O Poema Autografado pertence, hoje, a José Fernandes Fafe.
É o nº 11 da
Colecção Poetas de Hoje, editada pela Portugália Editora e chama-se Poesia
Amável.
Já fomos dizendo
que a maior parte dos volumes desta Colecção tem a abrir um prefácio.
Curiosamente, José Gomes Ferreira, escolhido para fazer o prefácio do livro de
José Fernandes Fafe, escreve:
«Por Minerva! um livro destes não necessita de
prefácio! Merecia aparecer sozinho na sua simplicidade de sorriso colado, por
escândalo, nos dentes podres da caveira dos tempos. Sim, orgulhosamente sòzinho.
Porém, segundo parece, a organização interna da
Colecção Poetas de Hoje exige a implacável inclusão dum prefácio.»
O poema
escolhido por José Fernandes Fafe como autógrafo, chama-se:
Os Nossos Jardins
Suspensos
Os nossos jardins suspensos
São estas mulheres:
Carregam à cabeça
cestos densos de lírios,
maravilhas, malmequeres…
José Fernandes
Fafe, para além de poesia e romance foi autor da biografia de Ernesto Che
Guevara, editada em Itália, pela Mondadori, em 1968, sob o pseudónimo de David
Alport.
Após o 25 de
Abril foi embaixador de Portugal em Cuba, mais tarde também embaixador no
México, Cabo Verde e Argentina.
Os poemas de
Fafe não poderiam deixar de ser outra senão o serem Amáveis.
Como nota o Zé
Gomes Ferreira:
«Como vêem, o segredo é fácil e José Fernandes Fafe
decifrou-o, despremeditado, de rua em rua, mãos nas algibeiras, a assobiar e a
sorrir. (Com a caveira a doer-lhe por dentro, claro.).
A poesia não o larga nunca. Nem na cadeira do
barbeiro, ave de tesoiras… E muito menos nas andanças pelo planeta. Segue-o por
toda a parte, de braços enrolados no pescoço a segredar-lhe improvisos (talvez
laboriosamente fabricados. Sabe-se lá o que se passa nos laboratórios secretos
dos artistas!).»
Mais ainda:
«Não, não é por coincidência que o primeiro poema de
Poesia Amável é um Salmo à manhã. Nem por acaso que, no belo fecho do livro,
surge este verso tão revelador:
A minha casa
fica na Manhã»
Transcrevemos
todo o poema:
Estas palavras são a casa dum louco.
Anda lá dentro um
e a falar só…
Este papel branco é a luz calcárea
os cegos acordeonistas de Lisboa…
A minha casa fica na Manhã.
Todos os dias a destroem,
Todos os dias a reinvento.
A minha casa é o Amor.
A minha casa é a Liberdade.