Carta de Jorge de Sena, datada de 24 de Dezembro de 1960,
para Sophia de Mello Breyner Andresen:
Querida Sophia
É noite de natal,
de um Natal em que não acredito, mas desejaria verdadeiro, por conta de uma
humanidade que, cada vez mais, considero irremediável na sua maldade. E cada
vez mais acredito que nada subsiste senão, para além de tudo, a confiança que
só a amizade dá a um desesperado amor pela humanidade que, afinal, amorte, um
dia, tornará perfeitamente inútil. Por isso, aqui estou com a Mécia, a
mandar-lhe, e ao Francisco, para todos vós, as mais afectuosas lembranças e os
desejos de Ano Novo feliz.
Neste silêncio de
mais de um ano, em que não soubemos se não indirectamente uns dos outros, e em
que um trabalho terrível me isolou de tudo (aproximando-me de todos, como nunca)
sempre VV. estiveram presentes no meu espírito. Mas que tem a Sophia feito, que
tem publicado? E o Francisco o que tem feito? E que tem feito e vos tem feito a
vossa vida? Escrevam, dizendo e contando, de Portugal não vos pergunto que sei,
talvez, dele mais aqui que vós podeis saber aí.
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