(para «Poesia – IV» de José Gomes Ferreira)
Há dias um poema repentinamente teu
veio em cascatas de luz
morder-me a boca.
eu poderia inscrever palavras sobre o sangue
que se assomou em mim (chamando-lhe
nomes como corola, estrelas e cometas).
poderia dizer que vi aves de sombra
a deslizarem o chão em cada espaço
conquistado pela vida das palavras,
ou astros como áticas colunas
a atraírem a terra de luz
ao que nós ocupámos de azul e de poetas.
mas não quis. o peso das palavras
sabe a sangue. E o rumo dos rios
a descobertas de naufrágio.
direi só: há dias um poema repentinamente teu
veio em cascata de luz
morder-me a boca
ou foi a tua voz que encheu
meu gosto de te ler.
(1971)
João Tomás
Parreira
Sem comentários:
Enviar um comentário