Passageiro
Clandestino
Catálogo da Exposição Mário Dionísio 100 Anos
Organização: António Pedro Pita e Fátima Faria Roque
Capa: Dulce Munhoz
Edição Museu do Neo-Realismo e Câmara Municipal de Vila
Franca de Xira, Maio de 2016
A qualquer uma
destas circunstâncias sobreleva, todavia, um aspeto: a vinculação política era
então profundamente existencial, era uma questão de vida, uma vez que o
comunismo e o partido que dele se reclamava dava à vida aos seus militantes,
como disse um deles, um destino. A transformação da vida em destino e a inscrição
individual na transcendência da história tronam a rutura dolorosa até ao limite
– sobretudo, como é o caso de Mário Dionísio, quando é expulso depois de se ter
demitido.
Essa mágoa não teve
cura. Por isso, quando Álvaro Cunhal ensaia uma reaproximação, logo a seguir à
fuga de Peniche, Mário Dionísio refere que todod esse passo o levou a um estado
de amargura (…) e de falta de desconfiança talvez definitivo. Nunca mais
poderei voltar a ter em ninguém a confiança que tive em pessoas que se
mostraram indignas dela. Sem esta confiança não há acção possível”.
Este conjunto de cartas
documenta a deceção e a dor. E a esperança difícil de um homem para quem a arte
foi sempre um modo sublime de a vida conduzir-se, sempre, a um limiar.
(Do texto de António Pedro Pita tirado do capítulo do
catálogo «Correspondência com o PCP»)
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