terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

MARCELO AINDA NÃO COMEÇOU E JÁ SE NOTA


Vai um Presidente e, para mais, um ainda não em funções resolver este magno problema: vão os portugueses continuar a ler livros em papel? Não vai (o Presidente resolver) e vão (os portugueses continuar a ler livros em papel). Dito isto, é bom saber que Marcelo Rebelo de Sousa, na tarde de sábado, entrou numa livraria em agonia e comprou 300 livros. A livraria chama-se Ulmeiro, fica em Benfica, e é daquelas onde os livros não se expõem, procuram-se, ao acaso nas estantes, sobre as mesas e sobre o chão, talvez só não sobre a cadeira onde pontifica o gato Santiago. A Ulmeiro teve uma época, a minha geração sabe, e a Ulmeiro continua a ser mais um, entre mil e há mil anos, lugar onde se encontram livros. Os livros de papel serão ainda por muito tempo lidos e quando deixarem de o ser não será porque o Fahrenheit 451, a temperatura a que o papel arde, os levará mas porque serão lidos em tablets e outros suportes. Entretanto, é importante que numa tarde chuvosa e a 10º Celsius, um Presidente entre numa livraria e encomende livros. Um dia, há muitos anos, José Ribeiro, o dono da Ulmeiro, disse-me o seu sonho: editar em português Paradiso, do cubano José Lezama Lima. Continua não editado. De Paradiso, Julio Cortázar escreveu: "Devemos lê-lo entregando-nos ao que chamamos destino, assim como entramos no avião sem dar conta da cor dos olhos ou do estado do fígado do piloto." Boa viagem, espero que a tenhamos todos com Marcelo.

Ferreira Fernandes no Diário de Notícias de ontem.

Legenda: fotografia da Câmara Municipal de Lisboa

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