Por hábito velho somos conduzidos para o lugar-comum de que não morrem aqueles de quem gostamos, mas sabemos todos que isso não passa de mera literatura. Ao certo sabemos, apenas, que o lugar continua vazio, também porque sabemos o quanto é difícil encontrar artistas como o Mário Viegas.
Mário Viegas, para além da sua discografia, deixou escrita e ilustrada uma “Auto-Photo Biografia (não autorizada)”
Trata-se de uma edição fac-similada pela Câmara Municipal de Cascais (Maio de 2003), segundo original do autor, cedido pela família.
Logo na capa Mário Viegas diz ao que vem:
“Rir, chorar, Denúncias, Teatradas, Poesia, Amor, Ódio, Acção, Mistério, Escândalos, Surpresas!!!
Revelações sensacionais!! Segredos político-teatrais nunca divulgados!!!
Mais de 200 páginas com textos e fotografias inéditas”
Em tamanho, é o maior livro que existe na biblioteca da família. Exactamente 42 cm de altura por 30 cm. A reprodução da capa do livro, com uma fotografia inédita de Eduardo Gageiro, é a possível.
Abre-se o livro e deparamos com uma fotografia de Mário Viegas, enquanto moço, e o poema “E tudo era possível” de Ruy Belo:
“Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer”
Da contracapa:
“Está tudo (mas tudo!!) nas entrelinhas das entrevistas, títulos, piadas, na selecção das fotografias, tamanho, cor e sobretudo nas ausências, que são muitas…
Para ler aos poucos, “distraidamente”… Mas não há nada por acaso… Para bons entendedores, meias palavras bastam… E vale sobretudo pelos inéditos dos Poetas. Não é cabotino: é cabotiníssimo!!!
Mário Viegas”
Antes, há uma citação de Samuel Beckett: “O que eu quero dizer é exactamente o que eu disse”.
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