José Saramago: O
Amor Possível
Juan Arias
Tradução: Carços Aboim de Brito
Colecção: Figuras nº 20
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Março de 2000
… porque muitas das
guerras foram, e continuam a ser guerras de religião. Se nos pomos a pensar
nisso verificamos que as religiões não unem a humanidade, pelo contrário,
dividem-na. Há coisas que são imperdoáveis, como nos chamados descobrimentos
dos novos povos. Lá partiam as caravelas em busca de terras onde havia outros
povos e o que vai o frade dizer-lhes quando chega ao outro mundo?: «Os vossos
deuses são falsos, eu trago comigo o verdadeiro.» Isto é um pecado, utilizo
agora a teologia, isto é um pecado de orgulho, porque é imperdoável que alguém
possa ter a ousadia ou o descaramento de dizer: «Eu trago comigo o verdadeiro
Deus.»
Isto significa que
os deuses que eles tinham teriam que ser eliminados e a melhor forma de
eliminar um deus é eliminar a pessoa que acredita nesse deus. E mais. Vamos
imaginar que Deus existe: se Deus existe não há mais que um Deus, só pode
existir um deus se há Deus, então, todas as formas de o adorara são válidas,
são todas iguais, tanto faz dizer que é Jesus crucificado, o sol, a montanha,
um animal ou uma flor. Para Deus, se Deus existe, é exactamente igual que a
expressão física, ou se quiseres material, dessa essência que seria Deus seja a
montanha, o sol, ou o que quer que seja.
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