que me interessavam muito e que não eram demasiado caros. Comprei-os, paguei e pedi para mos enviaram para casa. Dias depois houve o grande incêndio e achei que nunca mais os veria, felizmente o livreiro tinha-os expedido na véspera da tragédia.

Umberto Eco numa entrevista ao Diário de Notícias

CINCO MINUTOS DE JAZZ



Quando se fala de jazz em Portugal, há uma fronteira a balizar: antes e depois de Vilas-Boas.

Seguem-se, então, os outros, como Raul Calado ou José Duarte.

Há 50 anos, João Martins, um radialista de excelência, apanhando José Duarte a jantar em casa de Raul Duarte desafiou-o a realizar uma rubrica de jazz na sua 23ª Hora, que se transmitia na Rádio Renascença.

A pergunta que se seguiu foi se não podia ser mais do que cinco minutos.
Que não, apenas cinco minutos.

No dia 21 de Fevereiro, ouvia-se uma faixa do álbum de Lou Donaldson, Lou’s Blues, e o José Duarte a marcar 1, 2, 3, 4, Cinco Minutos de Jazz, o mais antigo programa da rádio portuguesa.

há cinquenta comecei com o «cinco» e com milhares de «cinco» acabarei.
se hoje fosse convidado para realizar um programa de rádio de
jazz
resposta seria sim se:
chamar-se-ia o «jazz, esse desconhecido»

Andou depois pela Rádio Comercial, os companheiros diziam que o Zé Duarte era a melhor orelha branca da Europa, assim como Vinicius se dizia o branco mais negro do Brasil, passou pela Antena 2 e agora estaciona na Antena 1

Ao Expresso, José Duarte disse: sinto que fico na história como o Vila-Lobos.

Assim seja!


AH!... SIM... A EUROPA!...

A Europa é uma treta, um embuste, um saco de gatos, cada um a arranhar para cada lado.

Faço os meus melhores possíveis para a compreender, mas não consigo.

A Europa que espezinhou a Grécia, obrigou Portugal a uma abjecta austeridade, dá à Grã-Bretanha a possibilidade de fazerem o que bem entenderem.

O Sr. Cameron, após as cedências de Bruxelas disse, em ar jubiloso, que os emigrantes são gente que recebe tudo e não dá nada em troca.

Assim como os emigrantes não pagassem os impostos decretados pelas leis inglesas.

Uma Europa que possibilita, tal como aconteceu, ontem, em Bautzen, no leste da Alemanha, que um hotel destinado a acolher refugiados, ficasse danificado por um incêndio, e os vizinhos viessem para a rua festejar a tragédia.

É ENGRAÇADO...


O José Ribeiro da Ulmeiro, também, recebeu a visita de João Soares.

O ministro da Cultura, mostrou-se interessado em encontrar saídas para as dificuldades que o livraria-editora enfrenta.

Em Março o Zé Ribeiro decidirá do futuro da livraria.

Até lá vai aproveitando a visibilidade que a livraria passou a ter e confidenciou a um repórter:

No bairro há pessoas que descobriram que a livraria existe e estamos cá há 47 anos, é engraçado.

Legenda: fotografia do Diário de Notícias

APANHADOS DO FACEBOOK


NOTÍCIAS DO CIRCO


O PS ajoelha-se perante a Europa.

Passos Coelho num encontro do PSD nas Caldas da Raínha

SE NÃO PODES AJUDAR-ME A VIVER, AJUDA-ME A MORRER


A petição pode ser assinada aqui.

QUOTIDIANOS




Da crónica de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Agora, na sociedade da abundância onde as pessoas têm portáteis, telemóveis, iPods, e mentes que parecem quartos vazios, eu prefiro teimosamente os livros.

Harper Lee

UMBERTO ECO (1932-2016)


Morreu Umberto Eco.
Há dias em que o blogue mais parece um cemitério!

COISAS DE UM OUTRO MUNDO


Quando vi Na Sombra e no Silêncio, no cinema não me apercebi.
Mais tarde quando o revi em casa, saltou-me à vista e deixou-me perplexa.
A maneira de falar, as brincheiras de maria rapaz, tudo, em Louise, me fez lembrar a minha sobrinha Vanessa quando miúda.
Fiquei agradavelmente incomodada e dá sempre para perguntar como é que estas coisas são possíveis?
Uma fotocópia não poderia ser tão exacta.
Mostrei partes do filme à família e não tiveram grande dificuldade em reconhecer que assim era, e só quem a conheceu em miúda, poderá perceber o que estou a dizer.
Sei que a história a ninguém poderá interessar mas, mas na morte de Harper Lee, eu não poderia deixar de a referir.
Digo-vos também que, se possível, não devem perder nem o livro nem o filme.

No Corte Inglês poderão encontrar uma cópia em Dvd a um preço muito razoável.


OLHAR AS CAPAS


Mataram a Cotovia

Harper Lee
Tradução Fernando Ferreira-Alves
Capa: Carlos césar Vasconcelos
Relógio D’Água Editores, Lisboa, Março de 2012

- Retira já o que disseste, rapaz!
Esta ordem, dada por mim ao Cecil Jacobs, marcava o início de tempos um tanto ou quanto conturbados, tanto para mim como para o Jem. Cerrei os punhos e estava pronta para atacar. O Atticus já tinha prometido que me castigava se soubesse que eu tinha andado à pancada; já era bem crescidinha para coisas tão infantis e, quanto mais cedo aprendesse a controlar-me, melhor seria para todos. Mas depressa me esqueci de tudo isso.
A culpa foi toda do Cecil Jacobs. Tinha andado a dizer no recreio da escola que o paizinho da Scout Finch defendia os pretos. Eu neguei-o, mas depois até contei ao Jem.
- O qu’é qu’ele q’ria dizer com aquilo – perguntei.
- Nada – disse o Jem. – Pergunta ao Atticus, ele explica-te.
- Defendes pretos, Atticus? – perguntei-lhe eu nessa mesma tarde.
- Claro que sim. Não digas preto, Scout. É feio.
- Mas é o qu’ toda a gente diz na escola.
- Então, a partir de agora passa a ser toda a gente. Menos uma pessoa…
- Mas então, se não queres que cresça a flar desta maneira, porque é que me mandas prà escola?

HARPER LEE (1926-2016)


Aos 89 anos morreu Harper Lee, autora de Mataram a Cotovia, publicado em 1980 e que no ano seguinte venceu o Prémio Pulitzer.

Traduzido em 40 línguas, vendeu, até aos dias de hoje, 30 milhões de exemplares.

Baseado no livro, Robert Mulligan fez uma excelente adaptação ao cinema, que valeu a Gregory Peck o Oscar de Melhor Actor e que em português se chama Na Sombra e no Silêncio.

Apesar da excelência da adaptação, o livro tem um nível superior.

Sempre existiram rumores de que Harper Lee iniciara um segundo romance, mas a autora, concretamente, nunca a ele se referiu, nada mais publicou e como se remeteu ao silêncio, não dando conferências, não concedendo entrevistas, ficou a ideia de que seria mais autora de um só romance.

A juntar a Emily Bronte com o Monte dos Vendavais e Margaret Mitchele com E Tudo o Vento Levou.

O ano passado. Tonja Carter, advogada e amiga de Harper Lee, encontrou um manuscrito que, assim foi tornado público, seria uma sequela de Mataram a Cotovia.

Com o título de Go Set a Watchman e editado em Portugal, pela Editorial Presença, como Vai e Põe Uma Sentinela.

Há na publicação Go Set a Wathman, uma série de pormenores mal esclarecidos.

Os estudiosos inclinam-se para que o livro  mais não seja do que uma versão inicial de Mataram a Cotovia, pelo que a sua publicação não deixa de ter contornos de manifesto oportunismo e sem que Harper Lee, supõe-se, tenha sido tida ou achada.

Por isto, é saudável guardarmos a ideia de que Harper Lee é autora de um só romance.

E que romance!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Por uma coisa nunca ter acontecido antes, não quer dizer que não venha a acontecer depois.

Woody Allen

DITOS & REDITOS


A vida é sempre prazer para quem tem saber.

Há um cheiro a pão recém-cortado.

Não há festa nem dança onde não vá a Dona Constança.

Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte.

O homem que se surpreende não é adulto.

O que não te mata, torna-te mais forte.

Vive o instante que passa.

Quem na praça o veste na praça o despe.

OLHAR AS CAPAS



Os Cavalos Também Se Abatem

Horace McCoy
Tradução: Alexandre Pinheiro Torres
Capa: Yzquierdo
Círculo de Leitores, Lisboa s/d

Quando a porta se fechou, Glória fez a seguinte pergunta:
- As senhoras têm filhos?
- Ambas temos filhas já crescidas – respondeu a Srª Higby
- Sabem acaso onde estarão elas esta noite e o que estarão a fazer?
Nenhuma das senhoras respondeu.
- Talvez eu lhes possa dar uma pálida ideia – respondeu Glória. – Enquanto os dois nobres caracteres que as senhoras são estão a cumprir o vosso dever a favor de pessoas que não conhecem, as vossas filhas estão provavelmente  no apartamento de um gajo qualquer, completamente nuas, a embebedarem-se.
As Sr.ª Higby e Witcher perderam a fala.
~É o que geralmente acontece às filhas das reformistas – continuou Glória. – Mais tarde ou mais cedo todas caem de costas e a maior  parte delas nem sequer sabem o suficiente para se livrarem de apanhar um pontapé no traseiro. Vocês, com essas danadas leituras sobre a pureza e a decência, fazem com que elas dêem à sola de casa, porque, é claro, andam sempre muito ocupadas cá fora para terem tempo de lhes ensinar as coisas da vida…
- Porquê… - começou a Srª Higby, que estava muito vermelha-
- Eu… - disse a Srª Witcher.
- Glória… - implorei-
- Já era tempo que alguém lhes dissesse isto que lhes estou a dizer – disse Glória, indo colocar-se de costas apoiadas na porta, como para evitar que elas saíssem. – Vocês são como essas cadelas que se esgueiram como cobras para a retrete para lerem livros pornográficos, ou contarem histórias porcas umas às outras, e depois vêm cá para fora, a fim de estragar o prazer dos outros…
- Saia já dessa porta. Saiamos já daqui – gritou a Srª Higby. – Recuso-me a ouvi-la. Eu sou uma mulher respeitável. Sou professora numa escola dominical…
- Não se mova, nem tanto como um alfinete, enquanto eu não acabar – ameaçou Glória.
- Glória…
- A vossa Liga da Moral e os vossos nojentos clubes de mulheres – disse ela, ignorando-me por completo - … cheios de velhas cadelas bisbilhoteiras que não levam uma… há mais de vinte anos. Porque é que vocês, suas velhotas, não saltam cá apara fora de vez em quando e não compram uma… para se consolarem?