segunda-feira, 24 de abril de 2023

LIVRARIA OPINIÃO


 Fernando Assis Pacheco, num velho artigo em O Jornal tem uma crónica-reportagem a que chamou. «Um porta-aviões chamado Opinião».

E adiantava:

«Quem chamou porta-aviões à Opinião foi o Hipólito Clemente, 33 anos, livreiro, poeta de livro publicado, pintor que do gosto em ler entende que ser vendedor de livros é tão ou mais bonito.»

 A livraria «Opinião» encontrava-se nas traseiras do edifício do «República», mais concretamente as janelas e porta da tipografia do jornal davam para a Livraria, e o que por lá acontecia, os amigos e clientes que recebia, a apresentação de livros, exposições, colóquios  era um dos desesperos diários da PIDE. Visitas constantes para «verem» os livros fora do mercado que por lá apareciam sem se saber bem como. No dia 25 de Abril, quando Salgueiro Maia colocou as chaimites e a tropa frente ao Quartel do Carmo, na «Opinião» podia ver-se uma exposição de desenhos de Renato Cruz, então exilado em França.

Oitenta personagens onde pontificavam escritores, jornalistas, pintores, advogados, etc., animados de tudo e mais alguma coisa, excepto cifrões, inventaram a «Opinião» -livraria, discoteca, bar, ponto de reunião.

No Jornalde Crítica de 22 de Outubro de 1971,  sai o primeiro aviso de que brevemente iríamos ter Opinião.


Outras partes do filme:



Os passos que marcam o nascimento da Livraia Opinião estão rodeados de diversas peripécias e dificuldades que foram atrasando a sua abertura. Uma delas regista que o engano nas medidas de algumas das estantes levaram a que essas estantes fossem, a um excelente preço, colocadas à venda. Sei do que falo. Comprei uma dessas estantes por mil escudos, excelente madeira, acabamentos de primor e após 52 anos, apesar do peso dos livros, as prateleiras mantÉm o mesmo nível. 


No dia de 3 Dezembro podia ler-se que finalmente iríamos ter Opinião.


Na  véspera de Natal o Jornal de Crítica colocava o anúncio que a Livraria Opinião, finalmente, abrira as suas portas na Rua Nova da Trindade nº 24. Um bar no topo do edifício era a cereja no topo do bolo.

E a Opinião que conseguira lutar contra a censura pidesca encontrou situações insustentáveis após o 25 de Abril.  O capital era reduzido, as dívidas foram-se acumulando, os livros tornaram-se objectos de luxo.  Houve meses em que o dinheiro não chegava sequer para os salários e eram necessários dois mil contos que não foram possíveis arranjar e a Banca só emprestava dinheiro a quem o tem ou possa oferecer uma garantia,  e Não havia.

Num dos seus bookcionários, Fernando Assis Pacheco resumia a situação:  

Corria o ano de 1980 quando deixámos de ter a Opinião. 

Mais tarde, no mesmo local, imagem no topo do texto, instalou-se a Editorial Cotovia. 

Em Novembro de 2020 a Cotovia fechou portas. 

Hoje, não sei o que está no espaço que foi da Opinião e da Cotovia.

Terei, um destes dias, de dar corda aos sapatos  e depois dar notícias.

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