quarta-feira, 26 de abril de 2023

TAMBÉM SE MORRE DE ALEGRIA!


 Pedro dos Santos Oom do Vale, nasceu em Santarém no dia 24 de Junho de 1926.

No dia 26 de Abril o coração não resistiu à alegria que a Revolução lhe trouxera.

Poema de Pedro Oom, escrito com tinta azul, no Catálogo da 1ª Exposição dos Surrealistas, 1949.

Tirado do Catálogo do «Legado de Mário Henrique Leiria na Colecção Manuel de Brito».

 Pedro Oom tem colaboração em Coisas, 1º volume da Colecção  & ETC:

UM TOSTÃO PARA O ENSINO

«Num pequeno país atrasado e pobre o Primeiro-Ministro preocupava-se muito com a ignorância do seu povo.

 A percentagem de iletrados era tal que não se descortinava maneira de arrancar do estado de subdesenvolvimento para a fase industrial a que o país necessitava chegar.

O Primeiro-Ministro reuniu os melhores pedagogos do país que elaboraram um pequeno livro de bolso, a que chamaram a “Cartilha Paternal”, onde se resumia em frases simples toda a Ciência existente.

A “Cartilha Paternal” foi distribuída gratuitamente a todo o Povo, o qual lhe deu a serventia que estava habituado a dar a tudo o que fosse papel, liso ou impresso.

 Moral: a instrução não custa um tostão…»

 Na revista Grifo também encontramos colaboração de Pedro Oom:

Poesia não é uma medalha para por no peito dos tiranos mas uma imensa solidão feita de pedras, onde o despotismo pode encomendar o ataúde. Cada um de nós odeia o que ama. Por isso o poeta não ama a poesia que é só desespero e solidão mas acalenta ao peito as formigas da revolta e da rebeldia, que todos os déspotas querem submissas e procriadoras. Só os voluntários da miséria e da submissão patriarcal querem a poesia na arca da aliança com a tradição pacóvia e regionalista dos pretéritos dias, glórias patrioteiras, heroicidades frustres, pirataria ignara. Todo o verdadeiro poeta despreza o pequeno monte de esterco onde o dejectaram no planeta e a que os outros chamam pátria, e só ama os grandes continentes mares e oceanos da liberdade e do amor. Só nos vastos espaços incriados a poesia serve o seu destino – catapultar o homem nos abismos do desejo incontrolado onde o próprio assassinato é um acto de poesia e de amor. Este assassinato de que falo é o grande amplexo de homem para homem a solidariedade e a ternura, não a caridade hipócrita ou a cama de família, com todo o seu pequeno cortejo de horrores, onde a exploração do filho pelo pai dita a sua lei.

Pedro Oom

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