segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Já não há cassettes.

Pior: já não há, à venda, leitores de cassettes.

O meu leitor de há muito que pifou e não há disponibilidade de borrachas para o por a rodar.

Fiquei com uma montanha de cassettes sem saber o que delas fazer.

Arrepio-me cada vez que penso que tenho de as colocar n o ecoponto.

Selecções de músicas colocadas ao pormenor, muitas delas gravadas com dois gira-discos e recorrendo a um misturador.

Arrepio-me cada vez que penso que tenho de as despejar no ecoponto.

Há um livro de Nick Hornby, Alta Fidelidade de que Stephen Frears com John Cusak, Tim Robbins, Catherine Zeta-Jones, realizou uma honesta adaptação, onde ressalta toda a ambiência do pensar e gravar uma cassette.

Não desgostando do filme, prefiro o livro. 

Há um espírito e uma graça difíceis de passar ao celulóide.

Atentem nestas citações:

Passei horas a alinhar a cassete. Para mim, gravar uma cassete é como escrever uma carta – tenho de apagar muito, repensar e começar outra vez de início, e eu queria que a cassete ficasse boa, porque… para falar verdade, porque nunca tinha conhecido nenhuma mulher tão promissora como a Laura desde que tinha começado a pôr música, e conhecer mulheres promissoras era parte da profissão.

É difícil fazer uma boa cassete de compilação, tal como é difícil acabar uma relação. É preciso abrir com uma música surpreendente, para captar a atenção (comecei com “Got To Get You Off My Mind”, mas a seguir percebi que ela podia não passar da primeira faixa do lado A se eu desse logo tudo, por isso encaixei-a a meio do lado B), e depois sem se pôr uma mais enérgica ou mais calma, e não se pode misturar música branca com música negra, a menos que a música branca seja parecida com música negra, e não se pode pôr duas faixas do mesmo artista ao lado uma da outra, a menos que se tenha posto todas aos pares, e… oh, há imensas regras.

Seja como for, fartei-me de trabalhar, e ainda tenho meia dúzia de “demos” antigas espalhadas pela casa, cassetes-protótipo em relação às quais fui mudando de ideias. E na sexta-feira à noite, tirei-a do bolso do blusão quando ela veio ter comigo, e seguimos caminho a partir dai. Foi um bom início.

Antes de lançar as cassettes ao ecoponto, ainda passarei pela Feira da Ladra a ver se consigo qualquer coisa que faça com que aquelas cassettes voltem a brilhar

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