A Longa Espera
Mickey Spillane
Tradução: Almeida Campos
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº 134
Livros do Brasil, Lisboa s/d
O autocarro chegou
ao cimo da ladeira e em frente apareceu Lybcastle pousada num vale escuro, como
um estojo de jóias com a lua a brilhar lá dentro. À distância, as avenidas e
ruas eram como fitas salpicadas de luzes e tubos néon, um brilho enganador que
se prolongava para além da meia-noite, juntamente com os gritos e movimentos de
uma alegria falsa, produzida pelo álcool.
Tirei a cartata da algibeira
e rasguei-a em mil pedacinhos: em seguida abri a janela e atirei por ela os
fragmentos que se perderam na noite.
A mulher gorda que
se encontrava atrás de mim espetou-me um dedo no ombro.
- Se não se importa
– disse ela - gostaria que fechasse essa
janela.
A interpelação foi
feita com uma ar de professora a dirigir-se a um menino mal educado.
- E eu gostaria que
a senhora fechasse essa boca – foi a minha resposta.
Fechou-a. Durante
toda a jornada não deixara de criticar tudo: desde a maneira como o motorista
conduzia o autocarro até ao barulho que fazia a criança do banco da frente, mas
desta vez fechou a boca tão firmemente que nem se lhe viam os lábios.
O último pedaço da
carta foi levado pelo vento e eu pensei que se alguém conseguisse juntá-lo aos
outros fragmentos que se haviam espalhado pelo espaço de um quilómetro,
encontraria uma razão poderosa para a morte de outro alguém.
Deixei a janela
aberta na esperança de que o vento fizesse voar o chinó da mulher gorda e só a
fechei quando o autocarro entrou na central de camionagem, situada no mesmo
terminal que servis de estação de caminho de ferro.
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