Na casa que ficava em Audubon Place, o rádio estava
sempre na cozinha e continuamente sintonizado na WWOZ, a grande estação de Nova
Orleães que passa basicamente blues e rural gospel do Sul. O meu DJ favorito
era sem dúvida a Brwon Sugar, uma disco jockey. Estava no turno da noite,
passava os discos de Wyonic Harris, Roy Brwon, Ivory Joe, Little Walter,
Lighttnin’ Hptkins, Chuck Willis, os que eram bons. Fazia-me muita compnhia
quando já todos estavam a dormir. Brown Sugar, quem que ela fosse, tinha uma
voz grossa, lenta, sonhadora, melosa – potente como um búfalo – divagava pela
noite dentro, atendia as chamadas telefónicas, dava conselhos amorosos e punha
discos a girar. Pus-me a pensar que idade teria. Se saberia que a sua voz me
apaixonara, me enchera de paz interior e serenidade e acabara com a minha frustração.
Era relaxante ouvir a sua voz. Ficava vidrado no rádio. Conseguia captar todas
as palavras ditas por ela. Gostava de poder ter estado de corpo inteiro onde
quer que ela estivesse.
A WWOZ era o tipo de estação que eu costumava ouvir à
noite até tarde, e recordou-me os dissabores da minha juventude mergulhando-me
nela. Nessas alturas, quando algo corria mal a rádio podia confortar-nos e
deixar-nos bem. Havia também uma estação de rádio country, que bem mais cedo, antes do dia nascer, passava todas as
canções dos anos 50, muito material western swing – ritmos clip
clop, canções como «Jingle, Jangle, Jingle», «Under the Double Eafle»,
«There’s a New Moon over My Shoulder», a «Deck of Cards», de Tex Ritter, que eu
já não ouvia há pelo menos trinta anos e as músicas de Red Foley.
Bob Dylan em Crónicas
Legenda: Brown Sugar e Dwayne Breashears na WWOZ.
Sem comentários:
Enviar um comentário