quarta-feira, 27 de setembro de 2017

UM NATAL EM QUE NÃO ACREDITO


Carta de Jorge de Sena, datada de 24 de Dezembro de 1960, para Sophia de Mello Breyner Andresen:

Querida Sophia

É noite de natal, de um Natal em que não acredito, mas desejaria verdadeiro, por conta de uma humanidade que, cada vez mais, considero irremediável na sua maldade. E cada vez mais acredito que nada subsiste senão, para além de tudo, a confiança que só a amizade dá a um desesperado amor pela humanidade que, afinal, amorte, um dia, tornará perfeitamente inútil. Por isso, aqui estou com a Mécia, a mandar-lhe, e ao Francisco, para todos vós, as mais afectuosas lembranças e os desejos de Ano Novo feliz.

Neste silêncio de mais de um ano, em que não soubemos se não indirectamente uns dos outros, e em que um trabalho terrível me isolou de tudo (aproximando-me de todos, como nunca) sempre VV. estiveram presentes no meu espírito. Mas que tem a Sophia feito, que tem publicado? E o Francisco o que tem feito? E que tem feito e vos tem feito a vossa vida? Escrevam, dizendo e contando, de Portugal não vos pergunto que sei, talvez, dele mais aqui que vós podeis saber aí.

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