Em 1994, vi duas vezes o espetáculo Europa Não! Portugal Nunca!, no qual Mário Viegas encenava a conferência de imprensa de anúncio da sua pré-pré-candidatura à Presidência da República. Encontrei uns excertos no YouTube, graças a um certo Francisco Grave a quem agradeço o serviço público. Há uma parte do espetáculo que recordo bem, porque se dirigia a mim e às outras pessoas da minha idade, os que no 25 de abril de 1974, aquele que acontecera há 20 anos, éramos “crianças pequeninas, que não sabiam o que se passava”. Eu ainda nem tinha nascido, mas foi coisa de alguns meses.
Segundo o pré-pré candidato: “Está claro que
andavam às costas dos pais nas manifestações” que, quando erguiam os braços
para gritar palavras de ordem (“Venceremos!”), nos deixavam cair ao chão. A
nossa geração teria assim batido demasiadas vezes com a cabeça, devido aos
ímpetos revolucionários dos nossos pais. Tudo isto era feito com o talento
único de Mário Viegas, acompanhado de leituras de uns livros sobre o 25 de
Abril explicado aos jovens que nos tornariam ainda mais tolos do que as quedas
de cabeça no chão. A audiência ria, e passávamos a outra coisa, não sem antes o
pré-pré-candidato prometer: “Sendo eu Presidente da República, queira o povo
português, usarei outro tipo de linguagem com a juventude (...) não considero
os jovens atrasados mentais.”
Susana
Peralta, hoje, no Público
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