sábado, 31 de maio de 2014

OS CROMOS DO BOTECO


O Boteco não tem só música de última gaveta.
Também dá para encontrar uma preciosidade como esta: uma música e um conjunto bem do meu tempinho...

Procol Harum
Lado 1
Conquistador
Lado 2
All This And More

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


Anúncio publicado no Diário de Lisboa de 31 de Maio de 1967.
Ainda não havia Totoloto, nem Euromilhões, nem a maquinaria sofisticada que hoje existe.

E FOI PARA ESTA FARSA...


E foi para esta farsa 
que se fez a revolução de Abril, capitães,
ao som das canções de Lopes-Graça?
Foi para voltar à fúria dos cães,
ao suor triste das ceifeiras nas searas,
as espingardas que matam os filhos as mães
num arder de lágrimas na cara?
E, no entanto,
no princípio, todos ouvíamos uma Voz
a dizer-nos que a nossa terra poderia tornar-se num pomar
de misteriosos pomos.
E nós,
todos nós, chegámos a pensar
que éramos maiores do que somos.


José Gomes Ferreira em A Poesia Continua.

OS IDOS DE MAIO DE 1974

27 a 31 de Maio

NO PALÁCIO Foz um grupo representativo do Movimento Democrático de Artistas Plásticos, cobriu com um pano negro a estátua de Salazar que se encontra nos jardins do palácio. Esse gesto foi considerado como «um acto de criação artística», pois «a arte fascista faz mal à vista.»

APÓS duas semanas de greve parece iminente a falência da Fábrica de Malhas Simões de Benfica.

A CÂMARA Municipal de Mação recusou-se a pagar o dia 1 de Maio aos seus trabalhadores eventuais.

LISBOA e arredores estão sem pão. Os trabalhadores da Panificação afirmam que foram forçados à greve.

NA NAZARÉ os pescadores continuam a lutar em terra pelo pão. A situação arrasta-se desde o dia 12 do corrente mês e ainda não foram revistos os respectivos acordos de trabalho.

ANTÓNIO Spínola ao chegar ao Porto e falando á multidão que o aguardava: «as ideias democráticas e de liberdade estão sendo criminosamente minadas por forças que visam a destruição e a anarquia.»

DADA a campanha de pressão e intimidação levada a cabo por alguns postos de abastecimento de gasolina e gasóleo do distrito de Lisboa, o Ministério da Coordenação Económica esclarece que se tal for necessário os postos de gasolina serão controlados pelas autoridades militares.

 OS TRABALHADORES da empresa da Companhia das Águas de Lisboa deliberaram apresentar como exigência a reivindicação a nacionalização imediata daquela companhia e requerer um rigoroso inquérito aos actos da administração.

SEGUNDO informação das Forças Armadas ainda não se entregaram às autoridades oito elementos da extinta PIDE/DGS.

SILVA PAIS continua a dizer que desconhecia os processos usados pela PIDE e apenas cumpria ordens.

FIXADA em 1.600$00 a pensão mínima de invalidez. Abono de família passa a 240$00
Reajustado o pré dos praças (de 30$00 para 250$00).

FORAM empossados, pelo Presidente da República, os membros do Conselho de Estado:


Do discurso, pronunciado por Spínola, no acto de posse dos conselheiros de Estado: «É tempo de cada português saber distinguir entre programas políticos e amontoados de bem orquestrados slogans demagógicos».

A INTERSINDICAL divulga um comunicado onde constata com apreensão a acção desordenada e anárquica de certos elementos oportunistas e reaccionários que tentam arrastar os trabalhadores através de greves que no momento presente não servem os interesses dos trabalhadores.

ANTÓNIO Spínola em Coimbra, falando à multidão que o aguardava: «para reivindicar é preciso primeiro edificar» e «não se poderá distribuir riqueza sem a produzir».

COMEÇOU a publicar-se o jornal Revolução porta-voz do Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias.

DE A FUNDA de Artur Portela Filho:
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que a Igreja portuguesa passe, de paramentos e bagagens, pressurosa, subtil, intacta, da Ditadura para a Democracia?
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que a hierarquia da igreja portuguesa salte, do barco que se afunda, para o barco que zarpa, sem molhar, sequer, a ponta da sotaina?
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que todos quanto diziam, no dia 24 de Abril, que o sr. Bispo do Porto e o sr. Bispo de Nampula eram as ovelhas negras de um rebanho branco digam, no dia 26 de Abril, que o rebanho sempre foi todo, mas todo, negro?
Nem todos os católicos estão
Dispostos a.
Permitir.

Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

sexta-feira, 30 de maio de 2014

NOTÍCIAS DO CIRCO


Há 40 anos, Portugal tinha um império e não tinha democracia; hoje tem uma democracia de metecos e é uma colónia.

Viriato Soromenho Marques no Diário de Notícias

CHAMINÉS


Terrugem.
Chaminés da Antiga Panificadora de Sintra.
As instalações de há muito estão fechadas.
Quando a fotografia foi tirada, talvez há uns 3/4 anos, estavam em curso obras para, em seu redor, ser instalado um parque de estacionamento.
Passei por lá há dias.
O parque já se encontra em funcionamento.

POSTAIS SEM SELO


Escrevi a carta, mas não a mando. Pus-me a pensar que, mesmo que eu metesse o coração dentro do envelope, nada conseguiria contra a solidão do destinatário. Se i por experiência própria que há duas categorias de pessoas: as povoadas e as despovoadas. E que é escusado lutar: os desertos humanos são condenações irremediáveis. Estiola-os a maldição não sei que grandeza e fascínio de auto-aniquilamento. Tão áridos e tão desmesurados, que até quem neles se aventura corre o risco de se perder e deparar com a sua própria desolação.

Miguel Torga em Diário, Vol. XII

quinta-feira, 29 de maio de 2014

OLHARES


Lisboa.
Metropolitano Linha Vermelha.
O comboio a passar nas Olaias.

NOTÍCIAS DO CIRCO


A poucos dias de o Tribunal Constitucional dar a conhecer o seu veredicto quanto à fiscalização de quatro normas do Orçamento do Estado para este ano, a SIC dá conta daquele que será o plano B do Governo caso o Palácio Ratton chumbe as referidas normas. Segundo aquela estação televisiva, o Executivo tem ‘na manga’ um aumento de dois pontos percentuais na taxa máxima do IVA.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


NUNCA USEI RELÓGIO. O TEMPO NUNCA COUBE NUM RELÓGIO


As grandes descobertas
surgem
com a naturalidade de continuarem incertas
— ilhas  sólidas no nevoeiro.

Por exemplo:
o tempo sou eu.
Apenas eu.
Uma espécie de relógio
com pele.
pés doridos do gelo.
a mão que empurrou a porta.
acendeu a luz eléctrica.
lançou lenha na fornalha
—  e agora aqui estou estendido no divã
à espera de quê?

Dos passos que nunca ouvi
instantes de outro tempo
sem manhã
nas cinzas do relógio em ti.

José Gomes Ferreira em Poesia VI, Diabril Editora, Fevereiro de 1976

terça-feira, 27 de maio de 2014

OLHARES

QUOTIDIANOS


A senhora idosa, amparada por uma muleta e agarrada ao corrimão, subia as escadas até ao primeiro andar da Escola António Arroio, onde se encontravam as secções de voto para as Eleições Europeias.
Um terrível ar de sofrimento estampado no rosto.
A descer, vinha, aparentemente, uma amiga.
- Então, Amélia, que ideia foi a tua?
- Tive que vir votar senão tiravam-me a reforma.
Acelerei a descida das escadas para não ouvir mais nada.

OLHAR AS CAPAS


Biografia do Ié-Ié

Luís Pinheiro de Almeida
Prefácio: Luís de Freitas Branco
Introdução: Afonso Cortez
Sistema Solar, CRL (Documenta), Lisboa, Abril de 2014-05-27

Na sua grande maioria eram constituídos por estudantes («conjuntos académicos», «conjunto universitários»), motivo por que as carreiras tinham curta duração, seja pela conclusão dos respectivos cursos, seja pelo cumprimento do serviço militar obrigatório com tês frentes de guerra em África.
Era mais frequente ver uma espingarda G3 nas mãos de um jovem porttugês do que uma guitarra Eko.

OS IDOS DE MAIO DE 1974


20 a 26 de Maio

POR DECISÃO da Junta de Salvação Nacional o almirante Américo Tomás e o prof. Marcelo Caetano, deixaram o Funchal com destino ao Brasil. A presidência do Brasil recebeu-os como exilados políticos na condição de se absterem de qualquer actividade política no país
O Diário de Lisboa, de 22 de Maio de 1974, escrevia no seu editorial:
A partida para o Brasil de Américo Tomás e de Marcelo Caetano indigna todos os antifascistas, todo o povo português. Esperava-se o seu julgamento e o julgamento dos outros responsáveis pela política antinacional. Não por desejo de vingança, mas por imperativo de justiça.

A INTERSINDICAL aconselha um ambiente de calma em relação ao actual clima de agitação no trabalho. Desaconselha o recurso á greve, bem como certas reivindicações salariais que podem provocar o caos económico.

ACABARAM as aulas ao sábado.

O SALÁRIO mínimo para os trabalhadores foi fixado em 3.300$00, exceptuando trabalhadores rurais e empregados domésticos. Congelados salários acima de 7.500$00.

PROSSEGUE a greve dos 1600 trabalhadores da Messa, em Mem Martins.

OS TRABALHADORES da Firestone retomaram o trabalho para não lesar os interesses da economia nacional.

OS TRABALHADORES da empresa Claras decidiram deixar de cobrar bilhetes.

NO SENTIDO da revisão da Concordata vai realizar-se uma reunião da Comissão Organizadora do Movimento Ptó-Divórcio.

DA LISTA divulgada pelas autoridades sabe-se estarem em liberdade doze elementos da extinta PIDE/DGS. Neste número estão Agostinho Barbieri Cardososo e António Rosa Casaco.

PALAVRAS do bispo do Porto D. António Ferreira Gomes: «Melhor seria que os cristãos se autocriticassem e que todos chegassem à conclusão de que de uma maneira ou de outra pelo menos por indiferença somos culpados da situação anterior a 25 de Abril.»

NO DIA 25 iniciaram-se em Londres, negociações com o PAIGC. Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, chefia a comitiva portuguesa.

CRIADA a Associação dos Deficientes das Forças Armadas.

ANÚNCIO de Francisco Relógio: «Combata a inflação investindo em obras de arte.»

NATÁLIA Nunes, na Livraria Opinião distribui 50 exemplares da sua peça Cabeça de Abóbora que Luzia Maria Martins tinha tentado levar à cena, mas que não tinha conseguido devido aos cortes da censura.

FUNDAÇÃO do PPM.

APRESENTAÇÃO do Partido da Democracia Cristã.

A CÂMARA Municipal de Lisboa anuncia que deixará de ser efectuada, aos domingos, a remoção de lixos.

HOMENAGEM a Fernando Lopes Graça no Coliseu dos Recreios com o Coro da Academia dos Amadores de Música – Depois do medo e do silêncio.

O Movimento Socialista Popular, dirigido por Manuel Serra, decidiu integrar-se como movimento autónomo no Partido Socialista Português.

O MINISTRO da Coordenação Económica declarou a uma televisão espanhola que Portugal não pedirá imediatamente a sua adesão ao Mercado Comum devido ao seu atraso económico.

DE UMA FUNDA de Artur Portela Filho:
A liberdade não censura a ineficácia. Expõe-na. O que, sendo alguma coisa, não chega para neutralizar a ineficácia. A ineficácia é livre. Ser ineficaz é um direito.
Só que a revolução exige eficácia.
Aí está porque é que na actualidade portuguesa, a acultura tem de ser mobilizada, mas nem toda a cultura deve ser mobilizada. Aí está porque é que, na actualidade portuguesa, os meios de informação têm de servir, mas nem toda a informação serve. Nem todas as boas vontades são vontades boas. Nem todas as adesões aderem. Nem toda a cola cola.
A eficácia é, hoje em dia, em Portugal, um caso de vida ou de morte.


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

Legenda: pormenor da reportagem sobre o concerto de Fernando Lopes Graça publicada no Diário Popular de 26 de maio de 1974.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

NOTÍCIAS DO CIRCO


Três anos de feroz austeridade.

As nossas vidas transformadas num inferno.

Nem todas.

Eleições para o Parlamento Europeu.

Foram ontem.

Muito poucos é que sabem o que é, o que se passa no Parlamento Europeu.

Se é que sabem mesmo…

Assim sendo, as eleições de ontem serviam para dar uma paulada num governo de manhosos, incompetentes, corruptos e por aí fora.

Conhecidos os resultados não houve paulada nenhuma, e o Dr. Seguro nem na terra dele conseguiu maioria absoluta.

O futuro não vem nos livros pelo que o nosso destino está traçado para muitas décadas.

Sermos governados pelos partidos do arco da governação, ou o centrão ou o  que à bosta quiserem chamar.

Juntos somaram 59,16% dos votos.

A náusea invadiu-me a noite.

Uma tristeza sem fim.

Que faremos com este povo?

Jorge de Sena e os seus gritos de silêncio.

Os portugueses não se salvam porque não se querem salvar.

Tão só!

POSTAIS SEM SELO


A mentira e a persuasão podem destruir a verdade, mas não podem substituí-la.

Hannah Arendt

OLHAR AS CAPAS


Correspondência

António José Saraiva e Óscar Lopes
Prefácio e notas: Leonor Curado Neves
Capa: Armando Lopes
Gradiva, Lisboa, Novembro de 2004

A CEE não é um espaço de lógica do mercado: a Alemanha vai acabar por ditar a lei, com algum contrapeso da França, da Grã-Bretanha e da Itália (e um pouco menos da Espanha). As grandes decisões são tomadas em gabinete de Primeiros-Ministros, ou seus representantes, muito dependentes dos interesses criados (ou que têm força para se impor). Os parlamentos nacionais não chegam lá. O Parlamento Europeu pouquíssimo pode.



(De uma carta de Óscar Lopes para António José Saraiva em Setembro de 1991.).

FOI BONITA A FESTA, PÁ!






Esta malta é como o vinho do Porto: quanto mais velho melhor.
É algo de comovente ver rapazes que encheram as nossas tardes e noites de bailes cantarem, mesmo com o toquezinho da idade, com tanta alegria e emoção.
Surpresa das surpresas foi ver o nosso Paulinho a tocar nos Discovers.
E, mais uma vez, o Daniel Bacelar não cantou a Marcianita.
A festa de lançamento da Biografia do Ié-Ié, na tarde de sábado, foi bonita, o Luís bem a mereceu.
O livro é um trabalho competente e quem quiser saber quem foram os personagens daqueles tempos loucos, têm lá tudo.
Pena que por causa da final dos Campeões Europeus o tempo fosse tão curto.

domingo, 25 de maio de 2014

PORQUE HOJE É DOMINGO


Canção Tão Simples

             (Imitação de João de Deus para irritar certos críticos)

Quem poderá domar os cavalos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?

Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?

Quem poderá domar a tempestade
quem  poderá calar a voz do vento
 e a liberdade
do pensamento?

           Canta canção
           flor de revolta
           pássaro à solta
           na minha mão.

          E se te querem amordaçada
          e se te pedem resignação
          puxa da espada
         e grita: Não.

Que ninguém pode proibir que sopre o vento
ninguém pode domar a tempestade
ninguém pode prender o pensamento
ninguém pode matar a liberdade.

Manuel Alegre em O Canto e as Armas

Canção de Adriano Correia de Oliveira

Música de José Niza


FESTA ESCOCESA EM LISBOA

  
O Inter de Milão vivia a sua época de ouro com Helenio Herrera como treinador.

Em 25 de Maio de 1967 o modesto Celtic apresentou-se no Estádio Nacional, em Lisboa ,para disputar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus.

Todo o favoritismo era atribuído aos italianos.

Lisboa foi invadida por uma multidão de escoceses que encheram as ruas de Lisboa e, antes do jogo, cantaram, beberam cerveja como se fosse o último dia de todas as suas vidas.

Porque, para eles, ganham ou percam, o futebol é uma festa.

Os italianos marcaram logo aos 7 minutos um golo através de uma grande penalidade e remeteram-se ao célebre catenaccio que, por aqui, ficou conhecido como ferrolho.


 O entusiasmo, dos escoceses levou-os a empatar a partida e depois dar a volta ao resultado.

Uma loucura indescritível.

Os portugueses apoiaram, incondicionalmente, os escoceses, a velha tendência para apoiar os mais fraco,s e também participaram na grande festa.

Lembro-me bem.

No dia seguinte o aeroporto da Portela era um mar de escoceses espalhados pelos bancos, pelo chão. Andaram, toda a tarde e noite, pela cidade a comemorar e esqueceram tudo e muitos acabara por perder os voos de regresso a Glasgow.

Who cares?

Ainda hoje, quando acontece o Celtic vir jogar a Lisboa, os adeptos fazem uma peregrinação ao Estádio Nacional e ali ficam a olhar para o sítio onde foram felizes.

The Lions Lisbon foi o nome porque ficaram conhecidos os jogadores que alinharam nessa tarde sol no Jamor.


Este é um recorte de um artigo publicado no Diário Popular de 26 de Março de 1967.

Nele é abordado o dilema das chamadas «viúvas do Inter».

Helénio Herrera impunha aos seus jogadores – casados e solteiros – um regime espartano que ninguém devia ignorar, sob pena de pesadas multas. 

Legenda: o anúncio do final da Taça foi publicado em O Século de 14 de Maio de 1967.     

sábado, 24 de maio de 2014

QUOTIDIANOS


O Portugal profundo, que ainda existe apesar da imensidão de autoestradas que se construíram, uma boa parte sem serem de primeira necessidade, desconhece que amanhã há eleições para o Parlamento Europeu.

E se ouviram alguma coisinha das patéticas campanhas dos partidos do arco da governação que a televisão e a rádio transmitiram, estão-se borrifando.

Eleições?

Europa?

O que é a Europa?

Aquela gente que nos pôs a pão e água?

Que se lixem!

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, as de 2009, a abstenção cifrou-se nos 63%.

Há o receio que amanhã este número seja mais expressivo.

O trágico de tudo isto, é que amanhã não vamos escolher nada que possa dar uma volta à vida das gentes da Europa.

Naquelas cadeiras vai sentar-se uma rapaziada que escolhemos mas que não tem qualquer voto na futura política da Europa,
A política já está escolhida.
 Determinou-a Chanceler Angela Merkel e o seu companheiro de coligação governamental, a mando dos mercados ou o que lhe quiserem chamar.

Votar é um dever cívico, uma conquista pela qual muitos portugueses lutaram, uma boa parte dessa gente morreu nessa luta.

O 25 de Abril trouxe-nos o direito de votar, mas ninguém se preocupou em explicar ao povo, preto no branco, da importância de colocar um voto numa urna. Um povo que um ditador de botas obrigou à mais brutal ignorância, ao mais desesperado sofrimento.

Cada eleição devia ser uma possibilidade de abrir os olhos, rasgar horizontes, para que já não houvesse qualquer razão na frase de Miguel Torga que, volta e meia, coloco por aqui:

Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão.


Legenda: fotografia de Gérard Castello-Lopes

SARAMAGUEANDO


 Estes seres são ainda crisálidas pela claríssima evidência da sua expectação. Foram paradas no meio de um gesto, de um movimento, e olham o espaço, não anos, ainda quando pareçam fitar-nos a direito, mas um ponto mediano algures, que nos ignora, ou um outro, que nos apaga, distante, fora do mundo. Ora, como tudo quanto espera, estes seres também interrogam. E é essa interrogação, não formulada. Porém instante e irrecusável, que vem acrescentar um novo elemento ao acto contemplativo: O sentimento da inquietação. De facto que querem elas de nós, estas crisálidas, olhando e perguntando, como se, tendo-nos proposto já todos os dados possíveis de um problema, não disfarçassem a sua piedade, a sua impaciência, a sua ironia, perante a nossa indecisa perplexidade? Mais do que olhar, somos olhados. Como se, afinal, fôssemos também nós outras crisálidas, elaborando por detrás da carapaça algo que nos recusamos a mostrar, aquilo que sempre se retrai diante do mais insistente de todos os olhares: o da pintura.

José Saramago, palavras para o catálogo da Exposição de Armanda Passos, na Cooperativa Árvore, Porto 22 Novembro-10 Dezembro 91.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

UM LENÇO PARA CATARINA


Chamavas-te Catarina? Ou foi a sina
De nomear o mito e dar um rosto à História
Que fez nascer em nós teu nome de menina
Como barco sulcando as águas da memória?

E será que morreste? Ou por termos medo
Da nossa própria morte mais à frente certa
Criámos em surdina as balas do segredo
Que foi bordado a fogo na tua saia aberta?

Mas o nome qu’importa? A hora? O mês?
Em cada morte nossa morres outra vez
E colam outro nome à pedra em que te fito.

E mesmo a morte passa. A nossa e a tua.
Quando chegam as aves apenas flutua
Um lenço onde se acende o teu perfil de grito.

Manuel Alberto Valente em 10 Poemas para Catarina, O Oiro do Dia, Porto, Maio de 1981.

Legenda: número do Avante de Abril-Maio de 1954 referindo a morte, pela GNR, de Catarina Eufémia no dia 19 de Maio de 1954.

OS IDOS DE MAIO DE 1974


13 a 19 de Maio

NUMA declaração do Comité Executivo da FRELIMO, pode ler-se: «o inimigo do povo moçambicano não é o povo português, é o próprio regime fascista, o sistema colonial português.»

PORTUGUESES cegos reunidos em assembleia em Lisboa enviam à Junta de Salvação Nacional uma moção onde se destaca os seguintes pontos: recenseamento nacional dos cegos e respectiva situação socio-económica, desenvolvimento da profilaxia da cegueira, integração dos cegos e legislação visando a admissão dos cegos aptos nas empresas públicas e privadas.

EM FÁTIMA, o cardeal patriarca de Lisboa D. António Ribeiro formulou votos de paz, de justiça e de liberdade entre os homens: «Esta é a hora de os cristãos se empenharem a valer».

DEPOIMENTO de um grupo de padres da Beira Baixa: «os bispos são os principais responsáveis pelo silêncio sobre os grandes problemas das guerras coloniais e violação das liberdades fundamentais; crítica aos partidos que se dizem cristãos e acolhem membros do antigo regime.»

CERCA de seis mil motoristas de táxis de Lisboa aprovaram as seguintes reivindicações: oito horas de trabalho diário; salário mensal de seis contos; e que se deixe de usar boné.

O TIMES publica um editorial com o título «Portugal está a perder o domínio da situação em África».

NO DIA 15 na Sala dos Espelhos no Palácio de Queluz, o general Spínola assume as funções de Presidente da República.

AO 7º DIA de greve a Timex ainda não aceitou reunir com os trabalhadores.

AO CABO de 47 amos de exílio, chega a Lisboa o capitão Sarmento Pimentel.

CERCA DE 3000 operários da empresa J. Pimenta, SARL, continuam em greve.

A SECRETARIA de Estado da Informação e Turismo informa que funcionários seus estão a proceder à entrega dos volumes armazenados no Pendão, em Queluz, de livros apreendidos aos editores e livreiros que os reclamem.

A LIVRARIA Opinião expõe autos de apreensão e verbetes da PIDE para obras proibidas pela ditadura.

A COMISSÃO de Cultura e Espectáculos da Junta de Salvação Nacional, divulgou um comunicado, no qual faz o seu veto aos filmes pornográficos, invocando para tal que estes não respeitam o ponto 2,1) do Programa do MFA que acentua a necessidade de evitar perturbações na opinião pública causadas por agressões ideológicas dos meios reaccionários.

A CONSTITUIÇÃO do I Governo Provisório foi anunciada no dia 15, à noite, no decorrer de uma conferência de Imprensa.


O NOVO Conselho de Ministros reúne em S. Bento no dia 17. A primeira reunião demorou cerca de 3 horas.
Adelino Palma Carlos: «Fomos agora chamados a tentar remediar erros que não cometemos e que não podíamos sequer apontar».

SEGUNDO Palma Inácio a LUAR abandona os métodos violentos e vai prosseguir como organização política.

SÉRGIO Godinho actua pela primeira vez em Portugal.

OS EMPREGADOS da empresa Eduardo Jorge continuam sem cobrar bilhetes aos passageiros enquanto a administração se mantiver silenciosa no que respeita às reivindicações salariais.

OS TRABALHADORES da Sociedade Estoril, concessionária da linha ferroviária Lisboa-cascais, mantém a decisão de não vender bilhetes em virtude de ainda não haver uma resposta do conselho de administração.

A ADMINISTRAÇÃO da CUF não consente na proposta de saneamento feita pelos trabalhadores daquela empresa.

MANTÉM-SE o desacordo entre a administração da Lisnave e os seus cerca de 8000 trabalhadores.

DISSOLUÇÃO da Polícia de Choque. Os seus elementos são transferidos para os comandos distritais da PSP.




FORAM suspensos onze associados do Sindicato dos Profissionais de Escritório de Lisboa dado que se verificou a sua ligação aos agentes da PIDE a quem lhes facultavam todas as informações pedidas. Foi ainda despedido o empregado Luís Oliveira Santos por haver provas escritas de ter denunciado à PIDE sócios deste sindicato.

CATARINA Eufémia, símbolo da resistência ao fascismo foi evocada na aldeia de Baleizão, passados que são 20 anos sobre a sua morte.

DE UMA FUNDA, crónica de Artur Portela Filho:
O Partido Comunista é uma estrutura.
O Partido Socialista Português é um élan.
O Partido Comumista está no País.
O Partido Socialista Português está em Lisboa.
Álvaro Cunhal incitou as células a abrir delegações em todos os pontos-chave do território.
Mário Soares foi conferenciar com Wilson, com Brandt, com Miterrand.
Duas maneiras. Duas vocações. Dois resultados prováveis.
Como se comportarão estas duas maneiras, estas duas vocações, a inevitabilidade táctica, e moral, que é a Unidade?

Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, 

Legenda: fotografia da tomada de posse do I Governo Provisório tirada do Portugal Hoje.
Recorte sobre a Polícia de Choque do República de 13 de Maio de 1974. A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

quinta-feira, 22 de maio de 2014

VELHOS DISCOS


Charles Aznavour faz hoje 90 anos.
Achei por bem voltar aos velhos discos que comprei na Grande Feira do Disco.
É impossível escolher uma canção de Charles Aznavour porque gosto de tudo, pelo menos as que conheço.
Este disco comprei-o em Março de 1969 e, para a altura, registava o melhor de Aznavour.
Mas a escolha de uma destas canções tem um valor sentimental: La Mamma.
O Freitas, meu sogro, gostava imenso desta canção.


Por ele, e pelo Aznavour, recordo-a aqui.

BON ANNIVERSAIRE


Tem andado por tudo o que é mundo, já esteve várias as vezes em Portugal.

Em Agosto de 1968 foi convidado cinco estrelas do Festival da Costa Verde.

Em trânsito para o Porto, passou por Lisboa e foi dizendo ao repórter do Diário Popular  que começou a cantar porque era isso o que gostava de fazer. Da música portuguesa apenas conhece Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro. Acima de tudo gosta de viver, gosta do trabalho, do amor, da amizade e detesta coisas inertes, negativas, O repórter lembra-lhe que os seus «cachets» são sempre exorbitantes. Simplesmente responde com uma verdade indesmentível:

É preciso ser bem pago para se trabalhar bem.


Em 1988, a CNN elegeu Charles Aznavour artista do século pela simples simples razão de que não se considera uma estrela e mostra-se sempre como um trabalhador incansável da canção, talvez o último «crooner».

Em 2001 anunciou a retirada, mobilizando um mar de gente para aqueles que seriam os seus derradeiros espectáculos, mas chegou à conclusão que ainda não estava preparado
.
Anda em tournée de despedida desde o Outono de 2006, passou por Lisboa em 23 de Fevereiro de 2007 dando um espectáculo no Pavilhão Atlântico.

Continua a viajar, a eterna tournée de despedida.

Logo à noite dará um espectáculo de gala em Berlim e há dias anunciou que já marcou  o seu último espectáculo: 22 de Maio de 2024, o dia em que fará 100 anos.

Ninguém acredita.

Este francês de origem arménia, que já compôs milhares de canções, participou em dezenas e dezenas de filmes, faz hoje 90 anos.

É um velho companheiro da vida de muita gente espalhada pelo mundo.

Parabéns sr. ShahnourVaghinagh Aznavourian e, pelo manos, até 2024.


Legenda: o recorte do Diário Popular é de 18 de Agosto de 1968.



quarta-feira, 21 de maio de 2014

A FÁBRICA SIMÕES


Os meus pais que naquilo que respeitava à educação dos filhos tinham ideias esclarecidas e firmes e mandaram-me fazer a instrução primária na escola do Senhor André, na Avenida Gomes Pereira no tempo em que a fábrica Simões trabalhava ainda, a sede do Benfica se situava onde é agora a Junta de Freguesia.

António Lobo Antunes em 1º volume do Livro deCrónicas

Legenda: instalações da Fábrica Simões, vítima da especulação imobiliária, há muito um espaço degradado.

terça-feira, 20 de maio de 2014

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA


Agora que a temporada futebolística, a nível nacional, terminou e o Benfica venceu o Campeonato Nacional, a Taça da Liga, a Taça de Portugal, gostaria de lembrar José Medeiros Ferreira que nos deixou no dia 18 de Março.

Partidariamente não navegávamos nas mesmas águas, mas era um homem que me habituei a respeitar: um intenso e lúcido combatente contra a ditadura e, numa outra vertente, era um benfiquista de quatro costados e muito feliz teria ficado com as vitórias que o clube alcançou esta época.

José Medeiros Ferreira mantinha, desde 2010, um interessante blog: Córtex Frontal.
Sentindo-se cada vez mais com a saúde fragilizada, escreveu o seu último post no dia 9 de Fevereiro, e não esteve com meias medidas: o tema escolhido foi o Benfica, naquela noite de vendaval que não permitiu a realização do Benfica-Sporting.

Ainda há quem não entenda que o futebol é uma paixão que nenhuma razão explica mas que ainda se espantam como determinados intelectuais se colocam ao nível de um qualquer vulgar adepto.

José Medeiros Ferreira dizia que ser do Benfica era uma maneira de estar na vida e, borrifando-se nos puristas, entendeu que o últimopost no blog teria de ser sobre o seu Benfica:

O novo inferno da Luz

Hoje o dia estava tão mau que não fui ao estádio da Luz para ver o Benfica-Sporting. Em boa hora o fiz. Mesmo em casa com o apoio da televisão e da rádio não consegui acompanhar o que se estava a passar em directo. Com a UEFA  presente, a a ausência de esclarecimentos da direcção do SLB, ainda pensei que se tratava de um exercício ao vivo das autoridades de segurança da PSP, da FPF, e da UEFA. as a bagunça foi um pouco amais além...

A falta que ficam a fazer homens como José Medeiros Ferreira, senhor de uma lucidez impressionante, uma independência de espírito, uma opinião clara como água, um mordaz sentido de humor, uma elevação intelectual tão raro nos dias que correm, em que nos vemos rodeados por idiotas, aldrabões, incompetentes, corruptos, incultos.

Numa entrevista ao I, talvez a sua última entrevista, deixou bem expresso:

Em 1992 Portugal teve a primeira presidência da União Europeia e, por essa razão e não por qualquer raciocínio económico ou financeiro, resolveu aderir ao sistema monetário europeu, cujas negociações a Grã-Bretanha tinha declinado. Portugal avançou, mesmo aceitando uma taxa de câmbio que sobrevalorizava o escudo.
O governo de Guterres até fez uma missa em Madrid e disse que sobre a pedra do euro - a literatura evangélica é muito poderosa, tal como a pedra onde Pedro assentou a Igreja - era aquela sobre a qual ia assentar a União Europeia. O euro foi uma âncora continental para a Alemanha, depois da unificação, ficar amarrada à União Europeia

Ainda ontem, Ferreira do Amaral, afirmava na TVI:

A moeda é um instrumento essencial para se gerir a independência de um país. Não teríamos tido problemas se o euro tivesse sido uma moeda normal e não tivesse valorizado tanto. Mas foi criado para ser uma moeda forte.

Aquando do 3º Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro no ano de 1973, José Medeiros Ferreira encontrava-se no exílio, mas não deixou de colaborar e apresentou uma tese, Da Necessidadede um Plano para Nação, que foi lida por sua mulher.

A tese consta de um livro, anos mais tarde, publicado pela Seara Nova e as conclusões podem ser lidas neste nosso Olhar as Capas.

Nunca reclamou para si que a sua tese terá influenciado os capitães de Abril, mas há quem defenda que boa parte desse texto foi fonte de inspiração para o Programa do MFA.

Sobre este tema, é interessante um outro olhar, que Vitor Dias publicou no seu Tempo das Cerejas.

Legenda: imagem do Correio da Manhã

QUOTIDIANOS


Não estive lá, mas sou Benfica desde o longínquo domingo, com7/8 anos, quando passei a ir ao futebol com o meu avô, ainda na velha Estância de Madeira no Campo Grande.

Mas sei pelo que me disseram, pelo que as televisões interminavelmente mostraram, duma Praça do Município completamente cheia, as gentes a extravasarem para as ruas circundantes.

Bandeiras desfraldadas, cartazes pintados à mão, uma grande fotografia do Eusébio, cânticos, vivas, algures estariam as roulotes com bifanas, sandes de coirato, cervejas.

Um entusiasmo legítimo, tão natural como a água que se bebe quando temos sede.

Mas na Praça do Município estive, 13 de Outubro de 1998, quando José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, assomou àquela mesma janela para um aceno de agradecimento, àqueles que preenchiam menos de meia Praça mas que lhe quiseram dizer obrigado pelos livros, as palavras, os gestos com que nos ajuda a preencher os dias.

O que faz correr as gentes, estas gentes tão sós?


O dia em que enchermos uma qualquer praça para saudar a cultura como a enchemos para saudar o futebol, aí podemos dizer que somos um país, um país em que dá gosto viver por sabermos, então, o que por aqui andamos a fazer.

Que se deixou cair que o Benfica tenha apanhado do chão?, perguntava, em Abril de 1972, Artur Portela Filho.

Apeteceu-me, em final de crónica, deixar palavras do José Gomes Ferreira, mais por esperança do que por tristeza ou desespero:

Que bom! continuar a embalar medrosamente sonhos, considerando-os irrealizáveis, difíceis e impossíveis, apesar de estarmos tão próximos… tão próximos do futuro que bastaria um passo… um passo apenas… sem abismos… nem riscos… Somente um passo
(Eu sou pelo passo.)

Legenda: imagens, respectivamente, de A bola e do Público.

DITOS & REDITOS


Precisamos de tempo e de solidão para dormir sobre os assuntos.

Tudo o que cair sobre ti, sobre mim cai, ajuda-me que eu ajudar-te-ei.

Amor velho não cansa.

Nesta vida é mais fácil morrer do que viver.

O Portugal que conhecemos acabou.

No aproveitar é que está o ganho.

Dançar é rezar com as pernas.

Rei capitão soldado ladrão, menina bonita do meu coração.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

DA MINHA GALERIA


Se não tivesse ganho o caneco vinha cá na mesma.
Não sou apenas Benfica nas vitórias.
Campeonato, Taça da Liga, Taça de Portugal.
Na capa de A Bola  lia-se Trinédito.
Lá mais para o Verão voltamos a falar.
Até lá!

MANIFESTAÇÕES DE FÉ

Diário de Lisboa, 19 de Maio de 1972

domingo, 18 de maio de 2014

PORQUE HOJE É DOMINGO


E acaba a época futebolistica.
Ainda há a Selecção Nacional no Campeonato do Brasil, mas isso é uma outra história.
É como o findar do Natal: ficar a contar os dias para que ele regresse. Mas contar os dias para o regressar do campeonato torna-se uma tarefa mais curta.
Como sempre, a ideia que logo vamos ganhar o caneco e terminar uma época, que poderia ser brilhante, mas que, e aconteça o que acontecer logo no Jamor, é muito boa.
Não foi brilhante porque uma série de condicionalismos nos impediu de erguer o troféu da Liga Europa em Turim.
Não foi o perder a final que me deixou chateada. Ganha-se e perde-se e as coisas são mesmo  assim.
O que me deixou fora do sério foi a gatunagem do árbitro.
Se não foi encomendado bem parece.
Mas isso são coisas que já lá vão e logo o importante é fazer a dobradinha.
Viva o Benfica!
Bom domingo!

NOTÍCIAS DO CIRCO

O Presidente português, Cavaco Silva, ofereceu ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, uma camisola da seleção nacional de futebol assinada pelo capitão Cristiano Ronaldo.

OS IDOS DE MAIO DE 1974


De 6 a 12 de Maio de 1974

NO DIA 6 de Maio é fundado o Partido Popular Democrata (PPD).
Na comissão organizadora estão Francisco Pinto Balsemão, Joaquim Magalhães Mota e Francisco Sá Carneiro que será o secretário-geral.
O PPD é um partido voltado para o progresso social e aberto à esquerda não marxista. São justos e equilibrados os caminhos da Social-Democracia.

MIGUEL TORGA, no dia 6 de Maio escreve no seu Diário:
Continua a revolução, e todos se apressam a assinar o ponto.
- O senhor não diz nada? – Interpelou-me há pouco despudoradamente, um dos novos prosélitos.
E fiquei sem fala diante da irresponsabilidade de semelhante pergunta. Foi como se me tivessem feito engolir, cinquenta anos de protesto

VASCO Vieira de Almeida, delegado da Junta de Salvação Nacional, no Ministério das Finanças, esclareceu que as deliberações adoptadas pelo MFA apenas visaram impedir acções especulativas a todos os níveis, fugas da massa monetária e reprimir subidas abusivas de preços. Informou também que o mercado da bolsa continuará encerrado e da reabertura dará, quando tomar posse o Governo Provisório.

COMEÇOU a funcionar a sede provisória do Partido Comunista Português na Rua António Serpa, onde funcionava o comando 4 da extinta Legião Portuguesa.

CERCA de 50 000 pessoas participaram num comício organizado por um movimento político criado pela população branca de Moçambique FICO-Frente Independente de Solidariedade Ocidental. Os seus dirigentes manifestaram o seu inteiro apoio ao general António Spínola e tencionam conduzir uma campanha contra o abandono dos territórios africanos por parte de Portugal.

JORGE Paulo Teixeira, director de informação e Propaganda do MPLA declarou em Argel: «Rejeitamos a ideia apresentada pelo general Spínola para um Estado Federal, porque é necessário ter em conta que somos entidades diferentes. Angola não é Portugal, como é a Guiné-Bissau, nem Moçambique. Recusamo-nos a ser considerados portugueses de pele negra».

MÁRIO Soares afirmou que o Partido Socialista não é um partido burguês e se tentará organizar sobre a base da classe operária, onde os representantes de outras classes terão igualmente lugar.

AGOSTINHO Neto, declarou em Copenhaga que o «general Spínola não disse em momento algum que seja aceitável para nós» e por essa razão «continuamos a lutar até que os portugueses decretem publicamente que temos, plenamente, direito á independência». Acrescentou ainda que «não percebe como é que Portugal se pode transformar num estado democrático, sem que os povos das colónias obtenham a sua independência».




O GRANDE Ditador, escrito, produzido e realizado por Charles Chaplin é finalmente exibido em Portugal na sua versão integral.

NUNO Calvet de Magalhães anuncia para breve o texto do programa do Partido Cristão Social-Democrata do qual é um dos fundadores.

ASCENDE a 560 contos o dinheiro apreendido pela extinta PIDE/DGS aos presos políticos.

OS FUNCIONÁRIOS da CARRIS dizem não ao boné. Após o Sindicato dos Motoristas ter decidido a abolição do uso do boné, é a vez dos cobradores aprovarem idêntica decisão.

DADO a empresa proprietária de O Século e os seus trabalhadores não terem chegado a acordo, aquele jornal não se aplica há três dias.
ÓSCAR Lopes foi nomeado pela Junta de Salvação Nacional para director da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

EM CONSEQUÊNCIA de desinteligências no seio do Partido Cristão Social-Democrata verificou-se uma cisão de que resultou o Partido da Democracia Cristã.

CHAMPALIMAUD elogia Spínola: espero que nunca mais voltemos aos tempos passados.

DUAS únicas apresentações do grupo espanhol AGUAVIVA no Monumental.

RELAÇÕES diplomáticas cum a URSS são um caso a estudar.

SEGUNDO Miller Guerra o PPD virá a ser um partido dominante pois o programa poderá ser facilmente aceite pela fracção burguesa a que o Movimento dos Capitães deu força e significação.

SITUAÇÃO tensa na Timex. A administração recusa receber os trabalhadores. Dois mil trabalhadores estão em greve.

MIL moradores de bairros da lata ocupam 23 blocos de Chelas, vazios há dois anos.

A INTERSINDICAL estuda transformar o A Época num jornal diário de trabalhadores.

Divulgado programa político do MES, Movimento de Esquerda Socialista.

VERGÍLIO Ferreira, no dia 10 de Maio, escreve no seu Conta-Corrente:
Seria útil dar o balanço de quinze dias de revolução. Mas tudo se mantém ainda confuso. No entanto, alguma coisa se vai esclarecendo: de um lado a ideia de que a revolução é para o interesse de cada um de nós, singularizado no esquecimento dos outros; do outro lado, a visível manifestação a todos os níveis, de núcleos comunistas. Seria uma revolução PC? Greves. Já começaram. Que não se propaguem em epidemia e ferem o caos. Para onde vamos? Por sobre tudo, uma certeza: os militares continuam de armas aperradas.


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo,  A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

POSTAIS SEM SELO


Era assim também que terminava aquela segunda-feira, oito de Março, o dia em que fomos visitar o advogado Ernesto Salamida. Mais tarde eu haveria de saber que o acaso também envia mensagens, mas a maior parte das vezes são cifradas.

Lídia Jorge em Os Memoráveis.

sábado, 17 de maio de 2014

17 DE MAIO DE 1974


No dia 17 de Maio de 1974 saía para as bancas o primeiro número, legal, do Avante, órgão central do Partido Comunista Português.

António Dias Lourenço é o seu primeiro director e a numeração mostrava nº1, Ano 44, Série VII.
A numeração do Avante está dividida por séries. As primeiras cinco abrangem o período até à interrupção da publicação em 1938; a VI série vai de 1941 a 1974.

Segundo uma notícia publicada pelo Diário Popular de 30 de Maio de 1974 chegou a ser considerada a hipótese do Avante ser um jornal diário vespertino, mas a ideia  acabou por não se concretizar e o jornal haveria de aparecer com semanário, periodicidade  que ainda hoje mantém. Segundo os números do Partido a tiragem desse dia atingiu quase meio milhão de exemplares.


 O primeiro número do Avante é publicado em 15 de Fevereiro de 1931, ou seja, dez anos depois da fundação do PCP. Qual a razão desse facto? Salienta-se desde já que entre 1921 e 1931 não deixou de existir uma imprensa partidária. O Partido chegou mesmo a ter o seu órgão oficial, O Comunista, ainda que de existência efémera, e a Juventude Comunista, entretanto formada, edita por, sua vez, O jovem Comunista.
Durante esse período o PCP, lutando com grandes dificuldades e deficiências, viveu momentos muito delicados.

O golpe militar fascista de 28 de Maio de 1926, na véspera do início do II Congresso do Partido, e a imposição da clandestinidade, no ano seguinte, vieram agravar ainda mais as condições de trabalho e, naturalmente, dificultar a existência de uma imprensa partidária capaz de responder às necessidades.


 A saída do jornal não é regular, não obstante em certos períodos se trem obtido importantes êxitos, como foi o caso dos anos 1937/38, em que o Avante saiu semanalmente, mas seguir-se-á uma interrupção da sua publicação por mais de dois anos.

Reaparecido em Agosto de 1941, o jornal estabiliza-se com a saída regular todos os meses que se manteria ininterruptamente até Abril de 1974.

O golpe militar fascista de 28 de Maio de 1926, na véspera do início do II Congresso do Partido, e a imposição da clandestinidade, no ano seguinte, vieram agravar ainda mais as condições de trabalho e, naturalmente, dificultar a existência de uma imprensa partidária capaz de responder às necessidades.


O último número do Avante publicado na clandestinidade é o 464 e saíu durante o mês de Abril de 1974, com o preço simbólico de um escudo.

É tremendamente difícil a feitura do Avante clandestino. Apesar de todos os cuidados, a PIDE consegue localizar e destruir as tipografias clandestinas que, com regularidade, mudavam de local.

A história do Avante é um manancial de histórias que demonstram a firmeza e a luta tenaz dos militantes do Partido.

Entre muitos outros, estaca-se o operário vidreiro José Moreira que, em 24 de Janeiro de 1950 é preso pela PIDE e depois torturado até à morte por se recusar a revelar a localização da tipografia onde o jornal era impresso.

É dele a frase: uma tipografia clandestina é o coração da luta popular. Um corpo sem coração não pode viver.

Dizem os camaradas que com José Moreira trabalharam, que ele percorria em média 2.500 quilómetros por mês, sentado numa «pasteleira», nem bicicleta era, levando os originais para as tipografias clandestinas, procedendo depois à sua distribuição.


Esta é uma gravura de José Dias Coelho, publicada no nº 304 do jornal, Agosto de 1961, e que mostra uma tipografia clandestina do Avante.


Por ocasião do 50º aniversário do Avante, José Cardoso Pires escreveu este depoimento:


Fontes: Dados recolhidos num volume em que estão reproduzidas algumas das primeiras páginas do jornal e publicado por Edições Avante em Março de 1977.
A gravura de José Dias Coelho é retirada do seu livro A Resistência em Portugal, Editorial Inova, Porto, Junho de 1974.