O Mar
John Banville
Tradução: Teresa Curvelo
Asa Editores, Porto, Junho de 2006
Pronunciei o nome
dela mas limitou-se a fechar os olhos por breves instantes, indiferente, como
se eu devesse saber que já não era Anna, que já não era ninguém, e depois
voltou a abri-los e a olhar-me com uma expressão mais dura do que nunca, agora
já não de surpresa mas com uma severidade imperiosa, querendo que eu ouvisse e
entendesse, o que tinha para dizer. Largou-me o pulso e os dedos tactearam a
cama à procura de qualquer coisa. Peguei-lhe na mão. Sentia-lhe o pulsar do
sangue na base do polegar. Disse-lhe qualquer coisa, qualquer coisa insensata
como Não partas ou Fica comigo, mas mais uma vez abanou a cabeça com o
mesmo gesto impaciente e puxou-me a mão para me aproximar mais.
- Eles estão a
parar os relógios - balbuciou, num sussurro quase inaudível, conspirativo. – Eu
parei o tempo. – E esboçou um aceno de cabeça solene e consciente e sorriu
também, juraria que era um sorriso.
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