sexta-feira, 10 de novembro de 2017

OLHAR AS CAPAS



A Festa de Babette e Outras Histórias

Karen Blixen
Tradução: Maria Jorge de Freitas
Colecção Asa de Bolso nº 46
Asa Editores, porto, Setembro de 2002

Na Noruega há um fiorde – um apertado e longo braço de mar cavando as altas montanhas – Chamado o Fiorde de Berlevaag. No sopé das montanhas, a cidadezinha de Berlevaag mais parece um brinquedo com casas miniaturais pintadas de cinzento, amarelo, rosa e tantas outras cores.
Há sessenta e cinco anos, duas senhoras de meia idade viviam numa dessas casas amarelas. Outras senhoras, nesse tempo, usavam a tournure e as duas irmãs bem podiam tê-la usado também, e com a mesma graciosidade, pois eram altas e esbeltas. Mas nunca seguiram os ditames da moda: sempre se acostumaram a vestir, com modéstia, de preto ou de cinzento, Receberam elas os nomes de Martine e Philippa, em homenagem a Martinho Lutero e a seu amigo Filipe Melanchton. Eram filhas de um Deão, um profeta, o fundador de uma facção ou seita religiosa conhecida e respeitada em toda a Noruega. Os seus membros renunciavam aos prazeres deste mundo, pois a Terra e tudo o que sobre ela existe, era quase uma ilusão e a realidade verdadeira era a Nova Jerusalém por que ansiavam. Desses lábios não saía uma inocente blasfémia, todos os seus colóquios não iam além de um «oh, sim», «oh, não» e dos nomes de Irmão i Irmã que na Congregação se davam.

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