quinta-feira, 30 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Tanta terra no mundo para morrer, tão pouca para viver.

Ana Margarida de Carvalho em Que Importa a Fúria do Mar

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia

SARAMAGUEANDO


Como te dizia há um momento, agora estou a pensar assim, mas amanhã, no momento da minha morte, tudo poderia acontecer, inclusive que negue tudo o que acabo de afirmar. Mas isso não significa, nem significará nunca que tenha razão então. Estive a ouvir antes Don Giovanni de Mozart e tem oito minutos de música que, para mim, nunca será superada. Refiro-me ao último acto, quando aparece a Don Giovani a estátua do comendador. O comendador exige-lhe que se arrependa, senão leva-o para o inferno. Para mim Don Giovanni é uma ópera melhor do que Parsifal, com toda a sua mística, é a grande ópera e a grande música. Don Giovanni, que é um canalha, um enganador, um tipo desprezível, diz que não, que não se arrepende, e isto é uma lição de dignidade: eu errei, mas o que significa dizer que me arrependo? Não posso apagar todos os males que causei durante a minha vida, as vítimas estão aí, dizer que me arrependo é demasiado fácil.

José Saramago em O Amor Possível de Juan Arias


PEQUENOS CADERNOS


Cansei-me da igreja.
Desiludiu-me.
Deus é algo em que já não penso.
Mas depois leio palavras como estas de José Tolentino Mendonça:

Muitas vezes Deus prefere
entrar em nossa casa
quando não estamos

… e regressam as dúvidas…

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Começou a encher o cachimbo com aquele vagar metódico que era já parte do prazer duma cachimbada.

Nuno Bragança em Do Fim do Mundo

ESCOLHI A TERRA PARA DORMIR


Escolhi a terra para dormir
húmida vermelha dura
nunca formei uma palavra
nunca encontrei a saída

Estou vivo ou estarei morto
ou estarei mais além aberto
entre as constelações salubres
de uma gruta de veias vivas

Já sem andaimes o poema
dilacerado como um nervo
há-se acolher ao rés do solo
um ramo quebrado um formiga
a baba de um caracol

A palavra que nunca foi dita
não será flecha mas ferida feliz
entre os dois pólos do arco
que une o desejo ao silêncio da lua

António Ramos Rosa em Resumo:  a poesia em 2013

Legenda: fotografia de Vivian Maier

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Em conversa com um livreiro, fiquei a saber que a colecção Resumo: a poesia em…, edição conjunta da FNAC e Assírio e Alvim, acabou em 2014 com a antologia de poemas referente ao ano de 2013.

Acabou quando a Assírio & Alvim foi comprada pela Porto Editora.

No 1º volume referente ao ano de 2009, e publicado em 2010, podia ler-se, numa breve nota, assinada pelos antologiadores: José Alberto Oliveira, José Tolentino Mendonça, Luís Miguel Queirós, Manuel de Freitas:

«O presente volume, a que desejavelmente se dará seguimento nos próximos anos, pretende ser uma antologia dos melhores poemas publicados em Portugal ao longo de 2009.»

Publicaram-se 5 volumes.

Alguém na Porto Editora acabou por concluir que iniciativas destas não dão para fazer tilintar as caixas registadoras, que também já foram extintas, são aqui mencionadas para que perceba a ideia.

O mais estranho é que um dos responsáveis editoriais da Porto Editora é Manuel Alberto Valente que nos anos 70, juntamente com Egito Gonçalves, organizou e publicou Poesia70 que só conheceu dois volumes, referentes aos anos de 1970 e 1971.

No que à FNAC diz respeito, nem sei bem como alinhou nesta iniciativa, está mais interessada em outras áreas de negócio do que de livros.

O NATAL QUE AÍ VEM

OLHAR AS CAPAS


O Caso das Garras de Veludo

Erle Stanley Gardner
Tradução: Hamilcar de Garcia
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 3
Livros do Brasil, Lisboa s/d

- Esse é um dos riscos que eu tenho de correr. Não posso esperar que os meus clientes sejam leais para comigo. Pagam-me. E é tudo.
Della fitava-o com um olhar especulativo onde havia uma ansiosa ternura.
- Mas você insiste em ser leal para com os seus clientes não importa o quanto eles sejam canalhas.
- Naturalmente – disse ele. – É o meu dever.
- Para com a profissão?

- Não, para comigo mesmo. Sou um gladiador pago. Luto pelos meus clientes. A maioria deles não põe todas as cartas na mesa. É por isso que são clientes. Meteram-se em complicações. A mim compete livrá-los delas. Tenho que jogar limpo com eles. E não posso esperar que eles façam sempre o mesmo comigo.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Ele encontra-a muitas vezes num bar ribeirinho, onde os veleiros navegam mas paredes, em aguarelas antigas, de azuis e amarelos desmaiados, a cortarem as vagas, lutando contra as tempestades. Em tempos diferentes, talvez ela lhe fizesse companhia nos álcoois fortes, que ele teima em beber aos fins de semana. Agora, fica-se pelas águas tónicas, cigarro atrás de cigarro, enquanto lhe fala de mágoas, e conta histórias terríveis, onde se podiam colar os versos de Maiakowski. Nesta vida é mais fácil morrer do que viver.

Eduardo Guerra Carneiro em Outras Fitas

O NATAL QUE AÍ VEM


Chegou o primeiro postal do Natal deste ano.
Enviado pela Angelika e o Hans-Martin.

CAIR DO PANO


As acácias já se incendiaram de vermelho
e o zumbido das cigarras enxameia obsidiante
a manhã de Dezembro. A terra exala,
em haustos longos, o aguaceiro da madrugada.
Ao longe, no extremo distante da caixa

de areia, o monhé das cobras enrola
a esteira e leva o cesto à cabeça,
cumprido o papel exacto que lhe coube
e executou com paciente sageza hindu.
Dura um instante no trémulo contraluz

do lume a que se acolhe, antes da sombra
derradeira. Assim, os comparsas convocados
para esta comédia a abandonam, verso
a verso, consignando-a ao olvido
e à erva daninha que, persistente, a cobrirá

irremediavelmente. O encenador faz
a vénia da praxe e, porque aplausos
lhe não são devidos, esgueira-se pelo
anonimato da esquerda alta. É Dezembro
a encurtar o tempo, o pouco que nos sobra.

Rui Knopfli em O Monhé das Cobras, poema encontrado na badana da revista Ler, Outono 2017.

Legenda: imagem pinterest

UMA MÁQUINA EFICIENTE DE PENSAR


Carta, longa carta, datada de 14 de Janeiro de 1962, sem indicação do local onde foi escrita.

Mário-Henrique está algures, «há duas noites que não me deito, tentando colaborar objectivamente numa melhor organização desta “brincadeira” que vai custando o pêlo a alguns. Trabalho surdo. Aliás, como te disse, sou uma máquina eficiente de pensar e organizar quando é preciso, e mais nada.»

Diz ainda à querida Maruska: «… na 3ª feira passada foram à minha procura a casa de minha mãe. Sabes bem, claro. Assim estou à espera de ver o que acontece, ou que não acontece. Digo-te isto, não para te assustar, mas para me justificar do meu desaparecimento, que tem uma das razões nesse facto, Mas tudo passa, querida, nestas anedotas nacionais da política…»

O coração de Isabel balança, debatendo-se entre Terence, um irlandês-amor-antigo e a mansa loucura de Mário-Henrique:

…sabes que dou toda a liberdade às pessoas: podes ter os montes de amigos que quiseres, podes fazer toda a tua vida com inteira liberdade, mas o que não podes, segundo a minha ética particular e talvez antiquada, é quereres casar comigo e confessares que gostas também de outro venerável cavalheiro e que não sabes como te hás-de libertar disso. Não é só um amigo, é bastante mais do que isso e tu sabe-lo. Que dirias tu se eu declarasse com ar de problema insolúvel, que ainda aceitava a  minha mulher se ela voltasse a aparecer aqui, ou que tinha aí uma senhora de quem não conseguia libertar-me? Claro, e tinhas toda a razão, mandavas-me esperar pela querida esposa ou ir ter com a tal senhora… e estavas no teu direito de pessoa que não queria servir para os intervalos. Assim é comigo, querida.
Sabes que quero, que desejo profundamente casar contigo e ter-te para sempre ao meu lado, colaborando comigo em tudo desde a vida diária ao amor ( que também é vida diária), mas também sabes – ou deves saber – que sou um animal danadamente consciente dos deveres e dos direitos que entendo têm que ser os meus adentro da minha forma sócio-política de pensar. Estimada legista, dou liberdade e peço obrigações aos outros, tal como quero que façam comigo.

Cartas na mesa e vai-se percebendo que, aos poucos, a querida e sorridente Maruska, se inclinará para o tal irlandês.

Ao Mário-Henrique restará a amargura e suspeitar que «actualmente ninguém pode amar-me.»

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo.

Bernardo Soares em Livro do Desassossego

O NATAL QUE AÍ VEM


São estes os novos habitantes do presépio caseiro.
O fogueteiro, a mulher com galinhas numa cesta, a matança de um porco., o moleiro com saco de farinha às costas, o homem com uma galinha na mão.
Os netos mais pequenos, em cada ano, partem um ou mais bonecos.
Há que os ir substituindo e trazem-se outras figuras.
Ainda não consegui voltar a encontrar, há muito desaparecido, o homem com um bacalhau.
A compra destes bonecos acontece, por Setembro, durante a Feira da Luz.
Gostos. Prazeres. 

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Este ano, volta a não a acontecer o Concerto «Natais do Mundo» com o coro e Orquestra Gulbenkian.
Tínhamos lugar sempre marcado com os netos.
Era uma festa bonita, um gosto de difícil explicação por palavras.
Não sei os motivos do findar deste estimulante concerto.
Custa a entender que seja por motivos de… mera economia gulbenkiana!... 
Será mesmo!?... 

domingo, 26 de novembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


O Jogo da Vida

Patricia Highsmith
Tradução: Mascarenhas Barreto
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº 160
Livros do brasil, Lisboa s/d

Theodore já estivera em Guanajuato por três ou quatro vezes, mas de todas elas não se demorara mais do que vinte e quatro horas. Era uma das cidades mexicanas que mais apreciava pois lembrava-lhe um quadro.
Ficava afastada da estrada principal e tinha apenas uma boa estrada de acesso. Era rodeada por planícies e montanhas em que não se notava o mínimo sinal de uma habitação. Ao longe, na linha do horizonte, as montanhas pareciam azuis. A paisagem parecia dizer: «Sou milhões de anos maior e mais velha do que tu. Contempla-me e deixa de preocupar-te com as tuas ninharias». Ao admirá-la, Theodore sentia o mesmo alívio melancólico que experimentava ao olhar as estrelas do céu numa noite límpida. Todo o seu ser começou a descontrair-se.

ESQUECE OS MEUS PECADOS


Esquece os meus pecados
meus delitos.
lembra-te só de mim
conforme o teu perdão.

Mário Castrim em Do Livro dos Salmos

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

sábado, 25 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


O que compõe o meu quadro de felicidade?
Um hotel rural, um restaurante, a minha mulher da minha vida, o meu filho e a filha que me falta. Tudo no mesmo lugar, com Sol e mar muito perto. Ah, claro, e a revista que ninguém ainda quis fazer...

Pedro Rolo Duarte

COMO ERA POSSÍVEL VIVER?


«Lembro-me. Era um tempo e um país diferentes. Tão diferentes que já quase me não lembro de como era possível neles viver.»

Jorge Wemans, de um texto neste número da Pública, revista do Público de 23 de Novembro de 1997 que assinalava os 30 anos da tragédia de 25 de Novembro.

Há 50 anos também era sábado.
Choveu e choveu, não parava de chover.
Famílias inteiras foram levadas na enxurrada.
Até hoje, não se conseguiu apurar o número toral de mortos.
Um número perto dos 500? Ou dos 700?
A censura tratou de impedir a divulgação dos mortos da catástrofe.
Como impediu as notícias que referiam o trabalho que os estudantes e depopulares desenvolveram na ajuda às vítimas.

NOVEMBRO DE 1967 VISTO PELA DITADURA


O Notícias de Portugal era um boletim semanal, tiragem de 75 mil exemplares em papel bíblia, destinado às comunidades de emigrantes espalhadas pelo mundo e um veículo de propaganda da ditadura.

O 1º número está datado de 10 de Maio de 1947.

Como se publicava aos sábados, só na semana seguinte poderia abordar as trágicas inundações de 25 de Novembro.

Abordar é uma maneira de escrever.

Na edição de 2 de Dezembro, a 1ª página é tioda uma fotografia de Salazar a falar ao país, não sobre os dias trágicos, mas sobre uma «significativa» homenagem que os Municípios de Moçambique lhe vieram prestar. O ditador aproveitou para fazer um discurso que ficou para história com o título de «A Política de África e os Seus Erros».

Os erros são os dos outros, nunca os seus.


As notícias sobre a tragédia reduzem-se a notas de circunstância e em que, nem uma só vez, é referido o número de mortos, nem mesmo os que a ditadura disse que se registaram.

O resto é a reunião do Conselho de Ministros de 27 de Novembro, sem qualquer indicação de decisões, a bênção apostólica que o Papa Paulo VI dirigiu às famílias das vítimas, juntamente com um cheque de dez mil dólares e as mensagens de pesar que alguns estadistas enviaram ao Presidente da República.


Como certamente entenderam que o espaço dedicado às inundações já era muito, resolveram incluir fotografia e texto da entrega de prémios científicos a dois médicos, e texto e fotografia  de Américo Tomás a inaugurar, no Palácio Foz,  a VI Bienal Internacional de Arte Fotográfica, organizada pelo Grupo Cultural e Desportivo da Companhia Nacional de Navegação.


E, nos números seguintes, não mais falaram da catástrofe de 25 de Novembro.

Nota do editor: como os exemplares do Notícias de Portugal estão encadernados, a sua digitalização, por vezes, não é fácil.

OLHAR AS CAPAS


O Homem na Cidade

Vários autores
Prefácio: Mário Sacramento
Capa: Luís Carrôlo
Colecção O Homem no Mundo nº 5
Prelo Editora, Lisboa, Julho 1968

Era ao cair da tarde – e havia mortos. Todos muito juntos, enlameados, compridos.
Alinhados, distanciados para sempre, ali aguardando o arrumo definitivo. Ali, ali no cimento frio de um quartel de bombeiros, no fim de um domingo de Inverno.
Eu estava ao telefone, um telefone de moedas de cinco tostões, a dar para o jornal o número de mortos, os seus nomes, as suas idades. Ia escurecendo, escurecendo, e eu já não via os nomes escritos à pressa, abreviados, secos. Um bombeiro, uma pilha nas mãos, tentava auxiliar a minha leitura, uma leitura triste, sincopada, hesitante de quando em quando. Eu sabia que tinha os mortos todos atrás de mim, indiferentes, quietos, não se importando absolutamente nada que lhes trocasse os nomes. Mas eu não queria cometer o mínimo erro, o mais pequeno deslize.«Se tu és João” – dizia para mim – és João. E se o teu nome é Mário, o teu nome será Mário. E caso te chames Rosa, não te chamarei Lucília.» E teimava, teimava em ser exacto, pedia, pedia ao bombeiro que mantivesse o foco da pilha sobre o papel em que tinha escrito os nomes dos mortos. E carregava nas moedas de cinco tostões, mantinha a ligação telefónica, identificava-os um a um.
O tempo passava, o tempo passava sem luz eléctrica, e eu estava sempre ali ao telefone, e os familiares dos mortos iam entrando, (que longa bicha!), identificavam os mortos, os nomes dos mortos eram-me dados, e eu dava os nomes dos mortos ao jornal. Ouvia o choro dos vivos, ouvia o silêncio dos cadáveres, ouvia a noite lá fora.
- Depressa! Depressa! – diziam-me do jornal – Depressa que é para a terceira edição!
Iam-me faltando as moedas de cinco tostões, sentia-me aflito, pedia que me trocassem moedas de cinco, dez escudos. E os nomes dos mortos continuavam na minha boca, lidos um a um, o mais exactamente possível. Como um preito de homenagem. Como um choro. Chegavam aos meus ouvidos pormenores da tragédia, da chuva, da lama. Eu carregava nas moedas de cinco tostões, afligia-me com o seu desaparecimento contínuo e, automatizado já, ia lendo os nomes dos mortos à luz da pilha.
Escuridão total.
- Acabou-se a carga! – disse o bombeiro.
O suor tomou-me o corpo todo – e os meus dedos amarfanhavam o papel com os nomes dos mortos ainda não transmitidos. E agora? E agora? Agora que a pilha tinha dado de si – que fazer, que fazer?
- Acendam fósforos! – gritei – Estes fósforos!
E assim foi: à chama tremida do enxofre, dos fósforos, acesos um a um, fui lendo o nome dos mortos que restavam, que estavam ainda no papel, sem o mais pequeno deslize.
“Se tu és João” – dizia para mim – «és João. E se o teu nome é Mário, o teu nome será Mário. E caso te chames Rosa, não te chamarei Lucília. »
Quando, finalmente, abandonei o telefone, ganhei a rua, respirei a noite, apeteceu-me loucamente um cigarro, um cigarro que me turvasse, um cigarro para esquecer aquilo tudo.
Meti, os pulmões ansiosos, um cigarro na boca – mas não pude, não pude fumar, não pude acender o cigarro: os mortos tinham queimado todos os meus fósforos.

Pedro Alvim, crónica publicada no Diário de Lisboa, aquando das trágicas cheias de Novembro de 1967.

ATÉ NA MORTE É TRISTE SER-SE MISERÁVEL


Nós não diríamos: foram as cheias, foi a chuva. Talvez seja mais justo afirmar; foi a miséria, miséria que a nossa sociedade não neutralizou, que provocou a maioria das mortes. Até na morte é triste ser-se miserável. Sobretudo quando se morre por ser.

Citação de «O Comércio do Funchal», retirada do texto de Joana Pereira Bastos c/ Joana Beleza e José Pedro Castanheira, fotografia de Eduardo Gageiro, publicado na revista do Expresso de 12 de Novembro de 2017. 

TODA A NOITE CHOVEU


Sábado, 25 de Novembro de 1967.

Estava em Tavira a cumprir o serviço militar obrigatório.

Tinha vindo a Lisboa passar o fim-de-semana e aproveitar para tirar a medida ao 2º fato do casamento, que ocorreria em Dezembro.

A chuva fustigava Lisboa.

Perto das sete da tarde estávamos, eu e a Aida, no alfaiate, num 3º andar da Rua do Fanqueiros, a fazer a prova do fato.

Um enorme trovão e ficámos às escuras.

As costureiras trouxeram um candeeiro a petróleo, algumas velas.

Muito à média luz, conseguiu o alfaiate fazer a prova possível.

Como não houve oportunidade para outras provas, o facto é que o fato nunca me assentou bem.

Também nunca foi coisa a que desse qualquer tipo de importância.


Saímos do alfaiate sem que a luz tivesse sido reposta.

A chuva desabava como um dilúvio.

Aguardámos bem perto de uma hora e acabámos por nos fazer ao caminho.

A forte ventania destruíra os chapéus-de-chuva, as gabardines estavam ensopadas em água, não protegiam coisa alguma.

Não havia transportes.

A Avenida Almirante Reis era um rio, o Martim Moniz era um lago, onde carros, tudo o que imaginar se possa, flutuavam.

Abandonávamos os vãos de escada quando a chuva aliviava um pouco, se é que num temporal como aquele se pode falar em momentos de alívio.

Um pânico indescritível apossara-se das pessoas.
Sem telefones não era possível avisar as famílias.

Ninguém sabia de ninguém.

Da Rua dos Fanqueiros até ao alto da Penha de França demorámos mais de três horas.


A rádio e a televisão apenas transmitiam o que a censura impunha, ou seja: nada!

Durante toda a noite e madrugada choveu.

Só no domingo começámos a ter uma ideia, pálida ideia, da tragédia que se abatera sobre Lisboa e arredores.

Os jornais, rigorosamente vigiados, davam notícia: 250 mortos.

«Lamento profundamente a tragédia e, na medida do possível, tudo farei para minorar o sofrimento das pessoas que necessitarem dos nossos socorros», palavras do ministro do Interior Santos Júnior.

Anunciava-se que o presidente Américo Tomás, oportunamente, visitaria alguns dos locais atingidos pela intempérie.


Joaquim Letria, jornalista do Diário de Lisboa, trinta anos depois, resumiu para o Diário de Notícias:

«A Censura cortava sobretudo o número de mortos e o que se referia às causas da tragédia e à incúria governamental e camarária que estava por trás da catástrofe.
No DL fomos, o Pedro Alvim e eu, destacados para cobrir os acontecimentos. Estivemos noites sem ir à cama e tínhamos de fazer a nossa própria contabilidade dos corpos (contávamo-los um a um, o que oAlvim imortalizou numa belíssima crónica intitulada «Os Mortos e os Fósforos») e todos os dias tentávamos actualizar esse número, que a Censura nunca deixava passar. Chegávamos às centenas, quando os números dos censores não ultrapassavam as dezenas.»

Depoimento do jornalista João Paulo Guerra:

«Eu das cheias de 67 lembro-me de um telex da Censura, para a redacção do Rádio Clube Português, pelas 3 da manhã, a dizer: «A partir de agora não morreu mais ninguém».

No seu livro, Os Segredos da Censura, César Príncipe, reproduz estas determinações dos coronéis:


César Príncipe dá-nos ainda uma uma outra, miserável, determinação dos coronéis da Censura, datada de 30 de Dezembro de 1967.

Referia o baile de passagem de ano, realizado no Palácio dos Valenças em Sintra:

«Não dizer que a receita se destina às vítimas das inundações.» 

No dia 4 de Dezembro o governo contabilizava 458 mortos.

O número definitivo de mortos nunca veio a ser conhecido, mas calcula-se que tenham morrido para cima de 700 pessoas.

A censura retalhou tudo quanto assinalava ausência de infra-estruras, bem como a falta de apoio às populações.

Escreveu o jornalista António Valdemar:

«Terrível e insólito paradoxo: um regime político que tinha na Igreja católica um dos seus mais poderosos sustentáculos, remetia para Deus as culpas e responsabilidades da catástrofe.»
Diário de Notícias, num dos seus editoriais:

«Ocorre-nos perguntar se não estará alguma coisa profundamente errada com o sistema de colectores da capital.
Sim, é verdade, os colectores da cidade não estavam preparados para o anormal caudal de água que dos céus desabou, mas outros motivos existiam, ainda existem.
Por exemplo, o arquitecto Ribeiro Telles, sempre se bateu arduamente pelo desenvolvimento entre o ordenamento do território e a terra, sistematicamente chamou a atenção para o perigo de canalizar ribeiras ou secar o subsolo.
Nunca foi ouvido.»


Em Quintas, uma aldeola poucos quilómetros a norte de Vila Franca de Xira, morreram mais de cem pessoas.

O fatídico 25 de Novembro de 1967, pôs a nu a miséria em que a população da Grande Lisboa vivia.

A maioria das vítimas habitava barracas construídas nos cursos de água, em escarpas, onde calhava.

Estão passados 50 anos.

Há acontecimentos que nunca esquecem!
Há lições que nunca devíamos esquecer.

Acabamos por esquecer...

Volta e meia a desgraça das cheias, das inundações bate-nos, de novo. à porta.

Ouvem-se lamentos, as promessas de sempre.

Até um outro dia em que tudo volte a acontecer!

PEDRO ROLO DUARTE (1964-2017)


Tinha 53 anos.
Mais nada apetece escrever.
Não o conheci pessoalmente mas gostava do que fazia, fosse na escrita, fosse na rádio.
Mantinha com João Gobern um divertido e excelente programa na Antena 1, ao sábado, duas horas, à moda antiga: Hotel Babilónia.
Já, praticamente, ninguém ouve rádio. Vou sentir a falta. Felizmente pode-se recorrer aos registos que a estação disponibiliza.
Com uma pequeníssima, mas competente, equipa fez um trabalho notável com o suplemento DNA no Diário de Notícias.
O Postal Sem Selo de ontem, coloquei-o a pensar na luta que manteve contra o tabaco:
«A vida insiste em excesso para que sobrevivamos».
Deixou escrito:
«Hoje, o meu maior problema é sonhar todas as noites com cigarros, recaídas e desculpas para voltar a fumar. Mas não voltei. Nem admito voltar. Sou mais teimoso do que o estupor do vício.»

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


A vida insiste em excesso para que sobrevivamos.

Alexandre Pinheiro Torres em A Flor Evaporada

COMO SE TIVESSE VINDO DE OUTRO PLANETA



A «rainha dos cantores folk» teria que ter sido a Joan Baez. Joan nasceu no mesmo ano que eu, e os nossos futuros iriam estar ligados, mas naquela altura pensar nisso teria sido disparatado. Ela tinha lançado um disco na editora Vanguard, chamado Joan Baez, e eu tinha-a visto na TV. Aparecera num programa de música folk transmitido para todo o país pela CBS em Nova Iorque. Havia outros intérpretes no programa, incluindo Cisco Houston. Josh White, Lightnin’Hoptkins. Joan cantou sozinha umas baladas e depois sentou-se lado a aldo com o Lightnin’ e cantou umas canções com ele. Não conseguia deixar de olhar para ela, não queria sequer pestanejar. Ela tinha um ar perverso – cabelo preto brilhante, comprido até às graciosas ancas, pestanas longas, parcialmente viradas para cima, não era propriamente uma daquelas bonecas tipo Raggedy Ann. Só vê-la deixava-me louco. Como se isto não bastasse, havia ainda a sua voz, uma voz que afastava os maus espíritos. Era como se tivesse vindo de outro planeta.
Ela vendia muitos discos e era fácil perceber porquê. As cantoras de música folk eram intérpretes como Peggy Seeger, Jean Ritchie e Barbara Dane, que não faziam uma boa transição para o público moderno. Joan não era nada como elas. Não havia ninguém como ela. Tudo isto se passou uns anos antes de Judy Collins e Joni Mitchell entrarem em cena. Eu gostava das cantoras mais velhas – Aunt Molly Jackson e Jeanne Robinson – mas elas não tinham a qualidade penetrante da Joan. Andava a ouvir frequentemente uma cantoras de blues, como Memphis Minnie e Ma Rainey, e Joan era de certa forma, mais parecida com elas. Não havia nada de juvenil nelas, assim como Joan também não tinha nada de juvenil. Ao mesmo tempo escocesa e mexicana, parecia um ícone religioso, alguém por quem nos sacrificaríamos, e cantava com uma voz directa a Deus… era também instrumentista excepcional.

Bob Dylan em Crónicas


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Cada vez mais penso que Portugal não precisa de ser salvo. Porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele. Mas sabe que não há maneira fácil?

Jorge de Sena numa carta a Sophia de Mello Breyner Andresen

PORTUGAL NÃO PRECISA DE SER SALVO


Só a 20 de Dezembro de 1962 Jorge de Sena consegue responder às cartas que Sophia lhe foi enviando. E explica-se:

Perdoe-me, se pode o meu silêncio. Mas eu não sei que fazer para aguentar o trabalho incrível que é cada vez mais vai sendo o meu. Todos os dias penso nas cartas que preciso de escrever àqueles que estão presentes no meu coração; e todos os dias sucumbo ao peso das urgências atropeladas de tudo o que tenho aceitado fazer. Se, nestes últimos meses, eu não estivesse livre da Direcção do Curso de Letras de que me demiti, não sei como estaria vivo…
(…)
Não foi, pois, por desinteresse que tenho estado calado, mas por humana impossibilidade. Espero que esta carta lhe chegue às mãos e se lhe demore nelas. Nunca imaginei que a PIDE se tentasse com os meus autógrafos…. Resta-me a consolação de pensarmos que ficaram sabendo o que já sabiam ou o que até bom seria que soubessem. A minha posição política continua inalterável: não tenho, e não terei nunca (a menos que me filie em mim mesmo), filiação partidária. Penso que a unidade de todos é a suma necessidade; mas reconheço que é impossível colaborar com a mediocridade invejosa, que é a dos nossos políticos, desde a clandestinidade em que mesmo no exílio se comprazem os comunistas, até ao Palácio de São Bento. Cada vez mais penso que Portugal não precisa de ser salvo. Porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele. Mas sabe que não há maneira fácil?

OLHAR AS CAPAS



A Flor Evaporada

Alexandre Pinheiro Torres
Prefácio: Eunice Cabral
Capa: Fernando Felgueiras
Colecção Cadernos de Poesia nº  27
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Outubro de 1984

Criança: A Sua Morte

A criança está deitada: assuntos de morte
depois de perseguir em vão seu viver de borboleta.
Cada um de nós é a sua pequenina mãe:
velhices de teia agora soflagrantes: vida sem após.

Sentamo-nos à volta do caixão: a nossa própria
morte retardada no corpo. Já contemplamos a
vida sem paciência nela. E repetimos se mal nos perguntamos:
a morte não é importante: um propor de aurora.

Se o morto fosse adulto a morte teria andado ido.
Veríamos onde o conduziria o conhecimento da vida.
Mas a morte esbarrou cedo e manso: água de rio
Ou assuntos de água que não voou do chão.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Prometeu ser virgem toda a vida
Desceu persianas sobre os olhos
Alimentou-se de aranhas,
humidades
raios de sol oblíquos.

Luiza Neto Jorge, epígrafe em Que Importa a Fúria do Mar de Ana Margarida de

Carvalho.   

RELACIONADOS

Paris é sempre Paris.
Paris é uma festa, escreveu Hemingway.
Bogart e Bergman, no Casablanca, diziam-se que teriam sempre Paris.
Madame Maigret gostava de Paris no mês de Março.
Charles Aznavour não se faz rogado e canta-nos que em Maio e Outubro é que é.
Charles Trenet traz-nos o Abril de Paris.
E um rapaz do meu tempo, Paul Anka, arrisca tudo em sob os céus de Paris, um hino para amar as pessoas.




OLHAR AS CAPAS


A Amiga de Madame Maigret

Georges Simenon
Tradução: António Lopes Ribeiro
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 53
Livros do Brasil, Lisboa s/d


- Para mim, Março continua a ser o mês mais bonito de Paris, apesar dos aguaceiros, dizia Madame Maigret. Há quem prefira Maio ou Junho, mas em Março é tão mais fresquinho…

AI QUE BONITA!


As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falais de um novo amigo nunca perguntam o essencial. Nunca vos dizem: «Como é a fala dele? Quais os seus jogos predilectos? Colecciona borboletas?» Perguntam: «Que idade tem? Quantos irmãos são? Quanto pesa? Quanto é que o pai ganha»» E só julgam que o conhecem depois disto. Se disserdes às pessoas crescidas: «Vi uma bela casa de tijolos vermelhos, com gerânios nas janelas e pombas no telhado…» elas não conseguem imaginar uma casa. É preciso dizer-lhes: «Vi uma casa de quinhentos contos.» Então exclamam: «Ai que bonita!»

Antoine de Saint-Exupéry em O Principezinho

terça-feira, 21 de novembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Mãe Ilha
Bibliografia e Iconografia

Coordenação Técnica e Científica: Ângela Almeida
Capa: Atelier Filipe Costa
Edição Fundação Cultural Natália Correia e Câmara Municipal de Lisboa, 1993

Mãe Ilha
IV

(Sempre que ouço piano)

Por lentas alamedas musicais
Chegam-lhe as tuas mãos ledas e leves
Trazem-me a valsa que enchia de cristais
A casa e eras de louça mãe de Sévres.

Lá nas fajãs partiu-te um sopro a mais
Que a morte é cio de belezas breves,
Mas, ó mistério de dedos siderais!,
Um triz de música e uma azália escreves.

Mãos que me levam lácteas pelos cabelos
(Lembras-te? eram anéis dos teus anelos)
Para a ilha. No teu seio o mar arfava.

Mãos doceiras das flores com que cobrias
O meu sono. Mais música! Para os dias
De opala, mãe de mel, falta uma oitava.

EXISTÊNCIAS MAL GOVERNADAS


5 de Maio de 1936

Não é esta ou aquela acção que constitui pecado, mas uma existência mal governada. Há os que pecam e os que não pecam. As mesmas coisas (odiar, fornicar, preguiçar, maltratar, humilhar-se, enraivecer-se) são pecados nuns, noutros não.
Ter pecado quer dizer ficar convencido de que certa acção é, de um modo misterioso, criadora de infelicidade para o futuro; que tal acção ofendeu alguma lei misteriosa da harmonia e não é mais do que um elo numa cadeia de desarmonias precedentes e futuras. Viver é como fazer uma longa soma em que basta ter errado o total das duas primeiras parcelas para já não nos conseguirmos safar. Isto é, engrenar numa cadeia dentada; etc.

Cesare Pavese em Ofício de Viver

PAPÉIS DATADOS



Amar a vida é não ter medo da morte.
Que venha quando entender, mas que não seja muito cedo mas também não muito tarde.
Maria Lamas numa entrevista ao Diário de Lisboa de ontem.
«Embora tenha sofrido muito, amo a vida. E tenha pena de morrer.»

(14 de Fevereiro de 1970)

Legenda: Maria Lamas

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

NOTÍCIAS DO CIRCO


Ana Gomes, eurodeputada do PS, com base em contactos que tem efectuado em Bruxelas, diz que «há hipóteses muito sérias» de Mário Centeno vir a assumir a presidência do Eurogrupo e que «isso seria bom para Portugal.»
Deviam estar todos muito quietinhos!

E isso de ser bom para Portugal  é uma treta.
Nunca nos poderemos esquecer de um tal de Durão Barroso  - «sigam o cherne» - que teve, ética e moralmente,  um desempenho miserável e se limitou a engrossar a conta bancária.

CANÇÃO BREVE


Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.

Da Antologia Breve publicada em 21 Ensaios Sobre Eugénio de Andrade

Legenda: fotografia de José Rodrigues em 21 Ensaios Sobre Eugénio de Andrade

OLHAR AS CAPAS



21 Ensaios Sobre Eugénio de Andrade
Seguidos de Antologia

Vários autores (Alexandre Pinheiro Torres, António Ramos Rosa, Eduardo Lourenço, Gastão Cruz, Jorge de Sena, José Fernandes Fafe, José Pacheco Pereira, Mário Sacramento, Óscar Lopes, Vergílio Ferreira, entre outros.
Prefácio: Manuel Alberto Valente
Capa: Armando Alves
Colecção Civilização Portuguesa nº 10
Editorial Inova, Porto s/d

Contra el silencio y el bulício invento
La Palabra, libertad que se inventa y me inventa cada dia.
Octavio Paz

Apetecia-me escrever que, após Fernando Pessoa, era Eugénio de Andrade o maior poeta português do século presente. Apetecia-me escrever, mas não escrevo. E no entanto, passado o magnífico rebanho do portentoso guardador, a poesia nacional – alicerçada, sem dúvida, num índice de qualidade bastante saliente – poucos nomes teve e tem que brilhem tanto com o dele. Poucos? Três ou quatro apenas! Os suficientes, justo é confessá-lo, para que a mão me trema e o coração se sobressalte no momento de arriscar a parada suprema…

(Do prefácio de Manuel Alberto Valente)

E PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS

domingo, 19 de novembro de 2017

O ESPÍRITO DOS PORTUGUESES


Depois das histórias, mais ou menos pitorescas, que Rómulo de Carvalho vai contando aos seus tetranetos, irá entrar numa parte da história que tem o seu quê triste e complicado.
Rómulo irá abordar, com mágoa, o que passou a acontecer nas escolas e liceus. Mais concretamente a sua experiência no Liceu Pedro Nunes onde era professor. Nessa parte da história, entraremos nos próximos tempos.
Antes, na página 308 das suas Memórias, deixa esta reflexão:

«Esta euforia da Liberdade, de cada um poder fazer o que lhe apetecer sem ter que dar satisfações a ninguém, ajustou-se tão bem ao espírito dos portugueses como antes se ajustara, nos tempos da ditadura, o peso da servidão.

UM MINUTO DA SUA ATENÇÃO

Este anúncio demora sensivelmente 1 minuto a ler.
Uma torneira aberta durante 1 minuto pode gastara 12 litros de água.
Segundo as nações Unidas, um ser humano precisa de 110 litros de água por dia.
Fechando a torneira 1 minuto poupamos 12 litros de água. Se todos o fizermos, poupamos 120 milhões de litros num minuto. O suficiente para garantir as necessidades básicas diárias de 1 milhão de portugueses.