No dia 25 de Março de 1976 sofre um enfarte de miocárdio.
Ainda vem a Portugal entre 3 e 17 de Maio e de 3 a 20 de
Junho de 1977. Neste segundo período, esteve em Coimbra, a 7, na Guarda entre
10 e 11 para as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidade
Portugueses, em que discursou, e no Porto, entre 15 e 17 de Junho.
Jorge de Sena adoece, gravemente, no início de 1978, com
cancro., vindo a falecer no dia 4 de Junho.
Carta de Eugénio de Andrade, datada de 5 de Ju8nho de
1978, enviada a Mécia de Sena:
Querida Mécia:
Aqui me tem, quase
sem palavras, só para um abraço emocional, e não só pela perda do Jorge – um dos
raros portugueses universais do nosso tempo, que nos morre, como já tive
ocasião publicamente – mas também por si.
Disponha de mim
para o que necessitar e, quando tiver ocasião, diga-me se o Jorge ainda recebeu
a minha última carta quando soube da gravidade da sua doença, pois depois de a
ter metido no correio verifiquei que não indiquei o número que se segue a
Califórnia.
Grande abraço do
seu, afectuosamente
Eugénio de Andrade
Carta de Eugénio de Andrade, datada de 9 de Outubro de
1978, para Mécia de Sena:
Querida Mécia:
Aqui vai o poema
sobre o Jorge. Quero que V. seja dos primeiros leitores destes versos.
Junte-lhe as
saudades e um grande abraço
A JORGE DE SENA, NO
CHÃO DA CALIFÓRNIA
É por orgulho que
já não sobes
as escadas? Terás adivinhado
que não gostei desse ajuste de contas
que foi a tua agonia?
É só por isso que não vieste
este verão bater-me à porta?
Não sabes já
que entre mim e ti
há só a noite e nunca haverá morte?
Não te faltou orgulho, eu sei;
orgulho de ergueres dia a dia
com mãos trementes
a vida à tua altura
-mas a outra face quem a suspeitou?
Quem amou em ti
o rapazito frágil, inseguro,
a irmã gentil que não tivemos?
Escreveste como o sangue canta:
de-ses-pe-ra-da-men-te.
e mostraste como não é fácil
neste país exíguo ser-se breve.
Talvez o tempo te faltasse
para pesar com mão feliz o ar
onde sobrou
um juvenil ardor até ao fim.
No que nos deixaste há de tudo,
desde o copo de água fresca
ao uivo de lobos acossados.
Há quem prefira ler-te os versos,
outros a prosa, alguns ainda
preferem o que sobre a liberdade
de ser homem
foste deixando por aí
em prosa ou verso, e tangível
brilha
onde antes parecia morta.
Às vezes orgulhavas-te
de ter, em vez de uma, duas pátrias;
pobre de ti: não tiveste nenhuma;
ou tiveste apenas essa
que te roía o coração
fiel às palavras da tribo.
Andaste por muito lado a ver se o mundo
era maior que tu - concluíste que não.
Tiveste mulher e filhos portugueses
repartidos pela terra,
e alguns amigos,
entre os quais me conto.
E se conta o vento.
as escadas? Terás adivinhado
que não gostei desse ajuste de contas
que foi a tua agonia?
É só por isso que não vieste
este verão bater-me à porta?
Não sabes já
que entre mim e ti
há só a noite e nunca haverá morte?
Não te faltou orgulho, eu sei;
orgulho de ergueres dia a dia
com mãos trementes
a vida à tua altura
-mas a outra face quem a suspeitou?
Quem amou em ti
o rapazito frágil, inseguro,
a irmã gentil que não tivemos?
Escreveste como o sangue canta:
de-ses-pe-ra-da-men-te.
e mostraste como não é fácil
neste país exíguo ser-se breve.
Talvez o tempo te faltasse
para pesar com mão feliz o ar
onde sobrou
um juvenil ardor até ao fim.
No que nos deixaste há de tudo,
desde o copo de água fresca
ao uivo de lobos acossados.
Há quem prefira ler-te os versos,
outros a prosa, alguns ainda
preferem o que sobre a liberdade
de ser homem
foste deixando por aí
em prosa ou verso, e tangível
brilha
onde antes parecia morta.
Às vezes orgulhavas-te
de ter, em vez de uma, duas pátrias;
pobre de ti: não tiveste nenhuma;
ou tiveste apenas essa
que te roía o coração
fiel às palavras da tribo.
Andaste por muito lado a ver se o mundo
era maior que tu - concluíste que não.
Tiveste mulher e filhos portugueses
repartidos pela terra,
e alguns amigos,
entre os quais me conto.
E se conta o vento.
Agosto de 1978
Eugénio de Andrade
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