quarta-feira, 31 de maio de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO


 A sondagem pertence ao Expresso.

Os portugueses estão fartos. Estão cansados.

O governo não resolve os graves problemas que enfrentam no seu dia-a-dia. 

Mas também sabem que mais eleições não trazem qualquer alteração às suas frustrações quotidianas.

terça-feira, 30 de maio de 2023

PODEMOS ESTAR DESCANSADOS

Em todos os sentidos atravessamos uma seca que nos vai complicar,  ainda mais, os nossos tristes dias.

No Café do Monte, Ana Cristina Leonardo continua a filosofar:

«Por falar em clima, aqui, no Sul interior, a seca secera está a deixar os campos com as cores de Agosto, mas a ministra da Agricultura já anunciou que este ano não faltarão sardinhas.»

segunda-feira, 29 de maio de 2023

MÚSICA PELA MANHÃ


Durante o seu casamento com Ike Turner foi violentamente tratada.

Um dia, Tina,  mandou-o dar uma enorme volta e que nunca mais lhe aparecesse.

Tornou-se um ídolo, a primeira estrela negra do rock a encher estádios de futebol. por todo o mundo.

A música desta manhã  é We don’t need another hero, da banda sonora de Mad Max.

 


domingo, 28 de maio de 2023

DENEGAÇÃO POR ANÁFORA MERENCÓRIA



No desenrolar dos dias que nos levarão aos 50 anos do 25 de Abril, o escritor Mário de Carvalho fez publicar em Abril/Abril, uma extraordinária memória do que foram as nossas vidas antes de chegarmos a essa madrugada «onde emergimos da noite e do silêncio», tal como poetizou Sophia:

«Eu nunca fui obrigado a fazer a saudação fascista aos «meus superiores». Eu nunca andei fardado com um uniforme verde e amarelo de S de Salazar à cintura. Eu nunca marchei, em ordem unida, aos sábados, com outros miúdos, no meio de cânticos e brados militares. Eu nunca vi os colegas mais velhos serem levados para a «mílícia», para fazerem manejo de arma com a Mauser. Eu nunca fui arregimentado, dias e dias, para gigantescos festivais de ginástica no Estádio do Jamor. Eu nunca assisti ao histerismo generalizado em torno do «Senhor Presidente do Conselho», nem ao servilismo sabujo para com o «venerando Chefe do Estado». Eu nunca fui sujeito ao culto do «Chefe», «chefe de turma», «chefe de quina», «chefe dos contínuos», «chefe da esquadra», «chefe do Estado». Eu nunca fui obrigado a ouvir discursos sobre «Deus, Pátria e Família». 

Eu nunca ouvi gritar: «quem manda? Salazar, Salazar, Salazar». Eu nunca tive manuais escolares que ironizassem com «os pretos» e com «as raças inferiores». Eu nunca me apercebi do «dia da Raça». Eu nunca ouvi louvar a acção dos «Viriatos» na Guerra de Espanha. Eu nunca fui obrigado a ler textos escolares que convidassem à resignação, à pobreza e ao conformismo; Eu nunca fui pressionado para me converter ao catolicismo e me «baptizar». 

Eu nunca fui em grupos levar géneros a pobres, politicamente seleccionados, porque era mesmo assim. Eu nunca assisti á miséria fétida dos hospitais dos indigentes. Eu nunca vi os meus pais inquietados e em susto. Eu nunca tive que esconder livros e papéis em casa de vizinhos ou amigos. Eu nunca assisti à apreensão dos livros do meu pai. Eu nunca soube de uma cadeia escura chamada o Aljube em que os presos eram sepultados vivos em «curros». Eu nunca convivi com alguém que tivesse penado no Tarrafal. Eu nunca soube de gente pobre espancada, vilipendiada e perseguida e nunca vi gente simples do campo a ser humilhada e insultada. 

Eu nunca vi o meu pai preso e nunca fui impedido de o visitar durante dias a fio enquanto ele estava «no sono». Eu nunca fui interpelado e ameaçado por guardas quando olhava, de fora, para as grades da cadeia. Eu nunca fui capturado no castelo de S. Jorge por um legionário, por estar a falar inglês sem ser «intréprete oficial». Eu nunca fui conduzido à força a uma cave, no mesmo castelo, em que havia fardas verdes e cães pastores alemães. Eu nunca vi homens e mulheres a sofrer na cadeia da vila por não quererem trabalhar de sol a sol. Eu nunca soube de alentejanos presos, às ranchadas, por se encontrarem a cantar na rua. Eu nunca assisti a umas eleições falsificadas, nunca vi uma manifestação espontânea ser reprimida por cavalaria à sabrada; eu nunca senti os tiros a chicotearem pelas paredes de Lisboa, em Alfama, durante o Primeiro de Maio. 

Eu nunca assisti a um comício interrompido, um colóquio desconvocado, uma sessão de cinema proibida. Eu nunca presenciei a invasão dum cineclube de jovens com roubo de ficheiros, gente ameaçada, cartazes arrancados. Eu nunca soube do assalto à Sociedade Portuguesa de Escritores, da prisão dos seus dirigentes. Eu nunca soube da lei do silêncio e da damnatio memoriae que impendia sobre os mais prestigiados intelectuais do meu país. Eu nunca fui confrontado quotidianamente com propaganda do estado corporativo e nunca tive de sofrer as campanhas de mentalização de locutores, escribas e comentadores da Rádio e da Televisão. Eu nunca me dei conta de que houvesse censura à imprensa e livros proibidos. Eu nunca ouvi dizer que tinha havido gente assassinada nas ruas, nos caminhos e nas cadeias. 

Eu nunca baixei a voz num café, para falar com o companheiro do lado. Eu nunca tive de me preocupar com aquele homem encostado ali à esquina. Eu nunca sofri nenhuma carga policial por reclamar «autonomia» universitária. Eu nunca vi amigos e colegas de cabeça aberta pelas coronhas policiais. Eu nunca fui levado pela polícia, num autocarro, para o Governo Civil de Lisboa por indicação de um reitor celerado. Eu nunca vi o meu pai ser julgado por um tribunal de três juízes carrascos por fazer parte do «organismo das cooperativas», do PCP, com alguns comerciantes da Baixa, contabilistas, vendedores e outros tenebrosos subversivos. Eu nunca fui sistematicamente seguido por brigadas que utilizavam um certo Volkswagen verde. Eu nunca tive o meu telefone vigiado. Eu nunca fui impedido de ler o que me apetecia, falar quando me ocorria, ver os filmes e as peças de teatro que queria. Eu nunca fui proibido de viajar para o estrangeiro. Eu nunca fui expressamente bloqueado em concursos de acesso à função pública. 

Eu nunca vi a minha vida devassada, nem a minha correspondência apreendida. Eu nunca fui precedido pela informação de que não «oferecia garantias de colaborar na realização dos fins superiores do Estado». Eu nunca fui objecto de comunicações «a bem da nação». Eu nunca fui preso. Eu nunca tive o serviço militar ilegalmente interrompido por uma polícia civil. Eu nunca fui julgado e condenado a dois anos de cadeia por actividades que seriam perfeitamente quotidianas e normais noutro país qualquer; Eu nunca estive onze dias e onze noites, alternados, impedido de dormir, e a ser quotidianamente insultado e ameaçado. Eu nunca tive alucinações, nunca tombei de cansaço. Eu nunca conheci as prisões de Caxias e de Peniche. Eu nunca me dei conta, aí, de alguém que tivesse sido perseguido, espancado e privado do sono. Eu nunca estive destinado à Companhia Disciplinar de Penamacor. Eu nunca tive de fugir clandestinamente do país. Eu nunca vivi num regime de partido único. 

Eu nunca tive a infelicidade de conhecer o fascismo.»

Legenda: fotografia de Júlio Amorim

sábado, 27 de maio de 2023

O OUTRO LADO DAS CAPAS


Sempre gostei de ter livros que completassem o conhecimento de gente que muito aprecio.

 Yves Montand era o cantor francês preferido do Armindo que um dia, para não vestir a bombazina verde dos militares da guerra colonial, fugiu para Grenoble. Nunca mais soube dele. Lamento muito.

Por um dois seus amigos, pelo mesmos motivos, Eduardo Guerra Carneiro perguntava: «De que cor  são os lagos da Suiça?»

O meu pai encantava-se com Edith Piaf, ainda andou às voltas com Mireille Mathieu mas foi apenas um breve entusiasmo, eu ouvia Adamo, Les Chats Sauvages, Charles Aznavour, Gilbert Bécaud e só mais tarde encontrei os LPs do Yves Montand nas mãos do  Luís Miguel Mira.

Sobre a tal frase do Fitzgerald, citada por aqui, Montand considerava-a uma reflexão lúcida, uma refexão que magoa.

«É verdade que não há esperança. Vendo bem que posso eu fazer? Pelos operários da fábrica Renault, por exemplo, nada. E eles também nada podem fazer por mim. Só eles poderão descobrir uma solução para os seus problemas. Eu apenas posso manifestar-lhes uma forma de simpatia, com uma estreita margem, de resto, para nãp cair na demagogia. Posto isto, é verdade que devemos tentar mudar as coisas. É uma das principais razões da nossa vida.»

OLHAR AS CAPAS


O Canto de um Homem

Richard Cannavo e Henri Quiqueré

Tradução: Isabel Maria St. Aubyn

Editorial Inquérito. Lisboa s/d

«Devíamos ser capazes de compreender que não há esperança e, no entanto, estamos decididos a tentar mudar.»

Esta máxima de Scott Fitgerald, dândi desencantado do milagre americano, é, como ele próprio confessa, a citação preferida de Montand. Estas duas linhas dizem tudo. Tudo o que constitui o «homem Montand». Longe dos projectores e dos aplausos, longe dos clamores e da multidão, Yves Montand pouco tem do quinquagenário triunfante do cinema francês. É um ansioso. Visceralmente. Um torturado. Dilacerado, sempre em confronto com a dúvida. Na solidão dos encontros a dois que todos tememos, o homem da lenda dourada já não ri.»

sexta-feira, 26 de maio de 2023

POSTAIS SEM SELO


 Um copo de vinho por dia pode reduzir o a risco de demência.

Pedro Garcias de uma crónica no Público.

Legenda: Cartaz da Junta Nacional do Vinho, 1937

A CASA DA ACHADA É UM LUGAR VITORIOSO

Eduarda Dionísio morreu. No dia a seguir à sua morte (quando este texto foi escrito) a comunicação social mal deu por isso. Suponho, tenho mesmo a certeza, que o mesmo não se passa nalguns meios literários e culturais importantes que foram contemporâneos, cúmplices e testemunhas das actividades e obra de Eduarda Dionísio. Esses certamente que deram pela perda e se reencontram no luto e na homenagem. Não é que ela pertença a um tempo do qual não sejamos todos contemporâneos, mas num mundo onde se sobrepõem planos histórico-cronológicos tão diferentes – como é o da literatura, da arte, da cultura – a coexistência não significa obrigatoriamente uma relação de contemporaneidade.

Eduarda Dionísio é uma daquelas figuras que nos obrigam a pensar no significado e pertinência do conceito de geração, na medida em que se moveu em função de ideias colectivas e de camaradagens culturais (mencionem-se, como nomes fundamentais da sua constelação, Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo) que nunca se confundiram com os meros gestos gregários plenos de conformismo.

O jornalismo cultural mostra-se tão alheio à morte de Eduarda Dionísio porque vive num “presentismo” sem memória e num espaço público cujos territórios e fronteiras estão “globalizados” e têm radares mais atentos ao que de Londres e Nova Iorque é exportado com o selo da universalidade (veja-se o que é a versão actual, degradada, de uma “literatura mundial”, tal como Goethe a definiu), sem recuo em relação ao que há aí de inócuo e provinciano. Daí que o jornalismo cultural responda com muito maior urgência e solicitude à morte, também recente, do escritor inglês Martin Amis (como se pode comprovar através de uma simples pesquisa na Internet) do que ao falecimento de uma escritora portuguesa que também assentou arraiais no teatro (com ligação, entre outros, ao Teatro da Cornucópia: de cenógrafa a autora e tradutora de textos, nada do que diz respeito a esta arte que implica trabalho colectivo lhe foi estranho) e foi mulher de muitos ofícios culturais e literários.

Desde 2008, estava à frente da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, que ela fundou com um conjunto de amigos e transformou em centro cultural, situado no coração de Lisboa, na Mouraria, com um programa de actividades que sempre estiveram muito, mesmo muito, para além da evocação e tratamento do espólio literário do seu pai. A última manifestação editorial, e também festiva, da Casa da Achada foi o lançamento, no dia 25 de Abril, do quarto volume de Passageiro Clandestino, o diário de Mário Dionísio, acompanhado por dois volumes de notas de Eduarda Dionísio.

Nas exíguas reacções dos media, ocorreu a expressão “activista cultural”. A essa categoria podemos dizer que pertenceu de facto Eduarda Dionísio, na condição de darmos a essa palavra, “activista”, um sentido que não coincide exactamente com o que a palavra hoje evoca. A cultura foi de facto o seu campo de acção (e também de estudo e investigação, que deu origem a um livro chamado Títulos, Acções, Obrigações, com um subtítulo descritivo: Sobre a Cultura em Portugal – 1974-1994), sempre vinculado à acção política. Mas a ideia – e a prática – de divulgação cultural e o militantismo bem-intencionado que faz da cultura um mecanismo bem oleado e deslizante, sem atritos, nunca foi o que a mobilizou. O seu “activismo cultural” era parcial (isto é, tomava partido) e fortemente crítico. O seu percurso, até ao fim, foi sempre o de caminhos minoritários. De onde estabeleceu a sua residência, teve certamente tempo e disposição para fazer o balanço das fidelidades e das traições. E, apesar de os tempos não serem de feição para o tipo que ela representou, não se deu por alguma vez se ter sentido derrotada. A Casa da Achada é um lugar vitorioso.

O livro mais representativo da obra literária de Eduarda Dionísio é certamente Retrato dum Amigo Enquanto Falo (1979). Na sua tematização política, é um livro do encantamento e do desencantamento revolucionários (um livro que é quase o coágulo de uma época, tal como ela foi vivida por uma “geração lírica”), mas no que diz respeito à “escrita”, ao “texto” (como estas palavras, quase conceitos, eram importantes no tempo em que esse livro foi escrito!), era ainda um livro jubilante que emergia de um ambiente intelectual movido pela força da “teoria”. Nessa época, não era possível ler a última palavra do título, “Falo” sem pensar na linguagem e nos conceitos da psicanálise.

António Guerreiro, Ipsilon, Suplemento do Público, 25 de Maio 

quinta-feira, 25 de maio de 2023

TINA TURNER (1939-2023)

Morreu Tina Turner.

Uma voz de outro mundo, umas pernas de levar à loucura, uma lenda, um verdadeiro animal de palco.

Sozinha lutou contra tudo e mais alguma coisa como o seu primeiro marido Ike Turner, um atrasado mental violento, um machista nato, um invejoso :  «Ele costumava usar o meu nariz como saco de pancada tantas vezes, que eu sentia o sabor do sangue na minha garganta quando cantava», disse um dia Tina.

Mandou Ike dar banho ao cão e que nunca mais lhe aparecesse pela frente. 

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

 

Hoje, que a Feira do Livro abre as suas portas, fui buscar o 1º volume dos Cadernos de Lanzarote, entrada do dia 4 de Junho de 1993.

A imagem que acompanha o texto mostra os jacarandás das muitas fotografias que lhes tiro sempre que vou à Feira:

 Na Feira aparece uma pessoa a comprar todos os meus livros. Põe-nos todos diante de mim para que os autografe, os grossos e os finos, os caros e os baratos, trinta e tal contos de papel, conforme vim a saber depois, e o que me desconcerta é que o homem não é um convertido recente ao saramaguismo, um adepto de fresca data, um neófito disposto às mais loucas ousadias, pelo contrário, falo do que de mim leu com à-vontade e discernimento. Resolvo-me a perguntar-lhe a razão da ruinosa compra, e ele responde simplesmente, com um sorriso onde aflorou uma rápida amargura: «Tinha-os todos, mas ficaram na outra casa.» Compreendi. E depois de ele se ir embora, ajoujado sob a carga, pus-me a pensar na importância dos divórcios na multiplicação das bibliotecas… 

quarta-feira, 24 de maio de 2023

OS LIVROS TÊM DE SAIR DAS TRIPAS

Nunca li nenhum livro de Javier Cercas.  

Mas no Ipsilon, suplemento das sextas-feiras do Público de 12 de Maio, atravessei-me numa entrevista, conduzida por José Riço Direitinho, e gostei.

 Não irei desalmado ler Javier Cercas. Tenho tanto livro para ler, outros que quero mesmo reler, o tempo vai-me faltando, mais qualquer coisa.

A entrevista tem por título: «Os livros têm de sair das tripas».

Recorto-vos este pedacinho:

«Um leitor que não saiba que os livros nos mudam a vida não é um bom leitor. Um leitor cuja vida não tenha sido mudada por um livro não sabe ler. Porque os livros mudam o mundo mudando a percepção que o leitor tem do mundo. Todos sabemos que isso nos aconteceu com determinados livros. Talvez não de maneira tão radical como aconteceu com Melchor. Mas ele é o melhor leitor que eu conheço, é o contrário de um intelectual, é um selvagem, um bárbaro. Horácio disse: a História fala de ti. Isso é o que sentimos quando lemos um livro importante. Isso é o que Os Miseráveis fez com Melchor, pôs-lhe um espelho diante».

José Riço Direitinho diz-nos quem é Melchor, citado atrás:

«É em Terra Alta (Porto Editora, 2020) que cria o carismático polícia Melchor Marín – originário de um dos bairros mais problemáticos de Barcelona, filho de uma prostituta, e que conhece a prisão muito jovem. Mas nessa estada no cárcere, conhece o "Francês", o bibliotecário da prisão, que lhe dá a ler Os Miseráveis, de Victor Hugo, e a sua vida muda. E anos depois prossegue num pequeno lugar catalão, Terra Alta, "onde nada acontece". Mas Javier Cercas não se ficou por este romance com o polícia Marín e decidiu contar mais histórias; o terceiro volume acaba de ser lançado em Portugal, O Castelo do Barba-Azul.»

terça-feira, 23 de maio de 2023

segunda-feira, 22 de maio de 2023

OLHARES


Há 25 anos a EXPO-98 abria as suas portas sendo a última exposição mundial do século XX.

Mais de 10 milhões de pessoas visitaram-na e contou com 143 países e 14 organizações internacionais.

Por alturas de 1996, no meio de um ensopado de enguias, em Cacilhas, juntamente com o António Abaladas, surgiu a ideia de tirar fotografias a locais onde iria surgir a Expo.

O plano incluía que se tentaria, durante a Exposição, tirar fotografias ao que se encontrava nos locais das fotografias tiradas antes de tudo acontecer.

Não houve unhas para tocar a guitarra pensada no meio de um ensopado de enguias em Cacilhas.

A revelação das fotografias pré-Expo não foi famosa e o tempo acabou por aniquilá-las um pouco mais.







Em Agosto de 1988, no JL, o jornalista Rodrigues da Silva, escreveu:

… há que temer pelo futuro daquela arquitectura. De pé ficará, mas rodeada urbanisticamente de quê?

Onde estiver a fumar a sua cigarrada, o Rodrigues da Silva já sabe no que deu o futuro daquela arquitectura, encontrado  o António Mega Ferreira e já discutiram largamente o assunto.

domingo, 21 de maio de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO

Sempre preferi a História à Política.

De Política apenas o mínimo para saber do que vai pelo País, pelo Mundo.

E por este jardim à beira-mar plantado a política está um horror.

Como escreveu, citando Karl Valentin, Ana Cristina Leonardo nacrónica de sexta-feira no Público:

«Esperemos que não seja tão grave como já é».

quinta-feira, 18 de maio de 2023

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 Os Sublinhados Saramaguianos surgiram com intuitos diversos.  

O de hoje refere o Restaurante Farta-Brutos onde Saramago, algumas vezes,  ia almoçar, preferencialmente Pataniscas de Bacalhau.

A primeira vez que por ali entrou, escolheu aquela mesa de canto, onde, depois de almoçar, ficava a ler e a escrever.

É essa mesa que acima se reproduz, tirada do jornal Expresso.

O Farta- Brutos fica no Bairro Alto, na Travessa da Espera com a Rua das Gáveas.

Um dos proprietários chegou a ser o pai do Dinis Machado, que foi árbitro de futebol e escrevia no República. Cheguei a ir lá com o meu pai que, de preferência escolhia pratos onde entrava bacalhau e, como Saramago, também gostava de pataniscas, mas sempre disso que as melhores Pataniscas de Bacalhau ainda eram as do Tagarro.

As fotografias que do Farta Brutos por aqui deixo, tirei-as em data antiga que agora não consigo precisar.

Francisco de Oliveira era o proprietário do restaurante quando um dia José Saramago, pela primeira vez ali entrou, olhou e escolheu a tal mesa do canto da sala.

Quando Saramago morreu, Francisco Oliveira foi ao velório, sem saber bem o que escrever no Livro de Condolências, ocorreu-lhe o seguinte recado:

 «Senhor Saramago, onde estiver, se precisar de umas pataniscas, escreva-me!»

terça-feira, 16 de maio de 2023

OLHARES


 Uma frase nos taipais de uma obra no Alto dos Moínhos.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

TU ENSINASTE-ME A FAZER UMA CASA

Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.

Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.

E vejo teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.

Joaquim Pessoa

domingo, 14 de maio de 2023

NINGUÉM É PERFEITO!

Li e conversei o necessário, para um dia poder concluir que estou muito bem sem deuses e anjos.

Respeito os que acreditam naquilo que entendem acreditar, gostaria que respeitassem o meu ateísmo.

Papa Francisco:

«Hoje estou muito triste, porque no país onde apareceu Nossa Senhora foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista dos países que aprovaram a eutanásia».

DITOS & REDITOS


Vogar nas asas da fantasia.

Ser simples não é fácil.

Um homem é pouco para mudar a história.

Até os relógios avariados dão horas certas em determinados momentos. 

Não gosta, dê corda aos sapatos.

Prove que é mentira o que estou a dizer.

Não morrer à nascença já é façanha.

Reunir os amigos numa mesma linguagem.

sábado, 13 de maio de 2023

RODEADOS POR MENTECAPTOS ACÉFALOS


Aumentam os sem-abrigo nas cidades.

São milhares e milhares os portugueses que ainda não têm médico de família.

Os estudantes universitários não encontram casas, quartos, a preços acessíveis nas cidades para onde foram estudar,

O governo está repleto de incompetentes. «No jobs for the boys», disse António Guterres quando um dia chegou a primeiro-ministro do reino, ou chover no molhado, chorar sobre o leite derramado.

Mas há dias, o governo aprovou as mudanças na lei do tabaco, que incluem a proibição de fumar em esplanadas à porta de restaurantes, cafés, ao ar livre junto a escolas, faculdades.

«Não sou fumador. Mas detesto que outros escolham o que é bom para mim. E o que a Lei do Tabaco vem criar, na senda do fundamentalismo americano que atravessou o Atlântico e chegou à Europa, é uma sociedade de delatores e um grupo social de párias. De delatores, porque os cidadãos são incentivados a denunciar aqueles que fumam em espaços onde tal será proibido, se não o fizerem de moto próprio, os respectivos proprietários. De párias, porque são tratados como um grupo que tem de ser erradicado da sociedade. Não há produto sobre o qual, na Europa e nos Estados Unidos, mais campanhas têm sido feitas, a explicar os seus malefícios. Haverá muito poucos cidadãos europeus, com mais de 18 anos, que não saibam que o tabaco pode provocar cancro, impotência e outras doenças. Mas, dito isto, deixem-nos exercer o nosso direito a decidir. Deixem-nos escolher se queremos ir a um restaurante onde se pode fumar ou não. Deixem-nos escolher se comemos chouriços e morcelas ou alimentos vegetarianos. Deixem-nos andar a uma velocidade decente nas estradas e não a uns irracionais 120 km/h. Deixem-nos assar sardinhas no carvão, matar o porco nas aldeias, ir a touradas. Dêem-nos toda a informação. Mas não escolham por nós o que devemos fazer. Só assim teremos uma sociedade responsável e não um grupo de mentecaptos acéfalos, prontos a obedecer sem pensar ao primeiro tiranete que subir ao palco»

Nicolau Santos, jornalista no ano de 2010.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

OLHAR AS CAPAS


A Morte Feliz

Albert Camus

Tradução: José Carlos Gonzalez

Introdução e notas: Jean Sarocchi

Capa: Infante do Carmo

Livros do Brasil, Lisboa s/d

Nesse domingo ao voltar a casa, com todos os seus pensamentos em Zagreus, antes de entra no quarto, Mersault ouviu gemidos que vinham do apartamento de Cardona, o tanoeiro. Bateu à porta. Ninguém respondeu. Os lamentos continuavam. Entrou sem esperar que lha abrissem. O tanoeiro estava em cima da cama, enrolado sobre si mesmo como uma bola, e chorava, soltando grandes soluços de criança. A seus pés, a fotografia de uma mulher de idade. «Morreu», acabou por dizer, muito a custo. Era verdade, mas isso acontecera havia já bastante tempo. 

ALGUÉM TEM DE AMAR O BANAL

Alguém tem de amar
o banal. Alguém tem de tratar disso. Os
rostos que passam idênticos
como os pombos
de uma praça. A mala
que apenas fecha se alguém
se senta em cima. Insectos suicidando-se
contra o brilho dos faróis. O apetite
da ferrugem
nos portões da avenida. Alguém
tem de amar o vulgar (falar
do que é
ordinário). O cheiro a peixe frito que
sobe desde a cozinha. As luas que nascem dos
dedos quando
se roem as unhas. Alguém tem de amar
o que é feio
(trazê-lo para o poema). Só assim
por entre o impuro pode o
incêndio acontecer.

João Luís Barreto Guimarães

quinta-feira, 11 de maio de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO

Há dias, na esplanada do Café do Bairro, o Dudu dizia que no incompetente governo do PS, os ministros sentavam-se nas respectivas mesas e a um canto da sala o ministro João Galamba, virado para a parede, exibia umas orelhas de burro.

 Interpelado, ontem, por um batalhão de jornalistas à entrada para o congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, Galamba foi questionado sobre se sentia ter condições para continuar no Governo.

Com uma irónica idiotice, respondeu:

«Não vê que estou com imensas condições para continuar? E nada tenho para acrescentar sobre esta matéria além do que disse o primeiro-ministr0.»

Pode ser-se mais burro ainda?

quarta-feira, 10 de maio de 2023

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

José Saramago é de opinião que as melhores personagens dos seus livros são mulheres.

Mas nunca teve uma relação fácil com a mãe.

A morte prematura de Francisco, seu irmão mais velho, abalará profundamente qualquer relacionamento. O relacionamento com os pais aparece como uma situação delicada na infância do escritor. Por dificuldades económicas, as constantes mudanças de partes de casa em Lisboa não ajudavam em nada a situação. Os afectos estão ausentes, apenas palavras soltas acontecem entre mãe e filho. Também o silêncio. «O silêncio por definição é o que não se ouve». Saramago reconhece nas suas Pequenas Memórias certa secura que a sua mãe lhe dispensaria durante toda a infância. Também numa conversa com Juan Arias:

«Tive um irmão, dois anos mais velho do que eu, que morreu muito cedo, e recordo que a minha mãe, evidentemente de maneira inconsciente, me fez sofrer quando era pequeno, comparando-nos e elogiando o filho desaparecido. A vida fez dela uma mulher algo dura, austera. Lembro-me de que lhe pedia um beijo e que nuna me dava. Isso que é o normal na relação entre mãe e filho, sobretudo quando se é um miúdo pequeno, em que ela está sempre a fazer-nos festas e a dar-nos beijos, eu não o tive. Isso doía-me muito e, por fim, quando, perante a minha insistência, minha mãe me dava um beijo era de fugida. Gostava muito de mim, nunca duvidei, mas a expressão do seu amor comigo bloqueava-se-lhe.»

José Saramago numa entrevista à Folha de S. Paulo, 18 de Outubro de 1995;

«As minhas personagens verdadeiramente fortes, verdadeiramente sólidas são sempre figuras femininas. Não é porque eu tenha decidido, é porque sai-me assim. Não há nada de premeditado. Provavelmente isso resulta de que parte da humanidade em que eu ainda tenho esperança é a mulher. E estou à espera, já há demasiado tempo, que a mulher se decida a tomar no mundo o papel que não seja o de uma mera competidora do homem. Se é só para ocupar o lugar que o homem tem desempenhado ao longo da História, não vale a pena. O que a humanidade necessita é qualquer coisa de novo, que eu não sei definir, mas ainda tenho a convicção que pode vir da mulher.»

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros

terça-feira, 9 de maio de 2023

ADEUS, FUTURO!


Lentamente, foi a isto que chegámos.

O Parlamento Europeu decidiu esta terça-feira que vai deliberar com urgência uma proposta da Comissão Europeia que vai possibilitar a utilização do Plano de Recuperação e Resiliência para investir na indústria de produção de munições.

Entretanto a senhora Ursula von der Leyen está neste momento em Kiev preparando o terreno para a adesão da Ucrânia à União Europeia.

A seu lado desfiando palavras em que diz que a Ucrânia está na linha da frente da defesa de tudo aquilo que nós, europeus, defendemos: a nossa liberdade, a nossa democracia, a nossa liberdade de pensamento e de expressão.

A seu lado, Zelensky volta a insistir para que a União Europeia sancione a Rússia, com novas medidas e a senhora Ursula von der Leyen responde que Bruxelas Bruxelas tem desde sexta-feira o 11.º conjunto de medidas punitivas em cima da mesa.

Nuvens negras, muito negras mesmo, ao longe…

Lentamente, foi a isto que chegámos…

segunda-feira, 8 de maio de 2023

OLHAR AS CAPAS


Música ao Longe

Erico Veríssimo

Capa: Bernardo Marques

Colecção Livros do Brasil nº 9

Livros do Brasil, Lisboa, s/d

Clarissa abre o seu diário de capa verde e escreve:

Quero escrever neste diário tudo o que penso, tudo o que sinto. Mas a gente nunca escreve tudo o que pensa, tudo o que sente. Por que será que só somos sinceros pensando?

Preciso ter um diário porque não tenho com quem conversar. As minhas colegas do Elementar não gostam de mim. (Não sei por quê!) A única que me procura é a Dolores.

No diário é como eu estivesse conversando comigo mesma. Assi, tenho a impressão de que sou menos só.

domingo, 7 de maio de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO

Que pode interessar, à esmagadora maioria dos portugueses, por causa de um ministro incompetente, saído da «jota», sem alguma vez ter sentido o pulso da vida quotidiana, a luta palaciana entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro.

RIGOROSAMENTE NADA!

Os portugueses queriam que os dois mais altos representantes se interessassem pela vida dos que sentem na pele que, quando muito falta para o final de um mês, o dinheiro não chega para pagar, ao banco, a prestação da casa, ou dar de comer aos filhos.

Mas, tristemente, esperarão sentados!

UM ERRO ENORME

«Aviso a tempo por causa do tempo: considero um erro enorme ter-se centrado a crise política dos últimos dias na defesa de Galamba, com um comprometimento directo do primeiro-ministro com um ministro tóxico, que não o merece e que vai dar muitos problemas ao Governo. Outros mereciam mais, mesmo Pedro Nuno Santos. Acresce que penso que o Governo é medíocre em muitas áreas e merecia uma remodelação a sério. O que tenho a dizer sobre a crise do Governo está dito.»

José Pacheco Pereira, Público, 6 de Maio de 2023

VIVÊNCIAS

«Essa nova elite, que não se parece com as antigas (que eram as do nome de família, de nascimento, os aristocratas, mas que eram quase sempre descendentes de um merceeiro que tinha feito fortuna), essa nova elite é a da democracia – mas não é melhor, só leem as revistas do coração, lixo, e consomem exatamente os mesmos produtos que o lumpen. Consomem a mesma televisão, as mesmas revistas e os mesmos jornais. Já fui a casa de pessoas com muito dinheiro, que têm uma casa maravilhosa, com arte – agora toda a gente tem arte –, objetos de design extraordinários e depois apercebemo-nos de que não há um livro.»

José Tolentino Mendonça

sábado, 6 de maio de 2023

O OUTRO LADO DAS CAPAS


Não é bem o Outro Lado das Capas porque a contra capa do livro, excepção feita às palavras FIGURAS/MÚSICA A REGRA DO JOGO, está em branco. Pego antes na 1ª página onde se fica a saber que Corações Futuristas, com o subtítulo  Música Popular Notas Sobre Brasileira, foi comprada na Livraria Opinião e custou-me 280 escudos, ao cambio de hoje,  qualquer coisa como  um euro e 14 cêntimos.

No ano de 1978 ainda era um entusiasta da Música Brasileira, a nova e a antiga.

Mas, essencialmente, comprei o Corações Futuristas causa da capa do João Botelho.

Do autor sabia que James Anhanguera era o pseudónimo do jornalista português Sérgio Fernandes, que escrevia no «Musicalissimo», semanário de música e espectáculos, dirigido pelo José Jorge Letria, que começou a ser publicado antes do 25 de Abril e terminou no ano de 1982.  Lembro-me que por ali colaboraram Fernando Assis Pacheco, Mário Contumélias, José Nunes Martins e tantos outros.

As passagens de leitura que, calmamente, fiz na Opinião, não se mostraram conclusivas, nem entusiasmantes, mas como, já disse, comprei o livro pela capa do João Botelho.

Ainda há dias encontrei na Loja Frenesi Corações Futuristas, «exemplar estimado; miolo limpo» pelo preço de 22,00 euros.

OLHAR AS CAPAS


Corações Futuristas

James Anhanguera

Capa: João Botelho

A Regra do Jogo Edições, Lisboa 1978

Um dos maiores êxitos do início da carreira d Chico foi feito d propósito para nara leão, cantora d voz simples, enxuta, no melhor estilo da bossa-nova, q havia acompanhado & incentivado o movimento promovendo em seu apartamento na zona sul o encontro d músicos & poetas q haviam entrado naquela.

A NOÇÃO INTUITIVA DOS DEUSES

«O artista procura o contacto com a sua noção intuitiva dos deuses, mas, para criar a sua obra, ele não pode ficar nesse domínio sedutor e incorpóreo. Tem de regressar ao mundo material para efectuar a sua obra. É responsabilidade do artista equilibrar a comunicação mística e o labor da criação.»


Patti Smith em  Apenas Miúdos

sexta-feira, 5 de maio de 2023

ESTABILIDADE...

Desde que ocupou o Palácio de Belém, Marcelo habituou-se a falar, todos os dias, a qualquer hora, sobre os mais diversos assuntos,  e nunca se preocupou com a «estabilidade» de que ontem, no ralhete ao governo, falou.

A experiência de décadas de diversa governação que António Costa já leva, serviu-lhe de alguma coisa, agora que se atravessou por um ministro que, até os cegos veem, não mereceria tal acto de quase suicídio?

Deu ontem, mais uma vez, para ver: os comentadores televisivos, sejam os da política, sejam os do futebol, são verdadeiras nulidades.

Uma enorme náusea, um vazio infinito.

O MERCADO IDEAL

«Algo que Mussolini, Hitler e também Thatcher compreendiam todos muito bem é que se tem de destruir a principal forma de as pessoas se defenderem – é preciso eliminar os sindicatos, impedir as pessoas de falarem umas com as outras. É preciso deixá-las separadas. Isto é o mercado ideal.»

Noam Chomsky, em entrevista ao Público

QUOTIDIANOS


Chega Março e começo a observar o amadurecer das nêsperas na árvore que o meu vizinho Orlando tem no seu quintal.

Olho também, quando começam mesmo a amarelecer, as paragens que a passarada vai fazendo.

Gosto de traseiras dos prédios de Lisboa.

Cristina Carvalho, filha de Rómulo de Carvalho/António Gedeão, lembra o pai, nas noites de Verão, após o jantar, debruçar-se no parapeito da janela, olhando as traseiras: «cálida e cheirosa a noite. O céu azul escuro repleto de estrelas.»

«No parapeito da janela, as eternas violetas que regava dia sim, dia não, esperavam pela sua discreta atenção.

Ali ficava, em silêncio, a escrever. A telefonia, sempre no mesmo posto, vertia baixinho.

Às oito em ponto jantava-se. Conversava-se, então, e muito! E era bom quando de verão se abria a janela da casa de jantar que dava para os quintais das traseiras e ouvíamos, como numa reza prévia, como uma oração, as conversas das vizinhas, de janela para janela, sempre e sempre àquela hora.

A comer e a conversar, ali estávamos à mesa mais ou menos uma hora. Era como a presença do verão – a época do ano que Rómulo mais gostava – por ali, pendurado das janelas das traseiras, mais ou menos pouco tempo.« 


O prédio onde nasci, cresci, tinha traseiras e essas traseiras tinham quintais com árvores, papoilas, malmequeres, pássaros, joaninhas e gafanhotos, do prédio, onde vive há cinquenta anos, também se vêem traseiras e quintais. E é desse prédio que olha a nespereira do vizinho Orlando. O problema com as nêsperas reside no facto de terem de ser apanhadas um pouco antes de estarem no ponto, lindas, apetecíveis. Se assim não for os pássaros comem-nas. Sim, porque um pássaro, com aquele olho-de-lente é um finório, sabe o que é bom.

Os tempos vão calmos e claros de brilho primaveril e se falamos em nêsperas, em magnórios, como se diz no norte, temos sempre que desembocar no Rifão Quotidiano do Mário-Henrique Leiria

«Uma nêspera
estava na cama
Deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece»

 Não era em quintais, mas lembra-se de, em miúdo, algumas pessoas colocavam nas varandas nespereiras em vasos. Certamente que não davam frutos, mas era como uma qualquer certa nostalgia, sabe-se lá de quê.

Lembra-se de uma dessas varanda» num prédio na Graça, por cima da Leitaria Mimosa.

O prédio foi reconstruído, já não tem varandas e a Leitaria Mimosa deixou de existir

quinta-feira, 4 de maio de 2023

O FECHAR DOS TAIPAIS

O governo de António Costa é terrível, dramaticamente incompetente.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa é um fala-barato sem fim à vista.

Ambos colocaram o país no reino da anedota pura.

A vida dos portugueses é um drama diário.

O QUE NÃO PODE SER ESQUECIDO!


 Expresso de 17 de Março de 2023

A POESIA É PARA COMER


Final de uma das crónicas de Manuel Alberto Valente no Expresso:

«A poesia é para comer, gritava a grande Natália, agora centenária. Ajudem pois a alimentar-se aqueles que, como ela, vivem da paixão e do sonho.»

quarta-feira, 3 de maio de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO

No cair da tarde, começo da noite, leio no Diário de Notícias-on line:

«Sorridente, Marcelo Rebelo de Sousa saiu este fim de tarde do Palácio de Belém, a pé, para ir jantar e cruzou-se com populares, recusando-se a comentar a atualidade política. Aos jornalistas, apenas deixou uma frase:

«Terei oportunidade de dizer aos portugueses o que penso, mas hoje não».