Connosco é assim,
meu rapaz. Somos polícias e toda a gente nos detesta. E, como se já não
bastassem as arrelias da profissão, ainda temos de aturar tipos como você.
Arriscamos constantemente a vida em casos sórdidos, sempre à espera de receber
um punhado de «chumbo» no corpo, enquanto nos esperam em casa para jantar. Às
vezes nunca mais lá voltamos. Há noites em que chegamos a casa tão cansados que
não conseguimos comer, nem dormir, nem sequer ler as mentiras que os jornais
dizem a nosso respeito. Ficamos acordados, às escuras, numa casa humilde de uma
rua modesta, a ouvir os bêbedos que passam pela rua. E, no momento preciso em
que pegamos no sono, o telefone toca, levantamo-nos e a rotina recomeça. Nada
do que fazemos merece aplauso. Quando obtemos uma confissão, dizem que a conseguimos
à força de espancar um tipo e, no tribunal, há sempre um que nos chama Gestapo.
Se cometemos um erro, põem-nos fardados na rua e passamos as agradáveis noites
de verão a apanhar bêbedos caídos na sargeta, a ser insultados por prostitutas
e a desarmar teddy-boys. Mas tudo
isto não basta para nos tornar inteiramente felizes. Precisamos de tipos como
você.
Raymond Chandler em IngénuaPerigosa
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