sexta-feira, 1 de abril de 2011

DIA DAS MENTIRAS



Este dia, há 15 anos, ficou marcado por uma enorme mentira.

Sim, Mário Viegas não morreu nesse dia, nesse ano, anda por ai nas baldas do costume.

Por hábito velho somos conduzidos para o lugar-comum de que não morrem aqueles de quem gostamos, mas sabemos todos que isso não passa de mera literatura. Ao certo sabemos, apenas, que o lugar continua vazio, também porque sabemos o quanto é difícil encontrar artistas como o Mário Viegas.

Mário Viegas, para além da sua discografia, deixou escrita e ilustrada uma “Auto-Photo Biografia (não autorizada)”

Trata-se de uma edição fac-similada pela Câmara Municipal de Cascais (Maio de 2003), segundo original do autor, cedido pela família.

Logo na capa Mário Viegas diz ao que vem:

“Rir, chorar, Denúncias, Teatradas, Poesia, Amor, Ódio, Acção, Mistério, Escândalos, Surpresas!!!
Revelações sensacionais!! Segredos político-teatrais nunca divulgados!!!
Mais de 200 páginas com textos e fotografias inéditas”

Em tamanho, é o maior livro que existe na biblioteca da família. Exactamente 42 cm de altura por 30 cm. A reprodução da capa do livro, com uma fotografia inédita de Eduardo Gageiro, é a possível.
Abre-se o livro e deparamos com uma fotografia de Mário Viegas, enquanto moço, e o poema “E tudo era possível” de Ruy Belo:

“Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer”

Da contracapa:

“Está tudo (mas tudo!!) nas entrelinhas das entrevistas, títulos, piadas, na selecção das fotografias, tamanho, cor e sobretudo nas ausências, que são muitas…
Para ler aos poucos, “distraidamente”… Mas não há nada por acaso… Para bons entendedores, meias palavras bastam… E vale sobretudo pelos inéditos dos Poetas. Não é cabotino: é cabotiníssimo!!!
Mário Viegas”

Antes, há uma citação de Samuel Beckett: “O que eu quero dizer é exactamente o que eu disse”.

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